terça-feira, 29 de junho de 2021

O DOADOR DA VERDADE (*)

Um antigo egípcio foi o ancestral de uma ampla gama de filosofia mística e escritos que florescem até os dias de hoje, os quais denominamos “herméticos” porque seu progenitor veio a ser conhecido no mundo ocidental como Hermes Trismegistus, ou Hermes Três Vezes Grande. Quem foi ele realmente ou em que período viveu é apenas hipotético. A Tradição Rosacruz, que tanto extrai dessa fonte, situa-o na 18ª Dinastia de Faraós do Egito, em aproximadamente 1400 a.C. No antigo Egito ele era conhecido como Toth, às vezes chamado de “segundo Toth” para distingui-lo do lendário deus Toth, o “Doador da Verdade”. Entretanto, esse mago já era lendário muito antes que o mundo ocidental tivesse ouvido falar dele – e tornou-se ainda mais depois. No Ocidente, seus ensinamentos apareceram e desapareceram muitas vezes, sempre envoltos em algum grau de segredo. Devido principalmente a esse segredo, hoje nada temos dos escritos de Hermes exceto em parte, e essa parte apenas de segunda ou terceira mão, em traduções no grego e no latim mais recentes. E esse pouco foi preservado apenas graças a uns tantos incidentes afortunados. Depois que Alexandre conquistou o mundo ocidental, a nova cidade grega de Alexandria na costa do Egito, com seus vastos museus e bibliotecas, tornou-se o centro predominante da aprendizagem. Parte dessa aprendizagem consistia em traduzir a sabedoria antiga para o grego, incluindo pelo menos uma parte do antigo Livro de Toth. Nessa tradução, o nome do autor ficou sendo Hermes, pela simples substituição do nome do deus grego que mais se assemelhava ao deus egípcio Toth. Posteriormente, tradutores latinos deram-lhe o nome do deus romano correspondente, Mercúrio. O principal tradutor para o grego era Manetho, sacerdote do templo de Heliópolis, que viveu numa época anterior a 250 a.C. Segundo um escriba posterior, Manetho escreveu a Ptolomeu Philadelphus: “Conforme vossas ordens, os sagrados livros escritos por nosso ancestral Hermes Três Vezes Grande, os quais estudei , serão mostrados a vós”. Ptolomeu II também patrocinou a primeira tradução para o grego das escrituras hebraicas, trabalho que é conhecido como os Setenta. É possível que houvesse um plano para reunir toda a sabedoria do mundo num só lugar e numa só língua, sendo esta o grego e o lugar, a grande biblioteca de Alexandria. Infelizmente, essa biblioteca foi depois destruída; podemos apenas especular sobre o que poderia haver ali. (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, gestor em RH e Gerente administrativo. Autor de 14 livros publicados: "Hóspede da Terra, Passageiro do Mundo", "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras Editora, entre outros. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - email: es.escritor1199@gmail.com

quinta-feira, 24 de junho de 2021

"SUMMER OF'42"... INFINITAS ASAS DE SAUDADE! (*)

Há 90 mil filmes sobre o rito de passagem da adolescência para a maturidade, o fim da inocência infanto-juvenil, isso que em inglês chamam de coming of age, que é praticamente um gênero do cinema de Hollywood. Este filme aqui é dos mais belos, mais delicados de todos. É um filme simples, despretensioso; deve ter tido um orçamento baixo, inclusive – embora seja uma produção de um grande estúdio, a Warner, tem todo o jeito de uma produção independente. Tem uma única locação – uma praia, uma pequena cidade numa ilha, que não se diz qual é. O elenco, pequeno, não tem nenhum astro. O diretor, Robert Mulligan, que eu particularmente adoro, é experiente, mas nunca foi badalado, jamais chegou a ser considerado muito importante. A única pérola vistosa do filme – além da beleza radiante, solar, mesmerizante de Jennifer O’Neill, uma bela mulher que nunca chegou propriamente a ser uma estrela – é a trilha sonora, feita pelo francês Michel Legrand, um dos maiores compositores do cinema. O tema principal, romântico, nostálgico, melancólico, caiu no gosto popular, está em diversas coletâneas de temas de filmes. E foi o que aconteceu também com o próprio filme. Caiu no gosto das pessoas; virou não propriamente um cult, porque cult a rigor é filminho metido a besta que agrada a uma patota, um grupo, uma tribo; virou um clássico, um pequeno novo clássico. O filme abre com cenas da praia da ilha – uma praia, a rigor, sem nenhum charme, nenhuma beleza especial, ainda mais para nós, brasileiros. A areia é daquelas escuras, que parecem sujas, a vegetação se intromete em trechos da areia, há pequenos morros, elevações bem junto ao mar. Bem, mas então temos cenas da praia, e a voz de um adulto em off contando que passou um verão ali com a família e com os dois maiores amigos, Oscy e Benji. Vemos, então, os três garotos, de uns 15 anos de idade, andando pela praia – Hermie, o que viria no futuro a ser o adulto que nos narra a história, Oscy e Benji, interpretados respectivamente por Gary Grimes, Jerry Houser e Oliver Conant. E aqui vem o primeiro de um dos muitos acertos do diretor Mulligan. Os três atores escolhidos são gente bastante comum; não são bonitos, nem atléticos, nem nada especial. Nada de gente especialmente bonitinha, como em tantos filmes para adolescentes dos últimos tempos. Gary Grimes, que faz Hermie, é magrelinho, com o cabelo um tanto anelado, com um pequeno topete, com um rosto normal, nada hollywoodiano ou global, assim como os dois outros. Jerry Houser, que faz Oscy, é meio gordinho; Oliver Conant, que faz Benji, usa grandes óculos. Os três garotos são um tanto desengonçados; Hermie é um tipo mais introspectivo, mais pensativo; Oscy é o falante, expansivo, comunicativo, metido a sabichão; Benji é tímido, desajeitado. Três garotos absolutamente comuns, normais. E então, enquanto vemos os três garotos se aproximando de uma casa simples de madeira no alto de uma pequena colina debruçada sobre o mar, e, diante dela, um jovem casal apaixonado, o narrador está dizendo o seguinte: “Nada desde aquele primeiro dia em que a vi, e ninguém que conheci depois, foi tão amedrontador e perturbador. Porque nenhuma pessoa que conheci a vida inteira fez tanto para me fazer sentir mais seguro, mais inseguro, mais importante, e menos significativo.” Os três meninos estão naquele ponto exato da vida em que tudo é sexo, mulheres, sexo, mulheres, sexo. A câmara caminha pela praia com eles, numa das primeiras seqüências do filme, no meio daquele mar de mulheres expostas ao sol – e os meninos estão no auge da excitação, do tesão. Oscy é o direto, o explícito; Hermie é curioso, mas um tanto mais recatado; Benji é o tímido. Num passeio, Hermie vê a jovem mulher da casa da colina se despedindo do marido, que, de uniforme militar, pega um barco para o continente. De uniforme militar. O verão é o de 1942. Em dezembro de 1941 tinha havido Pearl Harbor, e os Estados Unidos estavam na guerra contra o Eixo Alemanha-Itália-Japão. Oscy ri de Hermie, diz coisas do tipo, mas ela é velha demais! Mas também o incentiva: mulheres mais velhas sempre querem. Um dia, a jovem mulher da casa da colina vai à cidadezinha fazer compras, deixa cair os pacotes, Hermie corre para ajudá-la. O filme tem uma série de seqüências marcantes, inesquecíveis. Essa seqüência em que Hermie, querendo dar uma de maduro e forte, se dispõe a carregar os pacotes da jovem mulher até a casa dela; a tentativa de estabelecer um diálogo – sem qualquer assunto que possa uni-los – é uma maravilha, uma delícia. A seqüência em que Hermie volta à casa da jovem mulher, a convite dela, para ajudá-la a guardar no sótão umas caixas pesadas de coisas de que ela não precisa muito – ela sobe na escada, com um short e uma blusinha curta, e ele e a câmara ficam embaixo olhando para as pernas dela; quando é a vez de ele subir a escada, as pernas estão bambas, ele treme inteiro. Uso a expressão jovem mulher porque só bem mais para o final Hermie consegue perguntar a ela seu nome. É Dorothy. Dorothy – como a personagem central de O Mágico de Oz, o filme sensação de três anos antes da ação. Um nome simples, comum, como tudo o que acontece neste filme. A seqüência da ida ao cinema, em que Oscy descola um grupo de garotas, e lá vão eles, Oscy com uma loura chamada Miriam (Christopher Harris), Hermie ao lado de uma morena chamada Aggie (Katherine Allentuck)… Que maravilha de seqüência! Lá fora do cinema, há cartazes de Tragédia no Circo/The Wagons Roll at Night, com Humphrey Bogart, e Sargento York, com Gary Cooper. O filme que está passando é A Estranha Passageira/Now, Voyager, com Bette Davis e Paul Henreidt – e o espectador vê duas ou três seqüências do filme, que ocupa a tela inteira. O espectador vê mais do filme que está passando no cinema do que Oscy e Hermie, mais preocupados em tentar bolinar as garotas no escurinho do cinema. E a seqüência da ida à farmácia para comprar camisinha… De novo, que maravilha de seqüência. Mulligan alonga aquilo, não tem pressa alguma para terminar. É uma coisa boba, mas ao mesmo tempo é uma coisa importante para os garotos – e assustadora, apavorante. As carinhas que Hermie faz; a cara do vendedor… Maravilhosa seqüência. A mais bela de todas virá quase ao final, o clímax do filme. Lindíssima, lenta, suave, profundamente triste. A câmara em travelling dando a volta de 360 graus na sala da casa de Dorothy, suavemente; sinais de muitos cigarros fumados, bebida. Que coisa absolutamente maravilhosa. Essa despretensão toda, essa beleza simples, econômica, suave, muito doce e muito amarga, seria recompensada com quatro indicações ao Oscar. Michel Legrand levou a estatueta de trilha sonora; as outras indicações foram para a fotografia – bela, mais em tons pastel, enevoada, que esplendorosamente colorida, de Robert Surtees -, a montagem de Folmar Blangsted, e o roteiro original para Herman Raucher. Herman – repare-se o nome do sujeito. Herman, Hermie. O filme teve ainda indicações para o Globo de Ouro e o Bafta; ao todo, foram quatro prêmios e dez outras indicações. Foi a quarta maior bilheteria daquele ano de 1971, depois de O Violinista do Telhado, Billy Jack e Operação França e à frente, veja só, de Diamonds Are Forever, a aventura de James Bond ainda na pele de Sean Connery. Rendeu US$ 20 milhões só nos Estados Unidos. É o que consta no livro The Hollywood Reporter Book of Box Office Hits. O livro conta que Jennifer O’Neill havia sido modelo e tinha aparecido em muitas capas de revista; fez alguns papéis secundários a partir de 1968, mas “seu papel em Summer of ’42 levou-a ao estrelato”. Hum… Nem tanto estrelato assim. Entre 1975 e 1978 ela fez quatro filmes na Itália; o mais importante deles foi O Inocente, do mestre Luchino Visconti. Estrelou Scanners, de David Cronenberg, em 1981, e depois fez muita coisa para a TV. Continua na ativa – nascida em 1948, estava portanto com 23 quando fez este Summer of ’42 –, mas, pelo jeito, não voltou a fazer nada à altura de sua estonteante beleza. Ah, sim: por um acidente geográfico, Jennifer O’Neill nasceu no Rio de Janeiro, filha de uma inglesa e um descendente de irlandeses e espanhóis; foi criada nos Estados Unidos. O iMDB informa que ela se casou nove vezes. (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, biógrafo, crítico de cinema, economista, contabilista e gestor em RH. Autor de 15 livros publicados: "Hóspede da Terra, Passageiro do Mundo", "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, entre outros. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - email: es.escritor1199@gmail.com

domingo, 20 de junho de 2021

SÍNTESE GENEALÓGICA DA FAMÍLIA SANT'ANNA DE PARACATU (MG)

1 Diplomata, 1 Ufólogo, 1 Nutricionista internacional, 7 Escritores, 6 Jornalistas, 3 Romancistas, 6 Artistas plásticos, 8 Fazendeiros, 6 Educadores/ Professores, 3 Poliglotas, 2 Prefeitos, 2 Economistas, 3 Administradores de Empresas, 2 Músicos, 1 Engenheira Florestal, 1 Bioquímico, 1 Engenheiro Agrônomo, 3 Advogados, 2 Atores, 3 Empresários e 1 Psicóloga; 4 Poetas, 1 Biógrafo, 1 Assessor de Comunicação, 1 Biógrafo, 1 Relações públicas, 1 Copidesque, 1 Agente literário, 1 Ensaísta literário, 1 Adesguiano, 1 Rosacruz, 1 Redator publicitário, 1 Revisor de texto, 1 Gestor de RH. Família que eu tenho o orgulho e a honra de pertencer. (Escritor/Jornalista/Ensaísta EUGENIO SANTANA - WhatsApp (41)9.9909-8795)

sexta-feira, 18 de junho de 2021

A INEVITÁVEL BREVIDADE DOS RELACIONAMENTOS (*)

Existem pessoas que parecem destinadas a ficarem juntas. Existem pessoas que parecem destinadas a se distanciarem. É triste, parece meio cruel, mas é verdade: infelizmente, nem sempre o amor é o bastante para que duas pessoas permaneçam juntas pelo resto da vida. Ninguém consegue explicar direito sentimentos, ainda mais aqueles que se relacionam com a paixão amorosa. Fato é que, de repente, lá estão se sentindo atraídas pessoas que poderiam já se conhecer ou mesmo nunca terem se visto antes. É química, é suor, é pele arrepiada, vontade de se ver, de conversar, de ficar junto. E daí ficam. Até aí, tudo bem, o duro é quando passam as horas, os dias, semanas, meses, e começa o cotidiano, a rotina, a mesmice. E começam os problemas que sempre aparecem na vida de todo mundo. Inevitavelmente, a paixão arrefece, enquanto os choques de realidade aumentam. O que era somente leveza começa a pesar. Ou se firma o amor, ou há desencontro. Na verdade, existem pessoas que se amam, mas não conseguem ficar juntas e não somente em uniões amorosas. Familiares, colegas, em todo tipo de relacionamento, pode haver amor e carinho envolvido, mas impossibilidade de convivência duradoura. Muitas pessoas possuem alguém de quem gostam bastante, mas com quem brigam muito. Dizem que o amor tudo suporta, porém, pessoas com visões de mundo muito dissonantes, com experiências e crenças que destoam demais daquilo em que os parceiros carregam dentro de si, dificilmente conseguirão conviver sem se cobrarem demais, sem se machucar, sem machucar um ao outro. Não conseguirão ficar juntas, sem anulação, ressentimento, frustração. Existem pessoas que são mais felizes longe de nós e também somos melhores longe delas. Nesses casos, teremos que ter a consciência de que a convivência nunca será pacífica e tranquila. Que tenhamos, pois, a maturidade necessária para entendermos que sentiremos falta de certas pessoas que já saíram de nossas vidas, mas será melhor ficar cada um no seu canto. (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, agente literário, biógrafo, copidesque, revisor de texto e gestor editorial. Autor de 14 livros publicados: "Hóspede da Terra, Passageiro do Mundo", "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, entre outros. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - email: es.escritor1199@gmail.com

terça-feira, 15 de junho de 2021

ESCRAVO, ENQUANTO ESCREVO... EU SOU UM BUSCADOR FRENÉTICO PELO SENTIDO DA VIDA (*)

Continuar escrevendo é buscar compreender a si próprio, trazer à vida as palavras que lhe consomem, as verdades tão relativas que permeiam a ilusão que é viver. Você vai continuar escrevendo por não conhecer uma maneira melhor de expôr seus demônios, não ter outra maneira lógica de expôr a miséria e a confusão em que se encontra. Tampouco consegue compartilhar os momentos de epifania, alegria intensa e aprendizado sem passar por palavras, por notas, por listas. Você vai continuar escrevendo para provocar, para permitir que as pessoas o entendam melhor. Vai compartilhar teus pensamentos na ânsia de que o outro te encontre no caminho — é sempre uma conversa. Acima de tudo, você vai escrever para entender quem realmente é. Você, ao escrever, vai passar a ver conexões entre coisas distintas, sinais nas pequenas coisas — tudo se torna uma metáfora, uma maneira de aliviar as dores e compreender o mundo. Escrever vai se tornar uma companhia para a vida toda, uma terapia, um escape. E a partir de então, já não importa mais o que os outros pensam ou dizem. Não importa se gostam ou não do que você escreve ou da maneira como se expressa. Ao escrever e se expôr, você estará sujeito a coisas maravilhosas e também à crueldade daquele que o lê. E vai se sentir mal muitas vezes, vai pensar que talvez não devesse ter escrito aquilo, vai perceber que não há para onde correr. Você vai estar ali, em medidas diferentes e mesmo que insignificantes, sendo julgado a todo o tempo. A gramática, aquela palavra repetida, aquele pensamento, todos aqueles clichês: tudo isso saltará aos olhos dos mais atentos, dos mais críticos. E ainda assim, nadando contra a maré, você continuará escrevendo. Vai continuar por saber que não vai ficar rico com isso e, por assim ser, ou você escreve porque gosta ou enterra logo tudo isso. A recompensa parece não vir nunca, mas você vai ler o que escreveu há anos — primeiramente vai se envergonhar de tudo aquilo — e depois vai refletir sobre quem era e quem se tornou. Vai pensar se lá no passado você já dava indícios de que seria quem é hoje. E assim prosseguirá juntando frases, tentando dar sentido às coisas. E vai perceber que a busca por palavras te leva a lugares que talvez nunca iria se não fosse pela escrita. Vai perceber que a poesia, a prosa e os textos que fazem parte da sua vida estão por toda parte. Nas ruas, nas esquinas, nas pessoas que encontra, nos caminhos e cidades que ainda irá explorar. Se há algo que a escrita requer é experiência, é vida, é estrada e pessoas. Ainda que o processo seja extremamente solitário, dolorido e indulgente, ele requer experiência humana. Ele requer que sejamos, acima de tudo, um colecionador de vidas, de pessoas que passam por nós e nos fazem lembrar que viver é difícil mas vale a pena. Pessoas que talvez vão mudar nossas percepções sobre determinado tema, nos fazer refletir sobre coisas que talvez nunca pensamos antes. E é ai que está a beleza de escrever. As histórias nascem a partir de nós mesmos, de nossos questionamentos, de nossas vivências. Escrever é um atestado da fragilidade humana, do encantamento que temos por nós mesmos, seres tão iguais e tão diferentes ao mesmo tempo. Ter descoberto a escrita tão cedo adicionou à minha existência quartos que posso acessar a qualquer momento. Alguns são escuros, outros parecem receber a luz do nascer do sol, meio amarelada, que nos cega até que nos acostumemos a ela. Escrever não é fácil quando o que se está em em jogo é uma busca frenética pelo sentido da vida. Eu não entendo o mundo, não entendo a vida, sequer entendo a mim mesmo. Neste sentido, acho que escrever é também perder-se, mais do que se encontrar. É embaralhar o quebra-cabeças simplesmente porquê tudo aquilo que você julga saber não passa de ilusão. E assim você se refaz, reescreve, anota, deixa o papel em branco marcado de tinta para que não se esqueça jamais de que as coisas são passageiras. A palavra será sua melhor companhia nos dias solitários, nas manhãs enquanto toma café, nos bancos das praças e voos longos. É a partir dos livros, dos textos, do que os outros escreveram, que você irá encontrar razão para continuar escrevendo. E não se torture muito. Lembre-se que você escreve a partir de suas próprias circunstâncias e, por isso mesmo, não deva se comparar demasiado com os outros. Não é preciso querer ser como determinado escritor, mas é importante invejá-los e tentar absorver um pouco de cada um deles. No final das contas, escrever será um exercício para toda a vida. Uma necessidade, uma pedra a ser polida — cada dia melhor, cada vez mais próximo de como você realmente deseja escrever. E talvez você nunca se satisfaça com o texto, com o tom que dá às palavras. Desde que isso não lhe impeça de escrever, tudo bem. Hoje, andando sozinho pela cidade tive algumas ideias e uma ou outra conversa que com certeza renderia um bom texto. Mas ao invés de escrevê-las resolvi tentar entender a razão pela qual escrevo e quando tudo isso começou, de fato. Tomava meu café enquanto tentava voltar no tempo e ter algum resquício de memória sobre quando, de fato, comecei a escrever. Por que continuar a escrever? O que te move até as palavras, as frases, as metáforas? Por que você leva isso a sério? O que você ganha com isso? Escrevo para me encontrar e me perder, para salvar histórias, capturar pessoas e lugares. Escrevo para entender e confundir, para dar um sentido narrativo à minha vida. E continuarei escrevendo, por mais dolorido que seja, ainda que precise vencer todo e qualquer crítico e, principalmente, a mim mesmo. E você vai continuar escrevendo porquê escrever é, acima de tudo, viver. Encha-se de vida e continue. (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, agente literário, biógrafo, copidesque, revisor de texto e gestor editorial. Autor de 14 livros publicados: "Hóspede da Terra, Passageiro do Mundo", "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, entre outros. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - email: es.escritor1199@gmail.com