quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025
NASCI PARA AMAR OS OUTROS E ESCREVER...
Necessitamos dar sentido à vida ávida para que o medo da velhice não nos aterrorize. Volto às emoções precárias. O medo da velhice vai chegar a algum momento para cada um de nós. Na minha modesta opinião, não há como trancar a porta e perder a chave. Ele virá quando menos se espera. Uma amiga, Nazareth Oliveira, que falava compulsivamente sobre a velhice, não tinha sequer 60 anos. Mas o medo chegou, voraz. E agora, Maria? Parafraseando Drummond. E agora? O que se faz com esse medo incontrolável de envelhecer? Lamentar o tempo que se foi e temer o que há de viver, ou viver sem pressa, reformando o novo lar? Não quero parecer ingênuo, mas não podemos fazer concessões a essas emoções fugazes. Que venham, já que virão. Mas que nos encontrem dispostos a dar significado aos nossos encontros nas varandas que se abrem para aqueles que não temem a novidade do encontro e do recomeço. Chegadas e partidas. O livro de Tolstói está aí, solitário em alguma livraria, no meio de tantas guerras que travamos com as nossas emoções precárias. Clarice Lispector confessou certa ocasião que havia nascido para três coisas: "Nasci para amar os outros, nasci para escrever e nasci para criar meus filhos". Incluindo os livros, grifo meu. E prosseguiu: "As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca." O tempo é como um rio que inexoravelmente ruma ao mar. E o rio às vezes frequenta cenários exuberantes e não pode parar, nem assim, para contemplá-los melhor; outras vezes penetra em paragens enigmáticas e tem de percorrê-las sem o poder da pressa. É o curso. É o tempo, é o espaço. Penoso e feliz. Desconhecido. O dia é uma página em branco que escrevemos. E o outro dia haverá de vir com a mesma fome de palavras de luz, de atitudes altruísticas. O medo não pode nos roubar a tinta, a inspiração, o texto já elaborado na tela mental. A vida segue o seu rumo, inapelavelmente. Qual a melhor idade? Talvez aquela que supera o medo de ter qualquer idade. E, se não vencê-lo, que tenha a coragem de enfrentá-lo com esperança e fé. A esperança reacende a chama do comprometimento com o outro. É o outro, com suas imperfeições, limitações, fraquezas e estranhamentos, que reanima a minha existência no planeta-escola. Meu ofício de ESCRITOR é meu instrumento de vida. (Escritor/jornalista/ensaísta/filósofo EUGENIO SANTANA)
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025
BREVE VOO DO TEMPO (*)
Quanto tempo é para sempre? É o tempo em que ficamos ou a promessa de partirmos? É nunca mais; até à próxima, um instante? Um até já; um momento, um breve fragmento? É um raio de sol que nos cega num morno fim de tarde de Agosto? É a realidade captada pela tua lente: para sempre? É uma ausência que dói; uma gota que se faz mar; um acorde perfeito; uma sinfonia; um choro; um grito? É uma porta que fechas; mais um degrau que avanças; um capítulo encerrado num livro escrito pelo vento ou pintura improvisada na tela quente do teu corpo? Uma reta; uma espera; um passeio? A espuma do nosso banho; a chama daquela vela; a chuva a bater na janela? É a distância que a tua boca demora? Uma carta de despedida, escrita a tinta permanente? Uma árvore que plantas; uma estrela que prometes; uma nuvem que ofereces? Um poema roubado; um fim de tarde inventado? Um banco de jardim e um livro? São memórias, lembranças e histórias, bilhetes confessados em pedaços de papéis rasgados? Para sempre é o tempo suficiente; o tempo que não chega - o tempo que perdemos. Todo o tempo do mundo. Para sempre é um lugar onde moram as promessas, os planos, os sussurros, os pecados; nas madrugadas que não terminam, com corpos que não são nossos em vidas que não nos pertencem. Quanto tempo é para sempre? É hoje: agora - o presente.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, filósofo e gestor editorial. 20 livros publicados, entre os quais, o best seller, "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, São Paulo. (62) 99635-8005 WhatsApp
terça-feira, 11 de fevereiro de 2025
ROSTO DESFIGURADO...
Restam-me as mãos imensamente vazias. Resta-me o olhar preso ao horizonte onde não existe mais você. Resta-me um "Rosto Desfigurado", a lembrança de uma silhueta alta que comigo criou pedaços de vida, hoje soltos e jogados ao vento. Resta-me o olhar perdido, incontido a explodir migalhas. Fragmentada ausência de espaço físico de um ser amigo, chamado mulher. Mulher sensual dos vividos, sofridos e revisitados vinte e poucos anos... de solidão, repressão e implosão. Amalgamados nos sentimentos que exprimem e deprimem esse vai-e-vem inconstante: o amor. Resta-me a libido corroída, lasciva na dor da perda de um corpo, de um ser . Corpo no qual meu coração tentava criar asas para voar... voar... voar... Resta-me, no âmago, a saudade amordaçada, presa e vencida, inserida na dor da flor que murchou e dividiu nossos camnhos. Resta-me esse louco e incontrolável desencontro ou desencanto? ( by Eugenio Santana - In "Asas da Utopia", Santana Edições, Brasília-DF, 1992)
quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
SINFONIA INACABADA... (*)
Vivemos sendo colocados à prova. Dia sim, dia também, a vida nos cobra decisões, posições, atitudes. Escolhas feitas no passado, estão sempre prontas, transformadas em consequências e embrulhadas num pacote de presente a nos esperar, na próxima esquina, no travesseiro onde tentamos repousar nossas confusas cabeças à noite, no despertar da manhã.
Ao contrário do que vivemos querendo acreditar, muito poucas vezes nos cabe o papel de vítima. Em uma maioria esmagadora de vezes, o que nos acontece é fruto, consequência, resultado de nossos próprios atos, tenham sido eles gestos honrados, atitudes covardes ou rompantes de bravura. Nada é capaz de nos proteger de nós mesmos. Nada!
Viver não é um risco calculado. Está longe de ser um projeto idealizado. É a cada dia da vida, com pequenos passos e gestos miúdos que vamos delineando a nossa própria sorte. Construímos nossa história lá na frente com tijolinhos colecionados lá atrás. Juntamos aos tijolinhos, pedrinhas que colhemos no caminho; algumas escolhidas em momentos bem vividos, outras tantas atiradas sobre nós. E, o que dá a liga nessa sempre interminada obra, é a nossa essência, pautada em nosso caráter e moldada por nossa capacidade de interpretar cada obstáculo como um sedutor desafio.
E, a cada página escrita desse conto desconstruído, vamos nos vendo em pequenas frestas de luz e de sombras. Vamos experimentando a glória do protagonismo, a secundária presença do coadjuvante, a plácida alienação do cenário, a silenciosa participação dos figurantes.
O drama nos pega pelas veias mais intensas e nos confronta com a interpretação do real, inundando a tela de tons opacos e, ao mesmo tempo, carregados das cores primitivas das emoções que nos movem nas desencontradas melodias da vida.
E, entre notas, compassos, timbres e tons, não nos esqueçamos que a sinfonia pode sair completamente distorcida, caso descuidemos desse instrumento multiforme e perfeitamente arquitetado que nos serve de morada à alma. Olhemos para os nossos pés, com o devido respeito que merecem os alicerces. Contemplemos nossas mãos com a humilde reverência destinada aos milagres. Dediquemos aos nossos olhos e ouvidos a atenção devida aos portais de sabedoria. Que a nossa boca seja provida e provedora de delicadezas puras. Que nossa pele seja proteção e contato com o sentimento antes do toque. Que nosso prazer seja alimento e alento para nos ensinar que, ao nos diluirmos uns nos outros, é que nos reencontramos inteiros no líquido universal da vida.
E, então, talvez um dia, com todos nossos sentidos despertos e confessos, sejamos capazes de compreender que essa nossa transitoriedade é tanto assustadora quanto maravilhosa. Morremos um pouquinho a cada instante; a cada beijo de amor que nos rouba o fôlego; a cada desencanto que nos reduz a lágrimas; a cada limitação vencida que nos convence e insistir, persistir, superar. Que a nossa data de validade seja a nossa compreensão, enfim, de que é em nossa finitude que reside a razão de ainda estarmos vivos, e não apenas respirando.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, agente literário, biógrafo, copidesque , revisor textual e filósofo Rosacruz. Autor de 20 livros publicados, "Ventos fortes, raízes profundas", é o best seller, Madras editora, SP. (62) 99635-8005 WhatsApp e (62) 3311-5532 - E-mail: es.escritor1199@gmail.com
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