segunda-feira, 21 de novembro de 2022
ZÉFIRO
Há muito vou indo como zéfiro respirando pelas causas desta Terra e os sustos viajando íntimo de mim. Que se busca e se acha pelos meios de seu fim: o amor. A vida é sempre nua e crua em suspense de telenovela que atua pelos dias findos no resgate do legado quase vindo além do contrário de ser, ter o que não se tem lamentável mente. Só quem navega em luz sabe do naufrágio da escuridão escoando pelos dedos e o mar do coração. Inventariado – e isso faz de mim a pureza dos pecados por amar demais profundamente sob o raso das alturas e o repente ser. Nada me prende a nada senão o tudo da quase estrada para nunca mais! (Eugenio Santana)
segunda-feira, 7 de novembro de 2022
OLHOS DA ALMA (*)
Quando me olhei no espelho, e olhei dentro de meus olhos, eu percebi que eu mudei, que amadureci, Notei que mudei, porque já passei por tantas e diferentes experiências, que me fizeram aprender com meus próprios erros, também notei que mudei porque me decepcionei com pessoas que chamei de amigos, com quem já chamei de amor, mas também mudei porque conheci pessoas tão especiais que com o tempo fui me inspirando nelas e com algumas aprender muito para que me tornasse uma pessoa diferente do que eu era, e quem sabe eu tenha me tornado uma pessoa bem melhor hoje. E dai eu notei que o tempo passou, eu mudei, mas nem tudo e nem todos me acompanharam... Mas uma coisa eu tenho certeza, quem me fez ser o que sou hoje foi DEUS... Ele que me transformou... Confio somente Nele e Ele tudo faz em minha vida.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista e ensaísta. 15 livros publicados. (41) 9.9909-8795 WhatsApp e (41) 3236-5852
quinta-feira, 3 de novembro de 2022
MEMÓRIAS DO OLVIDO
Passei por tudo. Ou tudo passou por mim?
Inclusive pelo teu labirinto. Terror e trevas. Venci.
Memórias?
Livros publicados, árvores plantadas.
Pai e mãe? Espelho. Referência!
Filhos ou filhas?
Raízes genealógicas. Além disso, leia Gibran.
O ter sobre o “ser” prevalece hoje, antes e depois de Cristo.
Quem sou?
Utopista-humanista. Ainda.
Apenas um perfil perdido nas paredes do tempo e nas asas
Da memória.
Luto por um planeta melhor a partir de mim mesmo.
Só é possível a revolução por meio do amor incondicional.
Sangue é libertação.
Quanto ao país?
Jamais foi sério!
E conheço Brasília e seus poderes podres. Durante 14 anos atuei na iniciativa privada daquela “capital”.
Fui Amigo, na Asa Norte, de Renato Russo e Cássia Eller, entre outros.
Depois de Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Joinville, Florianópolis, Manaus, Uberaba, Franca, Anápolis, Goiânia, Macapá? Nada me comove!
Enganei-me com Minas Gerais. Lamento profundamente ter voltado ao “estado” em que nasci, após 30 anos ausente.
Em 2021 aposentei-me por TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. Afinal, na infância, aos 5 anos, eu já trabalhava na "Fazenda Aldeia de Cima", do meu avô materno José Ulhôa Sant'Anna. Inevitavelmente, o LABOR chegou muito cedo em minhas mãos, fortíssima herança paterna.
A partir de fevereiro de 2017, vim morar em Curitiba, PR, por conta do clima europeu. Sou como os gatos: eu gosto é do "lugar".
E quanto às memórias do esquecimento?
Estão trancadas numa secreta gaveta numa imponente casa no Riio de Janeiro. Quanto à chave joguei na praia de shangrilá, no litoral paranaense.
Eu sou jornalista, escritor, poeta, gestor editorial, agente literário, ex dono de uma revista, um jornal e uma editora que reabri aqui em Curitiba.Relações públicas, copidesque, revisor de textos ex superintendente de imprensa no Rio de Janeiro e, acima de tudo, um ser humano sempre trilhando o Caminho da Luz. (WRITER AND JOURNALIST BY EUGENIO SANTANA, FRC)
segunda-feira, 26 de setembro de 2022
PASSOU TUDO...
Sofrimento, remorso, expectativa, ilusões, crenças, convicções, incertezas, solidões, saudades. Resta o homem velho ESQUECIDO, abandonado, ignorado; mergulhado no ostracismo. Um Rimbaud na Abissínia, um E.M.Cioran exilado em Paris; e, por fim, vejo Edgar - O Allan Poe - sussurrando Lenora, Lenora e na janela pousado, o Corvo - com olhar melancólico. Assim como nasce, o ser fenece como o Crepúsculo e a Aurora embora eu tenha dúvidas sobre a imortalidade da alma. Holístico, tenho a face da Natureza humana tatuada em meus olhos embaçados. Ajoelho e choro. Oro. Sei que o Arquétipo de Hórus é meu seguidor e me persegue uma vontade irresistível de voar e transcender. Gratidão à Terra pelo retorno ao pó... (Escritor/Jornalista/Ensaísta EUGENIO SANTANA)
sábado, 24 de setembro de 2022
A TERCEIRA MARGEM E O PLANO INFINITO
Governarei minha vida e meus pensamentos como se todo o mundo enxergasse um e lesse o outro. Qual a finalidade de ter segredos para o meu vizinho se Deus, o investigador do nosso coração, tem acesso a toda a nossa privacidade? Assim como a lagarta passa para outra folha da planta quando chega ao final da anterior, a alma passa para outro corpo quando deixa para trás o corpo anterior e a insensatez. Pois nada trouxemos a este mundo e certamente nada levaremos dele. Levante-se cedo e reflita sobre seus atos e sobre o mundo que está por vir; pode estar certo de que os frutos de seus atos refletirão sobre você. Você, que foi separado de Deus em Sua solidão pelo abismo do tempo, como pode esperar alcançá-lo sem morrer? Nenhuma alma pode ser destruída por armas, queimada pelo fogo, apodrecida pela água ou erodida pelo vento. Morrer não é extinguir a luz; morrer é apagar as estrelas porque a aurora chegou. Este corpo não é um lar, mas uma estalagem, e apenas por pouco tempo. A morte é certa para aquele que nasce, assim como o nascimento é certo para quem morre. Portanto, não lamente o inevitável. O último dia não nos traz a extinção, mas uma mudança de lugar. Os amigos e parentes que você perdeu não estão mortos, apenas se foram antes, avançaram um ou dois estágios na estrada que você também deverá trilhar. (Escritor/jornalista/ensaísta EUGENIO SANTANA, FRC)
INTERMITÊNCIAS DO CORAÇÃO
A duração, o tempo que passa e está sempre fugindo, mobiliza em Proust o desejo de escrever, e é no embate da arte e da morte, no tormento dos acréscimos, que ele escreve os seis volumes de Em busca do tempo perdido. Desafio que se manifesta em frases que transbordam e se alongam numa inquietude absoluta. Mas o caudaloso do estilo também convive com o clássico, em frases como: “O amor é o espaço e o tempo tornados sensíveis ao coração”, ou: “A gente não ama ninguém quando ama.” E é justamente ao falar do amor que o escritor nos fala como por máximas. Mas estas são sempre provisórias ou parciais. Se ele convoca ou declama os clássicos, os conteúdos que importam são os involuntários e afetivos. (EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista e ensaísta literário)
domingo, 18 de setembro de 2022
PÉGASO
Um homem místico escutou o tropel de um cavalo alado. Dizem que é Perseu cavalgando Pégaso sobre as nuvens do tempo, ou será um templário, cátaro ou Rosacruz?
Talvez seja um nobre guerreiro cujo templo fica além das montanhas da Utopia. Parece um encontro onírico, uma lenda ou apenas mais uma historia que um ancestral me contou.
No túnel do tempo, não há como retornar, verdadeira viagem sem volta? Existe apenas um lampejo de esperança no pensamento que o mestre grego escreveu.
Devemos viver completamente em função do hoje. Aqui. Agora. A foice e o ceifador são implacáveis. O trigo será colhido na devida hora e os mesmos cachos voltarão a nascer para alimentar os mesmos homens.
Cristo prepara a bagagem da parusia para novamente multiplicar e compartilhar peixes e pães. (Writer and journalist by Eugenio Santana)
sexta-feira, 16 de setembro de 2022
PÁSSAROS DA AURORA (*)
Estar vivo é milagre permanente. Por muito pouco a vida se esvai: um coágulo de sangue no cérebro, um tropeção, o vírus, a bala perdida, o acidente de trânsito.
A cada aurora, o renascer. Agora sei por que o bebê faz manha à hora em que o sono começa a vencer-lhe a resistência. Teme a morte, a segregação do aconchego, o retorno às cavernas uterinas. O sono apaga-lhe os sentidos, a consciência, o (con)tato com mãos e olhares afetuosos.
De minhas ranhuras brota delicado som de flauta e violino. Não sou dado ao absinto e sei que a vida é aposta. Todas as minhas fichas estão postas no tabuleiro dos deserdados e excluídos e na felicidade compartilhada. Jogo ao lado dos perdedores. É apenas isto que me interessa: ao faminto, o pão e a paz. De que valem todos os poderes do mundo se não enchem um prato de comida? De que valem todos os reinos se não plenificam a alma com o sabor do morango?
Não sou predador de pássaros. Quero-os vivos, livres, o vôo esperto atravessando as asas do vento. Quero-os saltitantes entre as flores que cultivo no jardim da memória. Quero-os gorjeando sinfonias matutinas. Quero-os despertando-me, sem, contudo me provocarem a vertigem das alturas.
Chega de abortos! Quero a vida despontando na cidadania plena, na obstinação dos inconformistas, na ociosidade intemporal dos mendigos, nas mulheres condenadas a bordar dores incolores, na despossuída humilhação dos que suplicam por um pedaço de terra, de chão, de casa, de direito. Tenhamos todos acesso à vida, distribuída com fartura como pão quente pela manhã, sem jamais temer as intermitências da morte. D/amor/te.
Quero um tempo de livros saboreados como pipoca, o corpo saciado de apetites, a mente livre de dúvidas, a alma matriculada num corpo de baile, ao som dos mistérios mais profundos. E de pássaros orquestrados pela aurora, rios desnudados pela transparência das águas, pulmões exultantes de ar puro e mesa farta de manjares dionisíacos.
Reparto meu pão com (sol)dados de afetos, dançarinos trôpegos de incertezas, duendes que povoam alucinados meu imaginário, musas incorrigíveis de meu fragmento literário, anjos protetores de minha frágil fé e místicos que revelam o pior de mimesmo. Neste mundo desencantado, mas não redimido, neles sorvo a minha regeneração como as anfípodas que, no fundo mais profundo dos oceanos, se banqueteiam de flocos de matéria orgânica.
(*) EUGENIO SANTANA é Escritor, Jornalista MTb 1319. Membro da ADESG-DF – Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, colaborador do Greenpeace-SP. Autor de 15 Livros publicados. Gestor editorial, Ensaísta e Redator publicitário. E-mail: es.escritor1199@gmail.com / Aposentado, radicou-se em Curitiba, PR, em fevereiro de 2017. WhatsApp: (41) 9.9909-8795
segunda-feira, 5 de setembro de 2022
CAVALOS SELVAGENS (*)
As promessas são a única maneira verdadeiramente humana de pôr ordem no futuro, pois o tornam tão previsível e confiável quanto seria humanamente possível. Aquilo que esperamos raramente ocorre; aquilo que não esperamos costuma acontecer. Enquanto a palavra permanece calada, você a controla; assim que ela é pronunciada, você se torna seu escravo. Seja lá o que você tem na cabeça, esqueça; seja lá o que você tem na mão, doe a alguém; seja qual for o seu destino, enfrente-o! O sábio aprecia mais o desprezo arrogante do que o elixir dos deuses. A humildade dorme profundamente à noite. O orgulho vive acordado, temeroso da própria queda. Quando perdemos o discernimento e somos incapazes de controlar a mente, nossos sentidos não nos obedecem, do mesmo modo que cavalos selvagens não obedecem ao cocheiro. Se a clareza da água vem de sua imobilidade, o mesmo se pode dizer da mente. Em repouso, a mente do sábio se torna o espelho do universo e de toda a criação. Aqueles que voam acima dos mares trocam de céu, mas não de alma. Com frequência tentamos conseguir a paz interior mudando de ambiente, mas sempre levaremos conosco a bagagem de nossos pensamentos e sentimentos. A verdadeira jornada em direção ao contentamento e à serenidade é uma viagem de autoconhecimento. Na Grécia antiga, o oráculo de Delfos recebia a visita de muitas pessoas em busca de uma resposta aos seus problemas ou de uma afirmação sobre o futuro. Frequentemente, contudo, a resposta era ambígua. Creso, o poderoso rei da Lídia, ouviu que sua guerra contra os persas destruiria um grande império. Ele partiu sem medo, mas o império que caiu foi o dele. A verdade pode parecer o seu oposto.
(*) EUGENIO SANTANA é jornalista, escritor, ensaísta, publicitário, relações públicas, copidesque e revisor de textos. Autor de 15 livros publicados. Articulista do jornal Diário da Manhã. Ex-Superintendente de Imprensa no Governo do Rio de Janeiro. E-mail: es.escritor1199@gmail.com - WhatsApp: (41) 9.9909-8795 (WhatgsApp
domingo, 30 de janeiro de 2022
SINFONIA INACABADA (*)
Vivemos sendo colocados à prova. Dia sim, dia também, a vida nos cobra decisões, posições, atitudes. Escolhas feitas no passado, estão sempre prontas, transformadas em consequências e embrulhadas num pacote de presente a nos esperar, na próxima esquina, no travesseiro onde tentamos repousar nossas confusas cabeças à noite, no despertar da manhã.
Ao contrário do que vivemos querendo acreditar, muito poucas vezes nos cabe o papel de vítima. Em uma maioria esmagadora de vezes, o que nos acontece é fruto, consequência, resultado de nossos próprios atos, tenham sido eles gestos honrados, atitudes covardes ou rompantes de bravura. Nada é capaz de nos proteger de nós mesmos. Nada!
Viver não é um risco calculado. Está longe de ser um projeto idealizado. É a cada dia da vida, com pequenos passos e gestos miúdos que vamos delineando a nossa própria sorte. Construímos nossa história lá na frente com tijolinhos colecionados lá atrás. Juntamos aos tijolinhos, pedrinhas que colhemos no caminho; algumas escolhidas em momentos bem vividos, outras tantas atiradas sobre nós. E, o que dá a liga nessa sempre interminada obra, é a nossa essência, pautada em nosso caráter e moldada por nossa capacidade de interpretar cada obstáculo como um sedutor desafio.
E, a cada página escrita desse conto desconstruído, vamos nos vendo em pequenas frestas de luz e de sombras. Vamos experimentando a glória do protagonismo, a secundária presença do coadjuvante, a plácida alienação do cenário, a silenciosa participação dos figurantes.
O drama nos pega pelas veias mais intensas e nos confronta com a interpretação do real, inundando a tela de tons opacos e, ao mesmo tempo, carregados das cores primitivas das emoções que nos movem nas desencontradas melodias da vida.
E, entre notas, compassos, timbres e tons, não nos esqueçamos que a sinfonia pode sair completamente distorcida, caso descuidemos desse instrumento multiforme e perfeitamente arquitetado que nos serve de morada à alma. Olhemos para os nossos pés, com o devido respeito que merecem os alicerces. Contemplemos nossas mãos com a humilde reverência destinada aos milagres. Dediquemos aos nossos olhos e ouvidos a atenção devida aos portais de sabedoria. Que a nossa boca seja provida e provedora de delicadezas puras. Que nossa pele seja proteção e contato com o sentimento antes do toque. Que nosso prazer seja alimento e alento para nos ensinar que, ao nos diluirmos uns nos outros, é que nos reencontramos inteiros no líquido universal da vida.
E, então, talvez um dia, com todos nossos sentidos despertos e confessos, sejamos capazes de compreender que essa nossa transitoriedade é tanto assustadora quanto maravilhosa. Morremos um pouquinho a cada instante; a cada beijo de amor que nos rouba o fôlego; a cada desencanto que nos reduz a lágrimas; a cada limitação vencida que nos convence e insistir, persistir, superar. Que a nossa data de validade seja a nossa compreensão, enfim, de que é em nossa finitude que reside a razão de ainda estarmos vivos, e não apenas respirando.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, agente literário, biógrafo, copidesque e revisor de texto. Autor de 15 livros publicados, "Ventos fortes, raízes profundas", é um deles, Madras editora, SP. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - email: es.escritor1199@gmail.com
domingo, 16 de janeiro de 2022
NAS CURVAS DA ALMA, HISTÓRIAS QUE EU NÃO VIVI... (*)
Cada história que eu não vivi me habita. Elas são muitas e acontecem dentro de mim, repetidamente, sem fim. Elas são a trama que enreda a minha alma. Histórias ciganas, nômades, eu nunca sei como terminam ou para onde vão me levar. Mas, ainda assim, são as minhas histórias.
Elas me pertencem mais do que as histórias que aconteceram. Essas, que existiram, se realizaram e passaram. Elas se esgotaram em suas possibilidades. Mas não as histórias que eu não vivi. Essas, ahhhh... essas são eternas. Elas nunca se esgotam. No máximo, se escondem.
Cada história que eu não vivi me deixou uma marca indelével que me acompanha, sempre. Elas vêm comigo para o próximo amor, para a próxima aventura, para o próximo trabalho. Aí eu aprendi a viver essas histórias refletidas em outras. Gosto de acreditar que, desse jeito, elas se realizam e me abandonam, que assim eu consigo dizer o não dito, sentir o não sentido, esquecer o não vivido. Sou capaz de amar o amor que abortou a cada próximo beijo, de reinventar o prazer de sentir a cada nova paixão. Faço melhor, sabe? Um novo corpo para aproveitar o êxtase.
Por isso cada história que não vivi me leva para a próxima, para a dúvida, para a seguinte. O que eu não vivi me impulsiona.
O perigo é que, às vezes, me pego querendo viver o que não aconteceu. Imagino. Imagino com tanta força que acho que você também sente. Que me responde, que me vive na minha imaginação e assim a gente realiza a história que não pode, à distância. Em separado. Por telepatia e que acontecem só na minha cabeça.
É tão concreta a vontade de viver coisas impossíveis que eu chego a falar alto, sozinho em casa, pra dar um corpo pra isso que não sai de mim. É o meu jeito de exorcizar você de mim. De nomear as emoções que nunca se formam, que nunca se condensam e chovem, que eu nunca sei exatamente o que são. Aí elas são. Você também não tem emoções que não reconhece? Não?
Por isso eu preciso viver dentro de mim as coisas que me foram roubadas. Elas precisam se tornar concretas para que eu consiga me livrar da sombra de cada uma e soltá-las no mundo. É que a gente fica preso mais à hipótese do que aos erros: os meus, os dela, os nossos, os desencontros.
Entenda que o universo do “se” é um abismo infinito. Em espiral, com muitos afluentes. Fácil se perder nas trilhas do futuro do pretérito, nas paisagens que não vimos, mas poderíamos. O futuro do pretérito é a matéria com que eu construo paralelos intransponíveis.
Você vai me julgar? Por eu insistir em viver o que não vivi? Ou prefere fazer assim, como qualquer um, e se afogar na frustração do foi? Quer se ver preso à trama impenetrável do não? É que o não destrava a armadilha nômade da alma: “e se”? Mas aí você finge que não vê. Ignora os fantasmas que flutuam no redemoinho da existência. Só que eles voltam, meu caro, para assombrar cada domingo à noite, cada esbórnia ou, assim, de repente, sem avisar, num trânsito engarrafado.
Não me confunda, meu amor, não. Não é a dúvida o problema. É a espiral da hipótese. Quem nunca se perdeu no que é imaginado?
Ela, meu caro, é um abismo. Não o beletrista, mas a imaginação. E a vida, ahhh…, a vida é uma flecha. Ela tem muitos sentidos, mas uma única direção: pra frente. Ela não faz curvas. Já a nossa alma, faz.
Por isso eu exorcizo as histórias que não vivi como posso. Pra que elas não vivam por mim as outras vidas que ainda vão ser as minhas e tecer quem eu sou na trama dos seus fracassos. Esse é futuro do pretérito que eu inventei para ser livre.
Sempre gostei do começo da bíblia. Sabe aquela história do “e Deus disse: faça-se a luz. E a luz foi feita”? A palavra é concreta. É uma força criadora. Por isso eu vivo nela as coisas que não vivi no encontro. É que eu sou arrogante e aprendi a nomear o inominável, o que ainda vai vir.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, blogueiro, relações públicas, copidesque, biógrafo; gestor editorial, agente literário, redator publicitário. Autor de 15 livros publicados e dentre as suas grandes obras está em seu portfólio o bestseller "VENTOS FORTES, RAÍZES PROFUNDAS", Madras editora. Radicado em Curitiba há mais de 4 anos. (41) 9.9909-8795 WhatsApp
ENFRENTANDO CULPAS E REMORSOS (*)
A culpa acompanha marcadamente a humanidade - devem ter surgido juntas, inclusive -, marcando presença nas narrações míticas e mitológicas, nas lendas, romances, poemas, textos bíblicos, novelas, músicas, fatos históricos, filmes, seguindo firme em nosso dia-a-dia. O sentimento de culpa é onipresente, onipotente e onisciente, pois impregna nossa existência e nos remete a eventos significativos de nossas vidas, desde que nascemos, até a nossa morte.
A culpa é o preço que pagamos por podermos escolher dentre as várias opções com as quais nos deparamos, continuamente, em casa, na escola, no trabalho, na rua, ao longo de nossas vidas, pela vida toda. A cada escolha que fazemos, deixamos para trás outras possibilidades, outros horizontes, outros caminhos, sendo inevitável, em algum ponto, questionarmos, cá com nossos botões, se fizemos a escolha certa. E, fatalmente, haveremos de ficar imaginando como seria, onde e com quem estaríamos, em que trabalharíamos, caso tivéssemos optado por uma outra alternativa. Inevitavelmente, a culpa traz consigo o remorso, um dos sentimentos mais cruéis dentre todos, pois parece que nada o alivia na sua forma latejante e ininterrupta de se instalar dentro de nós. De forma avassaladora, a culpa e o remorso podem devastar nossos sentidos e quase sempre vencer as batalhas que travamos na tentativa de neutralizá-los. Trata-se, pois, de uma luta diária.
Aquilo que deixamos de fazer, as palavras não ditas ou desditas, o não engolido, o sim forçado, a entrega duvidosa, o abraço recusado, o olhar desviado, o veneno experimentado, o mal destilado: teremos sempre muito do que nos arrepender, pelo resto de nossas vidas, afinal, por mais conquistas que obtivermos, por mais que estejamos felizes - ou não -, nossa vida poderia ter sido diferente; se melhor ou pior, não dá para saber. Porém, desejosos de sempre mais, acabamos, na maioria das vezes, tendendo a achar que, se tivéssemos agido de outra forma, estaríamos bem melhor.
O sentimento de culpa pode ser tão traiçoeiro, que consegue nos atingir em situações nas quais nem se sustenta - quantas vezes nos culpamos pelo que acontece a alguém, por conta do que ele próprio fez, quando na verdade aquele alguém colhe as consequências de tudo o que plantou, sem nossa interferência? Da mesma forma, diante de nossa impotência frente aos imprevistos da vida, por exemplo, como um acidente que tira a vida de um familiar, acabamos por procurar pela centelha de culpa nossa naquilo tudo. Parece que não nos conformamos com o fato de que sobre quase nada temos controle, ou seja, acabamos nos imbuindo de poderes mágicos sobre o curso da vida, atribuindo-nos uma força de controle inverídica sobre os destinos que nos rodeiam.
Logicamente, o sentimento de culpa também tem seu lado positivo, quando nos serve à reflexão sobre algo e consequente aprimoramento de nossos comportamentos. Sentirmos culpa por termos agido de determinada maneira pode nos ser benéfico, levando-nos a mudar nossas posturas e pontos de vista, tornando-nos melhores do que antes. Por isso, a culpa liberta quando ainda há tempo de mudar, de voltar atrás, pedir desculpas, mandar flores, telefonar, sorrir, abraçar e assumir o erro. Se, no entanto, o arrependimento relacionar-se a quem já morreu, já se mudou, já se casou com outro, já foi prejudicado demais, quando já for tarde demais, o remorso será nossa companhia ininterrupta e vencê-lo será árduo e doloroso.
Na verdade, deveríamos entender que agimos de acordo com o que somos e sentimos naquele momento, de acordo com a forma como nos situávamos frente àquele mundo, de acordo com a melodia de nossos sentimentos naquele contexto específico. Com o passar do tempo, a melodia muda, nós mudamos e não somos mais aquela pessoa lá atrás - brindemos a isso! -, pois avançamos junto com a dinâmica da vida. Mudam-se as estações, mudam-se as lutas, os sonhos, as canções. Mudamos eu, você, todo mundo e o mundo. Inevitável, aqui, não se lembrar de Peggy Sue, papel de Kathleen Turner, que tem a oportunidade de voltar no tempo e, com tudo o que sabe, ainda assim agir exatamente igual à primeira vez. Embora amadurecida, ela se reinstala num tempo e espaço em que inevitavelmente agiria como sempre o fizera. Retornaram as músicas, os cheiros, as pessoas, os amores, e Peggy Sue acabou sendo ela mesma em meio a tudo aquilo. Não, não teríamos agido diferente; lembremo-nos disso.
Se a culpa é inevitável, urge aprendermos a lidar com ela, de modo que, caso não a eliminemos, ao menos possamos conviver com sua presença, sem que nos machuquemos a ponto de interrompermos nossa progressão e nosso aprimoramento diário nessa jornada extensa que teremos pela frente. Imprescindível, nesse sentido, tentarmos enxergar claramente as culpas sem razão de ser, ponderando nosso papel no fato causador. Porque devemos ter a certeza de que, muitas vezes, a culpa não é nossa. Sintomática dessa epifania necessária para que sigamos em frente, resignados e fortalecidos, é a cena em que a personagem de Matt Damon, Will, em “Gênio Indomável”, finalmente se liberta da culpa que carregava pelos maus tratos sofridos na infância, ao ser acuado pela repetição da seguinte frase do psicólogo, vivido por Robin Williams: “Não é sua culpa!” Somente após essa conscientização catártica é que ele pôde partir em busca da realização de seus sonhos, do desenvolvimento de seus potenciais. Essa cena vale o filme todo, pois retrata uma atitude que vale uma vida – a nossa vida!
Devemos, portanto, desatrelar de nossas vidas sentimentos que não nos dizem respeito e enfrentar as culpas e remorsos que valem a pena, que nos mobilizem em direção ao repensar, ao readequar-se, ao enriquecimento moral e ao melhoramento de nossas atitudes e comportamentos. Para tanto, temos de encarar corajosamente nossas angústias, adentrando essa escuridão dentro de nós, vasculhando-a com lucidez e livrando-nos dos pesos inúteis que emperram nosso caminhar. Libertar-se é preciso, para que se torne menos densa e assustadora essa carga de culpa e de remorso, a ponto de usarmos essas batalhas interiores em nosso favor, em prol do enfrentamento da vida em tudo de bom e ruim que há nessa lida. Haveremos, enfim, de aprender com os erros - assumidos -, de agir enquanto tempo houver, de saber nos situar em relação às vidas alheias, de ter coragem de nos encarar em todo prazer e dor que nos definem. Trata-se de um exercício contínuo, diário, ininterrupto, pois, humanos que somos, erraremos muitas e muitas vezes. Porque, se errar é humano e culpar-se é inevitável, então batalhar é necessário e ser feliz é, no mínimo, o que merecemos.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, blogueiro, relações públicas, copidesque, biógrafo; gestor editorial, agente literário, redator publicitário. Autor de 15 livros publicados e dentre as suas grandes obras está em seu portfólio o bestseller "VENTOS FORTES, RAÍZES PROFUNDAS", Madras editora. Radicado em Curitiba há mais de 4 anos. (41) 9.9909-8795 WhatsApp
sábado, 15 de janeiro de 2022
O MUNDO NÃO É REGIDO POR UMA FILOSOFIA OU CONJUNTO DE REGRAS (*)
Todos os dias construímos um santuário de preocupações e cuidadosamente veneramos cada um desses preciosos objetos. Existe sempre algo que está para acontecer ou uma questão relacionada à nossa saúde, sem contar alguma situação embaraçosa que tenha acontecido no dia anterior, ou mesmo há dez anos, mas que continua ocupando um lugar de honra no santuário.
A preocupação não nos faz sentir mais confortáveis nem favorece melhores decisões. Ela fragmenta a mente, tira a concentração, distorce a perspectiva e destrói o bem-estar interior. A preocupação é um espécie de estresse autoaplicado. A preocupação é o caos mental, não é nada agradável - ou seja, é puro lixo, mas lixo que nós acumulamos e aturamos todos os dias de nossas vidas.
Talvez as duas preocupações mais comuns sejam algo que vive nos incomodando ou alguém com quem discutimos até em pensamento. A primeira diz respeito ao futuro: um medo do que pode acontecer. A segunda dis respeito ao passado: angústia em relação ao comportamento de alguém ou em relação à maneira como algum acontecimento se desdobrou.
É importante observar que as reações dos outros são o centro de nossa preocupação. Nossa mente não se prende a situações. Se fazemos algo realmente tolo enquanto caminhamos, podemos até rir disso, mas não vira uma idéia fixa - a menos, é claro, que o erro fique evidente quando retornamos. Nosso ego funciona de forma repetitiva, aumentando ad distância entre nós e os outros.
A religião, que deveria promover conforto e amparo, pode levar à preocupação e, às vezes, ao terror. Padres, pastores e rabinos muitas vezes usam o medo para ensinar a doutrina e - por que não? - para aumentar as contribuições dos fiéis.
Até o sistema educacional promove a ansiedade, ao fixar metas impossíveis e ameaçar com penalidades quem ousa se comportar de forma "imprópria". Do primeiro ao último ano da escola, os objetivos são conflitantes: responsabilidade, socialização, autoestima, consciência ambiental, criatividade, orgulho racial, consciência das drogas, administração do tempo etc. Os próprios professores variam amplamente na maneira como influenciam os alunos, até porque os livros e currículos escolares que lhes são entregues também contêm idéias complexas e contraditórias.
O que se pode observar é que quando a mente está preocupada, ela se torna lenta e dispersa, ao passo que a mente tranquila é capaz de uma consciência ampla e firme, no mínimo, porque está distraída. Diante dessa perspectiva, pode-se dizer que a mente preocupada está desprotegida, dominada pela ansiedade, enquanto a mente tranquila pode avaliar a situação de modo mais rápido e preciso. Por isso mesmo tem mais chances de impedir um perigo iminente.
De vez em quando, nos deparamos com situações potencialmente desagradáveis ou mesmo perigosas. O exemplo clássico é convidar um alcoólatra em recuperação a se juntar com pessoas que bebem muito. Naturalmente, às vezes somos obrigados a frequentar reuniões de colegas de trabalho, mas uma boa desculpa pode nos tirar de praticamente qualquer situação. Mesmo assim, muita gente não se permite utilizar essa opção porque tem uma definição radical de honestidade.
Qual seria a resposta "honesta" a um convite desse tipo: "Não, não irei porque você e seus amigos se embebedam e se tornam tão chatos que eu poderia voltar a beber de novo. Caso vocês não saibam, sou um alcoólatra em recuperação." Será que esse tipo de sinceridade aumenta a consciência de alguém? A franqueza total pode ser considerada uma qualidade nos dias de hoje, mas, na verdade, quando as pessoas dizem "Preciso ser honesto com você", em geral prosseguem com um discurso de ataque, abandono ou traição.
Os defensores da "honestidade" não deixam nada intocado. Muitos relacionamentos naufragam antes mesmo de começar porque os dois parceiros pensam que devem confessar todos os atos sexuais que tiveram ou pensaram ter na vida. Observe que essas confissões levam a um desentendimento maior. Elas iludem, não esclarecem.
Vivemos em batalha constante com nosso cabelo, nossos dentes, pele, unhas, células de gordura, tamanho do nariz, altura, forma e idade. Quanto mais nos aprofundamos no corpo, mais reclamações surgem: seios horríveis, intestinos que se comportam mal, costas doloridas, joelhos traiçoeiros e juntas mal-ajambradas. Sem contar as lutas de vida e morte com nossos órgãos vitais, sistemas imunológicos e química do sangue. Eu poderia ir em frente, mas é uma história que começa a ficar assustadora.
As pessoas têm medo e desconfiam de seu corpo, sentem-se traídas por ele e às vezes até o odeiam. Abrir mão desses pensamentos perturbadores é o único caminho para uma mente pacífica. Muitas pessoas só ficam em paz com seus corpos no momento em que estão morrendo - mas por que esperar até lá?
Até os anos 1960 as pessoas não acreditavam tanto em leis metafísicas ou "princípios universais", mas sim no fluxo natural da vida. Se você fez o que é certo; se não questionou a autoridade, o seu lugar na sociedade ou a situação vigente; se não mentiu, não disse palavrões, não trapaceou, nem bebeu demais; se trabalhou muitas horas e poupou o seu dinheiro para poder transmiti-lo a seus filhos; se foi leal a seu país, à companhia para a qual trabalha, ao partido político, à universidade em que estudou; se cumpriu seus deveres conjugais... Então, tudo dará certo e em determinado momento você caminhará em direção ao pôr-do-sol.
Esta abordagem estendia-se às escolhas pessoais, como a marca do automóvel, o estilo de roupa e até o gosto em questões de música e estrelas de cinema. O essencial era manter-se afinado com o status quo, que todos mais ou menos compreendiam e com o qual mais ou menos concordavam. Culturalmente, éramos bastante coerentes. Contávamos uns aos outros histórias das recompensas recebidas pelas pessoas que "trabalharam duro" e viviam "segundo as regras" e gostávamos dos exemplos do que acontecia a quem não vivia assim.
Nossa sociedade acreditava que as pessoas sabiam como se comportar de modo que a vida funcionasse muito bem. Agora, neste século XXI, acreditamos que renegar "a maneira como se faz as coisas" proporciona uma oportunidade melhor para a felicidade. É preciso sentir-se livre para experimentar diferentes "estilos de vida" e formas "exóticas" de divertimento, além de estar aberto para mudar de amigos e familiares assim como se troca de trabalho, residência ou penteado.
Não apenas questionamos os valores como passamos a derrubá-los obsessivamente. Já não sabemos olhar para qualquer coisa sem ansiedade, incerteza e cinismo. Todos querem saber quais são as forças e os fatos essenciais. Ansiamos por conhecer as regras e queremos que elas nos sejam explicadas e numeradas. Felizmente, isto jamais acontecerá. O mundo simplesmente não é regido por uma filosofia, doutrina ou conjunto de regras. Admitir essa verdade tira um peso enorme e totalmente desnecessário de nossos ombros.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, agente literário, redator publicitário e gestor editorial. Autor de 15 livros publicados e 3 no prelo. Membro da ADESG/DF, Greenpeace/SP, ACI - Associação Catarinense de Imprensa e da UBE - União Brasileira de Escritores. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - Emal: es.escritor1199@gmail.com
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