segunda-feira, 26 de outubro de 2020

PARA O HOMEM A SEDUÇÃO NUNCA É MOTIVO DE TRIUNFO, MAS DE ENCANTAMENTO (*)

O homem loucamente apaixonado é como o convertido que deixa casa, filhos, tudo pela fé. Ou como o terrorista que mata, mas por razões idealistas. O prazer não possui essa dignidade ética. O erotismo masculino, assim como se apresenta nas fantasias que examinamos, é absolutamente o inverso da ética. Esta impõe que se considere o outro ser humano como fim e jamais como meio. O objeto do desejo erótico masculino, ao contrário, é meio, como o alimento, como a água, como a cama para quem tem sono. Tudo o que serve para satisfazer uma necessidade é meio. Até mesmo a reciprocidade, no erotismo masculino, é egoísta. O prazer da mulher é desejado em vista do próprio prazer. O homem erótico é possuído por desejos, corre atrás de todas as coisas, como para atingir esse fim. Em linguagem chula, diz-se que cedeu às "fraquezas da carne", que "se deixou levar". É como a vertigem do jogo. De fato, esse erotismo é perigoso como o jogo de azar, como a corrida automobilística, tanto é verdade que mais cedo ou mais tarde, mas inevitavelmente, acontece a catástrofe. O jogador só pára de jogar quando perdeu tudo, quando está arruinado. A inconsistência moral do erotismo emerge violentamente das páginas de Henry Miller. Há algo nas fantasias eróticas masculinas, que é antagônico ao compromisso, à responsabilidade. As mulheres que representaram o ideal erótico masculino possuíam, como característica comum, o fato de não criar laços e responsabilidades. Marilyn Monroe não é uma heroína romântica. Parece dizer: "Eis-me aqui, simples, ingênua, frágil, excitável. Faça o que quiser. Não lhe peço nada, nem casamento, nem continuidade, nem compromisso, nem dinheiro. Nem percebo suas intenções, sdeu significado sexual". No filme "O pecado mora ao lado", Marilyn oferece-se continuamente, mas não se dá conta disso. A mulher que encarna a fantasia erótica desresponsabiliza o homem de seu desejo. Não pede ao prazer compensações éticas. "Se lhe agrado", esta é a mensagem, "aqui estou, tome-me. Se quiser ir embora, de mim não terá nem aborrecimentos, nem queixas, nem súplicas, nem chantagens, nem lamentações. Não o terei preso a mim por causa de filhos, mãe, parentes, irmãos. Não preciso do seu dinheiro. Não sou ciumenta, não guardo rancor. E, finalmente, se quiser voltar, aqui estou às suas ordens." Uma mulher pode resolver jantar com um homem porque ele é importante, pode também casar-se por dinheiro. Nesse caso, coloca entre parêntesis as qualidades negativas em troca de uma vantagem social. Mas quase nunca por uma vantagem erótica. É raro que procure num homem o desempenho sexual e deseje apenas isso. Erica Jong, no livro "Pára-quedas e beijos", tenta comportar-se assim com seus amantes ocasionais, mas não consegue, e o que sente é raiva, ódio. Em geral, a mulher apenas fica excitada eroticamente se a pessoa lhe agrada de modo global. Mas, claro, às vezes pode sentir-se atraída por qualquer qualidade erótica extraordinária. Um célebre estadista francês tinha grande sucesso entre as senhoras de Paris por possui um pênis superdotado. Mas o que atraía aquelas senhoras era muito mais a curiosidade, a competição com as outras mulheres, o fato de ele ser o presidente. Era, assim, uma apreciação ditada pelo social, não algo que a mulher escolhesse por conta própria. Por mais belo, musculoso ou viril que seja o corpo do homem, para a mulher são igualmente eróticos os gritos do público, o delírio do teatro e até mesmo um belíssimo iate. O erotismo feminino tende a abrir-se para o mundo, a caminhar sob o sol, entre as pessoas. A mulher sonha fazer amor sob o céu estrelado, à beira do mar, na floresta, onde a natureza é mais bela. Fica eroticamente excitada quando caminha de mãos dadas com o seu homem por uma praça, um shopping, ou quando entra numa festa de casamento de braços dados com ele. Também o homem fica excitado se a mulher é bonita, ou quando está apaixonado. Há no homem um componente erótico muito forte que desdenha o externo e valoriza o interno. Nesse erotismo não se espera reconhecimento, triunfo social mas, ao contrário, autonomia. A finalidade última da conquista masculina, a fantasia que se esconde atrás do jogo, é fazer amor. E quando a corte produz um encontro erótico, essa fantasia torna-se desejo. Conseguir fazer amor é para o homem o ponto de chegada, a conclusão. Se uma mulher aceita a relação erótica, mas lhe recusa a sexualidade, recusa-lhe o essencial. O afeto, a intimidade, as carícias não lhe bastam, não podem bastar-lhe, principalmente se for portador do signo de Áries. No mais profundo da alma masculina, em sua mentalidade está radicada a idéia de que se uma mulher lhe concede a sua sexualidade está lhe concedendo ela própria, inteiramente. Por isso o homem que fez amor com uma mulher diz que a conquistou. No íntimo, o homem não acredita em sua capacidade de seduzir. A sedução, para ele, é sempre um milagre. Quando acontece, quando a mulher vestida se despe, é porque ela assim o decidiu e ele só pode sentir-se perplexo e feliz. Mesmo o dom-juan mais cínico fica emocionado quando uma mulher desconhecida entrega-se a uma intimidade inimaginável poucos minutos antes. Para o homem, a sedução nunca é motivo de triunfo, mas de encantamento. Jamais causa uma sensação de superioridade, mas de reconhecimento. A experiência de transformações inesperadas e maravilhosas deixa no homem uma impressão intensa, uma lembrança indelével. Afinal, o dom-juan procura mesmo é essa emoção. Quer renová-la indefinidamente, sentir a cada vez o êxtase do inacreditável. Mas também o homem deseja, no íntimo, suscitar uma emoção irresistível, ser amado, ser desejado totalmente. Também ele busca na mulher uma paixão erótica sem freios. Outro fato paradoxal é que o homem, quando uma mulher se entrega a ele com muita facilidade e de modo volúvel, tem a impressão de que ela o faz por cálculo, ou por um motivo, isto é, que age como uma prostituta. A expressão pejorativa "é uma puta" quer dizer, afinal, que ela finge, que engana, que usa sua sexualidade com objetivos eróticos. Não nos esqueçamos de que, para o macho, o prazer sexual é um fim por si mesmo. A idéia de que é usado com outra finalidade o perturba. A idéia de que a excitação erótica possa ser simulada o inquieta. Porque ele não pode fazer isso, porque nele a ereção é uma prova que não se pode falsificar. Essa dificuldade que o homem tem de compreender se a mulher age por amor ou por interesse suscita nele uma sensação de desconforto. Para o homem o relacionamento sexual é uma coisa importante, ele tem necessidade absoluta dele. Nenhuma forma de erotismo cutâneo, muscular, cinestésico, nenhum tipo de intimidade amorosa, nenhum carinho tipo maternal é capaz de substituí-lo e diminuir-lhe a urgência. Para o homem, renunciar ao sexo é tão difícil quanto renunciar a comer ou a beber. As dificuldades encontradas pelos ascetas e anacoretas cristãos não provinham da fome ou da sede, mas das fantasias eróticas contínuas, obsessivas. A castidade, mesmo temporária, é muito difícil para o homem, e por esse motivo foi imposta pelo bárbaro meio de castração. A mulher não tem esse tipo de necessidade. Se não encontra o homem que lhe agrada, prefere não ter relações sexuais, até mesmo por meses e anos. As mulheres se casam porque desejam uma relação afetiva duradoura e estável com uma única pessoa, porque querem uma casa, filhos, bens materiais e segurança. Também aos homens essas coisas interessam, mas poucos estariam dispostos a casar-se se não estivessem certos de poder fazer amor. Para o homem, o relacionamento sexual é uma necessidade cotidiana no casamento, na convivência, na vida. (*) EUGENIO SANTANA é escritor. Ensaísta, Jornalista, Poeta, Biógrafo, Romancista, Redator publicitário, Consultor afetivo; Gestor editorial. 14 Livros publicados, "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, entre outros. (62) 9.8154-9077 WhatsApp

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