quarta-feira, 23 de novembro de 2016
QUANDO OS MINEIROS SE UNEM, ALGO DEVE ACONTECER...
A tradição mineira municipalista de Minas Gerais, que vem desde a sua formação, determina que as facções políticas se polarizem em torno do poder municipal em disputas intermináveis. Mas, em relação aos assuntos exteriores ao município, é comum haver propensão à concordância em torno do poder maior, estadual ou federal, com o prudente objetivo de evitar conflitos e retaliações, salvo o esgotamento dos limites de tolerância. Que limites serão estes? O ex-governador Leonel Brizola intuiu o fenômeno, com a visão instantânea de um grande estadista, ao sentir o peso da multidão no comício pró-diretas de Belo Horizonte: quando os mineiros se unem, algo deve acontecer. O hábito de esconder riqueza e escapar do fisco dotou o mineiro de espírito de modéstia e de oportuna astúcia. O cidadão de Minas aprendeu desde o início a aparentar menos do que é e a mostrar muito menos do que tem: casas pobres, mobília escassa, vestuário simples, voz baixa e lucro seguro. Os mineiros, pacíficos e ordeiros, deveriam encaminhar-se para uma união para dizer um basta ao poder opressor. Centro do país, lugar de encontro do Sul próspero e do Norte insuficientemente desenvolvido, mescla das tendências nacionais, por Minas circulam os anseios da nação inteira: industriais e operários, proprietários agrícolas e camponeses, donas de casa e funcionários, favelados e bóias-frias, retirantes e banqueiros, nortistas e sulistas. Com a decadência econômica, Minas Gerais desfrutava de uma importância cultural e política, que a mantinha como uma das unidades decisivas na federação. Os últimos tempos provam o recuo dos mineiros na capacidade de política e cultural, enquanto o setor econômico não logrou alcançar suas tarefas básicas: integração do mercado, industrialização autônoma, expansão agrícola e pecuária. Ao contrário, a economia de Minas foi afetada pela adaptação de sua agricultura à demanda externa (café e soja, por exemplo) e pelo domínio das multinacionais no setor industrial. O setor bancário viu-se esfacelado. (Escritor, jornalista e ensaísta EUGENIO SANTANA)
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