quinta-feira, 24 de abril de 2025
CAÇADOR DO DESENCANTO (*)
Um homem calado, de olhar perdido e vago desce do automóvel e senta-se à mesa do Bar. Em cada canto vê desfilar os fragmentos que foram o microcosmo de sua vida atormentada. Com as mãos sobre a mesa, pede uma bebida qualquer e começa a recordar. Assiste o desfile das cenas dos velhos tempos. No olhar inexpressivo, delineia-se uma ponta de amargura, e a dor perpassa as barreiras do coração: sentimento de angústia na asa da saudade e da memória. Visão da janela do casarão: vilas perdidas, de casinhas brancas e portais azuis, perdidas nas asas do tempo e da recordação tardia. Cicatrizes contundentes na alma provocara aquele antigo amor. Quisera fosse quimera e jamais uma obstinação. Hoje vem reaver pedaços de si que deixara nesta rua, nesta cidade, nesta mesa de Bar. Tentativa inútil de recompor a
vida que se fora e se perdera nos labirintos de tarântulas e nos
túneis azulados de uma existência de névoas e neblinas. É como seu eu estivesse, novamente, apreciando a arquitetura gótica de Barcelona... Há anos guarda consigo estilhaços daquele estranho e
perdido amor. O ser amado se fora como os peixes que se vão e se perdem nas enchentes de imensos rios.
O homem cabisbaixo termina a bebida e pára a reflexão como num breve sussurro do vento. Sorvera doses em goles de velhas e carcomidas lembranças, arraigadas no passado recente, já que a vida é feita mesmo de chegadas e partidas. perdas e ganhos. Despede-se do amigo do Bar num aceno que traduz alívio, alento, serenidade e repentina paz interior. Entra no automóvel e ganha o calor da rua central. Nas Asas da Noite Imensa, difusa e misteriosa, desaparece a figura algo lírica e mitológica de um Caçador do Desencanto!...
(*) EUGENIO SANTANA é filósofo, jornalista, escritor, ensaísta e consultor em gestão de pessoas/RH . Membro efetivo e co- fundador da ALNM – Academia de Letras do Noroeste de Minas, cadeira 2. Sócio correspondente do Centro Artístico e Literário de Portugal; Autor de 20 (vinte)livros publicados, inclusive a Biografia "João de Deus – o paranormal de Abadiânia". E do best-seller, "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora/SP. WhatsApp (62) 99635-8005
segunda-feira, 21 de abril de 2025
A BELEZA TORNA ALEGRE A MINHA SOLIDÃO (*)
Parece que há em nós cantos sombrios que toleram apenas uma luz bruxuleante. Um coração sensível gosta de valores frágeis. Entre as muitas coisas profundas que Sartre disse, esta é a que mais amo: “Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”. Pare. Leia de novo. E pense. E reflita. Você lamenta essa maldade que a vida está fazendo com você, a solidão. Se Sartre está certo, essa maldade pode ser o lugar onde você vai plantar o seu jardim. Nietzsche também tinha a solidão como sua companheira. Sozinho, doente, tinha enxaquecas terríveis que duravam três dias e o deixavam cego. Ele tirava suas alegrias de longas caminhadas pelas montanhas, da música e de uns poucos livros que ele amava. Eis aí três companheiras maravilhosas! Vejo, frequentemente, pessoas que caminham por razões de saúde, incapazes de caminhar sozinhas, vão aos pares, aos bandos. E vão falando, falando, sem ver o mundo maravilhoso que as cerca. Falam porque não suportariam caminhar sozinhas. E, por isso mesmo, perdem a maior alegria das caminhadas, que é a alegria de estar em sintonia com a Natureza. Elas não veem as árvores, nem as flores, nem as nuvens, nem sentem a asa do vento acariciar o rosto. Que troca infeliz! Trocam as vozes do silêncio pelo diálogo prolixo e vulgar. Se estivessem a sós com a natureza, em silêncio, sua solidão tornaria possível que elas ouvissem o que a natureza tem a dizer. O estar juntos não quer dizer comunhão. O estar juntos, frequentemente, é uma forma terrível de solidão, um subterfúgio para evitar o contato com nós mesmos. Sartre chegou ao ponto de dizer que “o inferno são os outros”. Eis o que Nietzsche escreveu sobre a solidão: “Ó solidão! Solidão, meu lar!... tua voz – ela me fala com ternura e felicidade! Não discutimos, não queixamos e muitas vezes caminhamos juntos através de portas abertas. Pois onde quer que estas, ali as coisas são abertas e luminosas. E ate mesmo as horas caminham com pés saltitantes. Ali as palavras e os tempos, poemas de todo o ser se abrem diante de mim. Ali todo ser deseja transformar-se em palavra, e toda mudança pede para aprender de mim falar”. Rainer Maria Rilke, um dos poetas mais solitários e densos que conheço, disse o seguinte: “As obras de arte são de uma solidão infinita”. E na solidão que elas são geradas. Foi na casa vazia, num momento solitário, que o operário viu o mundo pela primeira vez e se transformou em poeta. O primeiro filósofo que li, o dinamarquês Soeren Kierkegaard, um solitário que me faz companhia ate hoje, observou que o inicio da infelicidade humana se encontra na comparação. Experimentei isso em minha própria pele. Foi quando eu, menino do interior de uma cidadezinha de Minas Gerais, me mudei para o Rio de Janeiro que conheci as dificuldades. Comparei-me com eles: cariocas, perspicazes, bem falantes, ricos. Eu diferente, sotaque ridículo, gaguejando de vergonha, pobre: entre eles eu não passava de um patinho feio que os outros se compraziam em bicar. Nunca convidei nenhum deles a ir onde eu morava: no apartamento do meu tio, na Rua Senador Vergueiro, no bairro do Flamengo. Eu não me atreveria. Conheci, então, a solidão. A solidão de ser diferente. E sofri muito. Nem sequer me atrevi a compartilhar com meus pais esse meu sofrimento. Seria inútil. Eles não compreenderiam. E mesmo que compreendessem, eles nada podiam fazer. Assim, tive de sofrer a minha solidão duas vezes sozinho. Mas foi nela que se formou aquele que sou hoje. As caminhadas pelo deserto me fizeram forte. Aprendi a cuidar de mim mesmo. E aprendi a buscar as coisas que, para mim, solitário, faziam sentido. Como, por exemplo, a música clássica, a beleza que torna alegre a minha solidão... Sofra a dor real da solidão porque a solidão dói.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, biógrafo, redator publicitário, copidesque, revisor de textos e relações públicas. Sócio da Academia de Letras de Uruguaiana-RS, colaborador da ADESG-DF – Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, Comendador (honorário) da Ordem Ka-huna do Poder Mental, membro ativo e grau superior da AMORC – Ordem Rosacruz. Autor de nove livros publicados e detentor de dezoito prêmios literários, em âmbito nacional. Autor CONTRATADO pela MADRAS Editora, de São Paulo.
sexta-feira, 18 de abril de 2025
MAR DE VIDRO (*)
Ao concluir a leitura de “Imitação de Cristo”, de Tomas de Kempis, livro publicado por volta de 1480 e, para minha surpresa, o autor da apresentação informa que depois do Livro da Vida, a Bíblia, fica em segundo lugar no ranking dos leitores cristãos.
Até o Capítulo concernente ao Apocalipse, terminei a leitura ontem. Eu prometi a mim mesmo que faria essa leitura e posterior reflexão há mais de 25 anos. Há evidências inquestionáveis com o caos em que estamos mergulhados e não sei se existirá saída para essa situação-limite.
Afinal os escritores que se prezem têm a obrigação de ler os Clássicos: Dom Quixote, Shakespeare, Spinoza, Aristóteles, Machado de Assis, Ruy Barbosa, James Joyce, Érico Veríssimo, Rousseau, Goethe, Voltaire, entre outros.
Quando eu tinha cerca de 37 anos eu prometi: “se acontecer isso comigo, a vida acabou para mim”. Eis o fim. E há três dias o fato efetivamente aconteceu de maneira covarde, selvagem e cruel.
Por enquanto estou até o presente momento na plenitude da angústia, tristeza e depressão; e vem o sentimento de culpa e o remorso: porque eu fui àquele local. Não há desculpa e nem perdão, sou eu o culpado.
Em maio de 2011, minha mãe faleceu. Eu senti que, visceralmente, 50% de mim foi enterrado junto com ela: a mãe-amiga, confidente, a mãe que, sobretudo, por meio de suas orações intermináveis me protegia porquê sei que Deus a ouvia e atendia suas preces e novenas, principalmente, quando eu pegava a estrada de Anápolis ao Rio de Janeiro para trabalhar como jornalista (Superintendente de Imprensa), dirigindo sozinho o meu próprio carro. Sei que passei por situações graves na estrada mas, a minha fé no Senhor Jesus e São Judas Tadeu, evitaram graves acidentes.
Agora depois deste episódio recente, não sei se zerei a minha vida, após os 50% que deixei enterrados no túmulo de minha mãe. Agora, hoje, aqui talvez eu tenha apenas 9% para resgatar tantos karmas acumulados na contabilidade espiritual.
Há, até hoje, o mar morto... e sei por meio de fonte fidedigna que este mar jamais morreu... as suas águas são grossas e rasas.
Dizem que os homens de letras que assumem uma cadeira numa Academia de Letras, torna-se, automaticamente, “imortal”. Fico feliz por esta imortalidade ter acabado: num gesto extremista, xiita e radical, a nova presidenta demitiu todos os escritores que não têm residência fixa em Paracatu, MG.
O ser humano não tem credibilidade, são mutantes, atendem apenas aos seus interesses próprios que os benefície. Em 1997 quando fui convidado a compor o quadro de membros efetivos daquele sodalício, só haviam 7 (sete) escritores com livros publicados; um deles sou eu. Vocês da diretoria atual e anterior, são seres abjetos, arrivistas, interesseiros e sem caráter, tal como macunaíma.
Estou com um portfólio e/ou dossiê para entrar na justiça e condená-los pelo ato espúrio e ilegal. Um membro quando é empossado numa Academia de Letras, justamente por ser considerado “imortal”, ele só pode ser afastado por um único motivo: quando morre.
Hoje, quando eu me lembro que, com 13 anos meus pais mudaram para Anápolis, com todos os meus irmãos, foi a melhor decisão que eles tomaram. Ambos sabiam que essa cidade escravocatra é uma urbe de fofoqueiros, invejosos, falsos, cruéis com os trabalhadores, invejosos e medíocres; hipócritas. Joaquim Barbosa, um filho ilustre?! Definitivamente mostrou, recentemente, que não é um homem confiável, uma raposa interesseira e aparece na mídia para emitir opiniões contraditórias, covardes e equivocadas.
Quando eu ia lançar meus livros, um tapete vermelho era estendido. E elogios de toda ordem. Quando publiquei, em 2006, o “Crepúsculo e Aurora”, tive a presença ilustre do Prof. Químico, Empresário, cientista político e escritor Osvaldo Costa. Por incrível que pareça, ele nasceu em Paracatu e morava também há muitos anos em Anápolis, onde dirigia o seu próprio laboratório na rua 7 de setembro.
No discurso do amigo Osvaldo Costa algo me surpreendeu pela sua generosidade e autenticidade, num trecho do discurso”: “Paracatu deve muito ao escritor Eugenio Santana!”
Tenho enorme saudade da infância naquela cidade que tive a felicidade de nascer: a infância, com meu irmão Eustáquio, irmã Maria Lúcia e, especialmente, Maria das Graças, que me acompanhava pelos arredores da cidade, principalmente junto a Natureza, já que eu gosto dos pássaros e da pesca.
E quanto ao Mar Morto? Será um Eugenio Santana ignorado, esquecido, abandonado e vivendo o seu mais elevado ostracismo? Restará os 9%? Creio em Milagre e Superação mas, confesso que a minha resiliência está lá embaixo num vale de difícil acesso.
Mar de vidro... minha danação? Tive muitos cortes, nos braços, pernas, mãos, dedos, joelhos, pés e na alma e no coração. Feridas agudas, quase irremoviveis.
Aprecio tanto as águas correntes... das fazendas esvoaçantes que, obstinadas, não me saem da lembrança: “Fazenda Aldeia de Cima”, do meu avô materno José Ulhoa Santana, onde nasci e depois desfrutei, do mesmo avô, a fazenda “Forquilha” e mais tarde, a “Fazenda Rio das Pedras”, em Pirenópolis... o período mais feliz do meu pai e de minha mãe...
Paracatu, sequer tenho o seu retrato na parede, como diria Drummond.
Em Anápolis, fiquei morando sozinho aos 16 anos e conquistei nesta mesma idade o primeiro emprego de auxiliar administrativo; aos 18, fui promovido a Chefe Administrativo do Grupo Empresas Constante; terminei o ginásio e o segundo Grau aqui na querida Anápolis e já com a tendência natural para a escrita, foi nesta cidade em que publiquei o meu primeiro texto no jornal “Correio do Planalto”.
Por baixo do “Mar de Vidro” existe um oceano paralelo: medonhos animais marinhos; e indescritíveis feras, tais como Vespa-do-mar, Serpente marinha, Peixe pedra e Polvo-de-anéis-azuis.
Quem sabe o “meu mar de vidro”, venha a ser o meu sombrio oceano de dentro?
O “mar de vidro” oportunizou que eu passasse por quase todos os sofrimentos: expectativas inúteis, adversidades, frustrações, sonhos inalcançáveis, convicções mutiladas, incertezas, solidões, torturas físicas e morais, saudades de filhos/filhas biológicos? Resta o moço-velho esquecido mergulhado no ostracismo tal qual Rimbaud na Abissínia, E.M.Cioran exilado em Paris; e, por fim, vejo Edgar - O Allan Poe - sussurando Lenora, Lenora e na janela pousado, o Corvo - com olhar melancólico. Assim como nasce, o ser fenece como o Crepúsculo e a Aurora embora eu tenha dúvidas sobre a imortalidade da alma. Holístico, tenho a face da Natureza humana tatuada em meus olhos embaçados. Ajoelho e choro. Oro. Sei que o Arquétipo de Hórus é meu seguidor e me persegue uma vontade irresistível de voar e transcender. Gratidão à Terra pelo retorno ao pó...
O “mar de vidro”, em 9% de vida, talvez me dê dicas sólidas de errar menos e acertar mais, assertividade, humildade, paciência, gratidão e jamais revidar ofensas e calúnias.
Que o “mar de vidro” me permita o Voo para o Céu...
Afinal, uma das coisas mais belas da vida é olhar para o céu, contemplar uma estrela e imaginar que muito distante existe alguém olhando para o mesmo céu, contemplando a mesma estrela e murmurando baixinho: "Que Saudade!”
A Cura do Mundo está na união de amor entre os Céus e a Terra – um pertence ao outro, um é parte do outro, como um todo, inseparável.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, filósofo, jornalista, gestor editorial e ensaísta. Autor de 20 (vinte) livros publicados. “Ventos fortes, Raízes profundas”, madras editora, entre outros. Ganhador de 18 prêmios literários de projeção nacional. Email: es.escritor1199@gmail.com - (62) 99635-8005 WhatsApp
sexta-feira, 4 de abril de 2025
O ESQUECIDO
Chega o Ciclo, provavelmente, o último. Eis um novo cenário. a peça teatral é a mesma, o protagonista, idem. E começamos, inevitavelmente, a gritar em silêncio, a manifestar-se em desacordo, o contraditório, (sutil) da frieza humana. E nas últimas três décadas o aumento (inacreditável?) de "pet shops"... E Saramago? Me salve, por favor! Da vida ávida, insossa, sem sabor: indolor, a física dor e moralmente sentimos tropeços lancinantes; dores na alma... Vai passar? E daí? Apenas, cinzas, névoas, neblinas e fascinação pelo insólito? Sigo assim, o mineiro-menino, moço-velho... Agora? Sem iusões, utopias e muito menos o sonho de consumo do "Santuário dos Pássaros"... Nesse "Ciclo", perdi os círculos rosacruzes, maçônicos, católicos, kardecistas, daimistas etc.
Resta o olhar vago e o andar lento e trôpego.
Minhas três referências? Foram enterradas e seus túmulos? Não visitados pelo velho andarilho da "florestrela": Pai Fabião, mãe Adília e o meu padrinho literário, "meu velho guru",meu melhor amigo, fráter cósmico Paulo Nunes Batista.
Os três fazem tanta falta ao Planeta blue e, especialmente, ao meu coração. O fator trino, minha trilogia desfeita no que restou de mim. Um homem fragmentado. Machucado em suas próprias feridas e armadilhas promovidas pelo "si mesmo", Silêncio e Aurora e o meu Crepúsculo (minha página crepuscular), inauditas vozes silentes... E por quê sofremos? E tanto medo? E receio e incuráveis dúvidas. Não obstante, a vastidão de experiências e conhecimentos!
De empresário editorial, dono de revista e jornal; eis-me aqui: operário industrial. Aposentei-me de mim? E por que tanto desapego antes da reta final? Concordo com o vale de lágrimas da poeta Adélia Prado, um misto de São Francisco de Assis (um dos maiores representantes de Cristo Jesus) e, por fim, santa Teresa de Calcutá: "O que importa não é entre você e o povo mas, entre você e Deus - O Altíssimo. Me apego. Apago? Oro. Choro. E lembro há tanto tempo de meus devaneios com Hórus - o filho de Ísis e Osires, meu Egito de Luzes e sombras na história humana; greco-romana.
Eu me recordo mais da fazenda "Aldeia de Cima" que me basta. Paracatu? Já superei. Quando colaborei com a criação fundação da ALNM - Academia de Letras do Noroeste de Minas... Fui usado até ao ponto em que, com o passar dos anos, não fui mais útil. Ainda que, ocupei a cadeira número 2, acadêmico empossado em 20 de outubro de 1997, um dia antes de papai ir para o Plano Infinito. Drummond? Fez bem em não aceitar o convite! Guimarães Rosa? Aceitou! E três dias depois, estava morto! Senhores acadêmicos medíocres e hipócritas: não há imortalidade. Nesse sentido, e sem academicismo espúrio, deixei um legado: a publicação do meu livro de autoajuda e meu único best seller, encontrável em todo o país, mormente nas Capitais, "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras Editora, São Paulo, capital.
Agora? A tela branca e as letras escuras em meu notebook, ouvindo Debussy. Avoé, São João da Cruz e a sua inquietante "Noite Escura da Alma", transformada em música pela notável Loreenna, de descendência celta.
A noite chega. E amanhã eu trabalho. Labor? Lembro Rimbaud. Sonhos azuis? Pouco provável. Sonhando com a minha trilogia "mágica", já é um enorme ganho insólito e inigualável. Um prêmio inesperado da "mega" da virada. Seres na Luz compõem a minha sinfonia do inefável! Gratidão a Adília Santana, Fabião Couto e Paulo Nunes Batista. Protagonistas. Sei que eu também tenho o direito de embarcar na Nave-Mãe, eternamente anonymmous e coadjuvante.
(Escritor/ jornalista/filósofo Eugenio Santana, FRC)
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025
NASCI PARA AMAR OS OUTROS E ESCREVER...
Necessitamos dar sentido à vida ávida para que o medo da velhice não nos aterrorize. Volto às emoções precárias. O medo da velhice vai chegar a algum momento para cada um de nós. Na minha modesta opinião, não há como trancar a porta e perder a chave. Ele virá quando menos se espera. Uma amiga, Nazareth Oliveira, que falava compulsivamente sobre a velhice, não tinha sequer 60 anos. Mas o medo chegou, voraz. E agora, Maria? Parafraseando Drummond. E agora? O que se faz com esse medo incontrolável de envelhecer? Lamentar o tempo que se foi e temer o que há de viver, ou viver sem pressa, reformando o novo lar? Não quero parecer ingênuo, mas não podemos fazer concessões a essas emoções fugazes. Que venham, já que virão. Mas que nos encontrem dispostos a dar significado aos nossos encontros nas varandas que se abrem para aqueles que não temem a novidade do encontro e do recomeço. Chegadas e partidas. O livro de Tolstói está aí, solitário em alguma livraria, no meio de tantas guerras que travamos com as nossas emoções precárias. Clarice Lispector confessou certa ocasião que havia nascido para três coisas: "Nasci para amar os outros, nasci para escrever e nasci para criar meus filhos". Incluindo os livros, grifo meu. E prosseguiu: "As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca." O tempo é como um rio que inexoravelmente ruma ao mar. E o rio às vezes frequenta cenários exuberantes e não pode parar, nem assim, para contemplá-los melhor; outras vezes penetra em paragens enigmáticas e tem de percorrê-las sem o poder da pressa. É o curso. É o tempo, é o espaço. Penoso e feliz. Desconhecido. O dia é uma página em branco que escrevemos. E o outro dia haverá de vir com a mesma fome de palavras de luz, de atitudes altruísticas. O medo não pode nos roubar a tinta, a inspiração, o texto já elaborado na tela mental. A vida segue o seu rumo, inapelavelmente. Qual a melhor idade? Talvez aquela que supera o medo de ter qualquer idade. E, se não vencê-lo, que tenha a coragem de enfrentá-lo com esperança e fé. A esperança reacende a chama do comprometimento com o outro. É o outro, com suas imperfeições, limitações, fraquezas e estranhamentos, que reanima a minha existência no planeta-escola. Meu ofício de ESCRITOR é meu instrumento de vida. (Escritor/jornalista/ensaísta/filósofo EUGENIO SANTANA)
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025
BREVE VOO DO TEMPO (*)
Quanto tempo é para sempre? É o tempo em que ficamos ou a promessa de partirmos? É nunca mais; até à próxima, um instante? Um até já; um momento, um breve fragmento? É um raio de sol que nos cega num morno fim de tarde de Agosto? É a realidade captada pela tua lente: para sempre? É uma ausência que dói; uma gota que se faz mar; um acorde perfeito; uma sinfonia; um choro; um grito? É uma porta que fechas; mais um degrau que avanças; um capítulo encerrado num livro escrito pelo vento ou pintura improvisada na tela quente do teu corpo? Uma reta; uma espera; um passeio? A espuma do nosso banho; a chama daquela vela; a chuva a bater na janela? É a distância que a tua boca demora? Uma carta de despedida, escrita a tinta permanente? Uma árvore que plantas; uma estrela que prometes; uma nuvem que ofereces? Um poema roubado; um fim de tarde inventado? Um banco de jardim e um livro? São memórias, lembranças e histórias, bilhetes confessados em pedaços de papéis rasgados? Para sempre é o tempo suficiente; o tempo que não chega - o tempo que perdemos. Todo o tempo do mundo. Para sempre é um lugar onde moram as promessas, os planos, os sussurros, os pecados; nas madrugadas que não terminam, com corpos que não são nossos em vidas que não nos pertencem. Quanto tempo é para sempre? É hoje: agora - o presente.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, filósofo e gestor editorial. 20 livros publicados, entre os quais, o best seller, "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, São Paulo. (62) 99635-8005 WhatsApp
terça-feira, 11 de fevereiro de 2025
ROSTO DESFIGURADO...
Restam-me as mãos imensamente vazias. Resta-me o olhar preso ao horizonte onde não existe mais você. Resta-me um "Rosto Desfigurado", a lembrança de uma silhueta alta que comigo criou pedaços de vida, hoje soltos e jogados ao vento. Resta-me o olhar perdido, incontido a explodir migalhas. Fragmentada ausência de espaço físico de um ser amigo, chamado mulher. Mulher sensual dos vividos, sofridos e revisitados vinte e poucos anos... de solidão, repressão e implosão. Amalgamados nos sentimentos que exprimem e deprimem esse vai-e-vem inconstante: o amor. Resta-me a libido corroída, lasciva na dor da perda de um corpo, de um ser . Corpo no qual meu coração tentava criar asas para voar... voar... voar... Resta-me, no âmago, a saudade amordaçada, presa e vencida, inserida na dor da flor que murchou e dividiu nossos camnhos. Resta-me esse louco e incontrolável desencontro ou desencanto? ( by Eugenio Santana - In "Asas da Utopia", Santana Edições, Brasília-DF, 1992)
quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
SINFONIA INACABADA... (*)
Vivemos sendo colocados à prova. Dia sim, dia também, a vida nos cobra decisões, posições, atitudes. Escolhas feitas no passado, estão sempre prontas, transformadas em consequências e embrulhadas num pacote de presente a nos esperar, na próxima esquina, no travesseiro onde tentamos repousar nossas confusas cabeças à noite, no despertar da manhã.
Ao contrário do que vivemos querendo acreditar, muito poucas vezes nos cabe o papel de vítima. Em uma maioria esmagadora de vezes, o que nos acontece é fruto, consequência, resultado de nossos próprios atos, tenham sido eles gestos honrados, atitudes covardes ou rompantes de bravura. Nada é capaz de nos proteger de nós mesmos. Nada!
Viver não é um risco calculado. Está longe de ser um projeto idealizado. É a cada dia da vida, com pequenos passos e gestos miúdos que vamos delineando a nossa própria sorte. Construímos nossa história lá na frente com tijolinhos colecionados lá atrás. Juntamos aos tijolinhos, pedrinhas que colhemos no caminho; algumas escolhidas em momentos bem vividos, outras tantas atiradas sobre nós. E, o que dá a liga nessa sempre interminada obra, é a nossa essência, pautada em nosso caráter e moldada por nossa capacidade de interpretar cada obstáculo como um sedutor desafio.
E, a cada página escrita desse conto desconstruído, vamos nos vendo em pequenas frestas de luz e de sombras. Vamos experimentando a glória do protagonismo, a secundária presença do coadjuvante, a plácida alienação do cenário, a silenciosa participação dos figurantes.
O drama nos pega pelas veias mais intensas e nos confronta com a interpretação do real, inundando a tela de tons opacos e, ao mesmo tempo, carregados das cores primitivas das emoções que nos movem nas desencontradas melodias da vida.
E, entre notas, compassos, timbres e tons, não nos esqueçamos que a sinfonia pode sair completamente distorcida, caso descuidemos desse instrumento multiforme e perfeitamente arquitetado que nos serve de morada à alma. Olhemos para os nossos pés, com o devido respeito que merecem os alicerces. Contemplemos nossas mãos com a humilde reverência destinada aos milagres. Dediquemos aos nossos olhos e ouvidos a atenção devida aos portais de sabedoria. Que a nossa boca seja provida e provedora de delicadezas puras. Que nossa pele seja proteção e contato com o sentimento antes do toque. Que nosso prazer seja alimento e alento para nos ensinar que, ao nos diluirmos uns nos outros, é que nos reencontramos inteiros no líquido universal da vida.
E, então, talvez um dia, com todos nossos sentidos despertos e confessos, sejamos capazes de compreender que essa nossa transitoriedade é tanto assustadora quanto maravilhosa. Morremos um pouquinho a cada instante; a cada beijo de amor que nos rouba o fôlego; a cada desencanto que nos reduz a lágrimas; a cada limitação vencida que nos convence e insistir, persistir, superar. Que a nossa data de validade seja a nossa compreensão, enfim, de que é em nossa finitude que reside a razão de ainda estarmos vivos, e não apenas respirando.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, agente literário, biógrafo, copidesque , revisor textual e filósofo Rosacruz. Autor de 20 livros publicados, "Ventos fortes, raízes profundas", é o best seller, Madras editora, SP. (62) 99635-8005 WhatsApp e (62) 3311-5532 - E-mail: es.escritor1199@gmail.com
domingo, 1 de dezembro de 2024
SOMOS TODOS DIFERENTES
Contudo, paradoxalmente, um dos maiores desafios que enfrentamos em nossos relacionamentos é justamente o fato de diferirmos uns dos outros. Podemos perceber o mundo de várias maneiras. Um grande obstáculo com o qual certamente deparamos quando tentamos construir relações é o desejo, ou a expectativa, de que o outro pense do mesmo modo como nós, o que criaria maior afinidade entre as partes. Em geral nos sentimos mais confortáveis quando percebemos que o outro “entende” o modo como pensamos e compreende nosso ponto de vista. Todavia, se todos fossem iguais a vida do ser humano seria bastante monótona. E embora isso pudesse, a princípio, facilitar as coisas, a novidade dessa “igualdade” logo se dissiparia. Portanto, a despeito de ostentarmos personalidades distintas, o primeiro passo para construirmos relacionamentos é aceitarmos o fato de que todos nós somos realmente diferentes uns dos outros. Cada pessoa conta com seu próprio conjunto de pontos positivos e negativos. Neste sentido, será bem melhor e mais produtivo investir tempo e esforços no aprimoramento das próprias limitações, que desperdiçá-lo criticando características alheias. Também é fundamental nos concentrarmos nos pontos positivos das pessoas, e aceitarmos o fato de que para cada um deles sempre haverá um contraponto negativo. Focalizar as qualidades do ser humano, celebrá-las e inclusive alimentá-las, são maneiras de reforçar futuros comportamentos positivos. Muitos relacionamentos acabam pelo simples fato de as pessoas investirem tempo demais corroendo a autoestima alheia por meio de críticas negativas, e tentando fazer com que o outro se transforme em algo que não é. Também é crucial reconhecermos que, às vezes, o que não gostamos ou aceitamos no outro é justamente algo que não apreciamos em nós mesmos! (Escritor/jornalista/ensaísta EUGENIO SANTANA)
VÊNUS-AFRODITE
Conta o mito que Urano, o céu estrelado, e Gaia, a Terra, eram o casal primordial do mundo, tendo gerado muitos filhos. Urano, temendo ser destronado por algum deles, devolvia-os com rapidez ao ventre materno assim que nasciam. Gaia, cansada de parir incessantemente, conseguiu salvar seu filho caçula: Saturno (também conhecido por Cronos). Este, revoltado com a volúpia do pai, acabou por cortar os órgãos sexuais com uma foice. O esperma e o sangue de Urano caíram no mar, formando uma bela espuma branca, da qual se originou Vênus (ou Afrodite para os gregos).
Dentro de uma grande concha de madrepérola, essa divindade foi levada por Zéfiro, o Vento, sobre as ondas do mar até a ilha de Chipre.
Vênus (ou Afrodite) tornou-se conhecida na antiga Grécia não só por sua rara beleza, mas também por suas explosões de ódio e terríveis vinganças contra os que ousavam desafiá-la. Ela era a deusa do amor no sentido amplo da palavra, estando associada ao amor físico e carnal, e também a seu poder fertilizador e reprodutor na natureza em todas as suas manifestações: humanas, animais e vegetais. A preservação das espécies encontrava-se sob seu domínio. A chuva da primavera era o elemento fecundante enviado à terra por essa divindade. Outras deusas, de outras culturas, também tinham características simbólicas semelhantes à Vênus. São elas: Inanna na antiga Suméria; Ishtar na Babilônia; Lakshmi na Índia; e Ísis no antigo Egito.
O arquétipo de Vênus surgiu em todas as mitologias antigas como ícone da eterna feminilidade, representando desde sempre o tipo perfeito de beleza feminina. Dizem que Vênus era mãe de Eros, o deus do amor, que, com a evolução do mito, transformou-se em Cupido. Este é geralmente representado como um garotinho alado, que se diverte ao ferir o coração dos homens com suas flechas envenenadas de amor e paixão. Muito travesso e caprichoso, jamais cresceu, deixando sua imprevisibilidade e irracionalidade, muitas vezes marcadas nos corações apaixonados. Quem já ficou cego ou louco de amor bem conhece seu poder.
Eros na verdade é uma projeção de Vênus; vale dizer: ambos representam a mesma coisa. Neles estão simbolizados a força universal da atração, o desejo do amor, da relação e da comunhão amorosa. Seu poder é imenso, pois interferem na vida das pessoas e no destino do mundo. (Escritor/jornalista/ensaísta/filósofo EUGENIO SANTANA)
segunda-feira, 25 de novembro de 2024
ETERNO NO TRANSITÓRIO...
A VIDA É BREVE e tudo é passageiro. Tudo é lição. Cada dia abre novas possibilidades para o encantamento de quem olha a vida com mente arejada e coração esperançoso. Nesse mundo de vaidades efêmeras, rico é quem vê o Eterno no transitório. (Escritor/jornalista/ensaísta/filósofo Eugenio Santana, FRC)
domingo, 24 de novembro de 2024
PASSOU TUDO...
Sofrimento, remorso, expectativa, ilusões, crenças, convicções, incertezas, solidões, saudades. Resta o homem velho ESQUECIDO, abandonado, ignorado; mergulhado no ostracismo. Um Rimbaud na Abissínia, um E.M.Cioran exilado em Paris; e, por fim, vejo Edgar - O Allan Poe - sussurando Lenora, Lenora e na janela pousado, o Corvo - com olhar melancólico. Assim como nasce, o ser fenece como o Crepúsculo e a Aurora embora eu tenha dúvidas sobre a imortalidade da alma. Holístico, tenho a face da Natureza humana tatuada em meus olhos embaçados. Ajoelho e choro. Oro. Sei que o Arquétipo de Hórus é meu seguidor e me persegue uma vontade irresistível de voar e transcender. Gratidão à Anna Lopez. Gratidão à Terra pelo retorno ao pó?!... (Escritor/Jornalista/Ensaísta EUGENIO SANTANA)
sexta-feira, 22 de novembro de 2024
QUEM SOU EU? UM AUTOR VAGALUME! (*)
Para definir meu trabalho, preciso primeiramente saber quem é você. Se você é um amante da literatura, me apresento como escritor romancista, contista, poeta e cronista. Se é um empresário, sou um redator publicitário, Analista de negócios, Consultor em mídias sociais, Gestão de Pessoas/RH, Relações públicas, palestrante motivacional e Assessor de imprensa. Se tem uma grande história de vida que gostaria de compartilhar com outros, sou um biógrafo com toques sutis de melancolia e filosofia mística.
Iniciei meus trabalhos literários de forma efetiva, na década de 1980, escrevendo poemas, contos e crônicas para diversos jornais do país: de Porto Velho a Porto Alegre. Em 2010 criei o meu Blog "Guardião da Palavra", onde passei a publicar meus textos: crônicas, contos, artigos, silogismos, neuroforia, catarsis e ensaios, além de apresentar dicas, como Gestor da Hórus/9 editora, para escritores neófitos.
Inútil dizer onde vivo. Não sou capaz de morar mais do que cinco anos em uma mesma cidade. Um homem de chegadas e partidas. Um Andarilho da flor estrela... Aquele que deambula à sombra da inquietude. Fácil a estratégia inconsistente ao mencionar que sou jornalista profissional. Sei que, por meio desse argumento jamais consegui ser convincente. A estrada me encanta e fascina. E o "sabor" do Crepúsculo e da Aurora? Indescritível. Instigante!
Durmo de dia, escrevo a noite, e sonhos azuis e alados ocorrem em uni/versos paralelos e oníricos. Sei que já vivencio a Quinta Dimensão... Já quis viajar o mundo. Principalmente, morar no Egito, na França, na Espanha e na Alemanha. Já quis desaparecer. Perambulei a procura do meu "par ideal", e na volta, procurava por mim. Fiz boas ações. E algumas imbecilidades. Não insisto em ser, mas me orgulho de estar. A missão de ser escritor me fez atingir o nirvana, o self; a transcendência. Voei. Ícaro na Asa do tempo...
O osso acima dos meus olhos chama-se frontal. A camada enrugada, azulada e cansada que o reveste, pele. O objeto de sua proteção chama-se cérebro. E no conjunto da obra, tenho um "rosto desfigurado" que já viajou nas asas da utopia e já foi guiado pelos pássaros. Este, resguardado, produz aquilo que me cansa e extenua, dia após dia: minhas ideias criativas, cósmicas e, algumas vezes, a economia verbal revela meu ciberespaço na magia encantadora da Língua Portuguesa. Escrever? Meu Vício Visceral! (*) Escritor, filósofo, jornalista e ensaísta EUGENIO SANTANA. Autor de 20 livros publicados, "Ventos Fortes, Raízes Profundas", meu bestseller, Madras editora, entre outras preciosidades. Radicado, atualmente, em Anápolis, Goiás, desde maio de 2023. Contato: (62) 99635-8005 WhatsApp. E-mail: es.escritor1199@gmail.com
quarta-feira, 20 de novembro de 2024
CAÇADOR DO DESENCANTO (*)
Um homem calado, de olhar perdido e vago desce do automóvel e senta-se à mesa do Bar. Em cada canto vê desfilar os fragmentos que foram o microcosmo de sua vida atormentada. Com as mãos sobre a mesa, pede uma bebida qualquer e começa a recordar. Assiste em flash back as cenas dos velhos tempos. No olhar inexpressivo, delineia-se uma ponta de amargura, e a dor perpassa as barreiras do coração: sentimento de angústia na asa da saudade e da memória. Visão da janela do casarão: vilas perdidas, de casinhas brancas e portais azuis, perdidas nas asas do tempo e da lembrança tardia. Cicatrizes contundentes na alma provocara aquele antigo amor. Quisera fosse quimera e jamais uma obstinação. Hoje vem reaver pedaços de si que deixara nesta rua, nesta cidade, nesta mesa de Bar. Tentativa inútil de recompor a vida que se fora e se perdera nos labirintos de tarântulas e nos túneis azulados de uma existência de névoas e neblinas... Há anos guarda consigo estilhaços daquele estranho e perdido amor. O ser amado se fora como os peixes que se vão e se perdem nas enchentes de imensos rios.
O homem cabisbaixo termina a bebida e pára a reflexão como num breve sussurro do vento. Sorvera doses em goles de velhas e carcomidas e indormidas lembranças, arraigadas no passado recente, já que a vida é feita mesmo de chegadas e partidas. Despede-se do amigo do Bar num aceno que traduz alívio, alento, serenidade e repentina paz interior. Entra no automóvel e ganha o calor da rua central. Nas Asas da Noite Imensa, difusa e misteriosa, desaparece a figura algo lírica e mitológica de um Caçador do Desencanto!... (*)
EUGENIO SANTANA é jornalista, escritor, ensaísta e consultor em gestão de pessoas/RH e filósofo. Membro efetivo da ALNM – Academia de Letras do Noroeste de Minas, cadeira 2. Sócio correspondente do Centro Artístico e Literário de Portugal; Autor de 20 (vinte)livros publicados, inclusive a Biografia "João de Deus – o paranormal de Abadiânia". E do bestseller, "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora/SP.WhatsApp (62) 99635-8005
segunda-feira, 21 de outubro de 2024
JARDIM DA ALMA
Há um jardim secreto, um jardim interior dentro de cada um de nós, em nossa Alma! Todas as vezes que precisamos de força, coragem, fé e esperança, então nos recolhemos em nosso silêncio, em um momento de oração, e introspecção, com os olhos fechados, respirando calmamente, e imaginamos o nosso caminhar no mais belo dos Jardins, o Jardim da Alma. Nesse momento, não devemos pensar em nossos problemas, mas focar nossa energia vital na resolução dos problemas, na Alegria, na Luz e na Paz. O Jardim da Alma é um espaço interior que conecta nossa Alma à Natureza e à Essência da Vida! (Eugenio Santana)
terça-feira, 15 de outubro de 2024
CONFISSÕES DE OUTONO...
E se algum dia, ajoelhado diante de seu túmulo, sentir que o fogo da raiva está tentando se apoderar de você, lembre-se de que na minha história, como na sua, há um anjo que conhece todas as respostas.
E que tudo quanto era decente e limpo e puro nesse mundo e tudo por que valia a pena continuar respirando estava naqueles lábios, naquelas mãos e no olhar daqueles dois felizardos que, eu soube com certeza, ficariam juntos até o fim de suas vidas.
Um homem jovem com uns poucos cabelos brancos e ligeira calvície e uma sombra no olhar caminha ao sol do meio-dia entre as lápides do cemitério, sob um céu preso no azul do mar.
Leva nos braços um menino que mal pode entender suas palavras, mas que sorri quando encontra seus olhos.
O homem permanece ali por um momento, em silêncio, as pálpebras apertadas para conter o pranto.
A voz de seu filho, Enzo Gabriel, o traz de volta ao presente e quando ele abre os olhos vê que o menino está apontando para uma estatueta que desponta entre as pétalas de flores secas, à sombra de um vaso de cristal. Sua mão procura entre as flores e pega uma figurinha de gesso, tão pequena que cabe na mão fechada. Um anjo. As palavras que pensava esquecidas se reabrem em sua memória alada como uma velha ferida.
O menino tenta pegar o anjo que repousa na mão do pai e, ao tocá-lo, seus dedos o empurram sem querer. A estatueta cai sobre o mármore e se quebra. E então ele vê. É um papelzinho dobrado escondido no interior do gesso. O papel é fino, quase transparente. Ele abre com a ponta dos dedos e, na mesma hora, reconhece a caligrafia...
Guarda o papel no bolso. Em seguida, deixa uma rosa branca em cima do túmulo e retorna sobre seus passos com o menino nos braços, até a galeria de ciprestes onde a mãe de seu filho espera por ele. Os três se fundem num abraço e quando ela o encara no fundo dos olhos, descobre neles alguma coisa que não estava lá antes. Algo turvo e escuro que lhe dá medo.
- Você está bem, Eugenio?
Ele olha para ela longamente e sorri.
- Eu te amo – diz, e a beija, sabendo que a história, sua história, ainda não terminou.
Acabou de começar. (Por EUGENIO SANTANA, FRC, Escritor, filósofo, jornalista; gestor editorial)
sexta-feira, 11 de outubro de 2024
PÁSSAROS DA AURORA (*)
Estar vivo é milagre permanente. Por muito pouco a vida se esvai: um coágulo de sangue no cérebro, um tropeção, o vírus, a bala perdida, o acidente de trânsito.
A cada aurora, o renascer. Agora sei por que o bebê faz manha à hora em que o sono começa a vencer-lhe a resistência. Teme a morte, a segregação do aconchego, o retorno às cavernas uterinas. O sono apaga-lhe os sentidos, a consciência, o (con)tato com mãos e olhares afetuosos.
De minhas ranhuras brota delicado som de flauta e violino. Não sou dado ao absinto e sei que a vida é aposta. Todas as minhas fichas estão postas no tabuleiro dos deserdados e excluídos e na felicidade compartilhada. Jogo ao lado dos perdedores. É apenas isto que me interessa: ao faminto, o pão e a paz. De que valem todos os poderes do mundo se não enchem um prato de comida? De que valem todos os reinos se não plenificam a alma com o sabor do morango?
Não sou predador de pássaros. Quero-os vivos, livres, o vôo esperto atravessando as asas do vento. Quero-os saltitantes entre as flores que cultivo no jardim da memória. Quero-os gorjeando sinfonias matutinas. Quero-os despertando-me, sem, contudo me provocarem a vertigem das alturas.
Chega de abortos! Quero a vida despontando na cidadania plena, na obstinação dos inconformistas, na ociosidade intemporal dos mendigos, nas mulheres condenadas a bordar dores incolores, na despossuída humilhação dos que suplicam por um pedaço de terra, de chão, de casa, de direito. Tenhamos todos acesso à vida, distribuída com fartura como pão quente pela manhã, sem jamais temer as intermitências da morte. D/amor/te.
Quero um tempo de livros saboreados como pipoca, o corpo saciado de apetites, a mente livre de dúvidas, a alma matriculada num corpo de baile, ao som dos mistérios mais profundos. E de pássaros orquestrados pela aurora, rios desnudados pela transparência das águas, pulmões exultantes de ar puro e mesa farta de manjares dionisíacos.
Reparto meu pão com (sol)dados de afetos, dançarinos trôpegos de incertezas, duendes que povoam alucinados meu imaginário, musas incorrigíveis de meu fragmento literário, anjos protetores de minha frágil fé e místicos que revelam o pior de mimesmo. Neste mundo desencantado, mas não redimido, neles sorvo a minha regeneração como as anfípodas que, no fundo mais profundo dos oceanos, se banqueteiam de flocos de matéria orgânica.
(*) EUGENIO SANTANA é Escritor, Filósofo, Ensaísta, Biógrafo, Jornalista MTb 001319. Membro da ADESG-DF – Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, colaborador do Greenpeace-SP. Autor de 20 Livros publicados. "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, SP, é o seu best seller. E-mail: es.escritor1199@gmail.com - WhatsApp: (62) 99635-8005
domingo, 8 de setembro de 2024
NÓS, OS EXCLUÍDOS...
VOCÊ JÁ FOI EXCLUÍDO POR ALGUÉM DE UMA REDE SOCIAL? Ficamos nos questionando por que aquela pessoa não quer mais ser nossa amiga - nem mesmo virtualmente - e se demos motivo para esta atitude. Isso me fez pensar em JESUS, que é excluído da vida de tantas pessoas. E se Ele tivesse redes sociais, quantos estariam de fato na sua lista de amigos? Quantos o SEGUIRIAM? Creio que, como antes, seria odiado, excluído e evitado por muitos, e SEGUIDO por poucos! (Escritor/filósofo/jornalista EUGENIO SANTANA)
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