terça-feira, 28 de agosto de 2018

AMOR INSÓLITO AMOR

Amor é uma luz à noite atravessando o nevoeiro; amor é uma tampinha de cerveja pisada no caminho do banheiro; amor é a chave perdida da sua porta quando você está bêbado; amor é o que acontece uma vez a cada dez anos; amor é um gato esmagado; amor é o velho jornaleiro na esquina que desistiu; amor é o que você acha que a outra pessoa destruiu; amor é o que desapareceu junto com a era dos navios encouraçados e fantasmas; amor é o telefone tocando, a mesma voz ou uma outra voz mas nunca a voz correta; amor é traição; amor é o incêndio dos sem-teto num beco; amor é aço; amor é a barata; amor é uma caixa de correio; amor é a chuva sobre o telhado de um velho hotel em Belo Horizonte; amor é o seu pai num caixão (aquele que te odiava); amor é um cavalo com a perna quebrada tentando se levantar enquanto 999 pessoas observam; amor é o jeito que nós fervemos como uma explosiva panela de pressão; amor é tudo que nós dissemos que não era; amor é o ácaro que você não consegue encontrar; e o amor é um vaga-lume; amor são 63 lançadores de granada; amor é uma privada vazia; amor é uma rebelião no Rio de Janeiro; amor é um pinel cheio de escritores malditos; amor é um cavalo alado e um unicórnio mágico parados numa praia deserta em Santa Catarina; amor é uma mesa de bar vazio; amor é um filme do Wim Wenders se retorcendo na reflexão dos olhos de hórus; um momento que ainda pulsa e grita; amor é a estátua de Drummond e os pombos fazendo ninhos atrás dos óculos de chumbo, em Ipanema; amor é o que se arrasta pelo chão de estrelas; amor é a sua mulher dançando colada com um estranho; amor é uma anciã roubando um pedaço de pão. E o amor é uma palavra precoce usada muitas vezes e muitas vezes cedo demais. (copydesk/fragment by EUGENIO SANTANA - GUARDIÃO DA PALAVRA - BLOG)