quinta-feira, 28 de setembro de 2023
IMPULSO VITAL (*)
Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.
A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.
Vulnerável, você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.
Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?
Sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor, pois se eu me comovia vendo você, pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo, meu Deus... como você me doía! De vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno, bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calado um tempo enorme... só olhando você, sem dizer nada só olhando e pensando: Meu Deus, mas como você me dói de vez em quando!
Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez'.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, agente literário, publicitário, gestor editorial, analista de marketing digital. 18 livros publicados. Membro benemérito "ad honorem" do Centro Cultural, Literário e Artístico de PORTUGAL; sócio da ACI - Associação Catarinense de Imprensa e da UBE/SC - União Brasileira de Escritores (62) 99117-8222 WhatsApp
quarta-feira, 27 de setembro de 2023
MEUS LIMITES HUMANOS...
COMO SOMOS TODOS LIMITADOS, EM TEMPO, ENERGIA E CAPACIDADE! Segure os oceanos nas mãos, junte o pó da terra em uma cesta. Dá nome às estrelas e as direciona, conhece os governantes do mundo e supervisiona suas funções, considera as ilhas meras partículas de poeira e as nações como gotas em um balde. (Writer and journalist by EUGENIO SANTANA)
PEGA ESTE LIVRO...
Quando estiveres velha e grisalhas, e cabeceares De sono à beira da lareira, pega este livro,
e lentamente o lê, e sonha com a aparência suave Que tinham outrora teus olhos, e suas sombras densas; Muitos amaram teus momentos de alegre graça, e tua beleza, com falso ou vero amor, Mas um homem amou a alma peregrina em ti, E a mágoas de teu rosto sempre a mudar. (writer and journalist by EUGENIO SANTANA, 18 livros publicados, "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, entre outros. (62) 99117-8222 WhatsApp)
terça-feira, 26 de setembro de 2023
VIDA EFÊMERA
À medida que envelheço, presto menos atenção ao que as pessoas dizem; simplesmente observo o que fazem. Os projetos de vida foram substituídos por estratégias de sobrevivência. Quem não é belo aos 20, nem forte aos 30, nem rico aos 40, nem sábio aos 50, nunca será nem belo, nem forte, nem rico, nem sábio. Na idade de 60 anos, não se deve adiar um instante feliz que nos promete prazer. Pelas estatísticas, o lugar mais perigoso do mundo é a cama, pois é o lugar onde mais se morre. Aniversário: aquela festa onde comemoramos estar um ano mais próximos da morte. Hoje, quando me pedem autógrafo, dizem que é para a mãe. Quando a gente acorda depois dos 50 anos e nada dói, é porque já morremos. Espero morrer aos 110 anos, assassinado por uma mulher ciumenta. Existem dois legados duradouros que podemos deixar para nossos filhos. Um deles, raízes. O outro, asas. (Copydesk/fragment by Writer and journalist Eugenio Santana, FRC)
FÊNIX...
Fênix, eu sei renascer no sorriso da criança que corre atrás de uma bolha de sabão; no verde que renasce do estio, nos botões que encerram promessas, na grama que cresce para ser podada; eu só não tenho, Fênix, tuas asas auri-rubras, nem sou bem-vindo ao Templo do Sol, nem verei mais que o espaço de uma vida. Mas, Fênix, eu renasço como as estrelas renascem na noite, como o azul renasce nos nimbos, como os povos renascem das guerras, como a liberdade renasce da opressão, como a bem-aventurança renasce da desgraça, como o perdão renasce do ódio, como a vida renasce da morte e o amor renasce da mágoa. E seguirei renascendo a cada dia, a cada dia, Fênix, a cada dia... (Jornalista/escritor Eugenio Santana)
sexta-feira, 22 de setembro de 2023
SER ESCRITOR
ESCREVER não muda o mundo. As pessoas mudam o mundo. ESCREVER só muda as pessoas. Não acredito na LITERATURA como meio de salvar o mundo. Acredito, sim, que a obra literária eventualmente possa salvar ALGUÉM. Tudo que não serve para ser comprado ou vendido, quer se trate de objetos, idéias, princípios, ética ou esperanças, não tem utilidade neste planeta-escola. Nele o escritor é amaldiçoado, o filósofo um imbecil, o artista um apátrida, O HOMEM DE VISÃO um criminoso. (copydesk/fragment by Escritor/Jornalista EUGENIO SANTANA)
VIDA EFÊMERA
A vida, tão efêmera, foi consumida no afã de ganhar dinheiro, e não de imprimir a ela melhor qualidade. E nesse mundo de equipamentos que nos deixam conectados dia e noite somos permanentemente sugados. Lidamos com o computador como se ele fosse um ímã eletrônico do qual é impossível se afastar. Quantas vezes falamos mal da vida alheia e calamos elogios! Adiamos para amanhã, depois de amanhã... o momento de manifestar o nosso carinho àquela pessoa, reunir os amigos para celebrar a amizade, pedir perdão a quem ofendemos e reparar injustiças. Adoecemos macerados por ressentimentos, amarguras, desejo de vingança. E para ficar bem com os outros, deixamos de expressar o que realmente sentimos e pensamos. Aos poucos, o cupim do desencanto nos corrói por dentro. (Escritor/jornalista Eugenio Santana)
quarta-feira, 20 de setembro de 2023
UNI/VERSO PARALELO
Já experimentei quase tudo na vida. O que não experimentei, eu já conheço. Conheço e amo os dois extremos. Nunca fui pelo meio-termo. Sou pela lucidez plena ou pela loucura absoluta. Ficar entre essas duas linhas me deixa cheio de angústia. Nunca consegui controlar esses dois estados da alma. Não se pode amar dois deuses ao mesmo tempo. O homem que trilha entre essas duas paralelas não conhece o rompimento da linha de perigo. Assim, acreditamos que ele estará fadado a uma eterna frustração. Sua vida consistirá em buscar a infalível morte, e não poderá encontrar a doçura do verdadeiro mel, nem o sal para remir suas ofensas. A roda da vida sempre passou sobre aqueles que procuram falar mais sério. São nas vozes das crianças que podemos perceber o encanto da poesia e da música. (Writer and Journalist by EUGENIO SANTANA)
VENDEDORES DE VENTO
Eu sou aquele que retornou e retornará sempre. Certamente, os mesmos encontros acontecerão antes de transpormos os portais do céu. A finitude do todo é composto por nós. O pássaro de penas vermelhas, eternamente, será visto por mim sobre a cerca de arame farpado. Sempre voltarei a escorregar sobre a argila branca dos barrancos da minha pequena cachoeira. Um número incontável de vezes banharei o meu corpo nas águas cristalinas do pequeno riacho. O vento frio de maio voltará a açoitar minha face ainda não marcada pelo tempo. Nosso sonho pode estar em qualquer esquina, quando o encontrar, procure vivê-lo intensamente. O bom caçador nunca persegue a presa. Ele espera... Com infinita paciência... Na tocaia. O que lhe pertence cortará o seu caminho ou baterá em sua porta. A maioria dos homens são eternos vendedores de vento. (Writer and Journalist by EUGENIO SANTANA)
segunda-feira, 4 de setembro de 2023
IDADE DO LOBO
Restam algumas fotografias dispersas, espalhadas na desordem das gavetas do armário: arquivos do tempo nas asas da memória... Encontrei – ao acaso – um velho álbum carcomido pelas traças ao longo desses anos. Nostalgicamente, retornei ao passado ao deter o olhar nos antigos fotogramas: revejo o rosto jovem e lindo, em destaque o largo sorriso – antes tão familiar e os olhos de topázio a me indagar: o porquê da ruptura e o que faço de minha vida – hoje, agora, aqui? Telefono para Alexandra – em Paris – expondo-lhe os projetos de minha vida e sugiro que fique com o nosso velho álbum de fotografias. Na Idade-do-Lobo não temos mais pressa para resolver as coisas do coração. (Escritor/Jornalista/Ensaísta EUGENIO SANTANA)
domingo, 3 de setembro de 2023
PLANETA PSÍQUICO
Muitos vivem em sociedades livres, porém são escravos de suas emoções. Escravos modernos, algemados pelo medo, insegurança e angústia; sem amarras físicas, mas acorrentados por preocupações irrefreáveis, por pensamentos perturbadores e por uma mente inquieta, ansiosa, agitada, que pensa descontroladamente e teima em não relaxar. O grande desafio das sociedades modernas não é ter espaço para manifestar, protestar, ambiente para expressar suas idéias e emoções, para consumir produtos e serviços. Não, o grande desafio é treinar nossa mente para ser livre e serena num dos territórios mais difíceis de explorar do universo: o Planeta Psíquico. Tão perto e tão longe. (Writer and journalist by EUGENIO SANTANA)
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