sexta-feira, 6 de julho de 2012
PÁSSARO NEGRO
Pássaro preto, abre as asas na noite escura, numa confusão gratuita de negro e brilho do teu olhar aflito. Pássaro negro do negro da noite, fere o silêncio que dói na gente. Por que é tão triste, teu canto inocente? Pássaro preto, o dia não tarda a chegar. Não pares, não penses nem cantes a noite comigo. O clarão é teu antônimo e grande inimigo – mostra tuas cores, te denuncia. Ama a noite, amiga e abrigo.
Pássaro preto de alma branca, o que esperas para voar? O mundo? Este é uma grande gaiola. O espaço te pertence. Encharca-te com a chuva, embala-te com o vento.
Voa, pássaro preto, companheiro vagante. Abraça o tempo enquanto é tempo.
Antes que indiquem, procura o caminho que te leva avante. Faze do gesto negro das asas contra o vento um aceno discreto de adeus, e de teu canto angélico uma rapsódia inútil. Antes que te sigam. Antes que te prendam. Antes que te matem!
Pássaro negro do negro da noite, fere o silêncio que dói na gente. Já não ouço mais, teu canto inocente.
(Eugenio Santana – O Poetalado – Para Edgar Allan Poe)