terça-feira, 28 de agosto de 2018

AMOR INSÓLITO AMOR

Amor é uma luz à noite atravessando o nevoeiro; amor é uma tampinha de cerveja pisada no caminho do banheiro; amor é a chave perdida da sua porta quando você está bêbado; amor é o que acontece uma vez a cada dez anos; amor é um gato esmagado; amor é o velho jornaleiro na esquina que desistiu; amor é o que você acha que a outra pessoa destruiu; amor é o que desapareceu junto com a era dos navios encouraçados e fantasmas; amor é o telefone tocando, a mesma voz ou uma outra voz mas nunca a voz correta; amor é traição; amor é o incêndio dos sem-teto num beco; amor é aço; amor é a barata; amor é uma caixa de correio; amor é a chuva sobre o telhado de um velho hotel em Belo Horizonte; amor é o seu pai num caixão (aquele que te odiava); amor é um cavalo com a perna quebrada tentando se levantar enquanto 999 pessoas observam; amor é o jeito que nós fervemos como uma explosiva panela de pressão; amor é tudo que nós dissemos que não era; amor é o ácaro que você não consegue encontrar; e o amor é um vaga-lume; amor são 63 lançadores de granada; amor é uma privada vazia; amor é uma rebelião no Rio de Janeiro; amor é um pinel cheio de escritores malditos; amor é um cavalo alado e um unicórnio mágico parados numa praia deserta em Santa Catarina; amor é uma mesa de bar vazio; amor é um filme do Wim Wenders se retorcendo na reflexão dos olhos de hórus; um momento que ainda pulsa e grita; amor é a estátua de Drummond e os pombos fazendo ninhos atrás dos óculos de chumbo, em Ipanema; amor é o que se arrasta pelo chão de estrelas; amor é a sua mulher dançando colada com um estranho; amor é uma anciã roubando um pedaço de pão. E o amor é uma palavra precoce usada muitas vezes e muitas vezes cedo demais. (copydesk/fragment by EUGENIO SANTANA - GUARDIÃO DA PALAVRA - BLOG)

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

A UTOPIA É O INOMINÁVEL EM AZUL (*)

Em qualquer grande cidade onde o azar me leva, surpreende-me que não aconteçam sublevações diárias, massacres, uma carnificina inominável, uma desordem de fim de mundo. Como em um espaço tão reduzido, podem coexistir tantos homens sem destruir-se, sem odiar-se mortalmente? Pra dizer a verdade, odeiam-se, mas não estão a altura do seu ódio. Esta mediocridade, esta impotência, salva a sociedade, assegura sua duração e sua estabilidade. Mas, o que mais me surpreende, sendo a sociedade o que é, é o esforço de alguns para conceber outra, completamente diferente. De onde vem tanta ingenuidade e tanta loucura? Só agimos sob a fascinação do impossível. Isto significa que uma sociedade incapaz de dar a luz uma utopia e de dedicar-se a ela, está ameaçada de esclerose e de ruína. Mas, recordemos que utopia significa "lugar nenhum". E onde estariam estas cidades que o mal não toca, onde se bendiz o trabalho e ninguém teme a morte? Nelas nos vemos constrangidos a uma felicidade feita de idílios geométricos, de êxtases regulamentados, de mil maravilhas repugnantes: assim se apresenta necessariamente o espetáculo de um mundo perfeito, de um mundo fabricado. A utopia é o inominável em azul, a necessidade de associar a felicidade, quer dizer, o inverossímil, ao devenir, e de impulsionar uma visão otimista, aérea, até o limite em que se une ao seu ponto de partida: o cinismo que pretendia combater. Em suma, um conto de fadas monstruoso. Mas, a vida é ruptura, heresia, abolição das normas da matéria. E o homem, em relação à vida, é heresia em segundo grau, vitoria do individual, do capricho, aparição aberrante, animal cismático que a sociedade - soma de monstros adormecidos - pretende conduzir pelo caminho reto. (Copydesk/fragment by Escritor/jornalista EUGENIO SANTANA. Autor de nove livros publicados. Dezoito prêmios literários, em âmbito nacional)

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

NÃO SE FORÇA A PUBLICAÇÃO DE UM LIVRO, NÃO SE FABRICA BEST-SELLERS DO NADA (*)

Muitos escritores acham difícil dar os passos seguintes ao término da obra. Têm uma página no face mas poucas curtidas, quase nenhum compartilhamento. Colocam no Wattpad e não angariam mais que meia dúzia de leitores. Chamam os amigos para ler mas poucos respondem, nenhum comenta. Mandam seu original para editoras e recebem resposta só de prestadores de serviço querendo que os autores paguem pela impressão. O que fazer para vencer a barreira de ser um autor desconhecido? Isso é possível? Sim, é. Há um caminho possível, mas é provável que você precise mudar um pouco sua forma de pensar. Vou explicar em várias partes, tenha um pouco de paciência. Apesar de parecerem problemas distintos – editoras, público leitor, ser conhecido –, na verdade são uma questão só, com vários aspectos. Afinal, o que as editoras querem? As editoras querem, e na maior parte das vezes consideram, sim, publicar autores nacionais, porém com a condição de que tenham uma postura profissional e que a obra esteja pronta. Editores não querem perder tempo ensinando a autores como se profissionalizar, nem querem investir um monte de trabalho para transformar uma obra com muitos defeitos numa obra publicável. Pelo menos não se o autor não for já muito famoso. Mas é perfeitamente possível que você aprenda a fazer as duas coisas, assumir uma postura que impressione bem editoras de verdade, e apresentar uma obra acabada, que possa ser publicada. Autores precisam entender que ninguém no mundo editorial se vê como responsável por colocar autores inexperientes, sem noção de como as coisas funcionam, no colo. Quem se mete a escrever para ser lido e publicado precisa aprender por conta própria como as coisas funcionam. Não, não há um agente que vai cuidar de tudo. Não, não há um editor que vai cuidar de tudo. Não, não basta escrever bem, ter criatividade e boas ideias. Editores sentem um horror instantâneo por autores que chegam (por cartas ou e-mails ou mensagens) chorosos, arrogantes, insistentes, exigindo respostas. Pobres vítimas de um sistema que não os favorece ou raivosos por não receberem atenção.Se você é autor/a, considere que faz parte de sua carreira aprender como o mercado funciona. Vá atrás da informação. Entenda os tipos de editoras existentes, os gêneros literários, o que tem feito sucesso. Aprenda por você, para tomar suas decisões. Seja responsável, aja como maior de idade. Não queira que alguém venha fazer tudo por você. Querer ser colocado no colo atrai pessoas que não são editores e que não vão transformar sua obra num sucesso. Livros são produtos culturais, assim como músicas, filmes, peças de teatro, shows. Produtos culturais fazem sucesso quando um grupo de pessoas – chamado de público – gosta deles. E apesar do que imaginam montes de escritores, não é possível fazer ninguém gostar de uma obra. O marketing pode aumentar as vendas de um livro, mas não se o livro já não contiver elementos que agradem aos potenciais leitores. Não se força a venda de livros, não se fabricam best-sellers do nada. Se as pessoas não gostam, não emplaca. (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, publicitário, ensaísta, consultor editorial e agente literário. Fundador da Hórus9 Produções Editoriais. Autor de nove livros publicados. Radicado em Curitiba. Email autoreugeniosantana9@gmail.com e WhatsApp (41) 99547-0100.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

A BOCA CHEIA DE FLORES E BEIJOS OCEÂNICOS (*)

Toco a sua boca com um dedo, toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se, pela primeira vez, a sua boca entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que minha mão escolheu e desenha no seu rosto, uma boca eleita entre todas, com soberana liberdade, eleita por mim para desenhá-la com minha mão em seu rosto, e que, por um acaso, que não procuro compreender, coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que minha mão desenha em você. Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de ciclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõe-se, e os ciclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem, com um perfume antigo e um grande silêncio. Então as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se estivéssemos com a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragrância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água. (*) Copydesk/fragment by EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, revisor de texto e palestrante motivacional. Nove livros publicados. Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL) e do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; sócio da ACI - Associação Catarinense de Imprensa e da UBE/SC - União Brasileira de Escritores. email: autoreugeniosantana9@gmail.com e WhatsApp (41) 99547-0100

terça-feira, 14 de agosto de 2018

ESTRELA DO SUL, MINAS GERAIS

Estrela do Sul é um município brasileiro do interior do estado de Minas Gerais, localizado a 520 km de Belo Horizonte. Sua população estimada em julho de 2017 era de 7 981 habitantes. Estrela do Sul, antigo distrito criado em 1854 com a denominação de Diamantino da Bagagem e subordinado ao município de Patrocínio, tornou-se vila com a denominação de Bagagem, pela Lei Provincial nº 777 de 30 de maio de 1856 e recebeu status de cidade em 1861. A partir de 1901 recebeu a sua denominação atual em homenagem ao diamante Estrela do Sul encontrado nessa região. (Jornalista/escritor EUGENIO SANTANA)

sábado, 11 de agosto de 2018

ASAS DE SONHOS E DESEJOS

Desejo a vocês... Frutas silvestres, Cheiro de jasmim, Namoro no sótão, Domingo com Fla x Flu, no Maracanã, Segunda sem mau humor, Sábado com seu amor, Filme do Chaplin, barzinho com amigos, Crônica de Drummond, Viver sem desafetos, Filme épico na TV, Ter uma mulher singular, E que ela ame você, Música de Vander Lee com letra de Paulinho Pedra Azul, Frango caipira com quiabo, pimenta malagueta e polenta; Ouvir uma palavra motivacional, Ter uma grata surpresa, Ver o desfile dos tropeiros numa cidadezinha mineira, Noite de lua cheia, Rever uma velha amizade que se achava completamente perdida, Manter, acesa, a fé em Deus, Não ter que ouvir um palavrão, Nem nunca, nem jamais e adeus. Ah, Deus. Há Deus! Rir como inocente criança de cinco anos, Ouvir a sinfonia dos pássaros, curar de resfriado, Escrever um texto sobre o Amor Que nunca será rasgado; Formar um par ideal, mergulhar e reenergizar numa cachoeira em Pirenópolis, Pegar um bronzeado legal, Aprender uma nova canção, Esperar alguém no metrô e apreciar arte retrô, Queijo com goiabada, Pôr-do-Sol na fazenda, Uma festa, Um violão clássico, lembrar de um amor antigo, Ter um ombro sempre amigo, Bater palmas de euforia, Uma tarde amena, Calçar um velho sapatênis, Sentar numa velha poltrona, Ouvir a música da chuva no telhado da cabana, Vinho tinto seco, E muito carinho meu. E um largo sorriso expressivo. Dormir e sonhar só com você. E nessas asas de desejos um beijo marítimo e infinito em seu coração oceânico. Até a próxima. Até breve. Até sempre. Maktub. Namastê! (Copydesk/fragment by EUGENIO SANTANA)

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

RENASÇO ALTIVO NA TINTA DO INFINITO (*)

Em cada letra, tinta e o cheiro do infinito, há um diálogo silente que rumino (instigo) onde, por completo, nasceu a página e a pátina que dito – só escrevo, neste plano, aquilo que ainda sonho no outro sótão: a vida após a vida. Sei que feneço no fim de cada sílaba, mas renasço altivo no início de outro mito. E vôo com as asas da Phoenix. Ainda que me seja efêmero o ato de colher as horas, serei sempre estrangeiro da fronteira de vidro: afinal, que sou, senão o fragmento de meus destroços? Só quem navega à luz, sabe o naufrágio das trevas. Afinal, ninguém se espera, se busca, quando o objetivo é filho da ausência da vida por si mesma. Ainda que me seja tardio, serei luz incendiária, fogo fulminante apagando a essência das águas. Nada sou senão serpente e anjo, verbo notívago escrito na página da madrugada. Muito antes que eu compreenda a consciência das asas, direi que o vôo é volátil e curto na distância planejada, muito embora ciente de que me é mais fácil seguir por caminho de lugar nenhum do que então afogar-me em gota de envelhecido rum. Quem afirmou que o castigo aconteceu no Paraíso, se o Paraíso é a morada do meu Pai? Alguém ousa vender um homem no mercado de Deus por ínfimos valores de insensíveis sonhos? Quem se arriscaria a seguir por tão nefasta via? A nenhum destino se chega ao homem senão pela sombra de seu mesmo sobressalto e nome. Meus passos já não cabem em si, muito menos no impulso da estrada que tanto lhes fere e agrava a força do espinho que sou serei além do que vivi e sangrei, amor. O que faço, a bem do meu nome e o fogo que me consome, é aprisionar o tempo e escrever as asas da memória antes do crepúsculo e após a aurora. Não poderia eu omitir que em mim persiste a surpresa que me envelhece, além, muito além dos jardins do abandono e a cal da árvore de plátano plantada em pleno deserto do ser – eis, então, a energia de, assim, matar, morrer para o que se foi e nunca mais há de nascer! Jamais ergo diques: deixo-me fluir para o que se vai, embora estando aqui. Apesar de tudo, nenhum homem sabe a dor do outro! E só a tempestade é capaz de resgatar o silêncio que medra na alma de cada um! Em cada letra, tinta e pátina de infinito, insuflo de fogo meu grito ainda que tardiamente para Deus! (*) EUGENIO SANTANA é jornalista, escritor, ensaísta, biógrafo e redator publicitário. Membro efetivo da ALNM – Academia de Letras do Noroeste de Minas, cadeira dois. Membro Acadêmico “Benemérito Ad Honorem” do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; Autor de nove livros publicados

domingo, 5 de agosto de 2018

NEUROMARKETING: MEMÓRIA OLFATIVA (*)

Basta sentir um aroma familiar para que as lembranças passadas venham à tona com riquezas de detalhes. Pode ser um alimento, o perfume de uma flor, o cheiro da grama molhada ou o perfume que livro novo exala. Diferente dos outros sentidos como a visão, audição, tato e o paladar, que precisam percorrer um caminho maior para chegar nas regiões do cérebro responsáveis pelas memórias e emoções. A “memória olfativa” está diretamente interligada aos mecanismos fisiológicos das emoções. O neuromarketing estuda as noções básicas da neurociência e aplica algumas técnicas e parâmetros científicos para melhorar a experiência do consumidor e interferir positivamente no seu processo de tomada de decisão. O marketing olfativo é uma forma estratégica para manter o cliente mais tempo na sua loja ou empresa. Utilizar esse recurso, além de despertar uma sensação de bem-estar e conforto, pode desencadear uma lembrança positiva – criando uma boa sensação ao cérebro emocional. Essa técnica permite que toda vez que o cliente sentir uma fragrância parecida, lembre-se da sua marca ou produto instantaneamente. A dica é saber escolher o aroma adequado com o ramo de atuação do seu produto ou serviço. (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, publicitário, ensaísta, consultor em gestão de pessoas e analista de marketing digital. Autor de dez livros publicados. autoreugeniosantana9@gmail.com - (41) 9547-0100 (WhatsApp)

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

INSACIÁVEL VIDA EFÊMERA (*)

Não temos exatamente uma vida curta, mas desperdiçamos uma grande parte dela. A vida se bem empregada, é suficientemente longa e nos foi dada com muita generosidade para a realização de importantes tarefas. Ao contrário, se desperdiçada no luxo e na indiferença, se nenhuma obra é concretizada, por fim, se não se respeita nenhum valor, não realizamos aquilo que deveríamos realizar, sentimos que ela realmente se esvai. Perscruta a tua memória: quando atingiste um objetivo? Quantas vezes o dia transcorreu conforme o planejado? Quando usaste seu tempo contigo mesmo? Quanto mantiveste uma boa aparência, o espírito tranquilo? Quantas obras fizeste para ti com um tempo tão longo? Quantos não esbanjaram a tua vida sem que notasses o que estavas perdendo? O quanto de tua existência não foi retirado pelos sofrimentos sem necessidade, tolos contentamentos, paixões ávidas, conversas inúteis, e quão pouco te restou do que era teu? Compreenderás que morres cedo. Se pudéssemos apresentar a cada um a conta dos anos futuros, da mesma forma que se faz com os que já passaram, como tremeriam aqueles que vissem restar-lhe poucos anos e como os economizariam! Pois, se é fácil administrar o que, embora pouco, é certo, deve-se conservar com muito cuidado o que não se pode saber quando acabará. A expectativa é o maior impedimento para viver: leva-nos para o amanhã e faz com que se perca o presente. Daquilo que depende do destino, abres mão; do que depende de ti, deixas fugir. Para onde voltas, para o que te dedicas? Todas as coisas que virão jazem na incerteza: vive daqui para diante. Muito breve e agitada é a vida daqueles que esquecem o passado, negligenciam o presente e temem o futuro. Quando chegam ao fim, os coitados entendem, muito tarde, que estiveram ocupados fazendo nada. De fato, tudo aquilo que vem por acaso é instável, e o mais alto se eleva, mais facilmente cai. Ora, a ninguém as coisas decaídas causam deleite, É, portanto, evidente que seja não apenas muito curta, mas também muito infeliz a vida daqueles que a preparam com grande trabalho e que só podem conservar com esforços maiores ainda. Adquirem pessoalmente aquilo que desejam, possuem com apreensão o que adquiriram. Enquanto isso, não se dão conta do tempo que não voltará, novas preocupações substituem as antigas, uma esperança realizada faz nascer outra esperança, a ambição provoca a ambição. Nunca faltarão motivos, felizes ou infelizes, para a preocupação. A vida ocorrerá através das ocupações; nunca o ócio será obtido, sempre desejado. (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, revisor de texto e palestrante motivacional. Nove livros publicados. Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL) e do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; sócio da ACI - Associação Catarinense de Imprensa e da UBE/SC - União Brasileira de Escritores. email: gestoreugeniocouto@yahoo.com e WhatsApp (41) 9547-0100

PAULO LEMINSKI: FRAGMENTOS DE VIDA E ARTE POÉTICA (*)

Paulo Leminski Filho foi um escritor, poeta, crítico literário, tradutor e professor brasileiro. Filho de Paulo Leminski e Áurea Pereira Mendes, seu pai era de origem polonesa e sua mãe filha de pai português e mãe brasileira de origem negra e indígena, Paulo Leminski foi um filho que sempre chamou a atenção por sua intelectualidade, cultura e genialidade. Estava sempre à beira de uma explosão e assim produziu muito. É dono de uma extensa e relevante obra. Desde muito cedo, Leminski inventou um jeito próprio de escrever poesia, preferindo poemas breves, muitas vezes fazendo haicais, trocadilhos, ou brincando com ditados populares. "Bem no fundo/No fundo, no fundo,/bem lá no fundo,/a gente gostaria/de ver nossos problemas/resolvidos por decreto/a partir desta data,/aquela mágoa sem remédio/é considerada nula/e sobre ela — silêncio perpétuo/extinto por lei todo o remorso,/maldito seja quem olhar pra trás,/lá pra trás não há nada,/e nada mais/mas problemas não se resolvem,/problemas têm família grande,/e aos domingos/saem todos a passear/o problema, sua senhora/e outros pequenos probleminhas." Nasceu: 24 de ago de 1944 · Curitiba, Brasil Morreu: 7 de jun de 1989 · Curitiba, Brasil Cônjuge: Alice Ruiz (c. 1968 - 1988) · Neiva Maria de Sousa (c. 1961 - 1968) Filhos: Áurea Leminski · Miguel Leminski · Estrela Ruiz Leminski Filiação: Paulo Leminski II · Áurea Pereira Mendes (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, revisor de texto e palestrante motivacional. Nove livros publicados. Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL) e do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; sócio da ACI - Associação Catarinense de Imprensa e da UBE/SC - União Brasileira de Escritores. email: gestoreugeniocouto@yahoo.com e WhatsApp (41) 9547-0100

segunda-feira, 30 de julho de 2018

HELENA KOLODY: RÉQUIEM OU ENSAIO; MEMÓRIA OU SAUDADE? (*)

Helena Kolody, um dos nomes mais expressivos da poesia contemporânea do Paraná, nasceu em Cruz Machado, Paraná, no dia 12 de outubro de 1912. Filha de imigrantes ucranianos que se conheceram no Brasil, com um ano de idade mudou-se com a família para Três Barras do Paraná, em seguida morou em Rio Negro e depois fixou residência em Curitiba. Com 12 anos, Helena escreveu seus primeiros versos. Em 1928, com 16 anos publicou o poema “A Lágrima”, na revista “Marinha”, de Paranaguá, a maior divulgadora de sua obra. Cursou a Escola Normal de Curitiba, e a partir de 1931, já formada, lecionou em diversas escolas, e por fim, lecionou na Escola Normal de Curitiba durante 23 anos. Em 1941 publicou seu primeiro livro “Paisagem Interior”, com 45 poemas, entre eles três "haicais", o primeiro: "Arco-íris": Arco-íris no céu./Está sorrindo o menino/Que a pouco chorou. Era a primeira vez que uma mulher publicava haicais no Brasil. Desde então, dedicou grande parte de sua vida a escrever poesias. Recebia críticas por não ter rima nos haicais, mas mesmo assim continuou publicando essa forma de fazer poesia. Em 1945, no segundo livro “Música Submersa” publicou o mais famoso deles, “Pereira em Flor”: De grinalda branca,/Toda vestida de luar,/A pereira sonha. Em 1985, Helena Kolody recebeu o Diploma de Mérito Literário da Prefeitura de Curitiba. Em 1988, foi criado o “Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody”, realizado anualmente pela Secretaria da Cultura do Paraná. Em 1989, o Museu da Imagem e do Som do Paraná gravou e publicou um depoimento da poetisa. Em 1991 foi eleita para a cadeira nº 28 da Academia Paranaense de Letras. Em 2003, Helena recebeu o título de “Doutora Honoris Causa” pela Universidade Federal do Paraná. Faleceu em Curitiba, o dia 15 de fevereiro de 2004. (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, revisor de texto e palestrante motivacional. Nove livros publicados. Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL) e do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; sócio da ACI - Associação Catarinense de Imprensa e da UBE/SC - União Brasileira de Escritores. email: gestoreugeniocouto@yahoo.com e WhatsApp (41) 9547-0100

sexta-feira, 27 de julho de 2018

CAMINHO DAS PEDRAS: PUBLIQUE SEU LIVRO (*)

Vale salientar que, nem todas as editoras estão efetivamente recebendo originais, visto que algumas importam suas obras ou por política interna da editora. Antes de enviar seu original, é importante saber se é uma editora comercial, ou seja, aquela que acredita no seu trabalho e banca sua publicação. As editoras prestadoras de serviço irão publicar seu livro, basta você pagar. Em artigo futuro abordarei as vantagens e desvantagens de cada uma dessas formas de publicação. Cada editora possui uma metodologia própria de recebimento e originais, sejam eles, por CD, Pen drive, impresso… então, busque essas regras e se adeque para não ter sua obra descartada sem sequer ser avaliada; como as editoras recebem muitos originais por mês, pode ter certeza que, se você não seguir o procedimento correto, a editora não avaliará sua obra. Outro ponto importante antes de enviar seu original para avaliação é pesquisar quais obras cada editora publica, pois a grande maioria dos originais são descartados por não estarem de acordo com a linha da editora. Por exemplo: Não adianta você mandar um livro de ficção para uma editora que só publica livros didáticos. Em minhas pesquisas, verifiquei também que as editoras gostam quando o escritor se familiariza com a empresa, ou seja, conhece os livros que publicam… O mercado editorial é exigente e o mínimo diferencial pode lhe destacar de outros tantos bons aspirantes a escritores. É fundamental buscar e demonstrar que você se familiarizou com a editora e direcionar o original à pessoa correta (normalmente “ao” ou “a” Diretora Editorial). Um ponto que quase todas as editoras exigem é, na carta de apresentação, mencionar os livros publicados pela editora que estão na mesma linha da sua obra. Cada uma dessas dicas corroboram para demonstrar a vontade do escritor de ser publicado pela editora na qual acaba de enviar o original. Caso você leitor também tenha informações de editoras e quiser compartilhar e enriquecer esse artigo, fique a vontade para agregar valor. (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, revisor de texto e palestrante motivacional. Nove livros publicados. Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL) e do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; sócio da ACI - Associação Catarinense de Imprensa e da UBE/SC - União Brasileira de Escritores. email: gestoreugeniocouto@yahoo.com e WhatsApp (41) 9547-0100

sábado, 7 de julho de 2018

INCONCEBÍVEL E INACEITÁVEL CRUELDADE HUMANA (*)

Quando o escritor português José Saramago afirmou que os animais podem ser selvagens, mas que apenas o homem é cruel, ele estava chamando a atenção para um fato bastante inquietante, que subverte profundamente a imagem que temos de nós mesmos. Ele estava dizendo, da maneira mais clara e assustadora possível, que a crueldade é um fenômeno humano (e não animal). Uma afirmação que, sem dúvida alguma, põe em jogo duas certezas bastante arraigadas em nós: a de que o excesso de agressividade está relacionado à nossa herança selvagem e a de que a razão fez do homem um ser realmente superior. De fato, do ponto de vista moral e ético, a ruptura que o homem fez com a vida natural não parece ter feito dele um ser melhor. É claro que se pode alegar que somos superiores exatamente porque somos os únicos animais capazes de desenvolver uma moral e uma ética, mas isto também não depõe muito em nosso favor, já que também somos os únicos a realmente precisar delas, já que os animais vivem integrados à natureza e nunca transgridem as suas leis. Sim, é exatamente isto: é porque os homens transgridem suas próprias leis e, sobretudo, é porque a nossa espécie é a única capaz de cometer atos bárbaros por prazer ou descaso com a dor alheia (como diz Saramago, um animal jamais tortura ou humilha o outro), que precisamos de leis que regulem a vida em sociedade. Sem dúvida, a justiça é uma necessidade, mas exatamente porque nós, os ditos “animais racionais”, ainda não aprendemos a respeitar a existência alheia. Sem dúvida, vendo à distância o mundo humano, com tanta desigualdade, miséria, guerras, exploração e escravidão (humana e animal), é difícil acreditar que somos realmente seres racionais, compassivos e sensíveis. E, no entanto, apesar de tudo, é isto o que somos, pelo menos, potencialmente (eis porque, quando a razão e a sensibilidade se aliam no homem, ele é capaz de produzir uma existência verdadeiramente bela e ética). No entanto, o problema é que, na prática, o homem se comporta sempre aquém das suas potencialidades e aí, sim, cabe-nos perguntar por que o homem pode tanto e atinge tão pouco? Decerto, alguns responderiam: “ele não pode: isto é uma falácia!” Outros, por sua vez, diriam: “ele pode, basta querer!” Pois tanto os primeiros quantos os segundos se equivocam: os primeiros estão mergulhados no pessimismo que, certamente, tem sua origem (até certo ponto justa) numa visão clara do que tem sido a vida humana; já os segundos são otimistas demais, acreditando que a vontade é livre o suficiente para escolher. Os dois erram, porque, de fato, o homem pode mais, mas seus valores o dirigem de tal maneira que é preciso, primeiramente, que ele se liberte de seus antigos grilhões, ou seja, que se liberte dos conceitos e das ideias que o tornam prisioneiro das circunstâncias, que o tornam passivo e resignado diante de um mundo que ele não acredita poder mudar. Aqui entramos no cerne da questão: as sociedades se estruturaram, desde os seus primórdios, de modo a beneficiar alguns em prol de outros (eis porque, desde o início, os homens escravizam outros homens e também os animais). Esta é a origem da exploração e das desigualdades. É assim que nos acostumamos, desde cedo, a usufruir de outras vidas, aprendendo a fechar os olhos para a crueldade e para a tirania, como se elas fossem naturais em nós, quando, de fato, elas expressam o adoecimento da nossa espécie. Sim, a inversão do pensamento começa aqui: não somos primeiramente seres selvagens e maldosos que se aculturam e se tornam sublimes. Como um animal dentre outros, nós possuímos censores naturais que nos impedem de ultrapassar certos limites; mas, em sociedade, somos criados para obedecer regras inventadas pelos próprios homens e é aqui que tudo se complica e se confunde. Afinal, é a própria sociedade que nos ensina o descaso com a dor alheia, dos homens e dos animais. E, assim, como todos os demais, acabamos ou explorando os outros diretamente, e sem culpa, ou usufruindo, também sem culpa, dos benefícios da exploração. Afinal, temos o consentimento da própria sociedade para sermos pequenos tiranos. Existe, de fato, uma razão perversa para que os homens sejam mantidos de olhos fechados. É que é preciso que eles continuem na escuridão e na servidão dos valores para que a desigualdade, a exploração, a escravidão, continuem existindo. Este é o maior de todos os atavismos humanos: aprendemos a nos beneficiar dos outros, aprendemos a ser, na verdade, imorais, antiéticos. É a nossa moral que tem sido, há milênios, uma falácia. Triste condição a nossa: somos vítimas de nossa própria inteligência superior. Na ânsia de fazermos parte do mundo, de nos integrarmos ao nosso meio social, apertamos ainda mais os nossos grilhões, tornamo-nos escravos e, ao mesmo tempo, agentes de nossa própria servidão. Servidão voluntária e até mesmo desejada, porque é mais fácil viver como todos os demais do que abrir os olhos e tomar nas mãos a própria vida. De fato, é difícil mudar… mas andar também é e, no entanto, basta darmos os primeiros passos que os outros se seguem facilmente. Quase tudo no homem é hábito, é aprendizado. Por isto, a educação é tão fundamental e, mais ainda, uma educação que se volte para produzir um homem verdadeiramente superior, moral e eticamente falando. No fundo, por mais polêmica que pareça esta afirmação, o que resiste em nós de mais sublime é exatamente o nosso instinto mais elementar, que nos sopra aos “ouvidos” que agimos mal o tempo inteiro. É nossa saudável razão natural (como diria Nietzsche) que nos alerta, e não o que homem tem chamado de moral. Na verdade, não é nossa animalidade que precisa ser extirpada; é nossa falsa humanidade.Sem dúvida, somos animais incríveis, somos os criadores dos mais belos conceitos e valores, mas também somos facilmente corrompidos pela ambição, pela ganância, pela vaidade e, para atingir nossas metas ilusórias de felicidade, usufruímos de outras vidas sem qualquer pudor. Com relação aos animais, esta realidade é ainda mais terrível, porque quase ninguém considera a sua dor, o seu sofrimento. É assim que milhões de vidas são brutalizadas, humilhadas, mortas todos os dias, sem qualquer piedade. É por isto que, mesmo quando somos vítimas, somos também responsáveis pela crueldade que nos atinge. Afinal, a crueldade, mais do que a racionalidade, tem sido o principal atributo do homem. Eis uma verdade dolorosa, mas que é preciso encarar se desejamos mudar o que precisa ser mudado. Na verdade, o homem não tem sido, nem de longe, o animal superior que julga ser. Falando agora mais diretamente sobre a origem da crueldade humana, cito o grande historiador das religiões Mircea Eliade, que nos revelou algo de muito valioso em sua monumental obra “História das crenças e das ideias religiosas” (algo que endossa o que dizemos aqui a respeito do aspecto “contra-natura” da crueldade): o homem, inicialmente, não matava (nem mesmo para comer). Isto quer dizer que não somos originalmente nem carnívoros nem onívoros, e esta é uma informação que a ciência não deveria nos sonegar. Aliás, segundo as pesquisas de Eliade, toda a história posterior do homem é marcada exatamente por esta decisão que ele tomou no início dos tempos: a decisão de “matar para sobreviver”. Não vamos entrar na questão propriamente dita, falar da religião, que, segundo Eliade, está na base desta cruel decisão. Precisamos apenas entender que o homem tornou-se, de fato, o senhor da natureza, mas não por ser um animal divino ou por ser dotado de um espírito enquanto os outros seres vivos são corpos vazios; ele se tornou senhor da natureza porque tiranizou a vida, todas as vidas, inclusive a de sua própria espécie. Sem dúvida, esta primeira violação da nossa natureza não poderia deixar de causar marcas indeléveis no homem e, assim, não parece nada equivocado concluir que este primeiro ato de barbárie deu origem a todos os demais. Afinal, o que poderia se esperar de um ser que age contra sua própria natureza? Ele só poderia adoecer, enlouquecer. Não é isto, afinal, que Nietzsche diz dos homens: que somos animais adoecidos, que perdemos nossa “saudável razão natural”? Nós nos perdemos de nós mesmos e nunca mais conseguimos nos encontrar. É isto que explica esta espera ensandecida por alguém que nos salve, que nos tire do fundo do abismo, quando, na verdade, bastaria apenas que olhássemos sem medo para dentro de nós mesmos. Sim, somos o que aprendemos, mas por baixo de todas as ideias, crenças, conceitos, existe um animal desesperado que clama por liberdade e por uma vida mais digna. A felicidade não está nos bens que se obtém no mundo, menos ainda nos que se obtém à custa da exploração e do sofrimento alheio; a felicidade está em ser pleno, forte e capaz de viver sem macular a si e aos outros. Isto, sim, chama-se respeito ao outro; não o que tem sido ensinado. O homem inverteu a lógica da vida e assim produziu um mundo assentado na dor e no sofrimento. Sim, a vida tem dores e sofrimentos, já dizia Schopenhauer, mas o homem conseguiu multiplicá-las ao infinito. Não é a natureza que é cruel; somos nós: é isto que o homem se nega a ver. E ele vive tão imerso na dor e no sofrimento que chega mesmo a sentir-se atraído por eles; a se compor com eles, a lhes fazer elogios e a morbidamente saudá-los como inerentes à sua natureza. No entanto, a verdade é que, desde a infância, somos insensibilizados, adestrados para não reagir, para não sentir em demasia (nem amor, nem dor, nem compaixão, absolutamente nada… Descartes, de fato, confundiu as coisas: os homens é que se tornaram “máquinas sem alma”). Dito de outro modo: os sentimentos são em nós, desde cedo, aprisionados, dilacerados, considerados perigosos. Não se costuma dizer que a própria paixão é um perigo? Sim, o perigo da paixão é que ela pode nos desviar dos deveres que nos foram impostos pelo mundo; deveres aos quais aprendemos a obedecer como autômatos, mesmo quando eles nos rebaixam como seres humanos. Dito de modo mais claro: somos escravos de um mundo que nós mesmos construímos (e cada um põe um tijolo nesta construção enquanto não desperta deste longo torpor, deste anestesiamento moral que subverte nossa natureza e nos rouba a liberdade de sermos aquilo que somos: seres verdadeiramente humanos). É assim que todo homem permanece preso num círculo vicioso, aparentemente insolúvel, até que comece a dizer “não” para a crueldade, seja ela dirigida aos outros homens ou aos outros animais (certamente, as maiores vítimas deste mundo). É um caminho árduo, sem dúvida, mas como poderia ser barato o preço da liberdade e da plenitude humana depois de tanta inversão de sentimentos e ideias? Este é o verdadeiro começo: o primeiro “não” é sempre mais difícil, mas, depois do primeiro, outros se seguirão, e a cada “não” a nossa força aumenta, porque ela é proporcional ao nível da nossa libertação. Este é o maior legado que podemos deixar para as próximas gerações: libertar todas as vidas. Aliás, esta já é a condição para que as novas gerações sejam possíveis, porque a natureza não tolera mais a tirania humana. Ou fazemos algo agora ou é a natureza que seguirá sem nós: isto é um fato. Porque gostando ou não da ideia, não é a natureza que precisa do homem, somos nós que dependemos da natureza. Nós somos partes dela, e não o contrário. É por isto que libertar os animais é também libertar o animal humano da sua doença; é dar a ele uma nova possibilidade de existência que seja mais bela, mais ética, mais verdadeiramente racional. Não é sem razão que Nietzsche dizia que era preciso inventar novos valores para um novo homem. Ele não chegou a pensar tão profundamente na questão dos animais; mas ele sabia que um novo homem seria aquele que recuperaria o sentido da terra e da vida. Se ele afirmou que fizemos da mentira uma verdade, isto não quer dizer que não existam verdades simplesmente, que tudo “tanto faz”. Esta interpretação já tem sua origem na nossa inversão das coisas e é bem-vinda num mundo que busca argumentos para manter-se como é. Mas nem o capitalismo, nem o comunismo, nem qualquer outro sistema será justo enquanto não formos seres verdadeiramente éticos. Nós criamos as verdades que nos interessam. São mentiras: Nietzsche tem razão. Está na hora de “inventarmos” a verdade, ou melhor, está na hora de deixarmos que ela se mostre sem mais véus e dissimulações. “Da verdade mesmo, ninguém nunca quis saber”, também estas são palavras de Nietzsche. Mas, disto, falamos depois… (*) EUGENIO SANTANA é jornalista, assessor de comunicação, escritor, crítico literário, publicitário, editor, palestrante motivacional. Autor de nove livros publicados. Pertence a 18 instituições culturais do Brasil e Portugal.