terça-feira, 30 de junho de 2020

SUTIS NUANCES DO AMOR (*)

As coisas incomensuráveis habitam as pequenas delicadezas do amor. Estão nas miudezas e nos gestos cotidianos dos quais nem nos damos conta; nos pequenos desejos, na mão pousada sobre ombros descansados, nas pontas dos dedos que deslizam na nuca amada, na pipoca dividida, nos abraços despretensiosos, na pia do banheiro ou nos beijos dados na cozinha. Estes pequenos gestos e abraços engolem o sexo mais indomado e o presente mais caro. Não que o sexo e o presente mais lindo não sejam bem-vindos, mas as pequenas delicadezas têm um poder incrível de sobreviver ao tempo. A certeza da conversa a qualquer tempo é ainda mais reveladora e prazerosa, é ela quem nos afasta da solidão das multidões, que nos transmite certezas, se é que estas existem, de que as coisas seguem por um caminho quase perfeito. O riso solto e sem protocolos conseguidos com o aumento da intimidade, sem os quais a gente murcha um pouco, está nestas pequenas delicadezas. São estas miudezas do amor que nos engrandecem e muitas vezes a gente sequer se dá conta disto. O amor é cheio de vocações desconhecidas e conexões profundas e delicadas. Pequenas delicadezas são na verdade a mais profunda forma de amor e que nos é revelada, também, em pequenas coisas. Há momentos na vida em que ficamos por um triz, temos vontade de chorar, gritar, bater; do mesmo modo temos vontade de dividir alegrias, belezas, conquistas, mas quando vamos desmoronar queremos conosco ou do outro lado da linha, aquela que dividiu com a gente as pequenas delicadezas; é nesta pessoa que pensamos, é neste colo que queremos descansar. É naquela conexão profunda e delicada que mora o sossego dos nossos anseios. Às vezes esta pessoa só precisa dizer um “alô” para o mundo ficar reconhecível outra vez. É que as coisas incomensuráveis da vida moram nas lembranças, gestos e amores gentis. (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, revisor de texto, relações públicas e gestor editorial. Autor de 12 (doze) livros publicados. (61) 9.8240-6270 WhatsApp.

ROSAS RÚBIDAS PARA BÁRBARA - A MULHER (*)

Onde está ela? Onde está aquela que viverá comigo todas as aventuras do corpo e do coração? E também da alma. Aquela que comigo construirá a alta torre da vida partilhada? Há entre vós quem não atravesse mares, desertos, montanhas e vales para encontrar-se com a mulher que sua alma escolheu? Cogito na possibilidade de todas as mulheres do mundo amalgamadas numa só expressão feminina. Por volta de 1968, iniciou-se de vez a impressão gráfica em cores nas revistas brasileiras. Descobri ao acaso este sugestivo título, acima epigrafado, numa publicação muito lida naquela época. Desde então, volta e meia, essa frase platonicamente romântica adeja minha cabeça, instigando uma lacônica crônica. Vasta experiência concernente a tão decantada alma feminina – expressão de Lilith-Eva, sei lá... Não sei porque nesse momento aflora-me a Crônica do Amor Louco; breves passeios sobre as memórias de Casanova me alegram o espírito e numa perplexidade de Adônis de Paracatu, um Alain Delon revigorado, e com o olho de Hórus, me lembro de um comentário pleno de conteúdo de uma amiga que se referiu a mim dizendo: “você me lembra o personagem Dom Juan – interessante filme estrelado por Johnny Deep e Marlon Brando”. Inefáveis lembranças... Cada experiência traz em si o sabor singular do verdadeiro conhecimento. E conhecer é saborear. Insofismável iniciação: compartilhei romances via corpo, alma e coração com um número razoável de mulheres especiais que cruzaram os meus caminhos. Delas recebi lições inesquecíveis de vida, luz e amor e o aperfeiçoamento da libido, o despertar da kundalini fez a serpente emplumada levitar e, de quebra, algumas performances básicas do Kama-Sutra foram incorporadas. E quanto mais as conheço e vivencio, mais as considero um planeta inexplorado de seres mutantes. Muito embora, um famigerado poeta disse antes: “as mulheres foram feitas para serem amadas e não para serem compreendidas”. Sinceramente, faz sentido. Aqueles ou aquelas que insistirem em ir mais fundo no tema, sugiro a leitura do ensaio para as mulheres, escrito por mim, em 9/9/1999. História completa com riqueza de detalhes e comprovados dados científicos constam do insólito romance autobiográfico “Os Pessegueiros Florescem no Outono”, de nossa autoria, a ser publicado brevemente. Aguardem-me, adoráveis leitores... Reflito: qual dessas protagonistas de minha vida, mais se aproximou de constituir-se em minha alma-irmã? Humano, demasiadamente humano, tenho minhas dúvidas cruciais, inseguranças e incertezas, quero ter à disposição um leitmotiv e uma nova utopia, porque carrego comigo, na bagagem do coração, idêntica filosofia de um amigo dos velhos tempos, que sempre me repetia esse surrado lugar-comum: sou movido a estímulo. Certeza, uma única: O Amor é o Caminho. E o seu poder, absoluto. O amor é a Perfeição. Não precisamos de milenares gurus para absorver esta conclusão definitiva. O Mestre da Luz e Sol do Verbo: Jesus – O Cristo Cósmico nos legou este fundamental e maravilhoso ensinamento. Em “A Ponte para o Sempre”, meu querido autor e confrade Richard Bach, encontrou seu par perfeito. A busca obstinada teve um final feliz: o encontro com sua alma-irmã Leslie Parris. Apesar das críticas irrelevantes, estou seguindo suas pegadas, meu caro Richard. Só posso dizer que só me arrependo daquilo que não fiz. A vida é muito breve para atos mesquinhos, hipocrisia, mediocridade e falso moralismo. Nas asas da memória arquivei o recado especial do Holandês Voador: “aqueles que mais procuram o AMOR já estão plenos dele”. Não procuro uma mulher “bárbara”, mas Bárbara – a mulher. Sei que toda luta é vã mal começa a manhã. E a guerra só está perdida quando rompemos o último fio de prata do invólucro material ou corpo físico. Enquanto a vida ávida e a fome de viver, estiver impulsionando o coração, estarei na estrada – como diria Bob Dylan -, à sua procura flor-estrela, Asa guardiã; Vênus-Afrodite. Leal e única companheira da última jornada. Gostaria, sinceramente, de apostar, hoje, todas as minhas fichas em um novo amor platônico-shakespereano. Rosas Vermelhas para Bárbara... Impressões da infância e do início da adolescência de um mineiro-menino. Sinais vitais de êxtase nos complexos caminhos de Eros. 1971-1975... Não sei ao certo, em que ano o episódio aconteceu. Só posso afirmar que ao folhear aleatoriamente aquela romântica revista de fotonovelas, deparei com uma estória que marcou a minha vida: uma jornada do ser à procura do par ideal. Hoje quero despertar e acreditar que é possível encontrar “Bárbara” – a mulher. E viver plenamente (asa de um sonho?) os altos e baixos de um grande, único, verdadeiro e definitivo amor. Quem é essa Vênus-Afrodite, especial mulher, disposta a receber o meu buquê de rosas-vermelhas e ser feliz até que outra vida nos espere?... Finalizo com as belas palavras de Rilke: “Ainda não sabias? Lança o vazio aprisionado nos braços para os espaços que respiramos! Talvez os pássaros sintam, num vôo de maior intimidade, o ar mais amplo. As primaveras se valem de ti. Muitas estrelas te dão a coragem para percebê-las. Ao passares por uma janela aberta, um violino se entregou a ti. Será que respondeste? Não estavas sempre distraído à espera, como se tudo anunciasse uma amada?”. (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, revisor de texto e Biógrafo. Autor de onze livros publicados. (61) 9.8240-6270

segunda-feira, 22 de junho de 2020

PASSOU TUDO... (*)

Sofrimento, remorso, expectativa, ilusões, crenças, convicções, incertezas, solidões, saudades. Resta o homem velho ESQUECIDO, abandonado, ignorado; mergulhado no ostracismo. Um Rimbaud na Abissínia, um E.M.Cioran exilado em Paris; e, por fim, vejo Edgar - O Allan Poe - sussurando Lenora, Lenora e na janela pousado, o Corvo - com olhar melancólico. Assim como nasce, o ser fenece como o Crepúsculo e a Aurora embora eu tenha dúvidas sobre a imortalidade da alma. Holístico, tenho a face da Natureza humana tatuada em meus olhos embaçados. Ajoelho e choro. Oro. Sei que o Arquétipo de Hórus é meu seguidor e me persegue uma vontade irresistível de voar e transcender. Gratidão à Terra pelo retorno ao pó... (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, assessor de imprensa, redator publicitário, revisor de texto e gestor editorial; agente literário. Autor de 11 (onze) livros publicados: conto, crônica, ensaio, poesia, romance e biografia. Atualmente, radicado em Brasília-DF. (61) 9.8240-6270 WhatsApp.

sábado, 13 de junho de 2020

QUEM É O GUARDIÃO DA PALAVRA ? (*)

Eis a essência da sombra: o princípio e o fim da tua procura catártica. Aqui, as pessoas se confundem, se refugiam, se despem, se questionam: cobras, lagartos, colibris, borboletas, morcegos; aqueles que habitam as teias espessas do anonimato e formam tentáculos de Ariadne. Individualmente, cada um pode ser o que quiser, fazer o que quiser: os olhos na tela e o mundo nas mãos. Não interessa de onde venha ou para onde vá: ninguém passa impunemente por esse espaço de fragmentos, miscelâneas, economia verbal; linguagem coloquial e monossilábica; artigos prolixos – pró-lixos, jurássicos ou não – artigos longos e enfadonhos, palavrórios, estilhaços filosóficos, estilhaços oníricos e holísticos... Aqui sobrepõe e sobressai o livre-arbítrio e nenhuma mordaça jamais nos alcançará. Não acreditamos em almas-gêmeas. Algemas explodidas, implodidas. Este é o território inóspito do caos. É também solo do sagrado, onde reinam homens e mulheres, anciãos e bebês, carne e osso, Deus e o “encardido”. Onde (re)encontro você. Onde transcendo. E atinjo o zênite e o self e, por vezes, encontro a mimesmo. Você me questiona quem sou e, no instante em que sua curiosidade beira a insanidade, torno-me o nítido e letal veneno do seu temor e te convido a voar por meio de minha alma alada. Eu sou o guardião das sombras esquecidas e o Anjo da Luz revisitado. A nau é frágil? Naufrágio. Ícaro que inibe e instiga. Ânfora com sede. O ponto de exclamação. Junto ocidente e oriente; vida e transição; yin e yang; caos, utopia e paixão. Crepúsculos e Auroras. Nasço a cada findar de um novo dia. Permaneço pequeno, ínfimo. O olhar, ainda gótico. Orgulho-me de ter crescido envolto em névoa e neblina de Arte e Cultura. Lamento meu piano fechado, minha flauta quebrada, meu violino de cordas partidas. Meu pulo impreciso. Decidi viver do limbo virtual e real, arquiteto da pá lavra... basta-me existir e persistir e seguir resiliente aonde as estradas são janelas do Nada. Nadar. Nadir? Inspiro quando leio, escravo enquanto escrevo. Os dedos e os olhos sempre inquietos, a cabeça pulsante, buscando a ousadia, criativo e perfeccionista. E o pássaro voa, sobrevoando pudores, sentindo outros odores, alçando vôos inimagináveis; cantando para deixar brotar a Utopia. Aproxime-se! Há repulsa e irresistível atração. (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, gestor editorial, assessor de imprensa, relações públicas, redator publicitário, biógrafo, ornitólogo e blogueiro; Ex Superintendente de Imprensa no Governo do Rio de Janeiro. Onze livros publicados. Atualmente, radicado em Brasília, DF. (61) 9.8240-6270. Propenso ao retorno à Brasília, por conta do Coronavírus. Recomeço...