quinta-feira, 28 de junho de 2018
O QUE EU OFEREÇO A VOCÊ?
Você já passou os outros, já chegou a Presidente? É pouco: até aí hão de chegar e irão ainda mais longe. Eu sou aquele que vai com a noite silente e crescente, e invoco a terra e o oceano que a noite levemente leva pela metade. Aperte mais, noite de dorso nu! Aperte mais, noite que nutre o próprio mistério. Noite dos ventos do sul. Vivências de Florianópolis... noite de ínfimas flores-estrelas. Noite cálida que me acena com seus olhos imensos - alucinada noite nua de um verão de 1999. Sorria, ó terra cheia de volúpia, de hálito gelado e sofreguidão. Terra das árvores líquidas e impassíveis. Terra em que o sol se põe longe, terra dos montes cobertos de névoa e neblina, em Cristalina. Terra do vítreo gotejar da lua cheia apenas tinta de azul escuro, indescritível. Terra do brilho e sombrio encontro nas enchentes do rio São Francisco. Terra do cinzento brilho das nuvens de chumbo. Lembranças de Barcelona. Terra que faz a curva bem distante, rica terra de pessegueiros em flor. Sorria: a sua amada vem chegando. Pródiga e voluptuosa, amor você tem dado a mim: o que eu ofereço a você, portanto, é amor - inominável e escaldante amor no êxtase de corpos famintos.
(Escritor/jornalista EUGENIO SANTANA)
quarta-feira, 20 de junho de 2018
FLORES E ESTRELAS (*)
Flores, flor, estrelas, estrela, vida, morte, reencarnação. Alguém desce na carne, de passagem; outro sobe, para fora dela, de partida. E as flores continuam a desabrochar, independentemente de quem desce ou sobe. No Céu, as estrelas brilham; na Terra, as flores desabrocham. Quem sobe, aprende a ver as estrelas. Quem desce, precisa aprender a ver as flores. Entre as estrelas e as flores, o que rola é a vida. E quem vive, precisa aprender a ler o coração, seja o de carne ou o de luz. Mas o bom mesmo é unir as estrelas com as flores, no olhar de quem vê a Mãe em tudo. Ela, a criadora das estrelas, das flores, dos espíritos, dos homens, do mundo, do Astral e de tudo. Ela, que faz a magia da vida acontecer no pulsar de cada coração, da Terra ou do Astral. Ela, que conhece a saudade de cada um e que permite o intercâmbio da gente das estrelas com a gente das flores. “Ninguém morre! O Astral não é lá nem cá; é no coração de cada um, seja o de carne ou o de luz. É no amor que cada um sente. É na vida que cada um leva. É no sentir aquele algo a mais, sutil, que diz muita coisa sem palavra alguma; que revela o invisível das estrelas nas flores; que une os espíritos lá de cima com os homens aqui de baixo, nessa grande magia da vida, que pulsa em todos os planos. Essa magia da Mãe, que se chama eternidade. Essa magia, com corpo ou sem corpo: a “VIDA”! (Copydesk/fragment by Eugenio Santana, FRC - Escritor e jornalista; Místico Iluminati Rosacruz)
quarta-feira, 13 de junho de 2018
VASTOS UNI/VERSOS DO ROCK AND ROLL (*)
Naquela tarde fiquei por horas admirando a estupenda imensidão. Por vezes permaneci imaginando o motivo de ainda não fazer parte dela. E num lampejo de não-lucidez, quando estava a mercê da minha loucura, me transportei em pensamentos. Foi quando me vi dentro de um céu particular, onde não havia sinos e anjos. Aquele era um "espaço celestial de rock and roll", onde os meus ídolos, aqueles que ainda impulsionavam o meu coração, me convidaram à juntar-se a Eles.
Apesar de feliz e honrado pela insólita oportunidade, senti um desconforto. Mas envolto numa coragem que estava adormecida, sentei-me ao lado Deles. E por pouco não sucumbi. Eles, por outro lado, conseguiram sentir a minha ansiedade, e ficaram tão nervosos quanto eu. Nos observamos por minutos a fio, numa análise profunda, intensa. E, por fim, o silêncio foi rompido e o gelo quebrado, Renato falou:
— É a verdade o que assusta, o descaso que condena, a estupidez o que destrói. — Fiquei embasbacado com suas palavras, mas, no fundo, sabia que elas faziam sentido.
A verdade sempre me assustava, levando-me a negligência que me condenava a tomar atitudes idiotas e autodestrutivas. Mas alguns resultados não era de todo mal e, sem hesitar, quebrei o mal-estar.
— Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena acreditar, ou que os seus planos nunca vão dar certo, ou que você nunca vai ser alguém... — rebati com parte de uma de suas letras.
Ele encarou-me de forma curiosa, deixando-me desconfiado. Por um instante pensei que Renato replicaria, contudo ele apenas aproximou-se e abraçou-me com carinho e anímica ternura.
— Quando se aprende a amar, o mundo passa a ser seu — disse ele, voltando a sentar-se no lugar de antes.
Compreendi a mensagem e me senti em paz.
Apesar da minha estranha e obscura singularidade, eu sabia amar.
Continuei ao lado Deles, ainda inseguro.
E antes de dizer algo, ouvi outra voz conhecida.
— Acho que ser natural e sincero é o que realmente importa — disse Fred, esboçando um sorriso carregado de autenticidade.
E novamente senti-me em paz.
Apesar de estar envolto em conflitos internos, ainda prezava por sinceridade e naturalidade.
E sem medir as palavras, fitei seus expressivos olhos.
— É tão real esse sentimento de faz de conta. We are the champions, my friends — exprimi, encarando -o.
Todos sorriram, como se compreendessem a minha resposta. Por um ínfimo e mágico instante continuamos em silêncio, apenas nos observando, mutuamente.
— Cry baby, cry baby... — Janis disse, aproximando-se.
Não consegui controlar as lágrimas que desciam pelo meu rosto desfigurado, por conta do mistério da agradável surpresa.
E por tempo indeterminado chorei o refrão da sua canção.
— Honey, welcome back home! — respondi com o semblante molhado.
Notei que todos me encararam com preocupação, foi quando Kurt se aproximou e sentou-se ao meu lado. Ele segurou a minha mão esquerda e ergueu o meu queixo, fazendo com que nossos olhos se encontrassem.
— A cada dia todos nós passamos pelo céu e pelo inferno! — E jamais se esqueça dos livros de Arthur Rimbaud, que você esqueceu de ler; não se permita apagar os tesouros guardados no sótão da memória...
Até que eu me despedisse, continuou a me observar.
Fiquei por mais alguns minutos ao lado Deles.
Eu não queria voltar, mas sabia que por lá não poderia continuar. Afinal, as "mirações" têm data de validade no Plano Cósmico...
E com o coração já saudoso, abracei a todos de uma só vez e me despedi dizendo:
— Obrigado pela "aula" através do Astral Superior... Paz profunda, Amor, Resiliência, Empatia. Até a próxima. Até breve. Até sempre. Namastê!
(*) Copydesk/fragment by EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, revisor de texto e palestrante motivacional. Nove livros publicados. Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL) e do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; sócio da ACI - Associação Catarinense de Imprensa e da UBE/SC - União Brasileira de Escritores. email: autoreugeniosantana9@gmail.com e WhatsApp (41) 99547-0100
quinta-feira, 7 de junho de 2018
A MINHA ALMA É VEGETAL (*)
Queria o jardim dos meus sonhos, aquele que já existia dentro de mim. O que eu buscava não era a estética dos espaços de fora, era a poética dos espaços interiores. Em busca de jardins passados, de alegrias idas, de felicidades perdidas. Porque felicidade é isto: quando as ausências que formam o nosso mundo interior encontram, de fora, a “coisa” que nelas se encaixa. Como na experiência do amor. Somos todos femininos, marcados por algo que não temos, mas que, se tivéssemos, seríamos bem-sucedidos – para usar a maravilhosa expressão de Santo Agostinho. A psicanálise usa uma palavra terrível para dizer isso: “castração”. Mas não será verdade? Perdemos aquilo que nos faria felizes e agora estamos condenados a procurar, sem fim, este objeto de amor... Entendem por que um paisagista seria inútil? Para fazer o meu jardim, ele teria de ser capaz de sonhar os meus sonhos. Há um mundo vegetal que cresce dentro de mim. As palavras de Rilke confirmam em meu corpo: nosso mundo interior é “um bosque antiquíssimo e adormecido, em cujo silencioso despertar verde-luz o nosso coração bate”. Sei que isso é verdade a meu respeito. E não conheço horror maior que um mundo sem plantas. Não posso compreender o fascínio dos filmes de ficção científica, onde a vida acontece em meio a metais, eletrônica, astros mortos e o vazio... Para mim, são as celebrações de Tânatos. Em nada comparáveis ao prazer de cheirar uma simples folha de hortelã... Corrijo-me: compreendo o fascínio – é que eles são exercícios sobre o poder puro, esvaziado de qualquer conteúdo erótico. Quando o poder não busca objeto algum, além de si mesmo: possessão demoníaca. Tenho pesadelos da morte das plantas. Lembro-me de um deles em que eu via, horrorizado, todas as plantas do meu jardim arrancadas, raízes expostas, e eu chorava desesperado, perguntando: “Mas como foram fazer isto?”. Tenho uma alma vegetal. E houve até mesmo alguém que me escreveu para dizer que revelações do invisível haviam dito que meu mestre de amor e sabedoria é o espírito que mora nas florestas. Sinto-me como um irmão daquele chefe índio que escreveu uma carta ao presidente dos Estados Unidos, ao ser informado de que os brancos queriam comprar suas terras.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário e palestrante motivacional. Nove livros publicados. Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL) e do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; sócio da ACI - Associação Catarinense de Imprensa e da UBE/SC - União Brasileira de Escritores. email: autoreugeniosantana9@gmail.com e WhatsApp (41) 99547-0100
terça-feira, 5 de junho de 2018
CÁTAROS: SACRIFÍCIO EM NOME DA FÉ EM DEUS (*)
Há oito séculos, a guerra contra a heresia dos cristãos cátaros abalou o sul da França. Os ecos das suas ideias ainda podem ser ouvidos nos dias de hoje. O catarismo – uma das mais importantes heresias que sacudiram o mundo cristão na Idade Média – encontrou na decadência institucional da Igreja Católica terreno fértil para germinar e crescer. Há 800 anos, no início do século 13, o papa Inocêncio III lamentava a situação do seu pontificado: as igrejas estavam desertas, a crise de vocações reduzia o número de sacerdotes, os fiéis mostravam desconfiança e pouco interesse pelas sagradas escrituras e pelas questões da Santa Madre Igreja. O clero estava entregue ao luxo, à corrupção política, ao tráfico de influências e, em muitos casos, à luxúria e à devassidão. A coisa vinha de longe, desde quando, havia 3 ou 4 séculos, no seio da Igreja, o poder espiritual começou a se confundir com o temporal e muitos papas e altos prelados passaram a ser escolhidos não mais por sua vocação e virtudes, e sim por pertencerem a famílias da nobreza detentora do poder. Poucas décadas antes, o papa Bento IX (1032-1048) herdara o título por ser sobrinho do papa João XIX. Acusado de estupros e assassinatos, ele foi descrito por São Pedro Damião como “um banquete de imoralidade, um demônio do inferno sob o disfarce de um padre” que organizava orgias patrocinadas pela igreja. Em seu último ato de corrupção como papa, Bento IX decidiu que queria se casar e vendeu seu título para seu padrinho por 680 quilos de ouro. Inocêncio III, por seu lado, tentou moralizar a Igreja. Em 30 de maio de 1203, ele escreveu ao escandaloso arcebispo de Narbonne, no sul da França, uma carta contundente na qual afirmava sem meias palavras que o seu estilo de vida o tornava maldito aos olhos de Deus. O alto prelado, titular de uma das arquidioceses mais ricas e vastas da França, tinha abandonado quase completamente o ofício de padre para viver na esplêndida abadia de Montearagón, onde habitava com a viúva de seu irmão, com quem tinha tido dois filhos. Tudo isso de forma escancarada, diante de todos, sem se preocupar com o escândalo. Embora, naqueles tempos, os critérios que definiam um escândalo eclesiástico fossem bem outros. De fato, boa parte do alto clero na época vivia assim, à exceção de uns poucos bispos e abades que, obstinadamente, mantinham a fé nos votos proferidos.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário e palestrante motivacional. Nove livros publicados. Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL) e do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; sócio da ACI - Associação Catarinense de Imprensa e da UBE/SC - União Brasileira de Escritores. email: autoreugeniosantana9@gmail.com e WhatsApp (41) 99547-0100
segunda-feira, 4 de junho de 2018
REGISTROS AKÁSHICOS (*)
Segundo o hinduísmo e diversas correntes místicas, são um conjunto de conhecimentos armazenados misticamente no éter, que abrange tudo o que ocorre, ocorreu e ocorrerá no Universo. O Akasha é uma biblioteca de ações de cada alma, pensamentos e emoções que tiveram um lugar no planeta Terra e em outros sistemas planetários. Todos os eventos de pequeno ou grande porte são permanentemente gravados na grade eletromagnética do planeta e do cosmos. Todo mundo tem a habilidade de se conectar com a fonte primordial como um ‘detentor de registro espiritual’ e é capaz de chamar a todos seus orientadores multi-dimensionais para receber as respostas de suas próprias perguntas. Você é capaz de ser seu próprio guia, guru espiritual e professor. Sempre que você tiver uma situação problemática ou um desentendimento com um indivíduo, esses incidentes ocorreram antes em outro tempo e lugar. Se você tem perguntas para um problema ou situação, existem várias portas para escolher com muitas soluções variáveis. A porta A tem uma resposta, a porta B tem outra, e assim por diante. Se acontecer de você escolher a porta errada, o problema vai surgir novamente. Escolhendo a porta correta conecta-se realmente com o que é o bem para todos e não apenas para você. Essa escolha cria harmonia, beleza, paz e cura para todos os envolvidos. Os Registros Akáshicos estão disponíveis para todos. Algumas das respostas não serão do seu agrado. No entanto, elas vão conter a energia da “verdade” de quem você realmente é e o que supostamente sejam os seus aprendizados. Quando os seus guias sentirem que você está pronto para continuar por si próprio, você terá permissão para acessar seus registros sempre que você tiver “necessidade de saber” outras informações. Isso geralmente se realiza sem canalização de transe e quando você está pleno de consciência, desperto e alerta. É muito importante estar bem enraizado para receber e manter as frequências que vêm de dentro. Esta é a razão pela qual se deve de estar ligado à natureza para ter um bom aterramento. Caso contrário, você pode sentir tonturas ou mal-estar, e seu corpo pode não ser capaz de manter a vibração por muito tempo e suas respostas parecerem pouco claras. As informações dos Registros Akáshicos só serão dadas a uma pessoa quando elas estiverem sendo usadas para curar a si mesma e sua parcela do planeta. As informações podem vir a você da mesma maneira quando você está meditando ou canalizando. Você pode ver imagens holográficas ou simbólicas, ouvir sons, começar a escrever, ou apenas de repente "saber" a resposta.Os Registros Akáshicos não devem ser usados para adivinhações ou recordações de vidas passadas como um divertimento. Eles são sagrados e estão protegidos por seres de luz em sentinela. Você não vai ter acesso a todos os registros a menos que tenha integridade e disciplina em seus hábitos diários e pensamentos. No entanto, você vai continuar a ser ajudado, abençoado, honrado e guiado pelos reinos dos espíritos em sua mais alta manifestação. Existe somente uma existência suprema sem nascimento e sem forma da qual desenvolve-se akasha (éter ou espaço), e do akasha vem vayu (o ar). De vayu se origina o fogo (tejas), de tejas, se origina a água (apa), e de apa, a Terra (prithvi). É dessas cinco maneiras que esses Tattvas (elementos), se espalham pelo mundo. Desses cinco Tattvas a criação se forma, é mantida, e novamente volta e se funde nos Tattvas. Então a criação vem para ficar dentro dos cinco Tattvas novamente. Esse é o processo sutil da criação. "O Akasa-Tattva é o campo do qual todas as coisas se manifestam, e para o qual todas as coisas retornam; o Espaço no qual os eventos ocorrem. O Espaço não tem existência física; ele posiciona-se no começo do Manifesto e o Imanifesto, entre o visível e o invisível." O Akasha-Tattva rege a área acima das sobrancelhas e estende-se além dos limites do corpo humano no Espaço. A manifestação Etérea do Akasha-Tattva no corpo é Ira Energia, Vergonha, Medo, e Luxuria. O Akasha-Tattva (Éter ou Espaço), tem uma propriedade: Som O Éter existe somente como distâncias as quais separam a matéria, sua função é dar Espaço."
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário e palestrante motivacional. Nove livros publicados. Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL) e do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; sócio da ACI - Associação Catarinense de Imprensa e da UBE/SC - União Brasileira de Escritores. email: autoreugeniosantana9@gmail.com e WhatsApp (41) 99547-0100
sexta-feira, 25 de maio de 2018
LÍRICAS REIVINDICAÇÕES DOS HOMENS (*)
Que quando chego do trabalho ela largue por um instante o que estiver fazendo - filho, panela ou computador - e venha me dar um beijo como os de antigamente. Que quando nos sentarmos à mesa para jantar ela não desfie a ladainha dos seus dissabores domésticos. E se for uma profissional, que divida comigo o tempo de comentarmos nosso dia. Que se estou cansado demais para fazer amor, ela não ironize nem diga que "até que durou muito" o meu desejo ou potência. Que quando quero fazer amor ela não se recuse demasiadas vezes, nem fique impaciente ou rígida, mas cálida como foi anos atrás. Que não tire nosso bebê dos meus braços dizendo que homem não tem jeito pra isso, ou que não sei segurar a cabecinha dele, mas me ensine docemente se eu não souber. Que ela nunca se interponha entre mim e as crianças, mas sirva de ponte entre nós quando me distancio ou me distraio demais. Que ela não me humilhe porque estou ficando calvo ou barrigudo, nem comente nossas intimidades com as amigas, como tantas mulheres fazem. Que quando conto uma piada para ela ou na frente de outros, ela não faça um gesto de enfado dizendo "Essa você já me contou umas mil vezes". Que ela consiga perceber quando estou preocupado com trabalho, e seja calmamente carinhosa, sem me pressionar para relatar tudo, nem suspeitar de que já não gosto dela. Que quando preciso ficar um pouco quieto ela não insista o tempo todo para que eu fale ou a escute, como se silêncio fosse falta de amor. Que quando estou com pouco dinheiro ela não me acuse de ter desperdiçado com bobagens em lugar de prover minha família. Que quando eu saio para o trabalho de manhã ela se despeça com alegria, sabendo que mesmo de longe eu continuo pensando nela. Que quando estou trabalhando ela não telefone a toda hora para cobrar alguma coisa que esqueci de fazer ou não tive tempo. Que não se insinue com minha secretária ou colega para descobrir se tenho amante. Que com ela eu também possa ter momentos de fraqueza e de ternura, me desarmar, me desnudar de alma, sem medo de ser criticado ou censurado: que ela seja minha parceira, não minha dependente nem meu juiz. Que cuide um pouco de mim como minha mulher, mas não como se eu fosse uma criança tola e ela a mãe, a mãe onipotente, que não me transforme em filho. Que mesmo com o tempo, os trabalhos, os sofrimentos e o peso do cotidiano, ela não perca o jeito terno e divertido que tanto me encantou quando a vi pela primeira vez. Que eu não sinta que me tornei desinteressante ou banal para ela, como se só os filhos e as vizinhas merecessem sua atenção e alegria. E que se erro, falho, esqueço, me distancio, me fecho demais, ou a machuco consciente ou inconscientemente, Ela saiba me chamar de volta com aquela ternura que só nela eu descobri, e desejei que não se perdesse nunca, mas me contagiasse e me tornasse mais feliz, menos solitário, e muito mais humano. (Copydesk/fragment by ES - Guardião Palavra)
quinta-feira, 17 de maio de 2018
ENTRE A ÁRVORE DA VIDA E O AMOR PLENO (*)
No interior de um trem, em imagens trepidantes de gravação caseira, a mulher diz ter renascido: ela vai à câmera, desliza pela mesa, cai, brinca e flerta com o companheiro.
São imagens do cotidiano, do amor, de pessoas. Enquanto parecem nada fazer, tudo fazem. Elas vivem: seguem um caminho natural, enquanto o cineasta Terrence Malick tenta mostrar o quanto a vida pode ser bela, dura, e às vezes previsível.
Sua mulher é a chave de Amor Pleno. Ela era também a chave de A Árvore da Vida: a mãe que traz para si o espírito, a paixão do filho, o contraponto ao pai bruto. Malick é um sábio: consegue converter Olga Kurylenko em uma mulher completa (ou quase) enquanto esculpe Ben Affleck como uma personagem de cinema mudo.
Ele não precisa falar. Move-se. É duro, um homem de botas sujas, um homem que poderia deixar uma mulher à beira da estrada ao descobrir a traição dela. E deixará.
Amor Pleno, fácil definir, é sobre o amor. Malick vai além: é sobre os desdobramentos do amor e a impressão de que nada, nesse mundo doente, pode ser pleno. O título nacional, assim, joga um pouco a favor do otimismo. A eternidade tem a ver com o espírito, com o sobrenatural, mas algo prende as personagens à materialidade.
A mulher, Marina (Kurylenko), ama Neil (Affleck). Eles estão em viagem por terras distantes: aparentemente comuns a ela e estranhas a ele. Ela tem uma filha e já foi casada. O homem desapareceu como poeira no vento. A certa altura, Neil convida a mulher e a filha para seguirem aos Estados Unidos, à terra das oportunidades.
Há sempre uma barreira. Também uma forma a sobrepor outra: a água que invade lentamente o campo da areia, as folhas secas e mortas que caem sobre a grama verde, o avião que corta o céu e deixa sua marca, a máquina que perfura o chão.
Em jogo estão as questões da terra, questões materiais. Não custa muito lembrar a obra-prima de Malick, Cinzas no Paraíso, em que uma nuvem de gafanhotos destrói tudo ao fim, dando cabo de certo sonho humano. Ao mesmo tempo bíblico e material.
O problema da terra, em Amor Pleno, tem a ver com o homem, e está de passagem. Em determinado ponto, descobre-se a contaminação da água – por consequência, da vida. O relacionamento de Marina e Neil, em paralelo, não anda bem: o visto dela vence e, em um táxi, simplesmente vai embora. Como poeira no vento.
O que Malick traduz, ainda de maneira mais evidente que em A Árvore da Vida, é a fragilidade, a facilidade em se quebrar, em se sobrepor a algo, em se deixar levar às vezes pelo inexplicável. Ao mesmo tempo fortes, as personagens estão em dúvida: flutuam em sonho, nunca prontas para o mundo verdadeiro.
A fotografia é do ótimo Emmanuel Lubezki, o mesmo de A Árvore da Vida. Pelas questões visuais, pelo rigor com o qual Malick tudo trata, é como se executasse, consciente, uma continuação de sua obra anterior. A origem da vida e o lugar de cada um no mundo ficaram para trás: suas personagens recaem agora ao amor, não apenas ao próximo, mas também a Deus. Brota disso o questionamento: pode ser eterno?
Há um padre em dúvida, vivido por Javier Bardem. Na prisão, ele leva a comunhão aos detentos pelo pequeno vão da porta metálica. Ele – como as outras personagens de Malick – caminha sem caminho: pela rua, à sombra, embaixo das árvores, à porta de uma pessoa, falando com os outros sem falar muito, melancólico.
As criações humanas de Malick parecem se repetir: delas, a vida surge de outra forma, como se mostrassem, em pele, o espírito. Isso é possível a partir de sua direção, na busca por belas imagens, às vezes nos mesmo locais em que esteve, antes, em A Árvore da Vida. Alguns momentos se repetem, até mesmo os enquadramentos. A vida se define às vezes pelo ciclo, pela repetição: eles conhecem-se, amam-se, casam-se, têm filhos. Não há muito a fazer senão crer na eternidade. É uma esperança, um remédio.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário e palestrante motivacional. Nove livros publicados. Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL) e do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; sócio da ACI - Associação Catarinense de Imprensa e da UBE/SC - União Brasileira de Escritores. email: autoreugeniosantana9@gmail.com e WhatsApp (41) 99547-0100
quarta-feira, 16 de maio de 2018
RELAÇÕES VIRTUAIS (*)
Por que nos defendemos tanto da realidade, do olho no olho, das conversas (difíceis, sim, mas absolutamente necessárias)? Por que preferimos a fantasia e a distância a ter de nos mostrar, falar de nossos medos e desejos para a pessoa que dorme ao nosso lado?
Creio que mais do que rotularmos como traidor aquele que mantém relações virtuais, ou traído por descobrir tal rota de fuga do parceiro, conseguiríamos respostas e resultados muito melhores se nos dispuséssemos a olhar para o que realmente está acontecendo em nossa relação real, no dia-a-dia, na comodidade da rotina, na desculpa da falta de tempo...
Passamos horas e horas, madrugadas inteiras diante do computador, mas algo terrível acontece que não conseguimos dispor de meia hora para acariciar o outro e tentar iniciar uma conversa amigável e agradável...
Definitivamente, uma verdade terei de admitir: é infinitamente mais fácil alimentar uma relação sem cheiro, sem toque, sem alteração de humor, sem a cobrança da presença, do olhar, da palavra embalada pelo tom, do que nos dispor a recomeçar, a fazer uma terapia, a rever nossos próprios atos e a perceber que também temos errado continuamente.
Mas fica a questão: as relações virtuais são realmente capazes de nos preencher ou são, sobretudo, a sentença de nossa covardia diante da relação que temos vivido, não gostado, mas que não fazemos nada para mudar?!?
Se você mantém uma relação virtual, sugiro que você ao menos desligue o computador por uma noite e olhe para a sua realidade. Sente-se na cama, segure a mão desta pessoa que dorme com você e atreva-se a dizer: o que é que tem acontecido com o amor da gente?!? Por onde ele anda? Será que conseguimos trazê-lo de volta, considerando tudo o que já vivemos, já construímos e o tanto que desejamos ser felizes?!?
E se você descobriu que a pessoa amada mantém relações virtuais, sugiro que você apazigúe seu ego e deixe seu coração falar... Aproxime-se e arrisque uma declaração verdadeira e não uma pedrada. Talvez uma confissão: tenho sentido tanto a sua falta, ultimamente. Gostaria de ao menos poder conversar, saber o que anda acontecendo na sua vida. Talvez, assim, possamos resgatar o amor que já foi tão grande e tão forte entre nós...
Cara!!! Vou te dizer! Eu sei que é muito difícil fazer isso!!! Mas você tem duas opções: ou toma uma atitude para tentar salvar a sua relação real... ou afoga-se na ilusão depressiva de que alguém que você nunca viu possa te amar mais do que esta pessoa que está ao seu lado...
Porque o fato é que ninguém existe sem ser tocado, sem ser visto, sem ser compartilhado... e isso é absolutamente impossível no mundo virtual. Relações virtuais podem ser uma ótima medida paliativa, mas jamais será o que o seu coração realmente deseja!
(*) Eugenio Santana – Jornalista, escritor, publicitário, ensaísta, biógrafo, relações públicas, assessor de comunicação e palestrante motivacional. Nove livros publicados. 41 - 99547-0100 (WhatsApp). Atualmente, radicado em Curitiba, PR.
segunda-feira, 14 de maio de 2018
A INSACIÁVEL FOME DO AMOR...
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos. O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina. O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos. Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina. O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome. O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome. O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel. O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso. O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala. O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte. (copydesk/fragment by ES - Guardião da Palavra)
sábado, 5 de maio de 2018
O FATOR EDIPIANO: RELACIONAMENTO ÍNTIMO COM A MÃE (*)
Segundo o mestre da psicanálise, Sigmund Freud, o período característico da luta edipiana costuma ser localizado entre os três e os seis anos de idade. Desde seu nascimento, o bebê mantém um relacionamento extremamente íntimo com sua mãe. Depende dela para tudo e, inicialmente, tende a encará-la como uma espécie de prolongamento de suas próprias necessidades. Aos poucos, contudo, aprende a vê-la como uma pessoa separada dele. Separada e diferente: ela não tem pênis; e papai tem. Entre os dois anos e meio e os três seu interesse pelo próprio pênis aumenta consideravelmente. Tornam-se comuns as observações orgulhosas do tipo “olha o meu pintinho, como é grande”. A masturbação é muito comum nessa fase, produzindo prazer e excitação evidentes. O menino continua muito apegado à mãe e, com o começo da fase edipiana, seu afeto expande-se num amor intenso e apaixonado, que inclui sensações centralizadas nos órgãos sexuais. Provavelmente, não tem uma ideia muito clara sobre o aspecto sexual do relacionamento entre seus pais, mas sente que existe entre os dois um segredo perturbador. E relaciona esse segredo, do qual é excluído, com sua excitação genital. Tem grande curiosidade a respeito da origem dos bebês – de onde vêm, como chegam ao mundo. Talvez faça centenas de perguntas concernentes ao assunto, sem que as respostas o satisfaçam inteiramente, pois é incapaz de expressar suas dúvidas sobre os problemas que realmente o preocupam. O amor do menino pela mãe, nessa fase, é extremamente exclusivista. Ele quer afastar todos os “rivais”, ou seja, os irmãos e o pai. Este, devido ao seu relacionamento especial com a mãe, concentra o ciúme e os impulsos agressivos da criança. Contudo, sua raiva entra em conflito com os sentimentos de amor e admiração que ela nutre pelo pai. Também teme que seus impulsos violentos provoquem represálias. O fato de relacionar a excitação genital com o intenso sentimento possessivo dirigido à mãe faz com que o menino atribua a essa excitação qualquer ameaça de represália por parte do pai. Via de consequência, ele teme perder o seu precioso pênis. Já observou que certas pessoas não têm pênis – a mãe e as meninas – e isto o convence de que pode perder o seu. Quanto mais intensa for sua paixão pela mãe, e os sentimentos de hostilidade pelo pai, tanto maior e mais real será seu medo de castração. Projeta sobre o pai os próprios desejos destrutivos, e se convence de que tem bons motivos para odiá-lo.
(*) por EUGENIO SANTANA, Jornalista, Escritor, Ensaísta, Relações públicas, Publicitário e Analista de Marketing digital. Pertence à Academia de Letras de Uruguaiana-RS, UBE-GO/SC - União Brasileira de Escritores. Autor de nove livros publicados. Coordenador executivo da Sampa Publicidade Editora. E-mail: autoreugeniosantana9@gmail.com - WhatsApp: (41) 99547-0100
domingo, 29 de abril de 2018
SABEDORIA: CAPACIDADE DE SABOREAR O MUNDO (*)
Conheço muitos testes de inteligência. Não conheço nenhum teste de sabedoria. É fundamental saber a diferença entre essas duas, inteligência e sabedoria, frequentemente confundidas. A inteligência é a nossa capacidade de conhecer e dominar o mundo. Ela tem a ver com o poder. A sabedoria é o êxtase de saborear o mundo. Ela tem a ver com a felicidade. As escolas se dedicam a desenvolver e avaliar a inteligência. Para isso desenvolveram testes. Os testes avaliam a inteligência dos alunos por meio de números. Mas elas nada sabem sobre a sabedoria, e nem elaboram testes para avaliá-la. Nas escolas e universidades, muitos idiotas são aprovados. A inteligência é muito importante. Ela nos dá os “meios para viver”. Mas somente a sabedoria é capaz de nos dar “razões para viver”. Muitas pessoas se suicidam porque, tendo todos os “meios para viver”, não tinham as “razões para viver”. Proponho-lhe um teste de sabedoria. Ele é muito simples. O seu aniversário está chegando. Você já não é mais jovem. O espelho lhe revela coisas que você não gostaria de saber. Diante de sua imagem no espelho existe sempre o perigo de que uma magia perversa aconteça, e você seja repentinamente transformado em bruxa ou ogro – tal como aconteceu com a madrasta de Branca de Neve. Em desespero, você invoca os deuses. Eles vêm em seu auxílio e lhe dizem que atenderão a um desejo seu, a um único desejo. Que súplica você lhes faria? Digo-lhe que essa seria a hora da pureza de coração, quando todos os supérfluos têm de ser deixados de lado. “Pureza de coração” – assim disse Kierkegaard, meu querido filósofo solitário, companheiro já morto; por vezes os mortos são companhia melhor que os vivos, porque falam menos e ouvem mais – pureza de coração, ele disse, “é desejar uma só coisa”. Digo que isso é sabedoria, mas pode parecer mais coisa de neurótico obsessivo, ficar querendo uma coisa só, o tempo todo. Você entenderá o que digo se você prestar atenção no voo dos pássaros. E, para ajudá-lo nesse dever de casa, transcrevo o que Camus pensou, ao observá-los. “Se durante o dia o voo dos pássaros parece sempre sem destino, à noite, dir-se-ia reencontrar sempre uma finalidade. Voam para alguma coisa. Assim talvez, na noite da vida...” O texto termina assim, com essas reticências que, segundo Mario Quintana, são o caminho que o pensamento deve continuar a seguir. Assim é o coração. Há momentos na vida em que ele é como o voo dos pássaros durante o dia: oscila em todas as direções, sem saber direito o que quer, ao sabor das dez mil coisas que o fascinam, tão desejáveis, cada uma delas uma taça de êxtase supremo. Chega um momento, entretanto, em que é necessário escolher uma direção – é preciso descobrir aquela palavra, aquela única palavra que dá nome ao nosso sofrimento, que nomeia a nossa nostalgia, para que saibamos para onde ir. Há um ditado que diz que a melhor comida é angu com fome. Que adianta o bufê servido com dez mil pratos se o corpo não deseja nenhum? Mas se existe a fome, feijão com arroz é uma alegria incontida. Felizes os que têm fome... Os poetas rezam sempre. Rezam porque a poesia é coisa que se escreve diante do vazio, mínima refeição de palavras para matar uma fome que não pode ser matada: A fome de viver. Os poetas sabem que é inútil que se comprem todas as coisas. Diferentemente daqueles que rezam para que Deus lhes encha a barriga, eles rezam para que nunca deixem de ter fome. Porque, se deixarem de ter fome, eles deixarão de ser poetas. Nada mais triste que um corpo sem desejo. Disso sabem muito bem os que amam. Vejam essa terrível oração de T.S. Eliot: “Salva-me, ó Deus, da dor do amor não correspondido, e da dor muito maior do amor correspondido”.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor e jornalista. Nove livros publicados. Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL), da Associação Uruguaianense de Escritores e Editores e do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; sócio da ACI - Associação Catarinense de Imprensa e da UBE/SC - União Brasileira de Escritores. email: autoreugeniosantana11.11@gmail.com e WhatsApp (41) 99547-0100
sábado, 28 de abril de 2018
"ORAPRONÓBIS" - DECLARAÇÃO DE AMOR À PARACATU, MG (*)
“Ser Mineiro é não dizer o que faz, nem o que vai fazer, é falar pouco e escutar muito, é ser diferente, é ter marca registrada, é ter história.
Ser Mineiro é ter simplicidade e pureza, coragem e bravura, fidalguia e elegância. Ser Mineiro é ver o nascer do Sol e o brilhar da Lua, é ouvir o canto dos pássaros e o mugir do gado, é sentir o despertar do tempo e o amanhecer da vida. É cultivar as letras e as artes; é ser poeta e literato.”
Surpreendentes são estes guardados raros, oriundos das asas da memória privilegiada deste autor de vasta cultura geral, o brilhante intelectual – eternamente jovem octogenário – professor Oswaldo Costa.
Mesclando realidade e ficção – algo inédito e singular na literatura brasileira – o escritor constrói e estrutura um calidoscópio de personagens que sustentam a trama com instigante leveza. Intercalam-se, simultaneamente, romance, memória, ensaio e história.
Ressaltamos tratar-se de um rico painel de mineiridade: usos e costumes, folclore; religiosidade e originalidade da linguagem regionalista, típica das décadas de 30, 40, 50 e 60 e a riqueza de detalhes da opulenta culinária mineira. A propósito, considero oportuno e providencial o lançamento de Orapronóbis que me fez lembrar, com imensa ternura, do livro “Grande Sertão: Veredas”, do incomparável Guimarães Rosa, publicado em abril de 1956, completando, portanto, meio século da primeira edição!
Acredito, sinceramente, que dificilmente a histórica “prisioneira das distâncias” tenha sido lembrada e homenageada, com inefável carinho, da forma especial como está retratada em Orapronóbis.
Ao abrirmos a “caixa preta” das 384 páginas mágicas de Orapronóbis teremos ecos e ressonâncias impressionantes, agradáveis surpresas, descobertas e revelações de alta voltagem literária, filosófica, histórica e sentimental que resgata e testemunha um tempo de bem-aventuranças...
Quanto a mim, empreendi uma insólita viagem nas asas do tempo e mergulhei fundo nas águas do meu chão de infância – e metade da adolescência – ricamente vivenciados em Orapronóbis. Fiz minha autoterapia de vida passada e viajei – mineiro-menino – e ouvi muitas vozes de antanho: “caçando passarinho” nos brejos de buritis, pescando traíras nas verdes veredas de águas cristalinas, chupando – até o caroço – as mangas dulcíssimas do enorme quintal e as gabirobas e araticuns nos largos campos e cerrados da “Lagoa Torta”, fazenda de quatrocentos alqueires, que pertenceu à minha altruística e heróica tia-avó Bertholina Josefina de Sant’Anna que, posteriormente, legou – via generosa herança – aos meus pais Fabião Couto (em memória) e Adília Santana, que por lá permaneceram e laboraram entre 1972/80, até retornarem em definitivo para Goiás, especificamente para Anápolis, urbe na qual, coincidentemente, o dileto autor e prestigiado conterrâneo radicou-se em 1955.
Constatei, perplexo, que a famigerada “Coluna Prestes” usava de métodos nada ortodoxos, utilizando-se, quando necessário, de extrema violência para cumprir seus “objetivos comunistas”, tendo espalhado o terror em sua efêmera e desastrosa passagem por Paracatu, deixando marcas profundas e traumáticas na índole e na alma pacífica e acolhedora dos paracatuenses.
E para minha surpresa maior, fiquei sabendo que o Toco do Pecado – cantado em verso e prosa – instalado frente à Igreja Matriz de Santo Antônio – verdadeiro tribunal de notícias, jornal verbal ou cultura oral? (sic) – já existia desde a década de 40. Incrível! Meu tio – o mais loquaz e verborrágico - Francisco de Assis Santana, participava ativamente das “rodadas de negociações” e batia “seu ponto”, com inegável assiduidade, no banco da fofoca, por volta de 1960/1980.
A simples menção das fazendas tocaram-me a alma, a mente e o coração. Algumas conheci e usufrui; outras só mesmo através do comentário de parentes fazendeiros. Ei-las: Santa Maria, Vera Cruz, Bom Sucesso, Alegria, Mundo Novo, Chapada, Água Fria, Aldeia de Cima, Poções, Quebra-Eixo, Palmital e a inesquecível Lagoa Torta... Nostálgicas saudades!
Não tenho dúvida em relação ao êxtase cósmico experimentado pelas almas-alada de alguns personagens – fictícios ou não – tais como: Sô Homero (alter ego do coronel Chico Pinheiro), Tia Teca, o genial professor Josino Neiva, Emídio (o farmacêutico), o romântico, corajoso e habilidoso vaqueiro Urias (que lembra, de certa forma, o meu pai), Nora, Nezinho (que fim trágico!), Tim Jordão, Zabé, Lázaro, Vicente, Otílio, Zé da Anta (meu vovô Zé Santana), Chico Cabaú que muito alegrou a minha infância no bairro Bela Vista; bem como o Padre Joca – que nasceu em Pirenópolis: cidade goiana que me faz recordar a nossa Paracatu do príncipe -, aonde quer que se encontrem: orai, por nós! Contritos e genuflexos e sob a Luz do Altíssimo, todos eles te agradecem, ilustre escritor Oswaldo Costa, pelo legado desta sua magnífica obra!
E qual é a missão do escritor, meu caro professor Oswaldo? Respondo com o verbo emprestado da notável Lygia Fagundes Teles: “a função do escritor? Ser testemunha do seu tempo e da sua sociedade. Escrever por aqueles que não podem escrever. Falar por aqueles que muitas vezes esperam ouvir da nossa boca a palavra que gostaria de dizer. Comunicar-se com o próximo e se possível, mesmo por meio de soluções ambíguas, ajudá-lo no seu sofrimento e na sua esperança”.
Que as bibliotecas brasileiras, especialmente mineiras, goianas, gaúchas e cariocas providenciem – com a máxima brevidade – a inserção de um exemplar deste valioso livro, catalogando-o em todas as Estantes de seus respectivos acervos. Ora pro nobis, Paracatu! Assim seja!
(*) EUGENIO SANTANA é escritor e jornalista. Nove livros publicados. Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL), da Associação Uruguaianense de Escritores e Editores e do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; sócio da ACI - Associação Catarinense de Imprensa e da UBE/SC - União Brasileira de Escritores. email: autoreugeniosantana11.11@gmail.com e WhatsApp (41) 99547-0100
sexta-feira, 27 de abril de 2018
A OBRA-PRIMA DE CADA UM (*)
Toda escultura nasceu de uma matéria bruta, até ter sua essência revelada.
O que é um ser humano, senão matéria bruta a ser esculpida? Passamos a vida tentando nos livrar dos excessos que escondem o que temos de mais bonito. Fico me perguntando quem seria nosso escultor. Um grupo vai reivindicar que é DEUS, mas por mais que ELE ande com a reputação em alta, discordo. Tampouco creio que seja pai e mãe (ambos já se foram, vale salientar), apesar da bela mãozinha que eles dão ao escultor principal; o tempo, é óbvio.
Pai e mãe começam o trabalho, mas é o tempo que nos esculpe, e ele não tem pressa alguma em terminar o serviço, até porque sabe que todo ser humano é uma sinfonia inacabada. Levamos décadas até chegarmos a um rascunho bem-acabado de nós mesmos, que é o máximo que podemos almejar.
Quando jovens, temos a arrogância e a prepotência de achar que sabemos muito, e, no entanto, é justamente esse “muito” que precisa ser desbastado pelo tempo até que se chegue no cerne, na parte mais central da nossa identidade, naquilo que fundamentalmente nos caracteriza. Amadurecer é passar por esse refinamento, deixando para trás o que for gordura, o que for pastoso, o que for desnecessário, tudo aquilo que pesa e aprisiona, a matéria inútil que impede a visão do essencial, que camufla a nossa verdade. O que o tempo garimpa em nós? O verdadeiro sentido da nossa vida.
O tempo, escultor de todos nós, age da mesma forma: de uma hora para a outra, dá seu trabalho por encerrado. Mas enquanto ele ainda está a nosso serviço, que o ajudemos na missão de deixar de lado os nossos excessos de vaidade, de narcisismo, de futilidade. Que finalmente possamos expor o que há de mais precioso em você, em mim, em qualquer pessoa: nosso afeto e generosidade. Essa é a obra-prima de cada um, extraída em meio ao entulho que nos cerca.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor e jornalista. Nove livros publicados. Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL), da Associação Uruguaianense de Escritores e Editores e do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; sócio da ACI - Associação Catarinense de Imprensa e da UBE/SC - União Brasileira de Escritores. email: autoreugeniosantana11.11@gmail.com e WhatsApp (41) 99547-0100
quinta-feira, 26 de abril de 2018
O AMOR ABRE NOSSOS OLHOS CEGOS PARA A BELEZA (*)
O Amor é o poder que dentro de nós aceita e valoriza o outro ser humano tal como ele é, que aceita a pessoa que ali está, verdadeiramente, e não a transforma no ser idealizado pela nossa projeção. O amor nos faz respeitar a pessoa como um todo. O amor permite ao homem ver o valor intrínseco na mulher, e por isso mesmo o amor o leva a honrá-la e a servi-la, ao invés de usá-la para os interesses de seu ego. Quando tem o amor por guia, ele se preocupa com as necessidades dela e com seu bem-estar, não se fixando em seus próprios desejos e caprichos. O amor altera nosso senso de importância. Pelo amor vemos que nós e os outros temos o mesmo valor como indivíduos diante o cosmo; torna-se tão importante para nós que um ser se complete, que viva plenamente, que encontre a alegria na vida, quanto nos é importante suprir nossas próprias necessidades. No mundo do inconsciente, o amor é uma das grandes forças psicológicas que têm o poder de transformar o ego, de despertá-lo para a existência de algo fora dele mesmo, fora de seus planos, de seu império, fora de sua habitual segurança. O amor liga o ego não somente ao resto da raça humana, como também à alma e a todos os deuses do mundo interior. O amor é, por sua própria natureza, o oposto do egocentrismo. Usamos a palavra amor de maneira muito vaga, nós a usamos para dar dignidade às formas de conseguir poder, atenção, segurança e aceitação por parte de outras pessoas. Quando, porém, nos preocupamos com as “necessidades” criadas por nós, com os nossos desejos, sonhos, com o poder que exercemos sobre as pessoas, isto não é amor. O amor é algo totalmente distinto dos desejos do ego e de seus jogos de poder. Ele leva a outra direção, ou seja, em direção à bondade, ao respeito, às necessidades das pessoas que nos cercam. Em sua própria essência, o amor é uma “apreciação”, um reconhecimento do valor do outro. Ele leva o homem a honrar a mulher, ao invés de usá-la, faz com que ele se pergunte sobre a melhor forma de servi-la. E se a mulher estiver ligada a ele pelos laços do amor, terá essa mesma atitude com relação a ele. A natureza arquetípica do amor talvez jamais tenha sido melhor descrita que nas palavras simples da carta de São Paulo, aos Coríntios: O amor é paciente, é bom; o amor não inveja; o amor não se vangloria e não se envaidece... O amor não procura seus próprios interesses, não se irrita, não folga com a injustiça... Suporta todas as coisas, resiste a todas as coisas. As profecias falharão, as línguas se calarão, a ciência desaparecerá. Mas o amor jamais há de falhar.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor e jornalista. Nove livros publicados. Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL), da Associação Uruguaianense de Escritores e Editores e do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; sócio da ACI - Associação Catarinense de Imprensa e da UBE/SC - União Brasileira de Escritores. email: autoreugeniosantana11.11@gmail.com e WhatsApp (41) 99547-0100
segunda-feira, 23 de abril de 2018
A SOLIDÃO DE SER DIFERENTE (*)
Parece que há em nós cantos sombrios que toleram apenas uma luz bruxuleante. Um coração sensível gosta de valores frágeis. Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, esta é a que mais amo: “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”. Pare. Leia de novo. E pense. E reflita. Você lamenta essa maldade que a vida está fazendo com você, a solidão. Se Sartre está certo, essa maldade pode ser o lugar onde você vai plantar o seu jardim. Nietzsche também tinha a solidão como sua companheira. Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias e o deixavam cego. Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas, da música e de uns poucos livros que ele amava. Eis aí três companheiras maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas que caminham por razões de saúde, incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos. E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque não suportariam caminhar sozinhas. E, por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a alegria de estar em sintonia com a Natureza. Elas não veem as árvores, nem as flores, nem as nuvens, nem sentem a asa do vento acariciar o rosto. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo diálogo prolixo e vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer. O estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos, frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um subterfúgio para evitar o contato com nós mesmos. Sartre chegou ao ponto de dizer que “o inferno são os outros”. Eis o que Nietzsche escreveu sobre a solidão: “Ó solidão! Solidão, meu lar!... tua voz – ela me fala com ternura e felicidade! Não discutimos, não queixamos e muitas vezes caminhamos juntos através de portas abertas. Pois onde quer que estas, ali as coisas são abertas e luminosas. E ate mesmo as horas caminham com pés saltitantes. Ali as palavras e os tempos, poemas de todo o ser se abrem diante de mim. Ali todo ser deseja transformar-se em palavra, e toda mudança pede para aprender de mim falar”. Rainer Maria Rilke, um dos poetas mais solitários e densos que conheço, disse o seguinte: “As obras de arte são de uma solidão infinita”. E na solidão que elas são geradas. Foi na casa vazia, num momento solitário, que o operário viu o mundo pela primeira vez e se transformou em poeta. O primeiro filosofo que li, o dinamarquês Soeren Kierkegaard, um solitário que me faz companhia ate hoje, observou que o inicio da infelicidade humana se encontra na comparação. Experimentei isso em minha própria pele. Foi quando eu, menino do interior de uma cidadezinha de Minas Gerais, me mudei para o Rio de Janeiro que conheci as dificuldades. Comparei-me com eles: cariocas, perspicazes, bem falantes, ricos. Eu diferente, sotaque ridículo, gaguejando de vergonha, pobre: entre eles eu não passava de um patinho feio que os outros se compraziam em bicar. Nunca convidei nenhum deles a ir onde eu morava: no apartamento do meu tio, na rua Senador Vergueiro, no bairro do Flamengo. Eu não me atreveria. Conheci, então, a solidão. A solidão de ser diferente. E sofri muito. Nem sequer me atrevi a compartilhar com meus pais esse meu sofrimento. Seria inútil. Eles não compreenderiam. E mesmo que compreendessem, eles nada podiam fazer. Assim, tive de sofrer a minha solidão duas vezes sozinho. Mas foi nela que se formou aquele que sou hoje. As caminhadas pelo deserto me fizeram forte. Aprendi a cuidar de mim mesmo. E aprendi a buscar as coisas que, para mim, solitário, faziam sentido. Como, por exemplo, a musica clássica, a beleza que torna alegre a minha solidão... Sofra a dor real da solidão porque a solidão dói.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor e jornalista. Nove livros publicados. Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL), da Associação Uruguaianense de Escritores e Editores e do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; sócio da ACI - Associação Catarinense de Imprensa e da UBE/SC - União Brasileira de Escritores. email: autoreugeniosantana11.11@gmail.com e WhatsApp (41) 99547-0100
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