segunda-feira, 23 de setembro de 2024

FILAMENTOS DE UM PÔR DO SOL ANDRÓGINO (*)

Admirava-o. Não perdi a admiração. Acredito que ela tenha aumentado. O bizarro, é que nunca cheguei a pensar como tudo havia acontecido. Eu era, testemunha ocular de um gesto que o personalizou, ainda que não tenha tido a intenção, seu trabalho bastaria, como bastou. Entre os estandartes da demência e da genialidade, fez-se eterno. O vermelho deslizava-lhe pelo pescoço, avolumando pequenas poças, coágulos, gosmas, querubins malditos, formas mortas, abortos, abutres, assentados nos pêlos da sua barba. Seu olhar fixo, sem nenhum tremor, como se nada acontecesse, e não fora ele o autor, intérprete, diretor, cenário e palco do monólogo vermelho. A colcha que cobria a cama ganhava nova coloração e forma, pintura primitiva, esvaindo-se das minas da carne, viscosa e quente, contrastando à indiferença do seu olhar, parede e alcova, da emoção. O corpo demonstrando declínio ante a dor não exposta e fraqueza natural, quedou-se devagarzinho, de encontro à cama. O instrumento cúmplice, banhado de vermelho, parecia um bumerangue aborígene, pássaro apocalíptico da trilogia da negligência. Nós éramos mórbidos epigramas do triângulo em gestação. Cortado pelo gélido pincel, foi-lhe a carne dividida, lembrando o pão da santa ceia, às avessas. Ela estava arrancada dele, definitivamente separados. Não fiz nada. Senti que não deveria interferir. No entanto, não poderia abandonar aquele momento trágico e sedutor, sem pegar um souvenir. Quanto tempo sonhei com aquela tarde no Louvre. Lá estava eu, entre dezenas de grandes mestres, todos fascinantes com seus estilos, e rupturas que marcaram época, contudo, queria encontrá-lo, devorá-lo ao vivo, longe das reproduções e slides, que durante anos foram companheiros nas salas de aula. Somente ele, nenhum outro, de tal forma, conseguia desequilibrar-me, colocando-me à deriva emocional. Diante da sua arte, caminhava entre as plantações de trigo, girassóis e moinhos. Nessa viagem, frenesi de quem parte sem ausentar-se, somente retornava a mim mesmo, quando os alunos em coro, chamavam-me. Andando pelos corredores do Louvre, escarnavam-me o olhar babando as gosmas saborosas das retinas, Delaroche, Velasquez, Picasso, Gaugain, Renoir, Monet, que me provocou compreensível – breve – parada. Ele, de certa forma, bordava as lantejoulas do meu frenesi. Continuei a busca, com a certeza da sua proximidade. Subitamente, como se algo, chamasse-me a atenção, tocando-me às costas, virei-me, e o paraíso descerrou as cortinas – a luz amarela – estrela vésper da sua pintura, mergulhava na umidez vermelha dos meus olhos. Ignorando as pessoas em volta, perdendo com mais intensidade a noção do tempo, ao êxtase tântrico pictórico, minha alma alada, já não era alma. Era um arco-íris pousando no útero da tela, onde fiquei, até que uma voz – sempre elas – trouxe-me de volta para o outro lado – a terceira margem do rio do tempo – ao insistir que estava na hora de fechar o museu. Saindo do Louvre, meus olhos garimpavam o transe. Na indiscreta verticalidade do abismo, encontrei o metal cortante. Minhas náufragas, suadas digitais, revelaram a dissimulada atração. Ao guardá-lo, no bolso esquerdo da jaqueta, forte era a sensação de Ícaro, cujas asas a monotonia, não mais haveria de derreter. No balanço do meu andar, o metal batia e voltava sobre meu coração, como chibatadas, açoitando a dolorida ansiedade. A uma quadra do hotel, resolvi parar num café, escolhendo uma mesa na calçada. Após a primeira taça de vinho tinto seco, vejo-me novamente em seu quarto. Ele com o instrumento em riste, no topo da orelha, não ousava dizer absolutamente nada. Quedou silente. Os músculos de sua face e seus olhos eram os mesmos bailarinos paralíticos, completando a alegoria do hiato, antecedendo ao gesto. Sua mão, única expressão de vida, desceu num frêmito impulso guilhotinador. Um desejo irremovível de amputar. Em queda, as gotas de sangue eram filamentos de um pôr-do-sol andrógino. Sentado no café, o garçom perguntava-me se queria outra garrafa. Pedi a conta, ao mesmo tempo em que apalpava os bolsos da jaqueta. Chegando ao hotel, peguei a chave, tomei o elevador. Dentro do apartamento, ouvi o farfalhar das asas de dois pássaros vermelhos, fui ao lavabo, postei-me frente ao espelho, retirando, primeiro do bolso esquerdo da jaqueta, o dócil e inofensivo cortante metal. Depois foi a vez do souvenir. Ao empunhar o metal sobre minha orelha, no canto esquerdo superior do espelho, Van Gogh, observava-me passivamente. No mármore do banheiro, a orelha de Van Gogh, já não estava sozinha. (*) EUGENIO SANTANA é Jornalista, Escritor, Ensaísta, Biógrafo, Filósofo e Redator publicitário. Pertence à UBE - União Brasileira de Escritores. Colaborador da ADESG, AMORC e do Greenpeace. Autor de vinte livros publicados. Gestor e fundador da Hórus/9 Editora e Diretor de Redação da Revista Cenário Goiano. (62) 99635-8005 WhatsApp

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

A PASSAGEM PELA TERRA É TÃO BREVE QUE NÃO VALE A PENA SOFRER (*)

Acreditas que perdeste algo, o que é impossível, porque tudo te foi dado. Não fizeste um só cabelo de tua cabeça, portanto não és dono de coisa alguma. Além disso, a vida não te tira coisas: liberta-te de coisas, alivia-te para que possas voar mais alto, para que alcances a plenitude. Do útero ao túmulo, vivemos num planeta-escola; por isso, o que chamas de problemas são apenas lições. Não perdeste coisa alguma: aquele que morre apenas está adiantado em relação a nós, porque todos vamos na mesma direção. E não esqueças, que o melhor dele, o amor, continua vivo em teu coração. Não existe a morte, apenas a mudança. E do outro lado te esperam pessoas maravilhosas: Gandhi, o Arcanjo Miguel, Whitman, Drummond, Rimbaud, Baudelaire, Debussy, Martin Luther King, John Lennon, Renato Russo, Santo Agostinho, Madre Teresa, Chico Xavier, teus avós e minha mãe e o meu pai, que acreditavam que a miséria está mais próxima do amor, porque o dinheiro nos distrai com coisas demais, e nos machuca, porque nos torna desconfiados. Faz apenas o que amas e serás feliz. Aquele que faz o que ama, está santamente condenado ao sucesso, que chegará quando for o momento oportuno, porque o que deve ser será, e chegará de forma natural e espontânea. Não faças coisa alguma por obrigação ou por compromisso, apenas por amor. Então terás plenitude, e nessa plenitude tudo é possível sem esforço, porque és movido pela força natural da vida. Deus te tornou responsável por um ser humano, que és tu. Deves trazer felicidade e liberdade para ti mesmo. E só então poderás compartilhar a vida verdadeira com todos os outros. Lembra-te: "Amarás ao próximo como a ti mesmo". Reconcilia-te contigo, coloca-te frente ao espelho e pensa que esta criatura que vês, é uma obra-prima de Deus, e decide neste exato momento ser feliz, porque a felicidade é uma conquista. Aliás, a felicidade não é um direito, mas um dever; porque se não fores feliz, estarás levando amargura para todos os teus amigos e para todos aqueles a quem amas. Hitler que não possuía talento ou valor para viver, mandou matar seis milhões de judeus, seus irmãos. Existem tantas coisas para vivenciar, e a nossa passagem pela terra é tão efêmera, que sofrer é uma perda de tempo. (*) por EUGENIO SANTANA, escritor, jornalista, ensaísta, filósofo, gestor editorial. Autor de 20 livros publicados, destaque para o best seller "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, entre outros. (62) 99635-8005 WhatsApp

domingo, 8 de setembro de 2024

NÓS, OS EXCLUÍDOS...

VOCÊ JÁ FOI EXCLUÍDO POR ALGUÉM DE UMA REDE SOCIAL? Ficamos nos questionando por que aquela pessoa não quer mais ser nossa amiga - nem mesmo virtualmente - e se demos motivo para esta atitude. Isso me fez pensar em JESUS, que é excluído da vida de tantas pessoas. E se Ele tivesse redes sociais, quantos estariam de fato na sua lista de amigos? Quantos o SEGUIRIAM? Creio que, como antes, seria odiado, excluído e evitado por muitos, e SEGUIDO por poucos! (Escritor/filósofo/jornalista EUGENIO SANTANA)