domingo, 17 de abril de 2011
QUEM É MAIS FORTE, A ÁGUIA OU A SERPENTE?
A SERPENTE, que é também símbolo da fertilidade, era objeto de invocações e da gratidão daquela sociedade agrícola e pastoral. Quando essa tradição foi absorvida pelo cristianismo, num evidente fenômeno de sincretismo, San Domenico passou a ser encarado como um santo que exorciza o "mal" representado pelos animais venenosos.
O argumento básico para esse exorcismo é o mito do pecado original, onde a serpente do paraíso sugere a Eva que colha o fruto da árvore do bem e do mal. Esqueceu-se então que, desde tempos imemoriais, a serpente era usada para simbolizar a astúcia (pela sua habilidade como caçadora), a fertilidade (por rastejar e estar em contato íntimo com a terra) e principalmente a possibilidade de regeneração do ser humano e de todas as coisas (pela sua reaparição cíclica após a letargia invernal e por causa da sua troca de pele).
O FENÔMENO da periódica mudança de pele das serpentes impressionou muito os autores antigos. Fílon de Alexandria acreditava que a serpente, ao desprender-se de sua pele, desligava-se também da velhice. Ele chegou a considerá-la "o mais espiritual dos animais".
Carl Gustav Jung interessou-se muito pela simbologia da serpente, apontando que os gnósticos assimilavam-na ao tronco cerebral e à medula espinhal.
Para Jung, a serpente é um excelente símbolo do inconsciente: ela expressa sua presença repentina, inesperada, sua manifestação brusca e às vezes temível.
ESTA É UMA LIÇÃO DE SABEDORIA que nos é dada pelas serpentes: para sobreviver e evoluir, frequentemente é preciso abdicar de nossas "peles" antigas, nossas "couraças" duras e envelhecidas, permanecendo algum tempo desprotegidos até que uma nova "pele" nos recubra. Jesus aceitou a serpente como um símbolo de sabedoria, incluindo em seus ensinamentos: "Sede sagazes como a serpente."
A serpente é também um símbolo por excelência da energia. Daí nasce o conceito ioga da kundalini, ou a serpente como imagem da força interior. A kundalini, para os hindus, está representada simbolicamente como uma serpente enrolada sobre si mesma, em forma de anel, numa região do corpo humano sutil que corresponde à extremidade inferior da coluna vertebral.
Livros inteiros foram escritos sobre o simbolismo da serpente e sua importância como arquétipo da psique individual e coletiva.
NA "ILÍADA" DE HOMERO, o grande poema épico que narra a guerra entre gregos e troianos, há um episódio em que aparece no céu uma ÁGUIA levando entre as garras uma serpente ferida. O adivinho grego Calcas interpreta esse sinal como presságio do triunfo helênico (a águia, pertencente à ordem masculina e patriarcal grega, e a serpente, representando a prevalência feminina e matriarcal da Ásia).
POR UMA DESSAS SINCRONICIDADES INEXPLICÁVEIS, um antigo e famoso místico questionou: "Quem é mais forte, a águia ou a serpente?" Ambas são igualmente fortes.Já foi dito que a águia é a serpente dos céus, e a serpente é a águia da terra. Isso é certo, porque elas se complementam. Na verdade a serpente é mais forte. A Águia desce à terra e agarra a serpente com suas presas. Mas a serpente, mesmo alçada ao ar, mesmo levada ao reino da águia, ainda é capaz de picá-la, envenenando-a e fazendo-a cair ao chão e morrer.
(copy-desk by EUGENIO SANTANA, FRC - Jornalista e Escritor. Membro efetivo da ALNM - Academia de Letras do Noroeste de Minas Gerais, cadeira 2).
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