sábado, 22 de abril de 2017
A TRAVESSIA PELO RIO DO TEMPO (*)
Existe um questionamento que, quando feito a um escritor, dói mais que picada de serpente. A mim, particularmente, jamais fizeram. Mas fizeram a amigos meus. “Ele é do jeito mesmo que escreve?” é uma indagação brotada do amor: acharam belas as coisas que escrevi e agora estão curiosos para saber se me pareço com o que escrevo. Como afirmei, nunca me fizeram a pergunta, diretamente. Mas eu respondo. “Não, eu não sou igual ao que escrevo.” O que escrevo é melhor que eu. Invento ser outro: O eu - lírico. O texto é mais bonito que o escritor. Fernando Pessoa se espantava com isso. Ele tinha nítida consciência de que ele era muito pequeno comparado com a sua obra. Depois de escrever, leio... Por que escrevi isto? Onde fui buscar isto? De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu... Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta com que alguém escreve pra valer o que nós aqui traçamos? O que escrevo não é o que tenho; é o que me falta. Escrevo porque tenho sede e não tenho água. Sou oásis. Não. Não escrevo o que sou. Escrevo o que não sou. Sou pedra. Escrevo pássaro. Sou tristeza. Escrevo alegria. É que nós somos corpos dilacerados – o corpo é o lugar onde moram as coisas amadas que nos foram tomadas, presença de ausências, daí a saudade, que é quando o corpo não está onde está... O escritor escreve para invocar essa coisa ausente. Todo texto é um ato de alquimia do verbo cujo objetivo é tornar presente e real aquilo que está ausente e não tem realidade. O que escrevo é uma ponte de palavras aladas que tento construir para atravessar o rio do tempo.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, biógrafo, influenciador digital, blogueiro e redator publicitário. Diretor de Redação da revista Cenário Goiano; foi Superintendente de Comunicação no Governo do Rio de Janeiro. Nove livros publicados
sexta-feira, 21 de abril de 2017
A BELEZA TORNA ALEGRE A MINHA SOLIDÃO (*)
Parece que há em nós cantos sombrios que toleram apenas uma luz bruxuleante. Um coração sensível gosta de valores frágeis. Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, esta é a que mais amo: “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”. Pare. Leia de novo. E pense. E reflita. Você lamenta essa maldade que a vida está fazendo com você, a solidão. Se Sartre está certo, essa maldade pode ser o lugar onde você vai plantar o seu jardim. Nietzsche também tinha a solidão como sua companheira. Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias e o deixavam cego. Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas, da música e de uns poucos livros que ele amava. Eis aí três companheiras maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas que caminham por razões de saúde, incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos. E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque não suportariam caminhar sozinhas. E, por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a alegria de estar em sintonia com a Natureza. Elas não veem as árvores, nem as flores, nem as nuvens, nem sentem a asa do vento acariciar o rosto. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo diálogo prolixo e vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer. O estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos, frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um subterfúgio para evitar o contato com nós mesmos. Sartre chegou ao ponto de dizer que “o inferno são os outros”. Eis o que Nietzsche escreveu sobre a solidão: “Ó solidão! Solidão, meu lar!... tua voz – ela me fala com ternura e felicidade! Não discutimos, não queixamos e muitas vezes caminhamos juntos através de portas abertas. Pois onde quer que estas, ali as coisas são abertas e luminosas. E ate mesmo as horas caminham com pés saltitantes. Ali as palavras e os tempos, poemas de todo o ser se abrem diante de mim. Ali todo ser deseja transformar-se em palavra, e toda mudança pede para aprender de mim falar”. Rainer Maria Rilke, um dos poetas mais solitários e densos que conheço, disse o seguinte: “As obras de arte são de uma solidão infinita”. E na solidão que elas são geradas. Foi na casa vazia, num momento solitário, que o operário viu o mundo pela primeira vez e se transformou em poeta. O primeiro filósofo que li, o dinamarquês Soeren Kierkegaard, um solitário que me faz companhia ate hoje, observou que o inicio da infelicidade humana se encontra na comparação. Experimentei isso em minha própria pele. Foi quando eu, menino do interior de uma cidadezinha de Minas Gerais, me mudei para o Rio de Janeiro que conheci as dificuldades. Comparei-me com eles: cariocas, perspicazes, bem falantes, ricos. Eu diferente, sotaque ridículo, gaguejando de vergonha, pobre: entre eles eu não passava de um patinho feio que os outros se compraziam em bicar. Nunca convidei nenhum deles a ir onde eu morava: no apartamento do meu tio, na Rua Senador Vergueiro, no bairro do Flamengo. Eu não me atreveria. Conheci, então, a solidão. A solidão de ser diferente. E sofri muito. Nem sequer me atrevi a compartilhar com meus pais esse meu sofrimento. Seria inútil. Eles não compreenderiam. E mesmo que compreendessem, eles nada podiam fazer. Assim, tive de sofrer a minha solidão duas vezes sozinho. Mas foi nela que se formou aquele que sou hoje. As caminhadas pelo deserto me fizeram forte. Aprendi a cuidar de mim mesmo. E aprendi a buscar as coisas que, para mim, solitário, faziam sentido. Como, por exemplo, a música clássica, a beleza que torna alegre a minha solidão... Sofra a dor real da solidão porque a solidão dói.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, biógrafo, redator publicitário, copidesque, revisor de textos e relações públicas. Sócio da Academia de Letras de Uruguaiana-RS, colaborador da ADESG-DF – Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, Comendador (honorário) da Ordem Ka-huna do Poder Mental, membro ativo e grau superior da AMORC – Ordem Rosacruz. Autor de nove livros publicados e detentor de dezoito prêmios literários, em âmbito nacional. Autor CONTRATADO pela MADRAS Editora, de São Paulo.
sexta-feira, 31 de março de 2017
SE COMEÇAR NO VIRTUAL, NÃO PROLONGUE O ENCONTRO REAL (*)
Não tente se encaixar. Apenas seja você mesmo. Muitas pessoas ficam pensando e tentando ser 'quem' acreditam que o outro quer encontrar. Isso é idiotice, perda de tempo e tem grandes chances de dar errado! Quando você tenta parecer quem não é, termina atraindo alguém que não vai lhe fazer feliz. Poupe sua energia e apenas seja você. Os homens não costumam mentir sobre o que querem. Freqüentemente, ouço mulheres contando sobre o fato de saírem com homens que afirmam não querer nada sério. O problema é que quando eles aparecem, mesmo que eventualmente, são muito carinhosos e atenciosos, fazendo com que elas acreditem que, no fundo, eles estão sim interessados. Não estão. A história é o que é: se eles disseram que querem apenas saídas sem compromisso, mesmo sendo carinhosos, não estão apaixonados e nem dispostos a investir num compromisso. Simples assim. Não abra todas as portas de uma vez. Mesmo estando muito interessado por alguém, vá com calma. Mostrar todos os sinais verdes, fazer vários convites, facilitar demais todas as chances, faz com que o outro perca a motivação da conquista. Sem contar que é uma dinâmica humana: quanto mais fácil é conseguir algo, menos valor parece que tem. Não seja difícil demais. Embora possa parecer, essa dica não contradiz a anterior. Se não é legal facilitar tudo e fazer de tudo para que o outro queira ficar, também é uma grande monotonia estar com alguém que dificulta qualquer possibilidade. Nem oito, nem oitenta. O melhor mesmo é ouvir sua intuição e viver um dia de cada vez. Não se trata de fazer joguinho. Se existe algo que considero realmente exaustivo é se relacionar com alguém que joga o tempo todo. Quer, mas diz que não quer. Faz, mas diz que não faz. Seja autêntico e assuma o que quer e o que sente e assuma as conseqüências e os riscos. Segurança e espontaneidade são poderosos afrodisíacos. Mantenha-se atento aos fatos. Quando se está muito carente ou ansioso para encontrar alguém bacana, é mais fácil se deixar enganar e terminar acreditando no que 'se quer' e não no 'que é'! Ouça o que o outro diz. Observe o que ele faz. Seja claro quanto ao que você quer e mantenha-se atento ao modo como ele reage e o que diz sobre isso. Se começar no virtual, não prorrogue demais o encontro real. Conhecer alguém pela internet é ótimo, mas passar anos nesta relação virtual sem nunca se encontrarem, é uma perigosa armadilha. É viver num mundo que não existe de verdade. Trate de marcar este encontro real assim que possível, até para constatar se vão se gostar também frente a frente, incluindo cheiros, gostos, manias, entre outros detalhes que a gente só percebe na convivência.
(*) Escritor/jornalista EUGENIO SANTANA, FRC. Nove livros publicados. Ocupa a cadeira número dois da Academia de Letras do Noroeste de Minas (ALNM); é autor contratado pela Madras Editora, SP, email: autoreugeniosantana9@gmail e Zap (61) 99581-4765
terça-feira, 14 de março de 2017
FRAGMENTOS DA MEMÓRIA (*)
Fazendas Quilombo, Cedro e Cachoeira, Chapada, Bonito, Bonsucesso, Mundo Novo, Água Fria, Forquilha, Lamarão, Vera Cruz, Santa Maria Lagoa Torta e “Aldeia de Cima” (onde nasci)... Cheiro forte de araticum, gabiroba, cagaita, jatobá, baru, cajuzinho, mangaba, marmelada, jambo, jenipapo e outras frutas silvestres do cerrado que perfumava e invadia meu chão de infância, os anos verdes, meu querido e inolvidável pai. Lembro-me o tempo de menino puro e inocente que agasalhavas nos seus braços longos, fortes e musculosos... A cantilena modorrenta do carro-de-boi, meu pai, subindo a serra verde-azulada; sulcando fundo a terra vermelha dos campos de sonhos da amada e inesquecível Minas Gerais, região noroeste. Imenso município de Paracatu “do Príncipe” ou “Atenas Mineira”. Gritavas a plenos pulmões: “Diamante, Gigante, ôôôaaahhh!... Dois bois estimados, laboriosos e ao mesmo tempo dóceis. Nós – os restantes – aprendizes de carreiros, filhos das rochas, rios e ventos carreávamos com entusiasmo e indisfarçável alegria. Lembro-me do teu ritual de organizar as cangas e colocar o azeite, um óleo ônix que tão bem sabias preparar; lubrificavas os eixos das rodas e o carro-de-boi rangia, cortando o Sertão preguiçosamente e cantava – cantiga de cigarras – na vastidão dos nossos campos Gerais, percorridos e pesquisados, também, pelo saudoso e memorável homem de letras, o nosso escritor mineiro Guimarães Rosa, acompanhado do seu fiel escudeiro o vaqueiro Manuelzão. O velho carro-de-boi avançava lentamente nas estradas de chão batido formando sulcos profundos – rastros do tempo – na terra molhada... Menino pequeno e franzino seguia-te “chamando guia, à frente”, com a vara de ferrão. Não gostava, pai, das investidas surpreendentes dos marimbondos traiçoeiros que atacavam, às vezes, quando estávamos desprevenidos, pois precisávamos estar atentos à caravana. Adorava quando cavalgavas aquele seu cavalo pampa amansado pelo seu primo Santos Perez, na garupa eu seguia contente: o menino mais feliz do mundo! Colhias com gestos de carinho o fruto maduro, doce e agradável da marmelada-do-campo, uma das minhas frutas prediletas. E aquela aventura periódica e imperdível, pai, de subir a íngreme serra. Após a perigosa escalada enfrentávamos com indômita bravura e coragem o “Rio Aldeia”, invariavelmente transbordando suas águas turvas. Fazíamos a travessia por meio de uma frágil pinguela ou nadando, agarrados à montaria. Após a extenuante vitória rumávamos para o “Quilombo”: a fazenda-origem de teus ancestrais, meu querido e amado velho “Nequinho!”. Ali estava, papai, teu filho-do-meio – Toninho: tímido, calado, introspectivo; mas, cúmplice, parceiro obediente; tão magrinho... Seguindo-te por léguas e léguas nas imensas distâncias das Minas Gerais. Nas Asas da saudade e da memória, recordo, pai, a barraca de lona improvisada onde acampamos por volta de 1963. Uma vida cigana tão autêntica, vivência agradável respirando Natureza por todos os lados. Uma árvore bonita e frondosa “fruta-de-óleo”, foi parte do nosso teto; privilégio para a contemplação do incrível brilho das Estrelas. Hernandes e eu (o mano-ébano, “irmão de coração”), ajudávamos no feitio da cerca de arame farpado, serviço contratado pelo vovô Zé Sant’Anna, dono da extensa e promissora fazenda “Forquilha”. Velhos tempos, pai, de banho de rio e muita pescaria. Parece que foi ontem... “Brejo Alegre”... que alegria, pai, compartilhar a tua companhia e da amada mãe Adília... Hernandes meu leal guardião; águas de cacimba, caçadas intermináveis aos tatus, seriemas, saracuras, pombas-do-bando, jaós... Incontáveis aves e pássaros povoaram minha infância, querido velho, graças a ti.
“Ilha do pau pombo”... Inventamos esse nome, lembras-te? Lenha de murici tão apreciada por minha mãe. Fogueiras sob o luar do outono, para espantar possíveis animais peçonhentos. O mel de abelha jataí, encontráveis normalmente no pau-terra. Os inumeráveis ferimentos nos dedos em conseqüência do constante labor com os pregos-triângulo na cadência intermitente do martelo nas estacas de “vinhático”, tua madeira preferida para cercas de arame. E como entendia de madeira de lei, meu velho? Admirável o teu conhecimento. Invejável a tua experiência e capacidade. Gratidão é o Sol do Verbo ou simplesmente a Palavra alada? Não importa os erros gramaticais, o palavreado simplório, por conta de nossas origens rurais, cometidos ao sabor desta inominável emoção. Nestas circunstâncias o coração do “poetalado” de milenares vidas, sangra visceralmente. Literalmente. Por favor, Anjo Lecabel, forneça a senha para o carrossel mágico de lembranças... Uma infância lúdica e prazerosa. Sentia a natureza penetrar os olhos, a mente, alma, braços, pernas, coração. Gratidão, meu velho Nequinho, por teres me propiciado a melhor infância do planetazul. Após a maravilhosa temporada nas fazendas dos queridos parentes, integrantes da nossa Árvore da Vida, construístes, a duras penas, a casa que nos abrigou, na cidade, no alto do bairro Bela Vista, palco e cenário de tantas reminiscências... O mano Eustáquio e minhas irmãs Lúcia e Graça. Patrícia, a caçula, veio por último já em chão goiano, Anápolis. Raras fotografias no alpendre... Os biscoitos fritos preparados pela mãe Adília. A marmita que eu levava diariamente para o seu almoço na máquina de beneficiar arroz do Sr. Juquita Vargas. Os banhos na “praia do matinho”... As chegadas bizarras, esfuziantes, hilárias e fugazes dos amáveis Ciganos, que acampavam ao longo da “praia”. Nosso fetichismo e curiosidade. Fui menino “voyeur” das ciganinhas, é claro. Os jogos de futebol, meu time, meu chute certeiro com a “canhotinha de ouro”. As bolas de meia; bolas de gude, bolas de lobeira... Os amigos Beto, Samuel, Donizete, Plínio: infernizávamos meu Deus, a chácara do “seu Jerônimo”... Era uma correria danada. Divertíamos muito! A “comédia”, as “galinhas noturnas”, “horas dançantes” ao sabor da jovem guarda. Circos e parques. A novidade recém-inaugurada Rádio “Juriti” e o vozeirão inconfundível do primeiro locutor, o Eurico Santos. E pelas ondas sonoras vindas de São Paulo, o romântico programa “Barros de Alencar”. Velhos tempos dos anos 1960: amor, leveza, alegria, descontração pura e contagiante. A Primeira Comunhão na Igreja Matriz Catedral de Santo Antonio. Naquele tempo, vestíamos de “Anjo”, indumentária alada, muito interessante... Maria Lúcia ficou tão linda! Eustáquio arrasou, com o terninho com gravata borboleta e a vela na mão. Graça, ainda muito pequena, me acompanhava nas “caçadas” aos passarinhos: visgo, arapuca, alçapão, estilingue e espingarda de pressão. Minha infância povoada de pássaros e aves marcou-me a vida para sempre. O amplo quintal, o vasto pomar: abacaxis, pêssegos, goiabas, mangas, abacates, jabuticabas, laranjas, mamão, amoras. A horta de mãe Adília: eu gostava tanto de ajudá-la a adubar, regar, cercar... E ousava, também, plantar com a orientação dela, claro. Velhas lembranças mescladas com o teu amor perene, insubstituível. Mangabas sazonadas no início do Verão. “Morro do Ouro”: fico amarelo e morro de saudades. A “Gruta Cachoeira de Vênus”, na praia dos Macacos. Encima árvores frutíferas incluindo saborosos jambos. As indefectíveis lavadeiras pobres do “Córrego Rico”. Alzira – minha Flor Azul: o primeiro esboço de amor adolescente... Largo do Jenipapeiro. O hangar dos pequenos monomotores onde eu escondia quando estava sorumbático e brincava, solitário, quem sabe ensaiando a vontade frustrada de ser, um dia, piloto de avião. O Largo do Sant’Anna e o velho casebre onde morou “dona Beja”, a famigerada cortesã. Não sofro, renasço. Revivo o que foi melhor em minha vida: a cidade natal, o palco da minha infância, a memorável presença e companhia do meu pai. Fiquei órfão e mais pobre sem as suas presenças essências querido, valoroso e amado pai Fabião e da senhora minha querida e valiosa mãe Adília. Jesus – O Sol do Verbo – O Mestre do Amor e da Sabedoria – O Cristo Cósmico é o companheiro inseparável: minha âncora, minha bússola. O consolo, o alento infinito. O Caminho, a Verdade e a Vida. Deus – Autor de nossas vidas nos enviou o Messias, o Príncipe da Paz para que nos perdoemos e encontremos a harmonia, em meio à surpresa, ao mistério e ao caos, existentes neste “Vale de Lágrimas”. Um dia, é certo, juntar-me-ei a vocês, nessas paragens cósmicas que desconhecemos. “Ele” pediu-me, carinhosamente, para não tentar desvelar os “Mistérios insondáveis”. Genuflexo e humilde reporto-me à Suprema Sabedoria Celestial. Imperecível saudade nestas asas da Memória, papai e mamãe. Os Anjos de Luz sussurram o verbo da coragem, fé, esperança, entusiasmo e amor incondicional. Eis o meu simples tributo. Esta tentativa de réquiem... Só Deus sabe porquê escrevo; escravo de uma Saudade inesgotável e que nunca terá fim. Beijos alados de seus filhos “Toninho”, Eustáquio, Maria Lúcia, Maria das Graças e Patrícia. Nossos laços são infinitos, intermináveis. É só olhar para as faces de Ingrid, Nuria Liz, Arthur Emmanuel, Enzo Gabriel, Camila, Bruna, Giovanna, Leonardo, Lílian, Glauciane, Janine, Marlon Régis, Gabriela... O amor que dedicaram a nós está impregnado em nossas almas e corações. Até a próxima. Até breve. Até sempre! Maktub.
(*) EUGENIO SANTANA é jornalista, escritor, ensaísta, influenciador digital e blogueiro. Membro efetivo da ALNM – Academia de Letras do Noroeste de Minas, cadeira dois. Membro Acadêmico “Benemérito Ad Honorem” do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; Autor de nove livros publicados – Dedico à memória do meu pai Fabião Couto e de minha mãe Adília Santana.
segunda-feira, 13 de março de 2017
AS ASAS AZUIS DO PÁSSARO DO AMOR (*)
Pai, eu vi um pássaro voando e me lembrei de você.
E o meu coração se encheu de saudade...
Dos seus braços fortes me segurando no colo.
Dos seus conselhos severos e de suas esperanças em meu futuro.
Do quanto você teve paciência e tolerância comigo.
Sabe, quando somos jovens, não sabemos o que um pai sente.
Não valorizamos quem segura nossa barra e nos sustenta.
Com o tempo, também nos tornamos pais, e aí compreendemos.
A experiência transforma o olhar e faz ver além...
Então, lembramos de que um dia fomos filhos.
E a saudade vem de cheio, junto com o agradecimento.
Pai, ontem eu não sabia; hoje eu sei, com todo meu Ser.
Com a chegada do meu filho Enzo Gabriel, o vento do amor arejou meu coração.
Assim como arejou seu coração, quando você me recebeu como seu filho.
Fico pensando nas coisas que não são ditas entre pais e filhos.
Coisas que o tempo leva na memória do vento... Coisas que não têm preço.
Lembranças que viajam pela Asa do coração...
Com o passar dos anos, sinto o que antes não sentia.
Amando meu filho, penso no seu amor por mim.
E se isso é assim, aqui no Planeta-escola, imagino um Amor Maior, em tudo.
Um Grande Coração Universal, onde pais e filhos viajam nos sentimentos reais.
Fico imaginando o Poder Maior que nos colocou aqui, como pais e filhos.
E elevo meus pensamentos a Ele, Pai de todos nós, agradecendo o presente.
Sim, agradeço o presente de hoje ser pai, e de um dia ter sido seu filho.
Pai, o Pássaro do Amor passou voando pelas fibras do meu coração.
E ele me disse: "O Grande Espírito lhe ordenou escrever algo para os pais e filhos".
Não questionei, apenas escrevi o que senti, consciente da missão.
Pois sei que há um Poder Maior capaz de interligar invisivelmente as consciências.
Como sei, também, que algumas palavras podem chegar no momento certo para alguém.
Talvez, a corações feridos, que reconsiderem sentimentos e reúnam novamente pais e filhos.
Ou, simplesmente, por entre os planos da vida, pais e filhos se toquem no infinito.
Por obra e graça de um Poder Maior, isso é possível. Como é possível refletir...
Sim, refletir, para recomeçar. Talvez para melhorar pais e filhos, pela vastidão do Universo criado por Deus – Todo-Poderoso: Onisciente, Onipresente e Onipotente.
Então, que esses escritos viajem nas Asas do Vento, cumprindo sua função e unindo corações.
Que o Pássaro do amor leve essas palavras a quem de direito, como deve ser...
(*) copydesk/fragment by EUGENIO SANTANA, da Academia de Letras do Noroeste de Minas, escritor, jornalista, publicitário, relações públicas, copydesk, verse maker; self-made man. Sócio da UBE-GO/SC – União Brasileira de Escritores e autor de nove livros publicados. Ex-Superintendente de Jornalismo no Rio de Janeiro, RJ (2009/11) dedico à memória do meu pai Fabião Couto e à minha filha Ingrid e ao meu filho Arthur Emmanuel
CURRÍCULO DO CAÇADOR DA UTOPIA (*)
Diversas vezes eu chorei até pegar no sono no sofá da sala e acordei atordoado sem lembrar de nada. Já peguei metrô errado e continuei andando por caminhos ínvios e desconhecidos. Confundi sentimentos e machuquei a mimesmo. Eu já gargalhei até ficar com torcicolo. Já mergulhei até o pulmão quase fugir pela boca; hoje, aproveito ao máximo o oxigênio que acredito ter direito. Já fiquei infinitamente apaixonado inúmeras vezes. Já me senti sozinho no meio da multidão, com saudades daquele nome que escrevi no muro da universidade. Já fugi de casa quando morava sozinho e voltei, desolado, para chorar silente no banheiro. Eu voei sobre minha cidade natal, Paracatu, e lá de cima, Ícaro hodierno, não consegui encontrar meu lugar. Corri descalço na tempestade, roubei uma flor no jardim de uma ex-namorada e fiz as pazes deitado na grama molhada. Já apostei todas as fichas que amigos não partiriam e perdi mares de lágrimas. Fiz cócegas no Enzo Gabriel só para ele parar de chorar e discuti com o espelho que teimou que eu estava, inapelavelmente, envelhecendo. Já fiz promessas impagáveis e me queimei com a vela azul. Durante um banho de chuva sonhei um amor de verão que talvez dure para sempre. Já estourei bola de chiclete no cabelo da amada e brinquei de mocinho, astronauta, índio e aprendiz de feiticeiro. Passei trote por telefone e me escondi atrás da cortina esquecendo os pés para fora. Já levei choque elétrico no banheiro e caí da escada com a bunda no chão. Sai caminhando sem rumo e fiquei sem nada na cabeça pensando naquele amor vazio. Fiquei ouvindo estrelas no telhado da casa da avó e roubei frutas de uma árvore do tamanho dos meus sonhos. Fiquei tentando esquecer algumas pessoas que descobri serem as mais difíceis de esquecer. Já chorei ouvindo música do elevador lotado e me cortei fazendo a barba, em uma madrugada cósmica. Já vi o crepúsculo alaranjado e violeta e bebi no gargalo da garrafa de uísque até ficar com a boca contando as histórias inverossímeis que nunca vivi. Já vi a cara da senhora de negro de perto e agora vivo cada dia como se fosse o melhor. Quase morri de amor muitas vezes e quase revivi outras para agradecer o sorriso de alguém especial. Vi amigos partindo e encontrei mais alguns novos e agradeci o ir e vir sem razão da vida. Foram tantas coisas que fiz e fotografei num refúgio da mente reservado para os dias de minha vida, tantas emoções encostadas nas fibras do coração, que até faz parecer que a vida vale a pena. E agora um “formulário” quer ditar o meu futuro, me avaliando e questionando em letras garrafais que gritam: Qual a sua experiência? Experiência? Será que “caçador da Utopia” é uma boa experiência? Não, claro que não. Os recrutadores ainda não sabem voar com as Asas da Utopia...
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, biógrafo, influenciador digital, blogueiro e redator publicitário. Diretor de Redação da revista Cenário Goiano; foi Superintendente de Comunicação no Governo do Rio de Janeiro. Nove livros publicados
domingo, 12 de março de 2017
OS LIVROS QUE PUBLIQUEI SÃO MEUS ÚNICOS FILHOS (*)
Através das “Asas da Utopia”, fui “Guiado pelos Pássaros” e na floresta do desejo literário senti o êxtase, o perfume e o mistério de “Flor-Estrela” e, viajando na asa do tempo, reflexivo fiz amor no “Crepúsculo e Aurora”, meditando sobre a transitoriedade da vida, sou “InfinitoEfêmero”, “Enquanto Brilha o Sol”, sob forte névoa, neblina e tempestade deste mundo caótico, fui determinado, visionário, resiliente e neste exercício generoso da empatia, escrevi “Ventos Fortes, Raízes profundas”, e para concluir retornei às origens e às raízes mais profundas, com as “Asas da Memória”. Maktub!
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, biógrafo, influenciador digital, blogueiro e redator publicitário. Diretor de Redação da revista Cenário Goiano; foi Superintendente de Comunicação no Governo do Rio de Janeiro. Nove livros publicados
PREFÁCIO? ENALTECE OS MEDÍOCRES (*)
PREFÁCIO? UM ATESTADO DE IMBECILIDADE DE AUTORES NEÓFITOS - Costumo rotular PREFÁCIO de "prefáceis". Trata-se de um "Avalista", um crítico literário, normalmente, "famoso" que emite opinião sobre um determinado livro de um autor inseguro, indeciso, sobre o valor “questionável” de sua própria obra. Há mais de dez anos, eliminei dos meus livros opiniões de "medalhões" ou não. Modéstia às favas, EU SOU CRIATIVO, INVENTIVO E TALENTOSO. Resumo da ópera: sou eu que escrevo a apresentação, o prefácio, o prólogo e o posfácio dos meus VALIOSOS LIVROS. (EUGENIO SANTANA é jornalista, escritor, ensaísta, biógrafo, redator publicitário, influenciador digital e blogueiro. Membro efetivo da ALNM – Academia de Letras do Noroeste de Minas, ocupante da cadeira dois)
sábado, 11 de março de 2017
O AMOR NA VIDA DE CADA UM DE NÓS (*)
Ao falarmos de amor, estaremos falando do amor na vida de cada um de nós, pois o amor é único sentimento verdadeiramente universal. Entre os cinco bilhões de seres humanos que já povoam o planeta Terra, uns são crentes, outros, não; uns procuram a vida agitada, outros preferem o sossego; uns são vegetarianos, outros, carnívoros, outros frugívoros. Em suma, nenhuma moda, nenhum valor, nenhuma predileção consegue unanimidade entre eles. Mas todos, absolutamente todos são sensíveis ao amor, procuram o amor, se preocupam com o amor. O amor desempenha um papel essencial, benéfico ou nefasto, na vida de todos eles. Ele é a fonte principal de sua felicidade ou infelicidade. Daí ser interessante em si falar do amor na vida de qualquer homem ou mulher, pois todo coração humano reflete algo de nosso próprio coração. Há algo de nossa vida amorosa em toda vida amorosa. Pelas circunstâncias de nossa existência, conhecemos e evocamos uma gama bastante variada de amores, quatro dos quais destacam-se: o amor romântico, o amor-sonho, o amor sensual e o amor-amizade. Cada um desses amores é personificado numa heroína real e em várias heroínas fictícias. E o conjunto dessas heroínas, reais e fictícias, parece tocar todas as cordas do coração humano.
(*) Copydesk/fragment by EUGENIO SANTANA é jornalista, escritor, ensaísta, influenciador digital e blogueiro. Membro efetivo da ALNM – Academia de Letras do Noroeste de Minas, cadeira dois. Membro Acadêmico “Benemérito Ad Honorem” do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; Autor de nove livros publicados
terça-feira, 28 de fevereiro de 2017
APRESENTAÇÃO DO LIVRO "FLOR DE MARACUJÁ" (*)
Inventário de luz, cor, olor, cicatriz, dor, Amor! Perfume das flores no jardim de um templo gótico. Mística visão da Mesquitazul. Istambul... Vida e poesia mesclam-se no mesmo movimento rumo à transcendência. Multiforme face desnuda infinitos. “Flor de Maracujá” é pura alquimia de poesia-magia. Poeta-fênix de Vôo solitário e majestoso que aprendeu a duras penas as lições, luta na mais sublime guerra, uma guerra santa chamada Amor à Poesia. Deves aprender, primeiramente, a abrir os olhos e a enxergar. Deves ver não só aquilo que te agrada, mas também o vil excremento. Deves olhar com o mesmo prazer uma orquídea negra, uma rosazul, uma tulipa amarela, um lírio lilás e um escorpião escarlate... Através da vidraça meus ígneos e rúbidos olhos imploram o teu amor! Olhares e janelas... Violetas invioláveis no Outono... Deves olhar não só o muro, mas também sua altura. Vê quão lodosa pode ser uma Lagoa... Visualize, então, a Flor-de-Lótus e experimente aspirar o perfume de tua almalada. Poeta-fênix: com tuas garras, deves aprender a rasgar a carne impura, com teu olhar deves queimar o hálito fétido do mundo. Aprende também a sentir o odor melancólico das Flores mortas, a adorar as lágrimas argênteas, a construir um singelo templo de murmúrios. Assim te tornarás capaz. Louva aquilo que é bom e justo, com teu cântico de “Bem-Querer às Violetas”, canta a imensidão do céu azul e recorda-te como pode ainda ser bela a natureza humana... “Flor de Maracujá”: Flor-Essência; florescências... Viajo nas Asas difusas do Tempo e recordo as quaresmeiras floridas nos cerrados de Paracatu, Unaí, Araxá, Luziânia, Cristalina, Pirenópolis, Goiânia, Anápolis, Brasília... Reminiscências de Pássaros, Peixes e Flores. Saudades de percorrer e revisitar o jardim cósmico de minha amada mãe Adília Santana... Mergulho nas águas diáfanas da infância adormecida nas palmeiras seculares que adornam a Catedral Matriz de Santo Antônio... Voláteis buritis nas Asas da Memória! Caminho na Floresta e não e não encontro duendes, gnomos e fadas que me falem da beleza exótica e enigmática da misteriosa Rosazul... Rara flor das oníricas lembranças. Sonhos inefáveis e inalcançáveis. Laivos da mais pura ternura afloram dos espaços do coração-de-romã desta Poeta-fênix de profundos olhos oceânicos. Profundezas marítimas me instigam a navegar e mergulhar neste Mar de Luz Azulilás... Abelhinha indomável, me escondo no fundo e me embriago dentro das pétalas aladas da “Flor de Maracujá”. Após a imersão, retorno pleno e curado da Dor de Amar demasiadamente... Ah, Mar! Barco ébrio de meu alter-ego Rimbaud. Remo e Rima. Verso e canção. Musa-mulher: ensina-me a sina de “ser-poeta”; “escravo. Enquanto escrevo”. Plúmbea Neblina me espera no “Alto da Boa Vista”, vislumbro o bairro “bela vista”: Recife de corais. Cora. Coralina. Renasce a perplexidade nos olhos de Hórus. Às vezes oro; muitas vezes, choro. Lembranças de outras vidas, Marrocos, Arthur Rimbaud... Abre imperiosamente tuas asas, Poeta-fênix, lança um olhar aos céus e abandona-te ao sabor de oceânicas Ventanias. Certamente agora teus músculos têm o vigor imprescindível e teu coração e mente estão límpidos e puros, expurgados de qualquer lama, certamente agora poderás voar mais longe e mais alto. A poemagia de Rita de Cássia Alves sublima, encanta, eleva: zéfiro ao Zênite; êxtase e enlevo. Registro flashes do Absoluto. Sons vocálicos perdidos no espaço-tempo são resgatados por meio de uma guerreira sacerdotisa e pitonisa alquimista da Expressão Escrita. Palavras de Luz de um verbo singular... Rita. Poema-oásis de brilho raro; uma guardiã da poesia. Ensinas o ritual da longa espera de uma inspiração antológica. Nunca o planeta-blue e seus habitantes foram tão tristes e infelizes. É um paradoxo completo. Temos tudo e não temos nada, além de uma lancinante solidão entre as multidões. Viaja-se fora da Terra, dominam-se técnicas inimagináveis, mas no íntimo o fosso abissal abre-se cada vez mais. O ser humano é um elo perdido no cosmo. Nossa porção natureza está violada e distante. Rita sente uma atração “quase” irresistível pelo jogo de sonoridades, aproximação de palavras por similitude fonética e o apelo para o fluxo das janelas do mundo interior, que se coaduna com facilidade tanto com a sintaxe incomum quanto com o jogo sonoro. Através de tudo isso a nostalgia sutil como elemento unificador. Onde se insinua a Dor? Pelas fendas e Sendas do Amor. Rita de Cássia Alves carrega dentro de si um coração de diamante literalmente lapidado. Literariamente burilado. A poesia beija a “Flor de Maracujá” neste lírico amanhecer de outono, sob o olhar atento dos lírios amarelos que circundam de beleza a avenida principal de Joinville...
Joinville-SC, 09/04/1999.
(*) EUGENIO SANTANA é jornalista, escritor, ensaísta, influenciador digital e blogueiro. Membro efetivo da ALNM – Academia de Letras do Noroeste de Minas, cadeira dois. Membro Acadêmico “Benemérito Ad Honorem” do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; Autor de nove livros publicados
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017
DEUS É VENTO (*)
Quem somos? O intervalo entre o nosso desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de nós. Procuro despir-me do que aprendi. Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desencaixotar minhas emoções verdadeiras, desembrulhar-me e ser eu, não Eugenio Santana, mas um animal humano que a natureza produziu. Mas isso, triste de nós que trazemos a alma vestida!, isso exige um estudo profundo, uma aprendizagem de desaprender... Quero raspar as tatuagens de Deus com que cobriram os nossos corpos. Teólogos, sacerdotes, fiéis – todos eles se dedicam a essa arte perversa. Pensam que suas palavras são gaiolas para pegar Deus. Com isso ofendem Deus: pintam-no como pássaro engaiolável. Mas Deus é Vento – é isso que quer dizer a palavra “Espírito”- não pode ser engaiolado como passarinho. Em outras palavras: não adianta, quando a gaiola se fecha, é porque o sagrado já voou para outro lugar. Deus está sempre além das palavras, no lugar aonde as palavras não chegam, onde só existe o silêncio. As gaiolas de pegar Deus têm muitos nomes: rezas, terços, novenas, orações, preces, mantras, rituais, promessas, templos, Bíblia, Corão. Mas só os cegos não percebem que elas estão sempre vazias. O Rio cujo nome sabemos não é o eterno. O nome que pode ser dito não é o nome eterno. O Rio que não tem nome: dele nascem todos os rios que têm nome. O Rio que não tem nome é o princípio dos céus e da terra. Os rios que têm nome; neles nadam dez mil peixes diferentes. O caminho para Deus começa com o esquecimento de todos os nomes que nos foram ensinados. Deus não se vê diretamente. Só através de espelhos. Bons espelhos não têm memória. São vazios. A gente sai da frente deles, e prontamente de nós se esquecem. Se tivessem memória, eles guardariam o nosso rosto, mesmo na nossa ausência. Para refletir Deus em tudo o que aqui e agora existe, meu coração há de ser um espelho luminoso, claro e vazio.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, autor de nove livros publicados, jornalista de mídia impressa, ensaísta, biógrafo e relações públicas. Membro efetivo da ALNM - Academia de Letras do Noroeste de Minas, sócio da UBE – União Brasileira de Escritores
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017
APÓS O CARNAVAL...
Os especialistas, economistas, jornalistas, políticos, líderes e estudiosos, nem eles sabem o que vai acontecer com o Brasil, com cada um de nós, os ricos e os pobres, os alegres e os desesperados, os descrentes e os iludidos, e os doentes em fila para atendimento médico, em fila para o seguro-desemprego, o abono do PIS e o FGTS inativo, em fila para receber o corpo do pai morto que sumiu – porque alguém está em greve e corpos apodrecem em algum corredor. Depois do Carnaval é que o ano vai realmente começar, isso é unanimidade. E aí, dizem também, vamos entender em que enrascada estamos, tendo de optar por comer ou pagar o aluguel, tomar banho frio ou desligar a TV o dia inteiro, ou comprar material escolar das crianças. Nada tenho contra o Carnaval, mas, quando vejo tantas pessoas sambando animadíssimas em tantas ruas há semanas, penso se isso tudo é despreocupação e alegria ou se há um pouco de alienação e desespero. Porque depois do Carnaval continuaremos a ficar todos mais pobres e endividados, e o Congresso – que deveria nos representar – voltará com suas confusões impensáveis, quem sabe pancadaria, baixaria, xingamentos, e pouca eficiência. O mundo anda mesmo esquisito, depois do Carnaval os estrangeiros que nos viram pela TV talvez achem que nossos problemas eram invenção da imprensa capitalista: não foi por alienação ou desespero, mas de felicidade que pulamos durante semanas pelas ruas e praças de um Brasil bem administrado, bem-sucedido, exemplo para os países respeitados que crescem, cujos líderes planejam e executam trabalhos em favor de seu povo, com esforço, competência e honradez. (Jornalista/escritor EUGENIO SANTANA)
domingo, 5 de fevereiro de 2017
O TEMPO (*)
Contei os meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro. Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou com avidez, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades, não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados, inveja e desamor, orgulho e ambição. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos, sorte e criatividade. Já não tenho tempo para conversas prolixas e intermináveis, para debater assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha história. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da avançada idade cronológica são imaturas. Não suporto fazer avaliação de desafetos que brigaram pelo honorável cargo de Diretor de Jornalismo. As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma alada tem urgência de ser feliz. Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, demasiadamente humana, que sabe rir de seus tropeços, que não se encanta com vitórias fáceis, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, e que as mentiras e assuntos inacabados não façam parte do momento, quero caminhar perto de coisas e pessoas autênticas que saibam o que é o amor incondicional. O essencial faz a vida valer a pena. E para mim basta o essencial.
(*) Copydesk/fragment by EUGENIO SANTANA, jornalista, escritor, ensaísta, biógrafo e redator publicitário. Membro efetivo da ALNM – Academia de Letras do Noroeste de Minas, cadeira dois. Membro Acadêmico “Benemérito Ad Honorem” do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; Autor de nove livros publicados
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017
FILAMENTOS DE UM PÔR-DO-SOL ANDRÓGINO (*)
Admirava-o. Não perdi a admiração. Acredito que ela tenha aumentado. O bizarro, é que nunca cheguei a pensar como tudo havia acontecido. Eu era, testemunha ocular de um gesto que personalizou-o, ainda que não tenha tido a intenção, seu trabalho bastaria, como bastou. Entre os estandartes da demência e da genialidade, fez-se eterno.
O vermelho deslizava-lhe pelo pescoço, avolumando pequenas poças, coágulos, gosmas, querubins malditos, formas mortas, abortos, abutres, assentados nos pêlos da sua barba. Seu olhar fixo, sem nenhum tremor, como se nada acontecesse, e não fora ele o autor, intérprete, diretor, cenário e palco do monólogo vermelho. A colcha que cobria a cama ganhava nova coloração e forma, pintura primitiva, esvaindo-se das minas da carne, viscosa e quente, contrastando à indiferença do seu olhar, parede e alcova, da emoção. O corpo demonstrando declínio ante a dor não exposta e fraqueza natural, quedou-se devagarzinho, de encontro à cama.
O instrumento cúmplice, banhado de vermelho, parecia um bumerangue aborígene, pássaro apocalíptico da trilogia da negligência. Nós éramos mórbidos epigramas do triângulo em gestação. Cortado pelo gélido pincel, foi-lhe a carne dividida, lembrando o pão da santa ceia, às avessas.
Ela estava arrancada dele, definitivamente separados. Não fiz nada. Senti que não deveria interferir. No entanto, não poderia abandonar aquele momento trágico e sedutor, sem pegar um souvenir.
Quanto tempo sonhei com aquela tarde no Louvre. Lá estava eu, entre dezenas de grandes mestres, todos fascinantes com seus estilos, e rupturas que marcaram época, contudo, queria encontrá-lo, devorá-lo ao vivo, longe das reproduções e slides, que durante anos foram companheiros nas salas de aula. Somente ele, nenhum outro, de tal forma, conseguia desequilibrar-me, colocando-me à deriva emocional. Diante da sua arte, caminhava entre as plantações de trigo, girassóis e moinhos. Nessa viagem, frenesi de quem parte sem ausentar-se, somente retornava a mim mesmo, quando os alunos em coro, chamavam-me.
Andando pelos corredores do Louvre, escarnavam-me o olhar babando as gosmas saborosas das retinas, Delaroche, Velasquez, Picasso, Gaugain, Renoir, Monet, que provocou-me compreensível – breve – parada. Ele, de certa forma, bordava as lantejoulas do meu frenesi. Continuei a busca, com a certeza da sua proximidade. Subitamente, como se algo, chamasse-me a atenção, tocando-me às costas, virei-me, e o paraíso descerrou as cortinas – a luz amarela – estrela vésper da sua pintura, mergulhava na umidez vermelha dos meus olhos.
Ignorando as pessoas em volta, perdendo com mais intensidade a noção do tempo, ao êxtase tântrico pictórico, minha alma alada, já não era alma. Era um arco-íris pousando no útero da tela, onde fiquei, até que uma voz – sempre elas – trouxe-me de volta para o outro lado – a terceira margem do rio do tempo – ao insistir que estava na hora de fechar o museu.
Saindo do Louvre, meus olhos garimpavam o transe. Na indiscreta verticalidade do abismo, encontrei o metal cortante. Minhas náufragas, suadas digitais, revelaram a dissimulada atração. Ao guardá-lo, no bolso esquerdo da jaqueta, forte era a sensação de Ícaro, cujas asas a monotonia, não mais haveria de derreter. No balanço do meu andar, o metal batia e voltava sobre meu coração, como chibatadas, açoitando a dolorida ansiedade.
A uma quadra do hotel, resolvi parar num café, escolhendo uma mesa na calçada. Após a primeira taça de vinho tinto seco, vejo-me novamente em seu quarto. Ele com o instrumento em riste, no topo da orelha, não ousava dizer absolutamente nada. Quedou silente. Os músculos de sua face e seus olhos eram os mesmos bailarinos paralíticos, completando a alegoria do hiato, antecedendo ao gesto. Sua mão, única expressão de vida, desceu num frêmito impulso guilhotinador. Um desejo irremovível de amputar. Em queda, as gotas de sangue eram filamentos de um pôr-do-sol andrógino.
Sentado no café, o garçom perguntava-me se queria outra garrafa. Pedi a conta, ao mesmo tempo em que apalpava os bolsos da jaqueta.
Chegando ao hotel, peguei a chave, tomei o elevador. Dentro do apartamento, ouvi o farfalhar das asas de dois pássaros vermelhos, fui ao lavabo, postei-me frente ao espelho, retirando, primeiro do bolso esquerdo da jaqueta, o dócil e inofensivo cortante metal. Depois foi a vez do souvenir. Ao empunhar o metal sobre minha orelha, no canto esquerdo superior do espelho, Van Gogh, observava-me passivamente. No mármore do banheiro, a orelha de Van Gogh, já não estava sozinha.
(*) EUGENIO SANTANA é Jornalista, Escritor, Ensaísta, Biógrafo e Redator publicitário. Pertence à UBE - União Brasileira de Escritores. Colaborador da ADESG, AMORC e do Greenpeace. Autor de nove livros publicados. Gestor e fundador da Hórus/9 Editora e Diretor de Redação da Revista Panorama Goiano.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2017
AFUNDAMOS CADA DIA MAIS (*)
O país, o povo e as lideranças: ainda há, nesse palco vergonhoso, quem use o termo “ética”? Penso que sim, pois falta de ética implica o uso despudorado da palavra. Ninguém parece entender nada. Somos uma nau sem rumo, sem comandante, pobre “Titanic” sem majestade, mas com gente ajeitando a cadeira no convés para observar o espetáculo, e muitos nas margens (pode ser mar, rio ou poço o lugar do afundamento, tanto faz), apostando: “Agora vai! Ainda não vai! Vai de proa primeiro! Aquele vai cair da amurada! Outro subiu no mastro pra espiar a melhor salvação! Um deles subiu para de lá cuspir nos de baixo!”. O cansaço vai nos abatendo, já não torcemos pelo mocinho, nem acreditamos em mocinho. Alguém disse recentemente que nesse faroeste “são todos bandidos”. Feito uma bactéria ou vírus, tudo isso nos deixa atordoados e quase sem reação. A reação, bonita, vem nas ruas, onde se mostra a alma desnuda do povo que vai deixando de ser bobo. Incompetência pusilânime de quem errou, que é hora de parar, de falar, de consertar o que ainda não está perdido, matem esse ritmo de queda veloz. Afundamos cada dia mais. Cada dia notícias mais inacreditáveis. Cada manhã vejo jornais e TV esperando que algo gravíssimo, mas positivo, tenha ocorrido. Personagens importantes e importantíssimas na vida pública e privada, que nos inspiravam, quem sabe, faziam suas tramóias pelas quais hoje o país e cada um de nós pagam alheios pecados mortais. Desisto de comentar a pobreza que se espalha, a ruína material e intelectual da nossa educação, das universidades às creches, a agonia da saúde dos postos aos hospitais, e a inexistente segurança... Já tivemos isso um dia? Como era mesmo quando a gente podia sair às ruas em paz? Que a lei e alguns homens honrados nos livrem desses vexames, e que preservemos, se não o otimismo, o teto sobre a cabeça, o feijão no prato e, com muita sorte, o filho na escola.
(*) EUGENIO SANTANA é jornalista, escritor, ensaísta, biógrafo e redator publicitário. Membro efetivo da ALNM – Academia de Letras do Noroeste de Minas, cadeira dois. Membro Acadêmico “Benemérito Ad Honorem” do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; Autor de nove livros publicados
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