domingo, 6 de junho de 2010
ANÁLISE AFETIVA DO CIÚME NA RELAÇÃO AMOROSA?
Quanto ao aspecto possessivo, o ciúme tende a ser máximo. Assim, o casal apaixonado costuma se afastar de todos os amigos e da maior parte dos parentes. Isso se dá porque se sentem inteiros em virtude da fusão amorosa e também incomodados com a presença de qualquer criatura que tenha significação afetiva para o outro e vice-versa. Até aí, nada de especial, embora esteja composta uma condição ideal para que possamos refletir mais profundamente sobre a presença de um componente "egoísta", ainda que exercido a dois, no seio da fusão romântica. Eles começam a se incomodar profundamente com as pessoas que, tiveram algum tipo de importância afetiva para o parceiro.
Então, a situação se torna mais complicada, pois o ciúme nasce no meio de uma conversa ingênua, na qual um dos dois está narrando algum detalhe de sua história, contando de seus antigos amigos e namorados. De repente, o clima agradável de intimidade se interrompe, porque aquele que ouviu as confidências se cala e dá sinais claros de desagrado. Sentiu ciúme retroativo! Incomodou-se com algo que já passou, que não o ameaça em nada, e com o fato de o amado ter tido uma história que o antecedeu, de não ter saído do útero de sua mãe diretamente para seus braços. Ainda que fosse verdade, é possível que sentisse ciúme da mãe e do útero dela. O amado se irrita e se entristece ao saber que o parceiro viveu momentos de forte emoção antes dele, tanto os de alegria como os de tristeza, mas principalmente os primeiros. Fica irado ao descobrir que o parceiro já amou intensamente outra pessoa, que teve fortes sensações eróticas como parte de suas vivências anteriores, que atingiu certas posições sociais, que viveu em determinados locais etc. Seguramente, gostaria que todos os momentos importantes de sua vida tivessem sido com ele compartilhados.
É evidente que esse tipo de manifestação do ciúme, extremamente comum quando se estabelecem relacionamentos intensos, que costumam ser os de maior afinidade, não tem relação com os fatos atuais, de modo que o sentimento deriva de nossa capacidade de imaginar.
Acredito que corresponda, em grau extremo, ao mesmo mecanismo possessivo presente em todos nós, em que o desejo é o de que o outro não exista a não ser como parte de nós. Todos os indícios de que o outro tem vida própria e é mais do que nossa metade determinam a revolta e a irritação próprias do ciúme.
(Eugenio Santana, FRC - Copidesque/Fragmento - "Consultor de relacionamentos nos momentos de ócio criativo.")
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