terça-feira, 28 de dezembro de 2021

FRAGMENTOS DA ALMA DO MUNDO. OUVIMOS SEUS VENTOS UIVANTES (*)

Vóavamos pela imensidão do Universo. Voávamos encantados por uma infinita beleza, inebriados de tanto saber, com asas tão fortes que podíamos suportar qualquer carga em nossas eternas missões. Éramos guardiões do bem-estar por entre as estrelas. E nesse tempo em que conhecíamos a verdade sem que nada nos escapasse, patrulhávamos a imensidão celestial cuidando de tudo o que é inanimado: as pobres coisas sem alma! Vez por outra víamos o mais poderoso dos deuses com seus cabelos ondulados a caminho de mais uma aventura a bordo de sua carruagem celestial. Admirávamo-nos da beleza dos musculosos cavalos alados que eram a força motriz da carruagem divina, e ficávamos maravilhados de pertencer a este Universo. Quanta sabedoria e iluminação! Vivemos asssim por muito, mas muito tempo mesmo. Sem que nada nos preocupasse. Quanto encantamento! Quanta beleza! Mas um dia, fatalmente, o encanto se desfaz. E se desfez. Fomos subitamente tomados pelo esquecimento. Sem saber separar o justo do injusto, caímos na sujeira do erro, e fomos afastados de tudo o que é belo para nos vermos cercados de espanto. Nossas asas começaram a encolher. Encolheram tanto que desapareceram. Descobrimos que já não éramos capazes de voar. Perdemos nossos poderes. E começamos a cair em direção à Terra! Talvez fosse adequado dizer que nos tornamos anjos caídos, pois chegamos a este planeta e aqui ficamos como se estivéssemos num terminal espacial sem voo de partida ou chegada. Nos primeiros momentos desse nosso pouso inesperado, vagamos como astronautas sem nave num planeta em que não víamos nem amor nem beleza. Perambulamos como se fôssemos extraterrestres, sobreviventes de algum apocalipse longínquo, vagando por desertos feitos de arrependimento, culpa e dor. Subimos em morros e ouvimos seus ventos uivantes. Lembranças nos vieram à mente como relâmpagos. A memória, ainda que imperfeita, era o que nos fazia ter certeza de que algo realmente paradisíaco havia ficado para trás. (*) Copydesk/Fragment By EUGENIO SANTANA, escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, Agente literário, gestor editorial; economista, contabilista, consultor de RH. Autor de 15 livros publicados. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - E-mail: es.escritor1199@gmail.com - Radicado em Curitiba, PR, desde 2017.

domingo, 26 de dezembro de 2021

DIMENSÃO DA DISTÂNCIA. A PRESENÇA DA AUSÊNCIA (*)

Há distâncias e distâncias: umas com poder de minimizar, outras de inflamar. Machado de Assis disse que o vento apaga as velas, mas atiça as fogueiras. O poder dessa condição - a de se estar longe - se expressa nas mais variadas dimensões: no desespero inseguro de quem não entende como o outro agora mesmo estava aqui e de repente partiu; na segurança de quem vê e escuta o outro de uma webcam, seguro e seu, mas sofre; na loucura irracional de quem sente falta daquele(a) que te abandonou. A dor desse intervalo invisível - a saudade - se explica porque ele coloca a prova coisas visíveis; e talvez só ele tenha o poder de materializar um afeto: em frases, objetos, cheiros e gostos. É o dividir em locais diferentes patrimônios indivisíveis. O homem racional dribla limites,visita camadas interiores tão profundas através da fé e da ciência, mas nunca conseguiu domar a tão temida saudade. A sua inteligência discerne as externalidades que fazem alguém estar longe, mas o seu sintoma é crônico, irreversível: aquele furo no peito, ferida ardida, uma amputação. Como explicar pro coração ressentido a presença da ausência? As relações humanas são tecidas em linhas temporais, onde o afeto é fruto de algo construído linearmente, como se o valor daqueles momentos estivesse em ser plenamente alcançáveis, próprios, eternos. Amar e querer por perto é uma forma de dizer que se sabe o endereço da felicidade, de privatizá-la. Por isso a distância é uma lente para se enxergar as relações humanas de maneira mais pura possível. Maravilhosos são os meios que a tristeza toma para nos aproximar da essência real da vida. Doloridas são as estradas solitárias. Com saudades, somos honestos feito crianças. Ela narra a nossa hipossuficiência. Nos torna mais humanos, responsáveis e vivos. Em qualquer circunstância, prova que relações de tempo e espaço, causa e efeito, presença e ausência podem ser rachados pela força propulsora dessa lacuna incurável, que só o conforto do outro pode curar. (*) Copydesk, fragment by EUGENIO SANTANA, escritor, ensaísta, jornalista, biógrafo, relações públicas, assessor de imprensa, redator publicitário; gestor editorial e Agente literário. Autor de 15 livros publicados. (41) 9.9909-8795 WhatsApp, e-mail: es.escritor1199@gmail.com

TEMPO DE AUSÊNCIAS (*)

O tempo que me habita não é o tempo das coisas. As coisas, elas têm um tempo próprio. Elas começam e acabam e transformam a gente nesse durante, num ritmo que é delas - e isso aí vira o nosso tempo. Mas as coisas, elas são como as estações do ano. Por exemplo, eu me pergunto como as árvores conseguem superar os invernos. Você não? Você nunca se espanta? Olhando pra elas lá, firmes, imperiosas, isoladas, nuas? Admiro a paciência do carvalho. A impassividade dos pinheiros. Elas têm a compreensão profunda da hora certa, a paciência da espera para as coisas com hora marcada. É que as árvores vivem a eternidade do tempo certo. Elas não têm nem antes nem depois: são somente o agora. Já eu… eu não. Ao contrário de mim, as árvores não têm vontade. Você já viu uma árvore ansiosa? Uma árvore em crise de pânico? Como seria possível para nós, filhos do acaso ou de pais neuróticos, saber a precisão do tempo de cada coisa? Como acertar o tempo certo, com a exatidão da folha, que se recolhe, impassível, na espera de desabrochar com mais beleza? Esse instinto de relógio cuco não me pertence - desses que não atrasam um segundo e vêm com um pássaro impiedoso para não perder uma chance de me lembrar que tudo tem um tempo próprio: o amor, a solidão, o sexo, o riso. Alguns povos tinham como sagrado esse papo do tempo das coisas, da medida exata, do momento presente. Mais que uma elegia ao equilíbrio, era o culto ao instante. Eles não subestimavam o poder do agora. Admirei. É um exercício para os fortes esse de lembrar de nunca esquecer que tudo pode mudar a qualquer momento. Diante disso, eu especulo: bastaria a demanda correta, um gesto, uma exigência para acertar o passo de cada um na dança da existência, que é sempre rumo ao fim? Seria possível conviver em paz com o que está sempre se esgotando? Olhar o presente de frente é saber que só ele existe. É viver na finitude, no que escorre pelos dedos. Viver com isso tudo na sua cara exige a franqueza das crianças e dos estúpidos. Porque você vai cair na tentação de esquecer que tudo, absolutamente tudo, acaba. Você, assim como eu, vai se perder nas bobagens do dia a dia ou transformar a agilidade da moça do mercado em uma pedra filosofal capaz de determinar o sucesso ou fracasso da sua existência - e resumir isso tudo apenas numa atitude inadequade e mal direcionada, para não apontar tantos dedos... Porque é perturbador lembrar o tempo todo que tudo, absolutamente tudo, passa. O tempo das coisas é eterno. Mesmo que você não esteja mais presente, que tenha decidido ir embora e me deixar aqui, ou mesmo quando a gente decide abandonar tudo e vem aquela ânsia de sair pelo mundo e recomeçar. Também nessa hora o tempo das coisas está lá, pra colocar você no seu devido lugar. E você, quando saiu, deixou em mim o tempo da sua ausência. Nunca o do seu retorno. A volta, ela é sempre mais rápida. Tudo fica mais fácil quando a gente já conhece o caminho. Mas decidir não voltar demanda a bravura e a inocência daqueles que sempre acreditam. Será que a gente ainda poderia se encontrar, sem querer, em uma outra curva do caminho? Difícil. Eu queria poder decretar uma lei que impedisse que algumas frases fossem compostas. Algumas palavras deveriam ser como elementos químicos, ter naturezas incompatíveis, combinações impossíveis de acontecer, impensáveis. Talvez assim eu conseguisse tornar algumas ações impraticáveis, algumas dessas que eu pratiquei, que você inventou. Elas seriam possibilidades que não existiriam mesmo nos sonhos mais loucos. Mas os sentimentos, assim como as palavras, são elementos complexos, independentes, que se ligam das formas mais estranhas para criar uma dinâmica particular. Eles se tornam mais profundos do que o que se deseja ou se espera deles, num compasso maluco que nos ensina, mais uma vez, a precisão da hora certa. Por isso, veja bem, a importância do tempo das coisas, você me entende? Não dá pra acelerar ou deixar pra trás o ritmo dos sentimentos sem se tornar um hipócrita, um cretino ou cínico. Eles, como as coisas, têm o tempo que tem que ter e não dependem mais de mim ou de você ou de ninguém. Mesmo que pareça impossível concentrar no corpo a calma das árvores, o tempo das coisas acontece em nós. Justo em nós, que ficamos sempre perplexos pelas dissonâncias do que nos acontece. Justo em nós, que olhamos assombrados para o nada, nosso destino, nosso fim. Justo em nós, que precisamos transformar em nosso o tempo do outro… - sem jamais esquecer que ele é do outro. E eu? Eu tenho que aprender a me demorar mais. A me demorar mais em você, nas coisas. Precisamos de mais tempo. Não sou só eu que me perco na duração do instante. É que as palavras - e junto com elas os sentimentos - se encontram e se combinam de forma abrupta na trama dos eventos, eu acho que só para determinar algumas escolhas. Me aconteceu você. Eu aconteci em você. Abortamos. Tempo errado. Por isso, eu preciso encontrar uma forma de conquistar a impassividade dos pinheiros que sabem de cor a hora de cada pinha. Eu sou sempre antes, sempre cedo demais e, quando eu me dou conta, já é tarde demais. Aí o que me resta é perambular pelas dobras do tempo, quando ele deixa de ser linear, e se dobra em mim, na minha dor, na minha incapacidade em apreender o ritmo do mundo. Nessa hora ele habita o pensamento, ali se vive tudo ao mesmo tempo - nesse espaço impossível - o antes, o depois e o agora. Não importa a ordem. Será que é assim que abandonamos o que já foi sem nos lançarmos, como uma flecha, ao abismo que é o futuro? (*) Copydesk, fragment by EUGENIO SANTANA, escritor, ensaísta, jornalista, biógrafo, relações públicas, assessor de imprensa, redator publicitário; gestor editorial e Agente literário. Autor de 15 livros publicados. (41) 9.9909-8795 WhatsApp, e-mail: es.escritor1199@gmail.com

QUEM SOU EU. INSIGHT SOBRE UM AUTOR VAGALUME (*)

Para definir meu trabalho, preciso primeiramente saber quem é você. Se você é um amante da literatura, me apresento como escritor romancista, contista, poeta e cronista. Se é um empresário, sou um redator publicitário, Analista de negócios, Consultor em marketing digital, Relações públicas, palestrante motivacional e Assessor de imprensa. Se tem uma grande história de vida que gostaria de compartilhar com outros, sou um biógrafo. Iniciei meus trabalhos literários, na década de 1980, escrevendo poemas e crônicas para diversos jornais do país: de Porto Velho a Porto Alegre. Em 2010 criei o meu Blog "Guardião da Palavra", onde passei a publicar meus textos: poemas, crônicas, contos, artigos e ensaios, além de proporcionar dicas motivacionais para jovens escritores neófitos. Inútil dizer onde vivo. Não sou capaz de morar mais do que três anos em uma mesma cidade. Um homem de chegadas e partidas. Um Andarilho da flor estrela... Aquele que deambula à sombra da inquietude. Fácil a estratégia inconsistente ao mencionar que sou jornalista profissional. Sei que, por meio desse argumento jamais consegui ser convincente. A estrada me encanta e fascina. E o "sabor" do Crepúsculo e da Aurora? Indescritível. Instigante! Durmo de dia, escrevo a noite, e sonhos azuis e alados ocorrem em uni/versos paralelos e oníricos. Já quis viajar o mundo. Principalmente, morar no Egito, na França, na Espanha e na Alemanha. Já quis desaparecer. Perambulei a procura do meu "par ideal", e na volta, procurava por mim. Fiz boas ações. E algumas imbecilidades. Não insisto em ser, mas me orgulho de estar. A missão de ser escritor me fez atingir o nirvana, o self; a transcendência. Voei. Ícaro na Asa do tempo... O osso acima dos meus olhos chama-se frontal. A camada enrugada, azulada e cansada que o reveste, pele. O objeto de sua proteção chama-se cérebro. E no conjunto da obra, tenho um "rosto desfigurado" que já viajou nas asas da utopia e já foi guiado pelos pássaros. Este, resguardado, produz aquilo que me cansa e extenua, dia após dia: minhas ideias criativas, cósmicas e, algumas vezes, a economia verbal revela meu ciberespaço na magia encantadora da Língua Portuguesa. Escrever? Meu Vício Visceral! Escritor, jornalista e ensaísta EUGENIO SANTANA. Autor de 15 livros publicados, "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, entre outras preciosidades. Contato: (41) 9.9909-8795 WhatsApp - E-mail: es.escritor1199@gmail.com

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

FLUXO DA IMPERMANÊNCIA

QUANTO EU AINDA TENHO DE SALDO NA VIDA, NO FLUXO DA IMPERMANÊNCIA? Os ponteiros do relógio giram incessantemente. A asa do tempo voa de forma impiedosa e veloz. O mecanismo blindado do equipamento não revela o nível de desgaste. A qualquer momento poderá fenecer. Estaria perdido no olho do furacão, flutuando no ciclone, sem saber o que virá. Sou dependente do imprevisível, do improvável. Resta-nos vivenciar o que nos resta, envelhecendo a cada dia, experimentando os percalços, desfrutando variadas experiências, aproveitando os momentos de felicidade. Vou seguir a caminhada, sem saber até quando, sem saber até onde. Confiante nos Mistérios do insondável... Mesmo que as pernas falhem, a alma permanecerá forte, confiando que o fim da trilha é uma metáfora do impronunciável. Apenas um recomeço. Renascerei das cinzas tal qual a Phoenix... (Jornalista/escritor Eugenio Santana, FRC)

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

INCURÁVEIS CICATRIZES

PELO QUE SE SABE NÃO EXISTE CIRURGIÃO-PLÁSTICO – Que cicatrize as feridas da Alma e do Coração. (Jornalista/Escritor Eugenio Santana, FRC)

XANTIPA

Xantipa: a mulher de Sócrates. Conta-se que era intratável; em alemão, seu nome é sinônimo de megera. (Escritor/jornalista/ensaísta Eugenio Santana, FRC)

INCANSÁVEL BUSCA DA MULHER IDEAL...

É predominante o homem imaginar namorar uma mulher de curvas perfeitas, cabelos incríveis e com popularidade altíssima. Mas a cada página da vida, ela te ensina valores. E por ironia do destino, você acaba se relacionando com alguém totalmente diferente do que você imaginava. Ela não é magra, nem gorda. Não tem os cabelos incríveis, mas, do jeito que o prende, deixando umas mechas soltas, fica linda. Ela não é popular e odeia lugares lotados. Mas ela te faz sorrir, ela te faz bem! Ela dança na sua frente de um jeito engraçado. Beija na ponta do teu nariz e te chama de bobo. Bagunça teu cabelo e te chama de menino lindo. Ela fala coisas sem sentido e depois sorri, quando vê sua cara de: “você não é normal”. Ela não é mesmo nem de longe a mulher que você imaginaria namorar, porque ela é bem mais que tudo aquilo que você imaginava. Ela não é perfeita para ninguém, mas é perfeita para você. Portanto, seja bem-vinda ao meu coração! Estou à sua procura e gostaria de começar uma história de amor. Muito prazer em conhece-la. Eu sou Eugenio Santana. Um escritor e todo escritor é um Lobo Solitário. Sou um homem simples que Deus concedeu o dom natural da escrita. Simples assim... Não frequento baladas, aonde eu poderia encontrar muitas mulheres fúteis e interesseiras. (Escritor/jornalista/ensaísta EUGENIO SANTANA, FRC) (34) 9.9334-1970 WhatsApp E-mail: es.escritor1199@gmail.com

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

ESCREVER E LER SÃO FORMAS DE FAZER AMOR (*)

Enquanto escritor, as palavras são a sua tinta. Utilize todas as cores - Eu escrevo para nada e para ninguém. Se alguém me ler será por conta própria e auto-risco. Eu não faço literatura: eu apenas vivo ao correr do tempo. O resultado fatal de eu viver é o ato de escrever. Na minha opinião, ser escritor não é apenas escrever livros, é muito mais uma atitude perante a vida, uma exigência e uma intervenção. Escrever e ler são formas de fazer amor. O escritor não escreve com intenções didático – pedagógicas. Ele escreve para produzir prazer. Para fazer amor. Escrever e ler são formas de fazer amor. É por isso que os amores pobres em literatura ou são de vida curta ou são de vida longa e monótona. (*) EUGENIO ANTONIO é Gestor editorial, Assessor de imprensa, Analista de Marketing digital, roteirista, crítico literário, Ornitólogo, Rosacruz e Adesguiano; colaborador do Greenpeace. Escreve Autoajuda, crônicas e contos e ensaios e Biografias: "João de Deus, o médium de Abadiânia", entre outras.

sábado, 9 de outubro de 2021

RÉQUIEM PARA MAMÃE...

Quando uma mãe morre ela ainda permanece viva dentro do coração do seu filho! Ela é minha casa, meu descanso, minha luz e minha saudade. Nela estão as minhas raízes, é o meu poço mais profundo, a água mais pura da qual bebo… Uma memória sagrada e esperançosa. Eu olho para minha mãe que já está ausente todos os dias. Eu paro diante da imagem da minha mãe que não está mais comigo. E sou grato por ser seu filho e por mantê-la viva em minha alma. Meu coração se comove quando penso nela e sinto que sou feito de suas entranhas, que até meus ossos foram formados ali e que a vida lhe cobrou isso duramente mais tarde. Desde o seu primeiro abraço, desde o seu primeiro beijo, o coração de uma criança fica esculpido na alma de uma mãe. Eu olho para ela, sempre acordada em minha vida seguindo meus passos, esperando meu retorno, recebendo meus olhares, vendo minhas quedas, ouvindo minhas palavras. Ela está presente em mim! Eu reconheço minhas fraquezas por não ter me importado com ela tanto quanto ela se importava comigo. Eu mantenho seu olhar em meus pensamentos e isso me acalma. Ouço seus conselhos e suas palavras, cheias de esperança, estão gravadas dentro de mim. Penso em sua presença constante, em sua discrição silenciosa, em sua alegria permanente. Ela está presente no mais escondido da minha alma, sem ela eu me perderia. Eu sei o quanto preciso que ela me acolhe quando eu falho e é a força dela que me ajuda a me apaixonar novamente pelos meus sonhos quando eu os esqueço. Ficava comovido ao sentir seus medos e abraçar suas alegrias. Lembro-me dela naquele longo caminho de vida que percorremos juntos. Hoje ainda está tão profundo dentro de mim… Eu sinto isso como uma parte única do meu ser que eu nunca quero perder. Confio muito na sua maneira de me amar… Ela sempre me amou em todas as minhas fraquezas e viu em mim tesouros que eu não conhecia. Ela acreditou em mim quando eu não acreditei, ela apostou na minha vida quando eu duvidei. E eu quero lembrar dela pra sempre! Mas não sei se aprendi bem o que ela queria me ensinar. Não sei se gravei seu jeito de me amar, para que eu me ame da mesma forma. Não sei se guardei sua ternura em alguma parte da minha alma para poder doa-la, toda vez que eu quiser e alguém precisar. Só sei que, às vezes sinto que me pareço com ela e às vezes estou longe de ser tudo o que ela foi. Eu a quero perto de mim e muitas vezes sonho com ela ao meu lado, segurando meus passos. Lembro-me de suas risadas e de sua simplicidade para olhar a vida. Sua capacidade de aproveitar o presente, tornando a vida uma grande aventura. Fico comovido com aquele seu amor tão grande, sempre incondicional. Fico comovido com o seu imenso amor, impossível ficar contido no meu pote de barro. Ela está esperando por mim no paraíso!

domingo, 26 de setembro de 2021

EM MEMÓRIA DE CARLOS RUIZ ZAFÓN (1964-2020)

A vida concede a cada um de nós apenas alguns raros momentos de felicidade. Às vezes são apenas dias ou semanas. Às vezes são anos. Tudo depende da sorte de cada um. A lembrança desses momentos nos acompanha para sempre e se transforma num país da memória ao qual tentamos regressar pelo resto de nossas vidas, sem conseguir. Cada livro, cada volume que vês, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro muda de mãos, cada vez que alguém desliza o olhar pelas suas páginas, o seu espírito cresce e torna-se forte. Quando uma biblioteca desaparece, quando uma livraria fecha as suas portas, quando um livro se perde no esquecimento, nós, guardiões, os que conhecemos este lugar, garantimos que ele venha para cá. Neste lugar, os livros dos quais já ninguém se lembra, os livros que se perderam no tempo, viverão para sempre, esperando chegar algum dia às mãos de um novo leitor, de um novo espírito. Cresci no meio de livros, fazendo amigos invisíveis em páginas que se desfaziam em pó cujo cheiro ainda conservo nas mãos. Numa ocasião ouvi um cliente habitual comentar na livraria do meu pai que poucas coisas marcam tanto um leitor como o primeiro livro que realmente abre caminho até ao seu coração. Aquelas primeiras imagens, o eco dessas palavras que julgamos ter deixado para trás, acompanham-nos toda a vida e esculpem um palácio na nossa memória ao qual, mais tarde ou mais cedo - não importa quantos livros leiamos, quantos mundos descubramos, tudo quanto aprendamos ou esqueçamos-, vamos regressar. Para mim aquelas páginas enfeitiçadas serão sempre as que encontrei entre os corredores do Cemitério dos livros esquecidos. A arte de ler está morrendo aos poucos, um livro é um espelho e só podemos encontrar nele o que carregamos dentro de nós, colocamos nossa mente e alma na leitura, e esses bens estão cada dia mais escassos. Nós existimos enquanto alguém se lembra de nós.
(Copydesk/fragment by Eugenio Santana. Por conta da perda do escritor que mais tocou o meu coração nos últimos 15 anos, manterei LUTO em meu Blog durante 45 dias. Standby)

terça-feira, 21 de setembro de 2021

NÃO TEORIZE SOBRE O AMOR, AME! (*)

Exercite a arte de fazer bonito o seu amor ou fazer o seu amor ficar bonito. Aprenda, apenas, a tão complexa missão de amar bonito. Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender... por meio de minha longa caminhada, tenho deparado com muitas fórmulas e formas de amor: Amores bravios, heroicos, platônicos, românticos, racionais, descomunais, profundos, sinceros, cheios de entrega, leveza, dádiva e doação. Amores conduzidos com arte e ternura pelas mãos de luz entrelaçadas com os olhos cravados na mesma direção... esses amores que são verdadeiros, eternos e descomunais, de repente se percebem ameaçados e tão somente porque não sabem ser bonitos: cobram, exigem, rotinizam, descuidam, robotizam, reclamam, deixam de compreender, necessitam mais do que oferecem, precisam mais do que atendem, enchem-se de razões. Sim, de razões. Ter razão é o maior perigo no amor. Quem tem razão sempre se sente no direito (e o tem) de reivindicar, de exigir justiça, equidade, equiparação, sem perceber que o que está sem razão talvez passe por um momento de sua vida no qual não possa ter razão. Amar bonito é saber a hora de ter razão. Coloque a mão na consciência. Você tem certeza de que está fazendo o seu amor bonito? De que está tirando do gesto, da ação, da reação, da saudade, da alegria do encontro, da dor do desencontro a maior beleza possível? Talvez não. Cheio ou cheia de razões, você separa do amor apenas aquilo que é exigido por suas partes necessitadas, quando talvez dele devesse pouco esperar, para valorizar melhor tudo de bom que de vez em quando ele pode trazer. Quem espera mais do que isso sofre e, sofrendo, deixa de ser alegre, entusiasmado, otimista, igual, irmão, criança. E sem soltar a criança latente, nenhum amor é bonito. Não tema o romantismo. Derrube as cercas da opinião alheia. Não teorize sobre o amor, ame. Siga o destino dos sentimentos aqui e agora. Jogue para o alto todas as jogadas, estratégias, golpes, perspicácias, atitudes sabiamente eficazes: seja apenas você no apogeu de sua emoção e carência, exatamente aquele você que a vida impede de ser. Deixe o seu amor ser a mais verdadeira expressão de tudo que você é. Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto, intrínseco; inescapável. Não se preocupe mais com ele e suas multiformes definições. Cuide agora da forma de amar. Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor e só assim poder começar a tentar fazer o outro feliz. (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta; Adesguiano, Ornitólogo, Rosacruz, pesquisador dos Cátaros e colaborador do Greenpeace. Fundador de jornais, revistas e instituições culturais. (41) 9.9909-8795 – es.escritor1199@gmail.com

sábado, 17 de julho de 2021

CON-VIVÊNCIA DE PAZ ENTRE HOMENS E MULHERES (*)

Dentro do que o psicanalista Gustav Jung denominou de Inconsciente Coletivo, podem ser encontradas muitas das características psicológicas que moldaram a mente da espécie humana e que, de certa forma, explicam nosso comportamento, mesmo aqueles mais desprezíveis. Por razões que remontam à pré-história e aos primeiros hominídeos, alguns comportamentos do tipo oculto e inato foram sendo transmitidos às gerações futuras, por necessidade de sobrevivência, frente a um mundo hostil e inóspito. O machismo é uma dessas heranças ocultas. Trata-se, segundo especialistas no assunto, de uma força arquetípica. Como tal se fincou no inconsciente de todos. Em outras palavras, nascemos machistas, homens e mulheres, sendo que esse comportamento é mais ou menos reforçado ao longo da vida, de acordo com cada sociedade em que o indivíduo está inserido. Obviamente esse comportamento primitivo não isenta ninguém de cometer verdadeiras atrocidades contra o sexo oposto. No Brasil, de formação histórica patriarcalista, fincada na desigualdade patente de classes, esse comportamento encontrou ambiente amplamente favorável, dentro e fora de casa, para florescer e se multiplicar. Isso não quer dizer que em outras partes do mundo o problema não ocorra. Pesquisas indicam ainda que o álcool, as drogas e o mais antigo e nefasto dos vícios humanos, o ciúme, respondem pela maioria das causas da violência contra as mulheres. Como sempre, o caminho mais curto e recomendado pelos estudiosos para se chegar a uma convivência de paz entre homens e mulheres ainda parece ser a EDUCAÇÃO. EUGENIO SANTANA é Escritor, Jornalista, Ensaísta, Redator publicitário, Biógrafo, Editor executivo, Agente literário. Autor de 14 livros publicados. "Ventos fortes, Raízes profundas", Madras editora; "Hóspede da Terra, Passageiro do Mundo", entre outros. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - email: es.escritor1199@gmail.com

sexta-feira, 9 de julho de 2021

COMUNICAÇÃO E TECNOLOGIA (*)

Os desafios da era da Comunicação e da Tecnologia estão em pauta, seja no mundo contemporâneo e flexível das relações corporativas e afetivas, seja nas demandas de grupos e organizações sociais. Todos clamam por mais relacionamento, mais atenção e diálogo, apesar da Internet, das redes sociais e de toda uma série de aplicativos que deveriam ampliar a comunicação. Será que estamos falando e sendo ouvidos de fato? Há tempo hábil para construirmos relacionamentos mais profundos? Estamos usando as tecnologias de uma maneira inteligente e equilibrada? Em um mundo cada vez mais acelerado e competitivo, é possível construir relações mais humanas, mais próximas e de qualidade? Há muito a ser feito e nós temos que fazer esse trabalho, resgatar valores, construir novas relações e práticas e separar sempre o joio do trigo. (*)
EUGENIO SANTANA é Escritor, Jornalista, Ensaísta, Redator publicitário, Biógrafo, Editor executivo, Agente literário. Autor de 14 livros publicados. "Ventos fortes, Raízes profundas", Madras editora; "Hóspede da Terra, Passageiro do Mundo", entre outros. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - email: es.escritor1199@gmail.com

terça-feira, 6 de julho de 2021

VAGALUMES NO JARDIM (*)

Os primeiros vagalumes começavam no bojo da mata a correr suas lâmpadas divinas. No alto, as estrelas miúdas e sucessivas principiavam também a iluminar. Os pirilampos iam-se multiplicando dentro da floresta, insensivelmente brotavam silenciosos e inumeráveis nos troncos das árvores, como se as raízes se abrissem em pontos luminosos. A desgraçada, abatida por um grande torpor, pouco a pouco foi vencida pelo sono; e deitada às plantas da árvore, começou a dormir… Serenavam aquelas primeiras ânsias da Natureza, ao penetrar no mistério da noite. O que havia de vago, de indistinto, no desenho das coisas, transformava-se em límpida nitidez. As montanhas acalmavam-se na imobilidade perpétua; as árvores esparsas na várzea perdiam o aspecto de fantasmas desvairados… No ar luminoso tudo retomava a fisionomia impassível. Os pirilampos já não voavam, e miríades deles cobriam os troncos das árvores, que faiscavam cravados de diamantes e topázios. Era uma iluminação deslumbrante e gloriosa dentro da mata tropical, e os fogos dos vagalumes espalhavam aí uma claridade verde, sobre a qual passavam camadas de ondas amarelas, alaranjadas e brandamente azuis. As figuras das árvores desenhavam-se envoltas numa fosforescência zodiacal. E os pirilampos se incrustavam nas folhas e aqui, ali e além, mesclados com os pontos escuros, cintilavam esmeraldas, safiras, rubis, ametistas e as mais pedras que guardam parcelas das cores divinas e eternas. Ao poder dessa luz o mundo era um silêncio religioso, não se ouvia mais o agouro dos pássaros da morte; o vento que agita e perturba, calara-se… Marcela foi cercada pelos pirilampos que vinham cobrir o pé da árvore em que adormecera. A sua imobilidade era absoluta, e assim ela recebeu num halo dourado a cercadura triunfal; e interrompendo a combinação luminosa da mata, a epiderme da mulher desmaiada, translúcida, era como uma opala incrustrada no seio verde de uma esmeralda. Depois os vagalumes incontáveis cobriram-na, os andrajos desapareceram numa profusão infinita de pedrarias, e a miserável, vestida de pirilampos, dormindo imperturbável como tocada de uma obra divina, parecia partir para uma festa fantástica no céu, para um noivado com Deus… E os pirilampos desciam em maior quantidade sobre ela, como lágrimas de estrelas. Sobre a cabeça dourada brilhavam reflexos azulados, violáceos, e dali a pouco braços, mãos, colo, cabelos, sumiam-se no montão de fogo inocente. E vagalumes vinham mais e mais, como se a floresta se desmanchasse roda numa pulverização de luz, caindo sobre o corpo de Marcela até o sepultarem em um túmulo insólito. Um momento, a mulher inquieta ergueu docemente a cabeça, abriu os olhos que se deslumbraram. Pirilampos espantados faíscavam relâmpagos de cores… Marcela pensou que o sonho alado a levara ao abismo esverdeado pelas luzes de vagalumes no jardim e como uma flor-estrela recaiu adormecida na face iluminada do Planeta blue… (*)EUGENIO SANTANA é Escritor, Jornalista, Ensaísta, Redator publicitário, Biógrafo, Editor executivo, Agente literário. Autor de 14 livros publicados. "Ventos fortes, Raízes profundas", "Hóspede da Terra, Passageiro do Mundo", entre outros. (41) 9.9909-8795 - es.escritor1199@gmail.com

quinta-feira, 1 de julho de 2021

QUANDO O INDEFINÍVEL ABRAÇA A SABEDORIA (*)

Os que sabem não falam. Os que falam não sabem. O Indefinível é a origem do Céu e da Terra. O sábio tem, mas não possui, age, mas nada espera. Quando seu trabalho está concluído, ele o esquece. Por isso dura para sempre. Quando acreditam saber as respostas, as pessoas são difíceis de guiar. Quando sabem que não sabem, as pessoas descobrem o seu próprio caminho. A sabedoria é conhecida como A Grande Mãe: vazia, contudo inesgotável, dá vida a infinitos mundos. Sempre está presente dentro de ti. Podes usá-la da forma que desejares. A sabedoria é chamada de fêmea sutil e profunda. A forma suprema da bondade é como a água. A água sabe como beneficiar a todos sem lutar contra eles. Acalma-se em lugares que todos os seres humanos odeiam. E é por isso que se aproxima da sabedoria milenar. Quando estiveres satisfeito em ser simplesmente tu mesmo e não te comparares ou competires, todos te respeitarão. Nada há no mundo mais suave e flexível que a água. Contudo, para dissolver o que é duro e inflexível, nada há que a supere. Se quiseres que algo se contraia, primeiro deves deixar que se dilate. Se quiseres te desfazer de algo, primeiro deves deixar que te seja dado. Isto se chama a sutil percepção da forma como são as coisas. A fêmea sempre supera o macho mediante a sua serenidade. Os objetos preciosos desviam o homem. Por isso o sábio guia-se pelo que sente e não pelo que vê. Ele rejeita isto e escolhe aquilo. Quem pode esperar tranquilamente o lodo assentar? Quem pode permanecer imóvel até chegar o momento da ação? Se quiseres chegar a ser inteiro, permite-te ser parcial. Se quiseres chegar a ser reto, permite-te ser torto. Se quiseres estar pleno, deixa-te estar vazio. Se quiseres renascer, deixa-te fenecer. O homem imita a Terra. A Terra imita o Céu. O Céu imita a sabedoria. E a sabedoria imita a Natureza. Mesmo que haja muitas coisas lindas de se ver, o sábio permanece desapegado e tranqüilo. Se te deixares levar como uma folha ao vento, perdes o contato com as tuas raízes. Se deixares que a inquietude te agite perdes o contato com quem realmente és. O homem verdadeiramente grande se concentra no que é real e não naquilo que está na superfície. No fruto e não na flor. Tendo compaixão por ti mesmo, consegues reconciliar todos os seres do mundo. Um bom viajante não tem planos definidos nem está preocupado em chegar. Um bom artista deixa que sua intuição o leve aonde ela quiser. Um bom cientista se liberta de conceitos e se mantém aberto ao que é... Ele está pronto para usar todas as situações e nada desperdiça. Isto é o que se chama de “seguir a luz”. Achas que podes te apoderar do universo e melhorá-lo? Não acredito que isso possa ser feito. O universo é sagrado. Não podes melhorá-lo. Se tentares mudá-lo, o arruinarás. Se tentares te apropriar dele, o perderás. Para encontrar a origem, procura-a nas manifestações. Quando reconheceres os filhos e encontrares a mãe, serás livre... Aquele que está repleto de Virtude se assemelha ao recém-nascido... Que cresce na sua totalidade e mantém a sua vitalidade perfeitamente íntegra. Sê a corrente do universo! Sendo que o curso do universo é sempre verdadeiro e imutável, volta novamente a ser como a criança. Por isso, a satisfação que sentimos quando sabemos que já temos o bastante, é uma satisfação realmente duradoura. Entre o teu nome e o teu corpo, qual é o mais querido? Entre o teu corpo e as tuas riquezas, qual é o mais apreciado? Entre o perder e o ganhar, o que é mais doloroso? Por isso, o excessivo amor por alguma coisa, com o tempo, custar-te-á muito caro. Armazenar muitos bens acarretará uma dura perda. Saber quando se tem o suficiente, é tornar-se imune à desgraça. Saber quando parar,é prevenir muitos perigos. Só assim poderás perdurar por um longo tempo. Alegra-te com o que tens; regozija-te com o que as coisas são. Quando perceberes que nada te falta, o mundo inteiro te pertencerá. (*) EUGENIO SANTANA é Escritor, Jornalista, Ensaísta, Redator publicitário, Biógrafo, Gestor em RH, Gerente Administrativo. Autor de 14 livros publicados: "Hóspede da Terra, Passageiro do Mundo", "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras Editora, entre outros. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - email: es.escritor1199@gmail.com

terça-feira, 29 de junho de 2021

O DOADOR DA VERDADE (*)

Um antigo egípcio foi o ancestral de uma ampla gama de filosofia mística e escritos que florescem até os dias de hoje, os quais denominamos “herméticos” porque seu progenitor veio a ser conhecido no mundo ocidental como Hermes Trismegistus, ou Hermes Três Vezes Grande. Quem foi ele realmente ou em que período viveu é apenas hipotético. A Tradição Rosacruz, que tanto extrai dessa fonte, situa-o na 18ª Dinastia de Faraós do Egito, em aproximadamente 1400 a.C. No antigo Egito ele era conhecido como Toth, às vezes chamado de “segundo Toth” para distingui-lo do lendário deus Toth, o “Doador da Verdade”. Entretanto, esse mago já era lendário muito antes que o mundo ocidental tivesse ouvido falar dele – e tornou-se ainda mais depois. No Ocidente, seus ensinamentos apareceram e desapareceram muitas vezes, sempre envoltos em algum grau de segredo. Devido principalmente a esse segredo, hoje nada temos dos escritos de Hermes exceto em parte, e essa parte apenas de segunda ou terceira mão, em traduções no grego e no latim mais recentes. E esse pouco foi preservado apenas graças a uns tantos incidentes afortunados. Depois que Alexandre conquistou o mundo ocidental, a nova cidade grega de Alexandria na costa do Egito, com seus vastos museus e bibliotecas, tornou-se o centro predominante da aprendizagem. Parte dessa aprendizagem consistia em traduzir a sabedoria antiga para o grego, incluindo pelo menos uma parte do antigo Livro de Toth. Nessa tradução, o nome do autor ficou sendo Hermes, pela simples substituição do nome do deus grego que mais se assemelhava ao deus egípcio Toth. Posteriormente, tradutores latinos deram-lhe o nome do deus romano correspondente, Mercúrio. O principal tradutor para o grego era Manetho, sacerdote do templo de Heliópolis, que viveu numa época anterior a 250 a.C. Segundo um escriba posterior, Manetho escreveu a Ptolomeu Philadelphus: “Conforme vossas ordens, os sagrados livros escritos por nosso ancestral Hermes Três Vezes Grande, os quais estudei , serão mostrados a vós”. Ptolomeu II também patrocinou a primeira tradução para o grego das escrituras hebraicas, trabalho que é conhecido como os Setenta. É possível que houvesse um plano para reunir toda a sabedoria do mundo num só lugar e numa só língua, sendo esta o grego e o lugar, a grande biblioteca de Alexandria. Infelizmente, essa biblioteca foi depois destruída; podemos apenas especular sobre o que poderia haver ali. (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, gestor em RH e Gerente administrativo. Autor de 14 livros publicados: "Hóspede da Terra, Passageiro do Mundo", "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras Editora, entre outros. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - email: es.escritor1199@gmail.com

quinta-feira, 24 de junho de 2021

"SUMMER OF'42"... INFINITAS ASAS DE SAUDADE! (*)

Há 90 mil filmes sobre o rito de passagem da adolescência para a maturidade, o fim da inocência infanto-juvenil, isso que em inglês chamam de coming of age, que é praticamente um gênero do cinema de Hollywood. Este filme aqui é dos mais belos, mais delicados de todos. É um filme simples, despretensioso; deve ter tido um orçamento baixo, inclusive – embora seja uma produção de um grande estúdio, a Warner, tem todo o jeito de uma produção independente. Tem uma única locação – uma praia, uma pequena cidade numa ilha, que não se diz qual é. O elenco, pequeno, não tem nenhum astro. O diretor, Robert Mulligan, que eu particularmente adoro, é experiente, mas nunca foi badalado, jamais chegou a ser considerado muito importante. A única pérola vistosa do filme – além da beleza radiante, solar, mesmerizante de Jennifer O’Neill, uma bela mulher que nunca chegou propriamente a ser uma estrela – é a trilha sonora, feita pelo francês Michel Legrand, um dos maiores compositores do cinema. O tema principal, romântico, nostálgico, melancólico, caiu no gosto popular, está em diversas coletâneas de temas de filmes. E foi o que aconteceu também com o próprio filme. Caiu no gosto das pessoas; virou não propriamente um cult, porque cult a rigor é filminho metido a besta que agrada a uma patota, um grupo, uma tribo; virou um clássico, um pequeno novo clássico. O filme abre com cenas da praia da ilha – uma praia, a rigor, sem nenhum charme, nenhuma beleza especial, ainda mais para nós, brasileiros. A areia é daquelas escuras, que parecem sujas, a vegetação se intromete em trechos da areia, há pequenos morros, elevações bem junto ao mar. Bem, mas então temos cenas da praia, e a voz de um adulto em off contando que passou um verão ali com a família e com os dois maiores amigos, Oscy e Benji. Vemos, então, os três garotos, de uns 15 anos de idade, andando pela praia – Hermie, o que viria no futuro a ser o adulto que nos narra a história, Oscy e Benji, interpretados respectivamente por Gary Grimes, Jerry Houser e Oliver Conant. E aqui vem o primeiro de um dos muitos acertos do diretor Mulligan. Os três atores escolhidos são gente bastante comum; não são bonitos, nem atléticos, nem nada especial. Nada de gente especialmente bonitinha, como em tantos filmes para adolescentes dos últimos tempos. Gary Grimes, que faz Hermie, é magrelinho, com o cabelo um tanto anelado, com um pequeno topete, com um rosto normal, nada hollywoodiano ou global, assim como os dois outros. Jerry Houser, que faz Oscy, é meio gordinho; Oliver Conant, que faz Benji, usa grandes óculos. Os três garotos são um tanto desengonçados; Hermie é um tipo mais introspectivo, mais pensativo; Oscy é o falante, expansivo, comunicativo, metido a sabichão; Benji é tímido, desajeitado. Três garotos absolutamente comuns, normais. E então, enquanto vemos os três garotos se aproximando de uma casa simples de madeira no alto de uma pequena colina debruçada sobre o mar, e, diante dela, um jovem casal apaixonado, o narrador está dizendo o seguinte: “Nada desde aquele primeiro dia em que a vi, e ninguém que conheci depois, foi tão amedrontador e perturbador. Porque nenhuma pessoa que conheci a vida inteira fez tanto para me fazer sentir mais seguro, mais inseguro, mais importante, e menos significativo.” Os três meninos estão naquele ponto exato da vida em que tudo é sexo, mulheres, sexo, mulheres, sexo. A câmara caminha pela praia com eles, numa das primeiras seqüências do filme, no meio daquele mar de mulheres expostas ao sol – e os meninos estão no auge da excitação, do tesão. Oscy é o direto, o explícito; Hermie é curioso, mas um tanto mais recatado; Benji é o tímido. Num passeio, Hermie vê a jovem mulher da casa da colina se despedindo do marido, que, de uniforme militar, pega um barco para o continente. De uniforme militar. O verão é o de 1942. Em dezembro de 1941 tinha havido Pearl Harbor, e os Estados Unidos estavam na guerra contra o Eixo Alemanha-Itália-Japão. Oscy ri de Hermie, diz coisas do tipo, mas ela é velha demais! Mas também o incentiva: mulheres mais velhas sempre querem. Um dia, a jovem mulher da casa da colina vai à cidadezinha fazer compras, deixa cair os pacotes, Hermie corre para ajudá-la. O filme tem uma série de seqüências marcantes, inesquecíveis. Essa seqüência em que Hermie, querendo dar uma de maduro e forte, se dispõe a carregar os pacotes da jovem mulher até a casa dela; a tentativa de estabelecer um diálogo – sem qualquer assunto que possa uni-los – é uma maravilha, uma delícia. A seqüência em que Hermie volta à casa da jovem mulher, a convite dela, para ajudá-la a guardar no sótão umas caixas pesadas de coisas de que ela não precisa muito – ela sobe na escada, com um short e uma blusinha curta, e ele e a câmara ficam embaixo olhando para as pernas dela; quando é a vez de ele subir a escada, as pernas estão bambas, ele treme inteiro. Uso a expressão jovem mulher porque só bem mais para o final Hermie consegue perguntar a ela seu nome. É Dorothy. Dorothy – como a personagem central de O Mágico de Oz, o filme sensação de três anos antes da ação. Um nome simples, comum, como tudo o que acontece neste filme. A seqüência da ida ao cinema, em que Oscy descola um grupo de garotas, e lá vão eles, Oscy com uma loura chamada Miriam (Christopher Harris), Hermie ao lado de uma morena chamada Aggie (Katherine Allentuck)… Que maravilha de seqüência! Lá fora do cinema, há cartazes de Tragédia no Circo/The Wagons Roll at Night, com Humphrey Bogart, e Sargento York, com Gary Cooper. O filme que está passando é A Estranha Passageira/Now, Voyager, com Bette Davis e Paul Henreidt – e o espectador vê duas ou três seqüências do filme, que ocupa a tela inteira. O espectador vê mais do filme que está passando no cinema do que Oscy e Hermie, mais preocupados em tentar bolinar as garotas no escurinho do cinema. E a seqüência da ida à farmácia para comprar camisinha… De novo, que maravilha de seqüência. Mulligan alonga aquilo, não tem pressa alguma para terminar. É uma coisa boba, mas ao mesmo tempo é uma coisa importante para os garotos – e assustadora, apavorante. As carinhas que Hermie faz; a cara do vendedor… Maravilhosa seqüência. A mais bela de todas virá quase ao final, o clímax do filme. Lindíssima, lenta, suave, profundamente triste. A câmara em travelling dando a volta de 360 graus na sala da casa de Dorothy, suavemente; sinais de muitos cigarros fumados, bebida. Que coisa absolutamente maravilhosa. Essa despretensão toda, essa beleza simples, econômica, suave, muito doce e muito amarga, seria recompensada com quatro indicações ao Oscar. Michel Legrand levou a estatueta de trilha sonora; as outras indicações foram para a fotografia – bela, mais em tons pastel, enevoada, que esplendorosamente colorida, de Robert Surtees -, a montagem de Folmar Blangsted, e o roteiro original para Herman Raucher. Herman – repare-se o nome do sujeito. Herman, Hermie. O filme teve ainda indicações para o Globo de Ouro e o Bafta; ao todo, foram quatro prêmios e dez outras indicações. Foi a quarta maior bilheteria daquele ano de 1971, depois de O Violinista do Telhado, Billy Jack e Operação França e à frente, veja só, de Diamonds Are Forever, a aventura de James Bond ainda na pele de Sean Connery. Rendeu US$ 20 milhões só nos Estados Unidos. É o que consta no livro The Hollywood Reporter Book of Box Office Hits. O livro conta que Jennifer O’Neill havia sido modelo e tinha aparecido em muitas capas de revista; fez alguns papéis secundários a partir de 1968, mas “seu papel em Summer of ’42 levou-a ao estrelato”. Hum… Nem tanto estrelato assim. Entre 1975 e 1978 ela fez quatro filmes na Itália; o mais importante deles foi O Inocente, do mestre Luchino Visconti. Estrelou Scanners, de David Cronenberg, em 1981, e depois fez muita coisa para a TV. Continua na ativa – nascida em 1948, estava portanto com 23 quando fez este Summer of ’42 –, mas, pelo jeito, não voltou a fazer nada à altura de sua estonteante beleza. Ah, sim: por um acidente geográfico, Jennifer O’Neill nasceu no Rio de Janeiro, filha de uma inglesa e um descendente de irlandeses e espanhóis; foi criada nos Estados Unidos. O iMDB informa que ela se casou nove vezes. (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, biógrafo, crítico de cinema, economista, contabilista e gestor em RH. Autor de 15 livros publicados: "Hóspede da Terra, Passageiro do Mundo", "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, entre outros. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - email: es.escritor1199@gmail.com