segunda-feira, 5 de dezembro de 2016
PAZUL
Após a visita, assistiu pela TV as últimas notícias da noite. Ficou indignado com a reportagem sobre a negligência com a saúde pública, mas dormiria feliz por seus dois times de coração – Cruzeiro e Flamengo – ambos com enormes chances de conquistar o Campeonato Brasileiro. Com saudades, recordou-se das diversas vezes em que foi ao Mineirão e ao Maracanã nutrir sua paixão e entusiasmo, renovar sua alma, sentir a vibração da torcida, o êxtase por mais um gol espetacular. Lembranças na memória alada. Ficou em dúvida se lia algo mais. Talvez por uns quinze minutos, meia hora. O livro do seu sobrinho favorito estava ao lado da cama, recém-lançado na Bienal de São Paulo. Ora bolas! Era só apertar o botãozinho vermelho e chamar a enfermeira para auxiliá-lo. Refletiu sobre a palavra “ajuda”. Olhando para o alto, seus olhos alcançaram a janela. Num átimo de segundo, cogitou no quanto precisou de ajuda. Pensou naqueles que o ajudaram. Às vezes renunciava ao ceticismo. Arriscava-se a dizer que aquelas pessoas foram Anjos de Luz enviados para cruzarem o seu caminho. Tinha aprendido que algumas coisas da vida não tinham explicação plausível, simplesmente aconteciam, como pequenos milagres. Enquanto refletia com o olhar congelado nas luzes das estrelas que enxergava pela janela, sentiu um inesperado e profundo sono. Nenhuma dor. Apenas uma agradável e insólita sensação de sono. Nunca havia sentido algo parecido. Seu olfato captou o mais delicioso cheiro que havia sentido. Perfume? Pensou consigo. O aroma fez lembrar o do campo, da natureza. Teve a percepção que nada ouvia e o silêncio nunca antes lhe trouxera tanto prazer. Uma Pazul. (EUGENIO SANTANA é jornalista, escritor, ensaísta, biógrafo e redator publicitário. Membro efetivo da ALNM – Academia de Letras do Noroeste de Minas, cadeira 2. Membro Acadêmico “Benemérito Ad Honorem” do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; Autor de nove livros publicados)
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