domingo, 28 de julho de 2019
OS INTENSOS MERGULHAM EM ÁGUAS PROFUNDAS E SURFAM NO OLHO DO FURACÃO (*)
Ser uma pessoa intensa é ser indeciso, mas não ter medo dessa indecisão, é entrar de cabeça em tudo, sem receio, sem freio. O próprio intenso sofre com tantos sentimentos dentro de si, mas se existissem pessoas capazes de partilharem desses sentimentos com ele, seria tudo mais fácil. Ser intenso é ser impulsivo, é sentir e logo depois não sentir mais, é se atrapalhar com tudo que sente dentro de si, e é tudo isso que faz desse tipo de pessoa algo tão especial e tão desejado na vida, mas também, tão solitário.
É difícil de entender, e só pode ser compreendido com intimidade e o coração aberto.
Seu problema maior é a complexidade de tanto ímpeto, tem tanta personalidade que não sabe deixar um assunto para depois, não recua perante injustiças, não recua perante a oportunidade de um amor, não recua perante conhecer melhor outras pessoas.
E é exatamente esse olhar perante a vida que afugenta, oprime, assusta aqueles que estão acostumados somente com coisas mornas. As pessoas preferem comer pelas beiradas, ficar apenas no raso. Conhecer dá frio na barriga, ou você passa a odiar a pessoa, ou ela te cativa de tal modo que você se torna totalmente dependente.
Mas nesse mundo de fast food ninguém tem tempo para se deixar cativar, quando você está começando a conhecer uma pessoa, ela perde a graça, passa do tempo de validade.
Para o intenso o entusiasmo é algo corriqueiro na vida, ele se entusiasma com desafios, se entusiasma com momentos, se entusiasma com pessoas, e isso é mais uma coisa que afugenta os outros, esse entusiasmo ao invés de contagiar, acaba por afastar pessoas que tem medo de se entregar.
O intenso vive em cima da corda bamba, se ele se desequilibra para um lado, a vida é 8, se ele se equilibra para o outro, a vida é 80. É difícil desacelerar, e ainda mais parar por um momento e refletir sobre o que ele está fazendo, mas quando ele para, e vê que sua intensidade está sendo usada no local errado, ele parte sem dúvidas para um próximo porto.
Nunca peça para um intenso ser menos, isso é rouba-lo de si próprio.
Viver com um intenso não é fácil, mas te prometo que não existem dias monótonos do lado de alguém assim. Cada dia é uma aventura e a descoberta de que os sentimentos podem ser muito maiores do que você imagina.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, agente literário, publicitário, gestor editorial e influenciador digital. Dez livros publicados. Membro benemérito "ad honorem" do Centro Cultural, Literário e Artístico de PORTUGAL. Contato: autoreugeniosantana9@gmail.com e (41) 99547-0100 WhatsApp
sexta-feira, 26 de julho de 2019
A ESCRAVIDÃO NO TERCEIRO MILÊNIO (*)
Na maior parte do mundo antigo, a escravidão era aceita e muitos povos eram escravizados ao se tornarem prisioneiros de guerra. Havia escravos em Roma, na Grécia, no Egito, mas também entre os povos Incas, Maias e Astecas. Praticamente, os reinados da antiguidade se mantinham e se sustentavam sobre o trabalho escravo. Em algumas culturas patriarcais, as mulheres em geral tinham uma situação parecida com a dos escravos, onde lhe eram negados os direitos básicos de um cidadão. Na antiguidade não era incomum que pais vendessem suas próprias filhas aos mercadores de escravos para quitar dívidas. E no que diz respeito à exploração sexual de todo tipo, mulheres e crianças são, até hoje, os mais vulneráveis.
No Novo Testamento, em Efésios 6:5 está escrito sobre escravos: "Vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo." A bíblia embora traga vários preceitos sobre escravos e regulamente aspectos da escravidão, em nenhum momento, condena a prática da escravidão em si, tanto no Velho quanto no Novo Testamento, apesar da igreja católica a partir do século XV, através de seus papas, passar a dar início a uma campanha contra a escravidão.
Na era moderna, os negros foram escravizados por crenças na superioridade racial dos europeus, num período em que o comércio de escravos entre países africanos e as américas tornou-se bastante lucrativo, e os próprios reis de tribos africanas comercializavam seus conterrâneos. Antes, na América espanhola, por ocasião das descobertas de Cristóvão Colombo, a escravidão dos nativos também se deu pelas mesmas questões de cor da pele. O Brasil foi o último país ocidental a abolir a escravidão em 1888.
Infelizmente para decepção dos que dizem que “fator social” é coisa da histeria sociológica de alguns que insistem em ver problema social em tudo, não há como negar que sim, há uma estreita relação entre a prática da escravidão e as condições das sociedades onde ela se manifesta. Situações de pobreza é uma das principais razões para qualquer tipo de exploração.Tanto que os países com maior índice de escravidão, são aqueles subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, com democracias recentes ou não consolidadas como China, Índia, Rússia, Brasil, Oriente Médio, alguns países do leste europeu e África.
Hoje a escravidão no mundo se dá muito mais por condições socioeconômicas desfavoráveis, e prospera pela conivência de sistemas políticos onde falta a aplicação de leis severas que punam os exploradores. Quem são hoje os escravos? Pessoas de classes menos favorecidas dentro do próprio país e com pouca instrução que precisam de um trabalho para seu sustento, e imigrantes na mesma condição que se tornam presas fáceis ao ingressarem clandestinamente em um determinado país fugindo da pobreza, e aqueles que são traficados atraídos por falsas promessas . A escravidão continua sendo um bom negócio tanto para o crime organizado internacional quanto para empresários e donos de terras gananciosos.
Um caso recente e interessante, não fosse sua dimensão trágica, é o de um chinês de nome Zhang. Em 2011 a americana Julie Keith foi ao mercado comprar artigos de decoração para o Halloween. Um ano depois, qual não foi sua surpresa quando dentro de um brinquedo ela encontrou um bilhete, um pedido de socorro em um inglês meio torto, de um escravo chinês que vivia em condições desumanas em um campo de trabalho forçado na China, chamado Masanjia. Era Zhang, na verdade um codinome escolhido por ele. Zhang havia sido mandado para lá por divergências político religiosas com o regime, e relata que tinha jornadas de trabalho de mais de 12 horas, sem descanso nos fins de semana, além de sofrer espancamentos, privação de sono e torturas psicológicas. Ele escreveu em 2008 mas o bilhete só foi encontrado em 2012. Sua carta foi parar nas mãos da Organização Mundial de Direitos Humanos e as coisas terminaram bem para Zhang, hoje ele está livre e denunciou a existência de outros campos de trabalho forçado naquele país.
Em geral os escravos são levados para trabalhar em fábricas, lavouras, casas de família, bordéis, etc. O Brasil tem ainda o agravante do tamanho do seu território para fiscalização, e não há uma estatística confiável, mas segundo o Ministério do Trabalho, de 2003 a janeiro de 2011, foram resgatadas 33.392 pessoas em situação de trabalho escravo ou quase escravo, que se concentra nas indústrias madeireira, carvoeira e de mineração, de construção civil e nas lavouras de cana, algodão e soja, além do turismo sexual no Nordeste e a exploração da mão de obra de imigrantes bolivianos e asiáticos em oficinas de costura. O Maranhão é ainda o principal fornecedor de escravos e o Pará, o principal usuário. Conforme o jornal Correio do Estado, o número de trabalhadores em situação de escravidão cresce também no Amazonas, principalmente em atividades agropecuárias.
É inconcebível a escravização de seres humanos na avançada civilização do século XXI, mas este cenário só mudará através das ações de outros seres humanos.
(*) EUGENIO SANTANA é Escritor, Gestor editorial, Assessor de imprensa, Ensaísta, Redator publicitário, Blogueiro, Biógrafo, Agente literário. Onze livros publicados. Autor, entre outros, de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora. Radicado em Curitiba, PR. (41) 99547-0100 WhatsApp
terça-feira, 9 de julho de 2019
O MUNDO QUE ENCONTREI JÁ ERA ISSO. O JEITO FOI ENFEITÁ-LO COM PALAVRAS DE LUZ (*)
A sociedade está corrompida ou o amor foi mal entendido por todos? Porque a falta de amor, de entendimento nas relações, a carência, o abandono e a barbárie humana só aumentam. Apesar de vivermos cercados de tantas tecnologias e inovações, como a Internet e as redes sociais, que deveriam melhorar a comunicação e os relacionamentos entre as pessoas, empresas e governos, o ambiente social ainda é muito difícil e, muitas vezes, destrutível. É tanta notícia ruim, tanta disputa e ganância, preconceito social e de raça, falta de sensibilidade, de liberdade e de fé na vida! Eu falo de fé no sentido de acreditar na verdade, na justiça, na fraternidade, igualdade, bondade, união, bem comum, amizade, fortaleza, enfim, o nome disso tudo é Amor!
Ter fé é ter uma atitude positiva perante a vida. É renovar sempre a nossa fé em nós mesmos e no outro, apesar de tudo. Os desafios são imensos e não vamos conseguir sozinhos. Precisamos de um pensamento e de uma prática mais humana, principalmente porque vivemos em uma sociedade que se constrói o tempo todo em práticas desumanas. A exploração, a segregação, o racismo e discriminação social estão presentes ao longo da história da humanidade. Avançamos e retrocedemos. Damos um passo à frente e tantos outros atrás. Por um lado, o amor é um valor raro e caro e por outro não conseguimos nem ver onde está o amor.
Estamos amando apenas as coisas, os outros e as suas coisas, as coisas dos outros, mas nunca somente o outro. O outro que está despossuído de qualquer coisa não tem valor e direito ao amor. O outro precisa “ter “para “ser amado” ou odiado também. O amor às coisas não traz felicidade ou paz. Pelo contrário. Eu sempre ficarei correndo atrás das coisas novas que surgem, das novidades tecnológicas do capitalismo, dos novos smartphones e aplicativos, que não param para descansar e apreciar a vista. Você está sempre tirando fotos e postando sem ver de fato o que está a sua frente. O tempo hoje te controla porque tudo precisa ser reportado ao vivo e ai você não vive os seus melhores momentos. É tudo uma tremenda confusão e correria - parar e observar com tempo ou apenas consumir coisas que dão status para que você consiga mais aprovação, mais likes, e no fundo consiga o seu maior desejo - ser amado.
O mundo sempre viveu de aparências, a sociedade das aparências é antiga e controladora. Mas hoje vivemos na sociedade da imagem, daquilo que aparece na sua tela e, portanto, da aparência digital. Aparecer na tela é como dar atestado de existência. Eu posto, logo existo. Eu apareço e sou reconhecido como gente. Eu posso ser amado assim. E muita gente vive da ilusão de likes. A real proximidade, o relacionamento íntimo com alguém é algo bem mais profundo e complexo, que exige tempo, dedicação e compreensão de ambas as partes. Isso, exatamente isso, que tanto amamos, nós estamos perdendo.
Estamos nos distanciando uns dos outros. Pela falta de tempo deste mundo acelerado e competitivo, do capitalismo e do consumo frenético para ser visto e apreciado. E o que buscamos, o amor, ficou contraditoriamente mais difícil de ser concretizado. Há uma tela, uma invenção tecnológica entre a gente, e nós não nos tocamos mais, não nos olhamos olho no olho, não sentimos a respiração e o calor do toque do outro. Estamos como as máquinas robotizados, só levantamos o pescoço para cima e para baixo para checar o celular. Qualquer outra forma de expressão ficou ultrapassada, antiga! Se você não se atualiza de segundo a segundo está perdido.
Não precisamos ser viciados em tecnologia para sobreviver e o tempo que gastamos com ela, nos subtrai um tempo precioso para o amor. Não que você não deva jogar mais na Internet e conversar com seus amigos. Mas acredito que evitar um contato prolongado nas redes sociais, e a vontade de saber de tudo e acompanhar tudo em matéria de notícias e atualidades, já seja um bom caminho. Não dar conta de tudo é uma realidade. É melhor deixar pra lá, por um tempo. É preciso descansar da avalanche de informações, de conversas e de comentários que não fazem sentido. É preciso selecionar e muito o que vale a pena ler e refletir sobre. Quando começo a ler algo tóxico, envenenado, já saio correndo. Não dá para perder tempo com falta de amor.
Dizem que a gente precisa encontrar o amor, aquele dito “sentimento”, rotulado de encantador de gente e sedutor, mas que, na verdade, é a nossa grande fonte e ponte de conexão humana, é o que nos une e nos recompõe. A gente devia era resgatar este "amor maior" que existe dentro de todo mundo, porque faz falta sentir empatia, compaixão, gratidão, ser corajoso e vulnerável. Faz falta se colocar no lugar do outro e sentir como ele sente a sua dor. Faz falta ter coragem de falar dos nossos sentimentos verdadeiros e se expor, se abrir de verdade para o outro e para a vida. Faz falta ser quem somos de verdade. Faz falta a nossa verdade, o nosso sonho, a nossa luta pelo melhor. Um mundo sem amor de verdade, é um mundo sem sentido e sentidos. É um mundo perigoso e beligerante. Porque no lugar do amor estamos colocando o ódio! Não há como ser humano e não sentir nada.
Há sempre tempo para apreciar e ser apreciado se você realmente pratica o amor desinteressado! Este amor que quer apenas ser olhado demoradamente, suavemente, quer ser ouvido atentamente e embalado! Ele não precisa de presentes caros, de jóias e coisas reais e concretas para ser expressado! Amar é olhar para o outro e vê-lo como realmente é, sem filtros, sem amarras, livre, dono de si. Se a gente ainda vai conseguir amar de verdade, eu não sei! Mas é preciso entender e se desvencilhar das correntes do nosso tempo, do uso e da dependência excessiva da tecnologia que dita as regras, e das aparências (imagens) que no fundo nunca dizem nada sobre quem somos e o que queremos.
Por mais modernos que aparentamos ser com nossos celulares em punho e atualizados, ainda somos antigos e sofredores. Ainda sofremos com os julgamentos alheios, com a falta de humanidade e de amor. E ainda sentimos que estamos sozinhos e precisamos do outro. Quem sabe para construir uma nova história, uma nova realidade. Então há uma chance. E como seres humanos no meio da jornada, há muitos caminhos, muitas encruzilhadas, oportunidades de mudança de rumo, de reencontro consigo. Sempre há uma porta a ser aberta, uma nova estória a ser contada.
Precisamos falar das nossas emoções, das nossas relações de amor, de amizade, de trabalho, na família, enfim, precisamos nos conectar mais profundamente conosco e com os outros. Mas precisamos muito mais de ouvir, ser bons ouvintes. É preciso deixar o outro falar de verdade e simplesmente ouvir – em uma escuta ativa, focada, interessada e amorosa. É preciso querer de verdade ouvir e entender o outro, as suas razões, motivações e sentimentos.
Precisamos ter tempo e um olhar ativo para o amor, para a prática amorosa em todas as suas formas de expressão – ouvir, falar, ver, sentir e tocar. O Amor anda carente de atenção, de olhares compassivos e carinhosos. Amar é se doar ao outro. Dar um beijo, um abraço, um colo e um ouvido!
Há muitas pessoas, escritores, estudiosos e pesquisadores falando sobre o mundo contemporâneo e as influências das novas tecnologias nas relações humanas na atualidade. Vale muito a pena ouvir e refletir sobre as visões de cada um.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, agente literário, publicitário, gestor editorial e influenciador digital. Dez livros publicados. Membro benemérito "ad honorem" do Centro Cultural, Literário e Artístico de PORTUGAL. Contato: autoreugeniosantana9@gmail.com e (41) 99547-0100 WhatsApp
segunda-feira, 8 de julho de 2019
HOMEM ENTERRADO VIVO PELA MULHER AMADA - LADRA DE SEUS PROJETOS E PLANOS (*)
O filósofo Mario Sérgio Cortella diz que seu talento para discursar vem de pessoas que o inspiraram. Jean Perdu, personagem do livro A Livraria Mágica de Paris, de Nina George, encontrou inspiração em um encontro inesperado para voltar ao mundo dos vivos. Estes dois fatos se encontram em um dos mais delicados setores das relações humanas: o quanto uma vida toca a outra ao ponto de transformá-la. Da mesma forma que um número incontável de pessoas passa por nossas vidas sem deixar marcas, há aqueles despertadores de admiração, de afeto e inquietação.
Enquanto a inspiração de Cortella veio no sentido de se espelhar, a inspiração de Perdu veio da combustão entre o presente e o passado. Alguém que o inspirou no passado, fez dele oxigênio, sugando sua vontade de viver. E um outro alguém que no presente o inalou com suavidade, mas o expirou de volta para o mundo, uma outra versão de Perdu, não necessariamente mais viva, mas definitivamente mais atenta, inquieta e com mais fome de sentir e reagir. Um homem atormentado e enterrado vivo por vinte e um anos após ser deixado pelo diabo da mulher amada, idolatrada, ladra de seus planos e de praticamente toda sua existência. Dona que partiu deixando apenas uma carta e as sombras de um ex amor rondando a casa.
Perdu tornou-se cinza após ser deixado. Viveu por vinte e um anos com sorriso apagado, passos arrastados e sonhos desligados. O amor latente deu tanta vida à sua vida que quando partiu se sentiu no direito de tirá-la, mas deixou seu talento para ler almas e receitar livros em seu barco-livraria como quem receita remédios. Perdu não estava totalmente morto, era alma penada, rodeando o corpo ainda quente à espera de um outro suspiro que pudesse acenar um possível caminho de volta à vida. Ele permitiu que o inalassem, como tantas outras pessoas permitem. Não apenas enquanto o amor esteve presente, pois a coragem de almas que se amam não é doce quando não há entrega. Permitiu ser aspirado quase por completo na dor de ser deixado pela pessoa que mais confiava no mundo. Sem razão e explicação. Esqueceu que mesmo sendo um na cama, eram dois. E ela estava no seu mais justo direito de partir pelo motivo que achou pertinente. Perdu escolheu ser o oxigênio de alguém e esqueceu de recolher um pouco para continuar vivendo.
A reviravolta do livro é tão sútil quanto as reviravoltas da vida. O encontro com outro alguém que inala a fumaça das cinzas da morte que escolhemos em vida. Felizes são aqueles que encontram inspiração em seu interior. A maioria dos mortais, assim como Perdu, necessita de uma luz externa para tirar o cimento que cobre os olhos e assim descortinar possíveis caminhos. Perdu sentiu os primeiros sinais de vida germinar. Se arrepiou, chorou, se irritou e desejou. Tudo ao mesmo tempo. Bastou uma faísca para que a velha e boa saudade de si mesmo surgisse. Abriu mão da morte naquele encontro, rastejou como se estivesse ligado a aparelhos, mas era enfim uma alma que resistia, como toda alma que tenta se recuperar de uma grande perda, seja pela morte propriamente dita ou pela morte de tudo que planejava e acreditava.
Perdu morreu em vida por vinte e um anos por escolha e por estar cercado de apenas pessoas. Nenhuma dessas pessoas o inspiravam a ser diferente ou transformavam as toxinas de sua fumaça em algo melhor. Precisou de mais de duas décadas para permitir que um estranho fizesse o que um bom amigo costuma fazer: nos inspirar a respirar de verdade, outra vez e outra vez, para que a dor deixe de ser constante e vire um raro visitante, aquele que nunca desaparece, mas nos perturba com uma frequência suportável dentro de um suspiro.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, agente literário, publicitário, gestor editorial e influenciador digital. Dez livros publicados. Membro benemérito "ad honorem" do Centro Cultural, Literário e Artístico de PORTUGAL. Contato: autoreugeniosantana9@gmail.com e (41) 99547-0100 WhatsApp
terça-feira, 2 de julho de 2019
INSÓLITA PERMUTA (*)
O sonho de Antonio Couto ganhou ambiência improvável nos labirintos oníricos e habitou sótãos de memórias ancestrais. Seu desejo obstinado: encontrar uma mulher que o completasse. Aquela surrada história da cara-metade, tampa da panela, metade da laranja, alma gêmea ou almas que gemem? O fato é que ele acreditava nisso tudo. Viajava nas asas do sonho para encontrar um "grande amor", do tipo "pra sempre". Até que um dia ele ganhou a sorte grande. E sozinho. Foi o único naquela Lotomania de São João. Acumulada. Que lhe rendeu alguns consideráveis milhões. E o surpreendente: ele ficou arrasado. Lembrou o provérbio milenar: "Sorte no jogo, azar no Amor". A frase não lhe escapava da cabeça, das vísceras e do coração, que acelerado batia. Ficou frustrado porquê o sonho de encontrar o grande amor adquiriu asas velozes e alçou um voo enigmático para o Antigo Egito. Mas uma visita inesperada mudou seu futuro. Uma figura muito inusitada. Deus ou o "encardido", não soube identificar, mas com certeza alguém com muito poder apresentou uma proposta inimaginável: trocar todo o dinheiro da loteria pela experiência de vivenciar um grande amor. Antonio Couto não vacilou, O HOMEM MAIS ROMÂNTICO DO PLANETA BLUE aceitou a permuta com uma veemência de apresentador de TV. Resumo da ópera: Antonio Couto ficou sem o dinheiro e o "grande amor" durou pouco mais de três anos. O quarto ano foi arrasado por conflitos e atritos. E quase o levou ao feminicídio. Deprimido, a neuroforia invadiu o seu ser. Desceu ao fundo do poço e lá percebeu que precisava mesmo era de uma psicanalista. Delirou com a possibilidade de um enorme e confortável Divã Oriental. Depois fez teatro. Virou ator e escreveu algumas peças razoáveis... E, por fim, depois de muita extrema dedicação e árduo trabalho, Antonio Couto encontrou o grande amor de sua vida: O AMOR PRÓPRIO... E viveram felizes para sempre.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, agente literário, publicitário, gestor editorial e influenciador digital. Dez livros publicados. Membro benemérito "ad honorem" do Centro Cultural, Literário e Artístico de PORTUGAL. Contato: autoreugeniosantana9@gmail.com e (41) 99547-0100 WhatsApp
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