terça-feira, 9 de julho de 2019
O MUNDO QUE ENCONTREI JÁ ERA ISSO. O JEITO FOI ENFEITÁ-LO COM PALAVRAS DE LUZ (*)
A sociedade está corrompida ou o amor foi mal entendido por todos? Porque a falta de amor, de entendimento nas relações, a carência, o abandono e a barbárie humana só aumentam. Apesar de vivermos cercados de tantas tecnologias e inovações, como a Internet e as redes sociais, que deveriam melhorar a comunicação e os relacionamentos entre as pessoas, empresas e governos, o ambiente social ainda é muito difícil e, muitas vezes, destrutível. É tanta notícia ruim, tanta disputa e ganância, preconceito social e de raça, falta de sensibilidade, de liberdade e de fé na vida! Eu falo de fé no sentido de acreditar na verdade, na justiça, na fraternidade, igualdade, bondade, união, bem comum, amizade, fortaleza, enfim, o nome disso tudo é Amor!
Ter fé é ter uma atitude positiva perante a vida. É renovar sempre a nossa fé em nós mesmos e no outro, apesar de tudo. Os desafios são imensos e não vamos conseguir sozinhos. Precisamos de um pensamento e de uma prática mais humana, principalmente porque vivemos em uma sociedade que se constrói o tempo todo em práticas desumanas. A exploração, a segregação, o racismo e discriminação social estão presentes ao longo da história da humanidade. Avançamos e retrocedemos. Damos um passo à frente e tantos outros atrás. Por um lado, o amor é um valor raro e caro e por outro não conseguimos nem ver onde está o amor.
Estamos amando apenas as coisas, os outros e as suas coisas, as coisas dos outros, mas nunca somente o outro. O outro que está despossuído de qualquer coisa não tem valor e direito ao amor. O outro precisa “ter “para “ser amado” ou odiado também. O amor às coisas não traz felicidade ou paz. Pelo contrário. Eu sempre ficarei correndo atrás das coisas novas que surgem, das novidades tecnológicas do capitalismo, dos novos smartphones e aplicativos, que não param para descansar e apreciar a vista. Você está sempre tirando fotos e postando sem ver de fato o que está a sua frente. O tempo hoje te controla porque tudo precisa ser reportado ao vivo e ai você não vive os seus melhores momentos. É tudo uma tremenda confusão e correria - parar e observar com tempo ou apenas consumir coisas que dão status para que você consiga mais aprovação, mais likes, e no fundo consiga o seu maior desejo - ser amado.
O mundo sempre viveu de aparências, a sociedade das aparências é antiga e controladora. Mas hoje vivemos na sociedade da imagem, daquilo que aparece na sua tela e, portanto, da aparência digital. Aparecer na tela é como dar atestado de existência. Eu posto, logo existo. Eu apareço e sou reconhecido como gente. Eu posso ser amado assim. E muita gente vive da ilusão de likes. A real proximidade, o relacionamento íntimo com alguém é algo bem mais profundo e complexo, que exige tempo, dedicação e compreensão de ambas as partes. Isso, exatamente isso, que tanto amamos, nós estamos perdendo.
Estamos nos distanciando uns dos outros. Pela falta de tempo deste mundo acelerado e competitivo, do capitalismo e do consumo frenético para ser visto e apreciado. E o que buscamos, o amor, ficou contraditoriamente mais difícil de ser concretizado. Há uma tela, uma invenção tecnológica entre a gente, e nós não nos tocamos mais, não nos olhamos olho no olho, não sentimos a respiração e o calor do toque do outro. Estamos como as máquinas robotizados, só levantamos o pescoço para cima e para baixo para checar o celular. Qualquer outra forma de expressão ficou ultrapassada, antiga! Se você não se atualiza de segundo a segundo está perdido.
Não precisamos ser viciados em tecnologia para sobreviver e o tempo que gastamos com ela, nos subtrai um tempo precioso para o amor. Não que você não deva jogar mais na Internet e conversar com seus amigos. Mas acredito que evitar um contato prolongado nas redes sociais, e a vontade de saber de tudo e acompanhar tudo em matéria de notícias e atualidades, já seja um bom caminho. Não dar conta de tudo é uma realidade. É melhor deixar pra lá, por um tempo. É preciso descansar da avalanche de informações, de conversas e de comentários que não fazem sentido. É preciso selecionar e muito o que vale a pena ler e refletir sobre. Quando começo a ler algo tóxico, envenenado, já saio correndo. Não dá para perder tempo com falta de amor.
Dizem que a gente precisa encontrar o amor, aquele dito “sentimento”, rotulado de encantador de gente e sedutor, mas que, na verdade, é a nossa grande fonte e ponte de conexão humana, é o que nos une e nos recompõe. A gente devia era resgatar este "amor maior" que existe dentro de todo mundo, porque faz falta sentir empatia, compaixão, gratidão, ser corajoso e vulnerável. Faz falta se colocar no lugar do outro e sentir como ele sente a sua dor. Faz falta ter coragem de falar dos nossos sentimentos verdadeiros e se expor, se abrir de verdade para o outro e para a vida. Faz falta ser quem somos de verdade. Faz falta a nossa verdade, o nosso sonho, a nossa luta pelo melhor. Um mundo sem amor de verdade, é um mundo sem sentido e sentidos. É um mundo perigoso e beligerante. Porque no lugar do amor estamos colocando o ódio! Não há como ser humano e não sentir nada.
Há sempre tempo para apreciar e ser apreciado se você realmente pratica o amor desinteressado! Este amor que quer apenas ser olhado demoradamente, suavemente, quer ser ouvido atentamente e embalado! Ele não precisa de presentes caros, de jóias e coisas reais e concretas para ser expressado! Amar é olhar para o outro e vê-lo como realmente é, sem filtros, sem amarras, livre, dono de si. Se a gente ainda vai conseguir amar de verdade, eu não sei! Mas é preciso entender e se desvencilhar das correntes do nosso tempo, do uso e da dependência excessiva da tecnologia que dita as regras, e das aparências (imagens) que no fundo nunca dizem nada sobre quem somos e o que queremos.
Por mais modernos que aparentamos ser com nossos celulares em punho e atualizados, ainda somos antigos e sofredores. Ainda sofremos com os julgamentos alheios, com a falta de humanidade e de amor. E ainda sentimos que estamos sozinhos e precisamos do outro. Quem sabe para construir uma nova história, uma nova realidade. Então há uma chance. E como seres humanos no meio da jornada, há muitos caminhos, muitas encruzilhadas, oportunidades de mudança de rumo, de reencontro consigo. Sempre há uma porta a ser aberta, uma nova estória a ser contada.
Precisamos falar das nossas emoções, das nossas relações de amor, de amizade, de trabalho, na família, enfim, precisamos nos conectar mais profundamente conosco e com os outros. Mas precisamos muito mais de ouvir, ser bons ouvintes. É preciso deixar o outro falar de verdade e simplesmente ouvir – em uma escuta ativa, focada, interessada e amorosa. É preciso querer de verdade ouvir e entender o outro, as suas razões, motivações e sentimentos.
Precisamos ter tempo e um olhar ativo para o amor, para a prática amorosa em todas as suas formas de expressão – ouvir, falar, ver, sentir e tocar. O Amor anda carente de atenção, de olhares compassivos e carinhosos. Amar é se doar ao outro. Dar um beijo, um abraço, um colo e um ouvido!
Há muitas pessoas, escritores, estudiosos e pesquisadores falando sobre o mundo contemporâneo e as influências das novas tecnologias nas relações humanas na atualidade. Vale muito a pena ouvir e refletir sobre as visões de cada um.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, agente literário, publicitário, gestor editorial e influenciador digital. Dez livros publicados. Membro benemérito "ad honorem" do Centro Cultural, Literário e Artístico de PORTUGAL. Contato: autoreugeniosantana9@gmail.com e (41) 99547-0100 WhatsApp
segunda-feira, 8 de julho de 2019
HOMEM ENTERRADO VIVO PELA MULHER AMADA - LADRA DE SEUS PROJETOS E PLANOS (*)
O filósofo Mario Sérgio Cortella diz que seu talento para discursar vem de pessoas que o inspiraram. Jean Perdu, personagem do livro A Livraria Mágica de Paris, de Nina George, encontrou inspiração em um encontro inesperado para voltar ao mundo dos vivos. Estes dois fatos se encontram em um dos mais delicados setores das relações humanas: o quanto uma vida toca a outra ao ponto de transformá-la. Da mesma forma que um número incontável de pessoas passa por nossas vidas sem deixar marcas, há aqueles despertadores de admiração, de afeto e inquietação.
Enquanto a inspiração de Cortella veio no sentido de se espelhar, a inspiração de Perdu veio da combustão entre o presente e o passado. Alguém que o inspirou no passado, fez dele oxigênio, sugando sua vontade de viver. E um outro alguém que no presente o inalou com suavidade, mas o expirou de volta para o mundo, uma outra versão de Perdu, não necessariamente mais viva, mas definitivamente mais atenta, inquieta e com mais fome de sentir e reagir. Um homem atormentado e enterrado vivo por vinte e um anos após ser deixado pelo diabo da mulher amada, idolatrada, ladra de seus planos e de praticamente toda sua existência. Dona que partiu deixando apenas uma carta e as sombras de um ex amor rondando a casa.
Perdu tornou-se cinza após ser deixado. Viveu por vinte e um anos com sorriso apagado, passos arrastados e sonhos desligados. O amor latente deu tanta vida à sua vida que quando partiu se sentiu no direito de tirá-la, mas deixou seu talento para ler almas e receitar livros em seu barco-livraria como quem receita remédios. Perdu não estava totalmente morto, era alma penada, rodeando o corpo ainda quente à espera de um outro suspiro que pudesse acenar um possível caminho de volta à vida. Ele permitiu que o inalassem, como tantas outras pessoas permitem. Não apenas enquanto o amor esteve presente, pois a coragem de almas que se amam não é doce quando não há entrega. Permitiu ser aspirado quase por completo na dor de ser deixado pela pessoa que mais confiava no mundo. Sem razão e explicação. Esqueceu que mesmo sendo um na cama, eram dois. E ela estava no seu mais justo direito de partir pelo motivo que achou pertinente. Perdu escolheu ser o oxigênio de alguém e esqueceu de recolher um pouco para continuar vivendo.
A reviravolta do livro é tão sútil quanto as reviravoltas da vida. O encontro com outro alguém que inala a fumaça das cinzas da morte que escolhemos em vida. Felizes são aqueles que encontram inspiração em seu interior. A maioria dos mortais, assim como Perdu, necessita de uma luz externa para tirar o cimento que cobre os olhos e assim descortinar possíveis caminhos. Perdu sentiu os primeiros sinais de vida germinar. Se arrepiou, chorou, se irritou e desejou. Tudo ao mesmo tempo. Bastou uma faísca para que a velha e boa saudade de si mesmo surgisse. Abriu mão da morte naquele encontro, rastejou como se estivesse ligado a aparelhos, mas era enfim uma alma que resistia, como toda alma que tenta se recuperar de uma grande perda, seja pela morte propriamente dita ou pela morte de tudo que planejava e acreditava.
Perdu morreu em vida por vinte e um anos por escolha e por estar cercado de apenas pessoas. Nenhuma dessas pessoas o inspiravam a ser diferente ou transformavam as toxinas de sua fumaça em algo melhor. Precisou de mais de duas décadas para permitir que um estranho fizesse o que um bom amigo costuma fazer: nos inspirar a respirar de verdade, outra vez e outra vez, para que a dor deixe de ser constante e vire um raro visitante, aquele que nunca desaparece, mas nos perturba com uma frequência suportável dentro de um suspiro.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, agente literário, publicitário, gestor editorial e influenciador digital. Dez livros publicados. Membro benemérito "ad honorem" do Centro Cultural, Literário e Artístico de PORTUGAL. Contato: autoreugeniosantana9@gmail.com e (41) 99547-0100 WhatsApp
terça-feira, 2 de julho de 2019
INSÓLITA PERMUTA (*)
O sonho de Antonio Couto ganhou ambiência improvável nos labirintos oníricos e habitou sótãos de memórias ancestrais. Seu desejo obstinado: encontrar uma mulher que o completasse. Aquela surrada história da cara-metade, tampa da panela, metade da laranja, alma gêmea ou almas que gemem? O fato é que ele acreditava nisso tudo. Viajava nas asas do sonho para encontrar um "grande amor", do tipo "pra sempre". Até que um dia ele ganhou a sorte grande. E sozinho. Foi o único naquela Lotomania de São João. Acumulada. Que lhe rendeu alguns consideráveis milhões. E o surpreendente: ele ficou arrasado. Lembrou o provérbio milenar: "Sorte no jogo, azar no Amor". A frase não lhe escapava da cabeça, das vísceras e do coração, que acelerado batia. Ficou frustrado porquê o sonho de encontrar o grande amor adquiriu asas velozes e alçou um voo enigmático para o Antigo Egito. Mas uma visita inesperada mudou seu futuro. Uma figura muito inusitada. Deus ou o "encardido", não soube identificar, mas com certeza alguém com muito poder apresentou uma proposta inimaginável: trocar todo o dinheiro da loteria pela experiência de vivenciar um grande amor. Antonio Couto não vacilou, O HOMEM MAIS ROMÂNTICO DO PLANETA BLUE aceitou a permuta com uma veemência de apresentador de TV. Resumo da ópera: Antonio Couto ficou sem o dinheiro e o "grande amor" durou pouco mais de três anos. O quarto ano foi arrasado por conflitos e atritos. E quase o levou ao feminicídio. Deprimido, a neuroforia invadiu o seu ser. Desceu ao fundo do poço e lá percebeu que precisava mesmo era de uma psicanalista. Delirou com a possibilidade de um enorme e confortável Divã Oriental. Depois fez teatro. Virou ator e escreveu algumas peças razoáveis... E, por fim, depois de muita extrema dedicação e árduo trabalho, Antonio Couto encontrou o grande amor de sua vida: O AMOR PRÓPRIO... E viveram felizes para sempre.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, agente literário, publicitário, gestor editorial e influenciador digital. Dez livros publicados. Membro benemérito "ad honorem" do Centro Cultural, Literário e Artístico de PORTUGAL. Contato: autoreugeniosantana9@gmail.com e (41) 99547-0100 WhatsApp
sexta-feira, 28 de junho de 2019
A FÓRMULA PARA ESCREVER BEM: MANTENHA UM FLUXO PERMANENTE DE INSIGHTS (*)
Para escrever boas histórias você precisará correr… literalmente! Pelo menos essa é uma condição essencial para Haruki Murakami, autor de 1Q84, Kafka à beira-mar, entre outros títulos de sucesso mundial.
Quando está no chamado "modo escrita" para um novo romance, o escritor japonês acorda diariamente às 4 da manhã para começar a sua rotina de seis horas de trabalho.
Mas, durante a tarde, Murakami se dedica ao exercício de seu corpo, correndo aproximadamente 10 quilômetros ou nadando cerca de 500 metros todos os dias!
Manter uma rotina é muito importante para o processo criativo de Murakami, que consegue atingir desta maneira estágios mentais profundos.
Outros autores também consideram o exercício físico um grande aliado durante o processo de desenvolvimento criativo.
O esporte está presente na rotina de muitos escritores. É, indubitavelmente, uma excelente forma de clarear as ideias, aquela distância que se faz necessária às vezes, para que possamos enxergar as coisas melhor.
Se for possível determinar um padrão entre todos os grandes nomes da literatura mundial, a preferência por escrever durante as primeiras horas da manhã seria uma característica compartilhada por muitos!
Ernest Hemingway, por exemplo, declarou certa vez numa entrevista que o seu horário preferido para escrever é ainda antes do surgimento dos primeiros raios de sol.
Jane Austen, Victor Hugo e vários outros autores também assumiram que a primeira coisa que fazem ao acordar é “correr” para a escrita.
Ter como hábito a obrigação de fazer sempre o trabalho mais importante primeiro é essencial para a criação de uma rotina de produção menos procrastinadora e eficaz, conforme a maioria dos grandes autores.
Mas também, como tudo, sempre existe uma exceção para fugir à regra. Marcel Proust e Franz Kafka são exemplos de autores que só conseguiam produzir depois do pôr-do-sol.
Na realidade, caros amigos escritores, não importa se é de manhã, tarde, noite ou madrugada, o importante é dedicar-se religiosamente durante um período de tempo ao seu trabalho!
A exemplo de Henry Miller (autor de Trópico de Câncer, Nexus, Plexus, Sexus, entre outros títulos), uma alternativa para conseguir organizar a rotina de trabalho é estabelecer um “Mandamento”, uma lista de regras específicas que são responsáveis por reger o desenvolvimento da sua escrita.
Algumas das tarefas definidas nos “Mandamentos de Miller” são: trabalhar uma coisa de cada vez até esta estar concluída; quando você não pode criar você pode trabalhar; trabalhe de acordo com o seu programa e não conforme o seu humor; esqueça os livros que você quer escrever, e pense apenas no livro que está escrevendo; entre outras.
Definir um conjunto de obrigações e limites, em forma de lista, para seguir durante o período de desenvolvimento da escrita pode ser uma excelente ferramenta norteadora, principalmente para as pessoas que são por natureza menos organizadas.
Nomeada para o Prêmio Pulitzer, Barbara Kingsolver, comprova que até os escritores de maior sucesso precisam escrever dezenas de páginas para obter uma que lhes agrade.
Acostumada a acordar antes do sol nascer, Barbara está sempre “cheia de palavras” na cabeça e a primeira coisa que faz logo pela manhã é transcrever tudo para o seu computador.
De acordo com a escritora, são páginas e páginas de frases desconexas ou pequenos textos soltos. Enquanto os seus filhos estão na escola, Barbara consegue reler tudo o que escreveu, editando e adaptando os trechos que mais gostou, mas também deletando grande parte do conteúdo…
Para a autora o escritor deve escrever (óbvio, não?), ou seja, mesmo quando não tiver algo concreto ou um desenvolvimento sólido sobre determinado tema, escreva as frases que lhe vierem à mente, como se fossem mini flashbacks.
Os maiores aliados da procrastinação são as redes sociais e o seu celular. Acredite.
Por isso, Nathan Englander sempre desliga o seu smartphone e se desconecta de todas as suas redes sociais durante as horas que se dedica ao trabalho.
Sabemos que a vontade de checar as novidades no Twitter ou as fotos dos seus amigos no Instagram é tentadora, mas se você quiser realmente ser um escritor de sucesso, o autocontrole, a disciplina e o compromisso com o seu trabalho devem vir em primeiro lugar!
Encha a sua cabeça com doses diárias de novas ideias! Pelo menos este é um dos segredos do jornalista e escritor norte-americano A. J. Jacobs: manter um fluxo constante de insights.
O autor aconselha que todos os jovens escritores separem alguns minutos do dia para um brainstorm antes de começar a trabalhar. Um momento de reflexão, onde a pessoa deve rever tudo o que está a sua volta e, aliado à sua criatividade e imaginação, construir um universo que será posteriormente materializado pelas suas palavras!
Faça como o “rei do terror”, Stephen King que escreve diariamente mais de 2 mil palavras. Ele segue essa rotina sete dias por semana, mesmo durante as férias ou feriados... Ok, talvez você não precise ser tão "drástico", mas a mensagem importante aqui é: não deixe de exercitar constantemente a sua escrita!
Para King, assim como tudo na vida, a melhoria vem com a prática. Escrever todos os dias, de acordo com o autor, ajuda a não “enferrujar” o seu estilo de escrita.
O hábito de Khaled Housseni é escrever e reescrever todos os dias. A cada nova reescrita, o autor adiciona novas camadas ao texto, novos nuances, novas perspectivas, novas formas e assim consegue tornar a sua história mais rica e completa.
Housseni ainda dá uma dica importante para os aspirantes a escritor: ESCREVAM! O primordial para um escritor é escrever, por mais óbvio que isso possa parecer (e é!). Housseni sugere que se escreva todos os dias, mesmo quando não estiver se sentindo o “maior dos escritores”.
Ah, e o mais importante, escreva para você mesmo! Não pense num público específico, pois nunca conseguirá agradar a todos os gostos. Reserve-se a escrever uma história que você precisa contar e que gostaria de ler.
(*) EUGENIO SANTANA é Escritor, Gestor editorial, Assessor de imprensa, Ensaísta, Redator publicitário, Blogueiro, Biógrafo, Agente literário. Onze livros publicados. Autor, entre outros, de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora. Radicado em Curitiba, PR. (41) 99547-0100 WhatsApp
quarta-feira, 26 de junho de 2019
MANTENHA POR PERTO QUEM ACRESCENTAR ALGO EM SUA VIDA (*)
Logicamente, por vivermos em sociedade, não poderemos agir como quisermos, falar o que vier à cabeça, nem levar a vida como bem entendermos, sem pensar em ninguém mais. Nossas ações alcançam mais pessoas do que imaginamos e somos responsáveis, até certo ponto, também com quem nos ama e faz parte de nossas vidas. Não podemos machucar as pessoas e achar que está tudo bem; não é assim que funciona o mundo.
O melhor a se fazer é tentar manter a consciência tranquila, sabendo que agimos da melhor forma, que vivemos de acordo com as batidas de nossos corações, sem pisar pessoas pelo caminho. Não conseguiremos agradar todo mundo, mas, agindo com responsabilidade, conseguiremos manter por perto quem realmente acrescenta algo em nossa jornada. Aliás, para nossa sobrevivência, teremos que nos libertar da necessidade de agradar o tempo todo, entendendo que, às vezes, teremos que escolher a nós mesmos e isso pode soar antipático a algumas pessoas.
A necessidade de agradar quase sempre está relacionada ao desconforto que muitos sentem quando percebem que tem alguém chateado com eles. Muitos de nós não sabemos lidar direito com as situações em que alguém fica bravo ou chateado conosco e isso incomoda. Aprender a lidar com essas situações, em que o outro se magoa ou fica bravo conosco, será providencial para nosso equilíbrio emocional. Caso não tenhamos sido injustos ou maldosos, o outro é que terá de ajustar sua conduta, nós não.
É preciso entender que dizer não, repreender, advertir, impor limites, também são atitudes de quem cuida, de quem quer ajudar, de quem ama de verdade. Quem se importa realmente com o outro não diz amém a tudo nem sorri o tempo todo, isso seria indiferença, seria tanto faz. Além disso, precisaremos nos conscientizar de que certas pessoas não merecerão um segundo de nosso dia, inclusive muitas delas deveremos mandar se lascar mesmo, para que nos deixem em paz de uma vez por todas.
As pessoas confundem muito ser bom com ser bonzinho e uma coisa não necessariamente tem a ver com a outra. Para ser bonzinho o tempo todo, é preciso um tanto de encenação, porém, bondade tem a ver com ser verdadeiro, com seguir em busca dos sonhos de maneira limpa e ética, mesmo que discordem de sua jornada. Somos bons, inclusive, falando o que deve ser dito, para o bem do outro, para o bem de nós mesmos. Não seja unanimidade, seja querido por quem vale a pena. E isso é tudo.
(*) EUGENIO SANTANA é Escritor, Gestor editorial, Assessor de imprensa, Ensaísta, Redator publicitário, Blogueiro, Biógrafo, Agente literário. Onze livros publicados. Autor, entre outros, de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora. Radicado em Curitiba, PR. (41) 99547-0100 WhatsApp
O PLANETA TERRA DEVASTADO A CAMINHO DA EXTINÇÃO (*)
Nenhuma outra espécie causou tamanha devastação para este planeta senão o ser humano; nem mesmo os dinossauros, seres gigantescos e poderosos, que existiram por mais de 150 milhões de anos e desapareceram há cerca de 65 milhões de anos, não causaram tantos danos quanto o Ser Humano que, naqueles tempos, sequer cogitava existir... outras espécies animais muito mais numerosas, como os insetos e os microrganismos, que se contam aos trilhões de indivíduos distribuídos em mais de cinco milhões de espécies jamais ameaçaram a existência de vida na Terra. O que nos fez, ao mesmo tempo tão pequenos e poderosos, e, no entanto, tão predadores a ponto de ameaçar toda a a vida existente no planeta, inclusive a nós próprios?
Fomos os primeiros a ter uma vida sedentária, fixando nossas moradias nas cidades, vilas, fazendas e sítios, cultivando a terra e criando animais, abandonando a caça, a pesca e a coleta de alimentos, hoje relegadas a pequenos grupos mais pobres e menos desenvolvidos. Também somos os únicos mamíferos a expandir continuamente nossa população, ameaçando a própria vida que nos sustenta, através do extermínio de todas as outras espécies, devastando as florestas, extinguindo drasticamente as fontes de água potável, principal razão da existência de vida na Terra, e exaurindo os limitados recursos naturais desse frágil e pequeno planeta. Estima-se que hoje somos cerca de 7,5 bilhões de seres humanos, e que chegaremos a 10 bilhões de indivíduos até o ano de 2050 - sim, daqui a apenas 30 anos! É importante destacar que, em 1950, ano em que nasci, a população humana era de 2,5 bilhões de habitantes!... portanto, no curto espaço de uma vida humana triplicamos nossa população!
Por que a Humanidade evoluiu tanto na Ciência, na Tecnologia, em outras áreas do Conhecimento e na Cultura em geral, mas continua sendo tão violenta e primitiva em suas relações políticas e sociais, através dos assassinatos, das guerras, dos ataques terroristas e do desprezo pelos demais seres humanos? O que é feito do tão decantado Processo Civilizatório que conduziu nossa História? O que nos torna tão incompetentes para gerir nosso desenvolvimento a ponto de massacrar outros seres vivos, igualmente indispensáveis para o equilíbrio da biodiversidade do planeta, e causar tamanho desequilíbrio ecológico e social, pelos preconceitos, o desemprego, a violência, o ódio e a ambição desmesurada, "pecados" que compelem bilhões de pessoas a viver em condições sub-humanas, da fome, da miséria e da ignorância,enquanto uma parcela insignificante da população usufrui de riquezas e privilégios sem limites?
Desde os primórdios da Civilização, as sociedades se organizaram em castas dominantes, compostas pela nobreza, pelos sacerdotes e pelos militares, contrapondo-se a escravos, plebeus e miseráveis, que trabalhavam em condições extremamente precárias para assegurar a riqueza e o poder de pequena parcela da humanidade. Poderíamos dizer, portanto, que as religiões, a política, os exércitos e a nobreza subjugaram o povo, que existia apenas para servir a essa minoria perversa e detentora dos bens materiais cultuados por todos os povos.
E por que essa maioria tão desigual, massacrada e oprimida nunca se rebelou para sufocar tamanhas injustiças? A razão é que sempre que tais condições desumanas se tornavam insuportáveis, as massas rebeladas nada faziam senão trocar aqueles nobres, sacerdotes, governantes e militares por aqueles seres humilhados, que nada faziam senão assumir os mesmos postos de dominação, as mesmas atitudes de poder e de riqueza, sem, contudo, modificar seu modo de vida, sem eliminar a distribuição desigual das riquezas e privilégios dos seus antecessores, que permaneciam, através dos tempos, sempre nas mãos de poucos privilegiados. E assim permanece a sociedade até hoje, sejam quais forem os grupos sociais, as ideologias, as raças, as religiões e os meios de produção daqueles que estão no poder.
Esses polos extremos do poder são irreconciliáveis: as crenças religiosas são antagônicas entre si, edificadas sobre escrituras "sagradas e profanas", quase todas baseadas em supostas divindades, supostos paraísos e infernos, supostos salvadores e messias, e terríveis regras provindas da "palavra de Deus", que mantêm a si submissas, hordas de desamparados pela "sorte" e vítimas da ira dos deuses e sacerdotes terrenos. Convicções ideológicas são igualmente antagônicas na medida em que se baseiam em teorias construídas em um momento histórico da sociedade, como o marxismo das lutas de classe e da mais valia (agregação de valor na cadeia produtiva), ou o capitalismo da apropriação dos bens de capital, que preconiza o estado de bem estar social (Welfare State), em que haveria pleno emprego e acesso à riqueza para todos os cidadãos. Ocorre que, em ambas as teorias econômico-sociais, existem (e persistem) as mesmas classes sociais onde minorias dominam o poder e a riqueza, enquanto a plebe fornece mão-de-obra para o trabalho e favorece o enriquecimento das classes dominantes, que continuam sempre as mesmas: a igreja, os militares, os milionários e os políticos que, estando no poder, abdicam (ou ignoram) seu papel de "salvadores da pátria".
A permanente luta entre o "Bem e o Mal" pressupõe esse desequilíbrio socioeconômico, militar e político, que mantém os detentores do poder a explorar o trabalho subalterno e submisso, a miséria renitente, a prepotência, as crendices religiosas e a dominação ideológica dos supremacistas brancos sobre outras etnias de negros, indígenas, mulatos, mamelucos, cafusos e povos subjugados nas lutas pela dominação histórica de invasores europeus aos territórios conquistados das Américas, da África, da Ásia e do Oriente, colonizados pelos últimos dez séculos. Se a Cultura humana evoluiu, isso não bastou para que o espírito humano se desenvolvesse, pondo um fim e um "basta" a um milhão de anos de guerras, escravidão, exploração de todo tipo, e devastação de nosso triste planeta Terra...
(*) EUGENIO SANTANA é Escritor, Gestor editorial, Assessor de imprensa, Ensaísta, Redator publicitário, Blogueiro, Biógrafo, Agente literário. Onze livros publicados. Autor, entre outros, de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora. Radicado em Curitiba, PR. (41) 99547-0100 WhatsApp
segunda-feira, 24 de junho de 2019
A DOR NA ALMA DE ALMODÓVAR E O REENCONTRO COM A INFÂNCIA (*)
Dor e Glória, (2019)último filme de Almodóvar, faz um caminho em direção à sua história, principalmente pelo tom pessoal e emocionado do protagonista Salvador, interpretado com primor por Antônio Bandeiras. O diretor, depois da morte de sua querida mãe, busca na infância suas melhores recordações com ela, a presença do catolicismo em sua educação, com restrições e muita disciplina. E, finalmente, seu primeiro desejo por outro homem, aos nove anos de idade..
Esse movimento de volta ao passado permeia a narrativa e costura com primor, o passado ao presente o que nos permite sentir a criança que existe nele e seu poder de superação da crise de depressão em que se encontra. Salvador, teve glória, filmes afamados conquistados com dor, drogas e solidão. Desde criança, tinha grande capacidade de comunicação dentro de um universo muito pobre, onde só ele e a mãe habitam com um laço forte de afetividade.
Ele passa então a reviver momentos marcantes de sua infância introspectiva, na educação católica que recebeu dos padres e sua rejeição à religião católica. Salvador é um vencedor que agora aos setenta, sente uma grande nostalgia somada à dor física e moral.
Contudo, fica mais complacente com os desafetos e a saudade de amores que não viveu. O tempo acentua as dores do corpo, mas alivia as da alma. O perdão, por exemplo, torna-se mais fácil quando a discussão já está no passado, como pontua a cena em que Salvador perdoa Alberto, e a superação de um amor perdido já não dói tanto, como mostra o momento que o protagonista encontra um ex-namorado. Sua energia criativa, na velhice, cheia de dor física, sintomas na coluna vertebral que sustenta nossos corpos, são sanados com médicos, drogas e a solidão de um homem que não quer mais produzir. Seu entusiasmo volta ao ver encenada uma peça antiga, com um antigo amigo de traz sucesso de bilheteria. Assim, ao rever a beleza e os sonhos de sua infância, Salvador se salva do abismo e volta a acreditar na sua arte e talento, terminando do começo, com a filmagem de O primeiro Desejo, como um resgate de sua alma e o reencontro consigo mesmo. Belo, intenso e principalmente, filmado com cores vivas que contracenam com a falta das mesmas, num polaridade que encanta nossos olhos e nossas almas.
(*) EUGENIO SANTANA é Escritor, Gestor editorial, Assessor de imprensa, Ensaísta, Redator publicitário, Blogueiro, Biógrafo, Agente literário. Onze livros publicados. Autor, entre outros, de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora. Radicado em Curitiba, PR. (41) 99547-0100 WhatsApp
sábado, 22 de junho de 2019
INESQUECÍVEIS, RECLUSOS, EXÓTICOS, TRÁGICOS E MELANCÓLICOS ARTISTAS (*)
A arte sempre reuniu gente interessante: excêntricos, revolucionários, intelectuais, nerds e "loucos". Porém, poucos grupos são tão interessantes quanto o dos artistas melancólicos, formado por pessoas que manifestam, através de suas obras, todo o sentimento de solidão e agonia que têm.
As personalidades que se encaixam nessa descrição são inúmeras e falar sobre cada uma delas em um mesmo texto seria uma tarefa praticamente impossível. Por isso, já antecipo as minhas desculpas por deixar tantos gênios de fora dessa lista.
O Romantismo, movimento literário que surgiu na Europa, traz claramente características melancólicas. Os poetas britânicos Lord Byron e John Keats são exemplos perfeitos disso. Trazem em seus poemas todo o pessimismo e a tristeza do mundo. Viviam deprimidos e expressavam isso em seus belos, mas perturbadores, poemas.
O norte-americano Edgar Allan Poe é outro exemplo. O escritor, considerado o pai do romance policial, teve uma vida trágica. Perdeu os pais, sua amada e morreu praticamente desconhecido, muito afetado pelos efeitos do alcoolismo. Suas obras são repletas de mortes, dor e sofrimento. Em muitas delas, fantasmas e outros seres que atormentam os protagonistas, na verdade não existem. São criações da mente dos personagens, que sofrem com o remorso ou a solidão.
Na pintura, poucas almas são tão atormentadas quanto a de Van Gogh. Por mais genial que o pintor tenha sido, o reconhecimento veio apenas depois de sua morte. O artista fracassou em muitas coisas que tentou, inclusive, constituir uma família. À beira da loucura, Van Gogh deu fim à sua própria vida, em 1890.
Na música os exemplos são muitos e abrangem praticamente todos os estilos. No rock, existem diversos exemplos, como Jim Morrison, Kurt Cobain, Syd Barrett e Renato Russo.
Morrison, líder do The Doors, sempre foi polêmico e triste. Suas letras, que mais pareciam poemas pela métrica e linguagem, demonstram isso com exatidão. Usuário de drogas, Morrison foi encontrado morto em sua banheira, aos 27 anos de idade.
A história de Kurt Cobain, vocalista e guitarrista do Nirvana, é bem parecida. Ele vivia deprimido e abusava das drogas. Quando conseguiu a fama, sua tristeza aumentou. Ficava frequentemente recluso e acabou se matando, em 1994, depois de deixar uma carta de despedida.
O guitarrista Syd Barrett, um dos fundadores do Pink Floyd, era um gênio à frente do seu tempo. Porém, deprimido e usuário constante de alucinógenos, especialmente o LSD, o músico acabou recluso. Passou vários anos isolado, pintando quadros. Em uma ocasião, já depois de ter saído da banda, Barrett apareceu no estúdio em que o Pink Floyd gravava o disco Wish You Were Here. Estava obeso, careca, com as sobrancelhas raspadas e, segundo os membros do próprio Pink Floyd, com o olhar perdido, mais parecido com uma TV fora do ar.
No Brasil, provavelmente, o maior exemplo é Renato Russo. As letras da Legião Urbana são, na maior parte, repletas de dor e tristeza. O músico sofria com depressão e tentou o suicídio algumas vezes. A Via Láctea, canção do álbum Tempestade, demonstra muito bem o que sentia Renato Russo, morto em 1996, em decorrência da aids.
O cineasta Tim Burton é um exemplo bem contemporâneo daqueles que utilizam a melancolia através da arte. Muitos de seus filmes não têm o tradicional final feliz. Além disso, os personagens de suas animações – que normalmente têm crianças como público-alvo – são bem aterrorizantes. Burton geralmente constrói histórias em que o protagonista não se encaixa na sociedade. Um sentimento que ele tem desde que era criança, quando teve sérios problemas emocionais.
(*) EUGENIO SANTANA é Escritor, Gestor editorial, Assessor de imprensa, Ensaísta, Redator publicitário, Blogueiro, Biógrafo, Agente literário. Onze livros publicados. Autor, entre outros, de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora. Radicado em Curitiba, PR. (41) 99547-0100 WhatsApp
segunda-feira, 17 de junho de 2019
RECIPROCIDADE E EMPATIA (*)
Existem certas coisas que não precisariam ser faladas, tampouco cobradas, de tão óbvias. Porém, passamos a vida lembrando algumas pessoas daquilo que elas deveriam já ter como hábito e isso cansa, diminui, abalando a autoestima de qualquer um. Se tivermos que lembrar aos outros o óbvio todos os dias, a todo instante, enlouqueceremos.
Amizade não deveria ser cobrada. Ter que correr atrás o tempo todo da pessoa, enquanto ela nem se lembra de que a gente existe, exaure a paciência mínima de um ser humano. Quando temos que, só nós, ficar mandando mensagens, telefonando, convidando procurando, é hora de repensar aquilo tudo, porque, provavelmente, a amizade somente existe em nós. Do outro lado, amizade é que não tem.
Carinho não deveria ser pedido, mas sim espontâneo, verdadeiro, necessário em quem oferta, tanto quanto em quem recebe. Carinho não somente se trata de toque, porque a gente se sente amado principalmente pelas atitudes do outro, pela forma como ele nos faz sentir, mesmo de longe. Ter que ficar cobrando palavras, gestos, comportamentos, ter que lembrar nossa existência a alguém é por demais humilhante. Ninguém merece.
Amor que se mendiga é tudo, menos amor. É o contrário de amor, é o que contraria o amor em si. Sentimentos vêm de dentro e transpiram por todos os poros, materializando-se no encontro que transforma, no calor que motiva, na certeza que acalma, no abraço que reinicia. O amor precisa se expandir, precisa ser expresso, dito, ouvido, vivido, sem melindres, sem rodeios. Se houver carência de um ou de outro lado, não há reciprocidade e, então, amor nem tem.
Nossa sobrevivência em muito dependerá do discernimento entre o que é luta digna e o que nada mais é do que insistência servil. Lutar pelo que queremos não significa implorar por atenção, por amizade, por carinho, por amor. A dor da consciência sobre quem não está mais junto sempre será uma oportunidade de recomeço. A dor da solidão acompanhada, porém, jamais nos tornará dignos de sentimentos verdadeiros e recíprocos. É isso.
(*) EUGENIO SANTANA é Gestor editorial, Assessor de imprensa, Analista de Marketing digital, Crítico literário, Outsider, Blogueiro; Self-made man. Escreve Biografias. Autor de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora, entre outros. Radicado em Curitiba, PR. (41) 99547-0100 WhatsApp
A INEVITÁVEL BREVIDADE DOS RELACIONAMENTOS (*)
Existem pessoas que parecem destinadas a ficarem juntas. Existem pessoas que parecem destinadas a se distanciarem. É triste, parece meio cruel, mas é verdade: infelizmente, nem sempre o amor é o bastante para que duas pessoas permaneçam juntas pelo resto da vida.
Ninguém consegue explicar direito sentimentos, ainda mais aqueles que se relacionam com a paixão amorosa. Fato é que, de repente, lá estão se sentindo atraídas pessoas que poderiam já se conhecer ou mesmo nunca terem se visto antes. É química, é suor, é pele arrepiada, vontade de se ver, de conversar, de ficar junto. E daí ficam.
Até aí, tudo bem, o duro é quando passam as horas, os dias, semanas, meses, e começa o cotidiano, a rotina, a mesmice. E começam os problemas que sempre aparecem na vida de todo mundo. Inevitavelmente, a paixão arrefece, enquanto os choques de realidade aumentam. O que era somente leveza começa a pesar. Ou se firma o amor, ou há desencontro.
Na verdade, existem pessoas que se amam, mas não conseguem ficar juntas e não somente em uniões amorosas. Familiares, colegas, em todo tipo de relacionamento, pode haver amor e carinho envolvido, mas impossibilidade de convivência duradoura. Muitas pessoas possuem alguém de quem gostam bastante, mas com quem brigam muito.
Dizem que o amor tudo suporta, porém, pessoas com visões de mundo muito dissonantes, com experiências e crenças que destoam demais daquilo em que os parceiros carregam dentro de si, dificilmente conseguirão conviver sem se cobrarem demais, sem se machucar, sem machucar um ao outro. Não conseguirão ficar juntas, sem anulação, ressentimento, frustração.
Existem pessoas que são mais felizes longe de nós e também somos melhores longe delas. Nesses casos, teremos que ter a consciência de que a convivência nunca será pacífica e tranquila. Que tenhamos, pois, a maturidade necessária para entendermos que sentiremos falta de certas pessoas que já saíram de nossas vidas, mas será melhor ficar cada um no seu canto.
(*) EUGENIO SANTANA é Gestor editorial, Assessor de imprensa, Analista de Marketing digital, Crítico literário, Outsider, Blogueiro; Self-made man. Escreve Biografias. Autor de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora, entre outros. Radicado em Curitiba, PR. (41) 99547-0100 WhatsApp
sábado, 15 de junho de 2019
BUSCADOR INSACIÁVEL DO SENTIDO DA VIDA. ESCRAVO, ENQUANTO ESCREVO... (*)
Continuar escrevendo é buscar compreender a si próprio, trazer à vida as palavras que lhe consomem, as verdades tão relativas que permeiam a ilusão que é viver. Você vai continuar escrevendo por não conhecer uma maneira melhor de expôr seus demônios, não ter outra maneira lógica de expôr a miséria e a confusão em que se encontra. Tampouco consegue compartilhar os momentos de epifania, alegria intensa e aprendizado sem passar por palavras, por notas, por listas.
Você vai continuar escrevendo para provocar, para permitir que as pessoas o entendam melhor. Vai compartilhar teus pensamentos na ânsia de que o outro te encontre no caminho — é sempre uma conversa. Acima de tudo, você vai escrever para entender quem realmente é. Você, ao escrever, vai passar a ver conexões entre coisas distintas, sinais nas pequenas coisas — tudo se torna uma metáfora, uma maneira de aliviar as dores e compreender o mundo.
Escrever vai se tornar uma companhia para a vida toda, uma terapia, um escape. E a partir de então, já não importa mais o que os outros pensam ou dizem. Não importa se gostam ou não do que você escreve ou da maneira como se expressa.
Ao escrever e se expôr, você estará sujeito a coisas maravilhosas e também à crueldade daquele que o lê. E vai se sentir mal muitas vezes, vai pensar que talvez não devesse ter escrito aquilo, vai perceber que não há para onde correr. Você vai estar ali, em medidas diferentes e mesmo que insignificantes, sendo julgado a todo o tempo. A gramática, aquela palavra repetida, aquele pensamento, todos aqueles clichês: tudo isso saltará aos olhos dos mais atentos, dos mais críticos. E ainda assim, nadando contra a maré, você continuará escrevendo.
Vai continuar por saber que não vai ficar rico com isso e, por assim ser, ou você escreve porque gosta ou enterra logo tudo isso. A recompensa parece não vir nunca, mas você vai ler o que escreveu há anos — primeiramente vai se envergonhar de tudo aquilo — e depois vai refletir sobre quem era e quem se tornou. Vai pensar se lá no passado você já dava indícios de que seria quem é hoje.
E assim prosseguirá juntando frases, tentando dar sentido às coisas. E vai perceber que a busca por palavras te leva a lugares que talvez nunca iria se não fosse pela escrita. Vai perceber que a poesia, a prosa e os textos que fazem parte da sua vida estão por toda parte. Nas ruas, nas esquinas, nas pessoas que encontra, nos caminhos e cidades que ainda irá explorar.
Se há algo que a escrita requer é experiência, é vida, é estrada e pessoas.
Ainda que o processo seja extremamente solitário, dolorido e indulgente, ele requer experiência humana. Ele requer que sejamos, acima de tudo, um colecionador de vidas, de pessoas que passam por nós e nos fazem lembrar que viver é difícil mas vale a pena. Pessoas que talvez vão mudar nossas percepções sobre determinado tema, nos fazer refletir sobre coisas que talvez nunca pensamos antes. E é ai que está a beleza de escrever.
As histórias nascem a partir de nós mesmos, de nossos questionamentos, de nossas vivências. Escrever é um atestado da fragilidade humana, do encantamento que temos por nós mesmos, seres tão iguais e tão diferentes ao mesmo tempo.
Ter descoberto a escrita tão cedo adicionou à minha existência quartos que posso acessar a qualquer momento. Alguns são escuros, outros parecem receber a luz do nascer do sol, meio amarelada, que nos cega até que nos acostumemos a ela.
Escrever não é fácil quando o que se está em em jogo é uma busca frenética pelo sentido da vida.
Eu não entendo o mundo, não entendo a vida, sequer entendo a mim mesmo. Neste sentido, acho que escrever é também perder-se, mais do que se encontrar. É embaralhar o quebra-cabeças simplesmente porquê tudo aquilo que você julga saber não passa de ilusão. E assim você se refaz, reescreve, anota, deixa o papel em branco marcado de tinta para que não se esqueça jamais de que as coisas são passageiras.
A palavra será sua melhor companhia nos dias solitários, nas manhãs enquanto toma café, nos bancos das praças e voos longos. É a partir dos livros, dos textos, do que os outros escreveram, que você irá encontrar razão para continuar escrevendo. E não se torture muito. Lembre-se que você escreve a partir de suas próprias circunstâncias e, por isso mesmo, não deva se comparar demasiado com os outros. Não é preciso querer ser como determinado escritor, mas é importante invejá-los e tentar absorver um pouco de cada um deles.
No final das contas, escrever será um exercício para toda a vida. Uma necessidade, uma pedra a ser polida — cada dia melhor, cada vez mais próximo de como você realmente deseja escrever. E talvez você nunca se satisfaça com o texto, com o tom que dá às palavras. Desde que isso não lhe impeça de escrever, tudo bem.
Hoje, andando sozinho pela cidade tive algumas ideias e uma ou outra conversa que com certeza renderia um bom texto. Mas ao invés de escrevê-las resolvi tentar entender a razão pela qual escrevo e quando tudo isso começou, de fato. Tomava meu café enquanto tentava voltar no tempo e ter algum resquício de memória sobre quando, de fato, comecei a escrever.
Por que continuar a escrever? O que te move até as palavras, as frases, as metáforas? Por que você leva isso a sério? O que você ganha com isso?
Escrevo para me encontrar e me perder, para salvar histórias, capturar pessoas e lugares. Escrevo para entender e confundir, para dar um sentido narrativo à minha vida. E continuarei escrevendo, por mais dolorido que seja, ainda que precise vencer todo e qualquer crítico e, principalmente, a mim mesmo.
E você vai continuar escrevendo porquê escrever é, acima de tudo, viver. Encha-se de vida e continue.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, agente literário, publicitário, gestor editorial e influenciador digital. Dez livros publicados. Membro benemérito "ad honorem" do Centro Cultural, Literário e Artístico de PORTUGAL. Contato: autoreugeniosantana9@gmail.com e (41) 99547-0100 WhatsApp
sexta-feira, 14 de junho de 2019
FRAGMENTOS ESSENCIAIS DA FILOSOFIA DE NIETZSCHE (*)
Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em 1844 na cidade de Röcken, Alemanha. Ele cresceu em um ambiente ortodoxo e protestante dominado por mulheres; seu pai era pastor evangélico e faleceu quando ele tinha cinco anos de idade.
Nietzsche estudou em um orfanato na maior parte de sua formação escolar. Ele se interessava principalmente por antiguidade grega e romana. Cursou filosofia clássica nas universidades de Bonn e Leipzig. Nesta última, ele estabeleceu contato primordial com as ideias de Arthur Schopenhauer, seu maior influenciador literário, e com a música clássica de Wagner, compositor que admirava e que mais tarde se tornaria seu amigo pessoal.
Em 1869, com 25 anos de idade, Nietzsche atuava como professor de filologia clássica na Universidade da Basileia. Contudo, seu ofício foi interrompido um ano depois, quando eclodiu a Guerra Franco-Prussiana. O alemão participou ativamente do conflito como enfermeiro, até ser obrigado a abandonar a função por causa de uma gravíssima disenteria, da qual nunca se recuperou totalmente.
No ano de 1881, Nietzche conheceu a mulher de sua vida: Lou Andreas Salomé, por quem se apaixonou perdidamente. Mas, por crueldade do destino, ela acabou se casando com um amigo seu. Essa traição estapafúrdia foi o estopim para consolidar nele uma forte misoginia e ceticismo em relação ao amor. O coração de Nietzsche nunca mais seria habitado por alguém além de si mesmo.
O alemão passou a desenvolver uma resistência afetiva quase que completamente ascética, do que surpreende sua estrondosa sensibilidade na investigação de assuntos humanos.
Solitário e inconsolável de amor, mais frívolo do que antes, o filósofo estabeleceu-se na Riviera francesa e no norte da Itália, lugares que ele considerava frutíferos para pensar e escrever. Imensamente frustrado por suas obras não serem consideradas pelo público, ele passou a sofrer de acessos de loucura e paranoia em 1889, quando morava em Turim e já estava praticamente cego, literal e naturalmente.
Depois de ficar internado em algumas clínicas de reabilitação na Basileia, Nietzsche passaria o fim de sua vida na casa da mãe e da irmã, esta que cuidou dele até morrer. O alemão se foi em 1900. Apesar do melancólico fim, Nietzsche deixou um legado filosófico riquíssimo que até hoje não perdeu o poder inspirador e efetivo.
A felicidade costuma ser frágil e volátil, por isso só é possível senti-la em certos momentos. Se pudéssemos experimentar a felicidade ininterruptamente, ela perderia todo seu valor, uma vez que só percebemos ser felizes por comparação. Após um dia inteiro de trabalho, um pouco de descanso é tudo que queremos. Após um dia inteiro de chuva, o raiar do sol nos é maravilhoso. Da mesma forma, a alegria aparenta ser genuína e intensa quando atravessamos um período de tristeza.
A obrigação de ser feliz é grande motivadora de estresse e frustração. Nietzsche nos lembra:
"A felicidade vem em lampejos. Tentar fazer com que ela dure para sempre é aniquilar esses lampejos que nos ajudam a seguir em frente no longo e tortuoso caminho da vida."
Nietzsche pensava que a verdade em que se acredita nada mais é do que uma crença na veracidade de um engano. Sendo assim, a verdade seria uma ilusão de criação.
O autor refere-se à verdade como sendo uma vontade. Para ele, a verdade não é uma coisa que está ali para se descobrir, mas algo que está por criar e que dá nome a um processo. Nietzsche entende que a vontade de verdade decorre de uma vontade de engano: a necessidade de se atribuir um determinado valor à categoria de verdade para fazê-lo mais forte e poderoso a fim de que se possa acreditar nele. Porém, como este valor foi criado historicamente, seria um engano tê-lo por definitivo.
"Verdade: em minha maneira de pensar, a verdade não significa necessariamente o contrário de um erro, mas, somente, e em todos os casos mais decisivos, a posição ocupada por diferentes erros uns em relação aos outros."
Se se aceita a verdade como moral, ela representa uma conduta necessária. É impossível viver sem ter representações morais da verdade. Precisamos acreditar na verdade para validarmos nossa existência, por exemplo, sem a qual não haveria engano. Para Nietzsche, a vontade de verdade e a vontade de engano são a mesma, só que observadas de duas perspectivas diferentes. A vontade de verdade, a busca da verdade e a crença nesta verdade decorrem da necessidade de se acreditar nas construções históricas e culturais.
Mentimos para sermos mais felizes, embora se prefira negar. Niezsche costumava dizer que "enganar os outros é um defeito insignificante, pois o que nos transforma em monstros é o autoengano".
De fato, é muito mais fácil não admitir que se está errado do que aceitar o próprio erro. Às vezes, basta assumir humildemente um erro; apenas dessa forma nos contentaremos com as consequências de uma ilusão que possa ser vivida.
Por várias vezes, Nietzsche falou sobre a importância do humor, que ele considerava uma tábua de salvação para os desgostos que a vida oferece:
"O homem sofre tão terrivelmente no mundo que se viu obrigado a inventar o riso."
Para o filósofo, as pessoas deveriam tachar de falsa toda verdade que não seja acompanhada por um sorriso. Essa é uma ideia acalentadora, embora possa ser mentirosa em sua própria atribuição. Mas os benefícios são evidentes.
"Em qualquer homem autêntico existe uma criança querendo brincar."
Para Nietzsche, considerar fábulas e jogos coisas infantis é sinal de grande pobreza de espírito, pois somente as pessoas capazes de manter a curiosidade e o senso lúdico da infância terão sempre novos êxitos ao seu alcance. Crianças encaram a vida como uma brincadeira, e pensam que contos de fada são verdadeiros. Não significa que devemos agir de forma ingênua, mas é essencial mantermos um pé no mundo da fantasia, o que aflora nossa imaginação e nos torna mais criativos e producentes.
Às vezes, tudo que precisamos é deixar de lado o mundo dos adultos e assumir a persona que já fomos antes.
De acordo com o filósofo, quem deseja aprender a voar deve primeiro aprender a caminhar. Fazer qualquer coisa sem estar preparado gera decepção iminente:
"Quem espera levantar voo sem antes passar pelo aprendizado básico está condenado a uma queda da qual não se reerguerá."
Aquele que conhece suas capacidades e, mais importante, suas limitações, sabe exatamente quais lutas pode lutar e quais não.
"Os cínicos costumam se esconder por trás da maldade do mundo para dar asas à própria perversão. No entanto, os atos alheios nunca justificam os nossos."
Com esta reflexão, Nietzsche refere-se às dificuldades da vida que podem fazer com que uma pessoa aparentemente benevolente se torne malévola por uma justiça fraudulenta. Entretanto, ele lembra que, no final, uma decisão, mesmo terrível, é opção pessoal, e a responsabilidade, intransferível.
"Somente quando o homem tiver adquirido o conhecimento de todas as coisas poderá conhecer plenamente a si mesmo. Porque as coisas nada mais são que as fronteiras do homem."
O filósofo sugere que não há nada mais trabalhoso que o autoconhecimento. Então, para se chegar a um elevado nível de sabedoria, o homem precisa se dispor a aceitar seus limites intelectuais, é claro, com ambição e humildade suficientes.
O êxito costuma ser um veneno, pois um privilegiado pode agir como prepotente, e assim ficar estagnado. Nietzsche ensina que, quando a sorte deixa de sorrir para o bem-sucedido, de uma hora para outro seu mundo vira de cabeça para baixo. O fracasso, por sua vez, representa sempre uma oportunidade para melhorar; favorece a humildade, nos ajuda a manter o pé no chão, estimula nossa imaginação e nos faz explorar novas perspectivas.
Aqueles que se dispõem a alcançar algo precisam estar devidamente preparados para derrocar, ao passo que novas oportunidades possam ser almejadas.
Segundo Nietzsche:
"Uma guerra não é travada apenas nos campos de batalha tradicionais, em que tropas tentam aniquilar umas às outras. A luta acontece em qualquer área em que os seres humanos disputem influência."
Existem disputas de poder em toda e qualquer circunstância, seja em casa, no trabalho ou onde for, quando duas ou mais pessoas usam suas armas para conseguir o papel central. Assim como os animais, seres humanos são territoriais e constantemente buscam aumentar seus domínios, inclusive o emocional. Mas, como lembra Nietzsche, nem sempre encontramos um inimigo para opor àquele em perspectiva que está nos enfrentando e, às vezes, precisamos de fato recorrer a outras estratégias.
De acordo com o alemão, a gratidão é uma condição indispensável para apreciar a beleza do mundo. Algumas pessoas aparentemente têm tudo, e sentem como se não tivessem porcaria nenhuma, ao passo que outras realmente têm pouco, mas maravilham-se com o pouco.
Nietzsche ressalta que, se praticarmos a arte da gratidão, alimentaremos nosso ser emocional de boas sensações, principalmente nas horas de dificuldade. Mesmo em ocasiões de tensão e estresse, basta deixarmos agraciar pelas belezas do mundo para encontrar forças que nos permitam superar as árduas provações que advirem.
(*) EUGENIO SANTANA é Gestor editorial, Assessor de imprensa, Analista de Marketing digital, Crítico literário, Outsider, Blogueiro; Self-made man. Escreve Biografias. Autor de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora, entre outros. Radicado em Curitiba, PR. (41) 99547-0100 WhatsApp
quinta-feira, 13 de junho de 2019
VINCENT VAN GOGH ERA UM APAIXONADO PELA LITERATURA (*)
Inúmeras vezes, nas cartas ao irmão Theo, Vincent Van Gogh discorre sobre literatura com a argúcia de um crítico e a paixão de um leitor voraz. A literatura é um tema tão recorrente para Van Gogh que nem nos surpreendemos quando ele confessa que poderia tê-la escolhido como meio de expressão, caso a pintura não houvesse se afirmado em sua vida.
A bipolaridade emocional que o assolava afastou os amigos, incendiou o pavio das severas crises de depressão que sofreu, mas raramente o impediu que se dedicasse com afinco à criação dos seus quadros e à leitura intensa. Duas fortalezas resistiram até o fim na alma de Van Gogh, a pintura e os livros.
Quem não pensa em Van Gogh também como um escritor certamente não leu suas cartas, um valioso acervo literário e histórico. E Vincent não se restringia a escrever, ele pensava sobre literatura. A rica correspondência com Emile Bernard, um pintor que se arriscava como poeta, demonstra sua lúcida habilidade em avaliar textos.
Não foi à toa que o perfil mais visceral de Van Gogh foi desenhado por um escritor francês que nos deixou o manifesto intitulado “Van Gogh, o suicida da sociedade” , de Antonin Artaud:
“Não, Van Gogh não era louco, mas suas pinturas eram bombas atômicas, cujo ângulo de visão, ao lado de todas as outras pinturas polêmicas da época, foi capaz de abalar gravemente o conformismo larvar da burguesia” ...
Continua sobre Van Gogh:
“E o que é um autêntico alienado? É um homem que preferiu torna-se louco, no sentido em que isso é socialmente entendido, a conspurcar uma certa ideia superior da honra humana. Foi assim que a sociedade estrangulou em seus asilos todos aqueles dos quais ela quis se livrar ou se proteger por terem se recusado a se tornar cúmplices dela em algumas grandes safadezas. Porque o alienado é também o homem que a sociedade se negou a ouvir e quis impedi-lo de dizer insuportáveis verdades”.
“Há em todo demente um gênio incompreendido em cuja mente brilha uma ideia assustadora e que só no delírio consegue encontrar uma saída para as coerções que a vida lhe preparou”.
A pintura de Van Gogh está ligada, numa comunhão indissolúvel, à obra escrita que ele nos legou através das suas cartas. Uma complementa a outra. Daí sua fama e sua história precederem e predominarem sobre a arte que ele produziu.
Protagonista de amores obsessivos, do famoso caso em que decepa a própria orelha para entregar a uma prostituta, dos acessos de fúria, dos mergulhos profundos na melancolia. Tudo em torno de Van Gogh o rotulava como louco, mas as suas maiores predileções literárias espelhavam um homem romântico e voltado para a razão. Era um pintor que valorizava a palavra, conforme revela ao amigo Emile Bernard em uma de suas cartas:
“Há tanta gente, especialmente entre nossos camaradas, que imagina que as palavras não significam nada – pelo contrário, a verdade é que dizer uma coisa bem é tão interessante e difícil quanto pintá-la. Há a arte das linhas e das cores, mas também existe a arte das palavras, e esta permanecerá”.
Destacava a importância que via na criatividade:
“Um homem pode ter uma soberba orquestração de cores e não ter ideias”.
A admiração incondicional de Van Gogh por Émile Zola demonstra o fascínio que o racionalismo científico lhe causava. Zola é citado incontáveis vezes em suas correspondências.
“Chegando à França como um estrangeiro, eu, talvez melhor do que os franceses nascidos e criados aqui, senti o que havia em Delacroix e em Zola; e a minha admiração sincera e total por eles não conhece limites”.
“Em sua qualidade de pintores de uma sociedade, de uma natureza tomada em sua plenitude, assim como Zola e Balzac, produzem raras emoções artísticas naqueles que os amam, justamente porque eles abrangem a totalidade da época que descrevem”.
Vincent exprimia muitos elogios aos autores franceses, principalmente os do século 19, com exceção de Baudelaire, por quem nutria certa implicância por ter criticado pintores que ele idolatrava.
“Vamos tomar Baudelaire por aquilo que ele realmente é: um poeta moderno, do mesmo modo que Musset, mas que ele deixe de se meter a falar de pintura”.
Em uma das cartas comenta que estudou um dos livros de Víctor Hugo: “O último dia de um condenado”, um manifesto contra a pena de morte que suscitou enorme repercussão ao ser publicado. Há trechos em ele faz referências a Guy de Maupassant. Lia historiadores, como Jules Michelet, para conhecer a história da Revolução Francesa. Mas Van Gogh não deixava de praticar algum ecletismo literário quando fala das suas leituras de Shakespeare, Charles Dickens, Beecher Stowe, Ésquilo, da bíblia e dos evangelhos.
“Meu Deus, como é belo Shakespeare. Quem é misterioso como ele? Suas palavras e sua maneira de fazer equivalem a um pincel fremente de febre e emoção. Mas é preciso aprender a ler, como é preciso aprender a ver e aprender a viver” (Van Gogh em Cartas a Theo)
É de Van Gogh uma das mais belas sentenças que podemos encontrar sobre a nossa humanidade em qualquer literatura.
“Eu também gostaria de saber aproximadamente o que é que eu sou. Talvez eu seja a larva de mim mesmo". (Carta a Emile Bernard)
Ao terminarmos de ler as cartas de Vincent, nos sucede um sonho encharcado de frenética juventude, mas um súbito cansaço nos envelhece. Colocamos de lado aquele velho chapéu de palha, rodeado de velas acesas, que usamos para romper a noite em que pintamos luzes febris na tela branca. Velas que se apagaram com o silêncio em luto dos corvos sobre os campos de trigo.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, agente literário, publicitário, gestor editorial e influenciador digital. Dez livros publicados. Membro benemérito "ad honorem" do Centro Cultural, Literário e Artístico de PORTUGAL. Contato: autoreugeniosantana9@gmail.com e (41) 99547-0100 WhatsApp
sexta-feira, 12 de abril de 2019
A MORTE DOS PAIS CAUSA SENTIMENTO DE ABANDONO E PERDA DE REFERÊNCIA (*)
Depois da morte dos pais, a vida muda muito. Enfrentar a orfandade, inclusive para pessoas adultas, é uma experiência surpreendente. No fundo de todas as pessoas sempre continua vivendo aquela criança que pode correr para a mãe ou o pai para se sentir protegido. Mas quando eles vão embora, essa opção desaparece para sempre.
Você irá deixar de vê-los, não por uma semana, nem por um mês, e sim pelo resto da vida. Os pais foram as pessoas que nos trouxeram ao mundo e com quem você compartilhou o mais intimo e frágil.Já não estarão presentes aqueles seres pelos quais, em grande parte, chegamos a ser o que somos.
Nunca estamos plenamente preparados para enfrentar a morte, ainda mais quando se trata da morte dos pais. É uma grande adversidade que dificilmente pode ser superada totalmente. Normalmente, o máximo que se consegue é assumi-la e conviver com ela. Para superá-la, pelo menos em teoria, deveríamos entendê-la, mas a morte, no sentido estrito, é totalmente incompreensível. É um dos grandes mistérios da existência: talvez o maior.
Obviamente, a forma como assimilamos as perdas tem muito a ver com a forma como aconteceram. Uma morte das chamadas por “causas naturais” é dolorosa, mas um acidente ou um assassinato é muito mais. Se a morte tiver sido precedida por uma longa doença, a situação é muito diferente de quando acontece de forma súbita.
Também influencia o tempo entre a morte de um de outro: se houve pouco tempo, o luto será mais complexo. Se ao contrário, o lapso for mais extenso, certamente a pessoa estará um pouco melhor para aceitá-lo.
Não apenas é o corpo que se vai, e sim todo um universo. Um mundo feito de palavras, de carícias, de gestos. Inclusive, de repetidos conselhos que às vezes irritavam um pouco e de “manias” que nos faziam sorrir ou esfregar a cabeça porque os reconhecemos nelas. Agora começam a se fazer sentir ausentes de uma forma difícil de lidar.
A morte não avisa. Pode ser presumida, mas nunca anuncia exatamente quando irá chegar. Tudo se sintetiza em um instante e esse instante é categórico e determinante: irreversível. Tantas experiências vividas ao lado deles, boas e ruins, se estremecem de repente e ficam somente em lembranças. O ciclo se cumpriu e é hora de dizer adeus.
Em geral, pensamos que esse dia nunca chegará, até que chega e se faz real. Ficamos em estado de choque e vemos apenas uma caixão, com o corpo rígido e quieto, que não fala e não se move. Que está ali, sem estar ali…
Porque com a morte começam a ser compreendidos muitos aspectos da vida das pessoas falecidas. Aparece uma compreensão mais profunda. Talvez o fato de não ter as pessoas queridas presentes suscita em nós o entendimento sobre o porquê de muitas atitudes até então incompreensíveis, contraditórias ou mesmo repulsivas.
Por isso, a morte pode trazer consigo um sentimento de culpa frente a aquele que morreu. É preciso lutar contra esse sentimento, já que não acrescenta nada e afunda em mais tristeza, sem poder remediar nada. Para que se culpar se você não cometeu nenhum erro? Somos seres humanos e acompanhando essa despedida, precisa existir um perdão: do que se vai para com aquele que fica ou do que fica para com aquele que se vai.
Quando os pais morrem, independentemente da idade, as pessoas costumam experimentar um sentimento de abandono. É uma morte diferente das outras. Por sua vez, algumas pessoas se negam a dar a importância que o fato merece, como mecanismo de defesa, em forma de uma negação encoberta. Mas esses lutos não resolvidos retornam em forma de doença, de fadiga, de irritabilidade ou sintomas de depressão.
Os pais são o primeiro amor. Não importa quantos conflitos ou diferenças tenham existido com eles: são seres únicos e insubstituíveis no mundo emocional. Mesmo sendo autônomos e independentes, mesmo que o nosso relacionamento com eles tenha sido tortuoso. Quando já não estão, passa a existir uma sensação de “nunca mais” para uma forma de proteção e de apoio que, de uma forma ou de outra, sempre esteve ali.
De fato, aqueles que não conheceram seus pais, ou se afastaram deles muito cedo, costumam carregar essa ausência como um lastro a vida toda. Uma ausência que é presença: fica no coração um lugar que sempre lhes pertence.
De qualquer forma, uma das grandes perdas na vida é a dos pais. Pode ser difícil de superar se houve uma injustiça ou negligência no trato deles. Por isso, enquanto estiverem vivos, é importante ter consciência de que os pais não estarão ali para sempre. De que são, genética e psicologicamente, a realidade que nos deu origem. Que são únicos e que a vida mudará para sempre quando partirem.
(*) EUGENIO SANTANA é Gestor editorial, Assessor de imprensa, Analista de Marketing digital, Crítico literário, Outsider, Blogueiro; Self-made man. Escreve Biografias. Autor de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora, entre outros. (41) 99547-0100 WhatsApp
AMAR SEM POSSUIR (*)
O maior sinal do amor é deixar a pessoa amada ser ela mesma. É também uma enorme amostra de maturidade psicológica. E é algo muito difícil de alcançar, já que nossa sociedade “nos programa” para a posse. Em uma cultura onde vale mais quem tem mais, é difícil não extrapolar esse conceito para as relações interpessoais. Então nos tornamos possessivos.
Basta-nos apenas termos algo, apenas sentirmos que algo é nosso, que já somos tomados pelo medo de perdê-lo. E quanto mais nos apegamos a essa posse ou quanto mais amamos a pessoa, maior é esse medo.
Em muitos casos, esse medo da perda remonta a experiências passadas, especialmente a infância, que deixaram cicatrizes dolorosas em nosso cérebro. Apreciou-se que as pessoas que sofreram perdas na infância ou que não receberam atenção suficiente tendem a desenvolver um apego inseguro que as leva a depender dos outros ou a controlar suas vidas. Essas pessoas exigem atenção constante e não querem compartilhar a pessoa especial com mais ninguém por medo que lhe “roubem” e desapareçam com ela de sua vida, o que as fará experimentar os sentimentos de desamparo que sentiam quando crianças.
No entanto, pode haver outras razões para uma pessoa desenvolver esse relacionamento possessivo. De fato, a possessividade sempre implica em insegurança e baixa auto-estima. Pessoas inseguras tendem a ser mais possessivas porque têm mais medo de perder o que conquistaram porque, no fundo, acham que não merecem isso.
O problema é que essas pessoas, em vez de analisar de onde vem essa possessividade, tentam neutralizar seus medos e inseguranças com mais controle.
Houve uma vez um monge seguidor de Buda. O monge costumava perambular dia e noite em busca de iluminação. Ele carregava consigo uma estátua de madeira de Buda que ele próprio esculpira e todos os dias queimava incenso em frente à estátua e adorava o Buda.
Um dia ele chegou a uma cidade tranquila e decidiu passar alguns dias lá. Ele se estabeleceu em um templo budista onde havia várias estátuas de Buda. O monge seguiu sua rotina diária, assim também queimou incenso em frente a sua estátua no templo, mas não gostou da ideia de que o incenso que queimava por sua estátua chegasse às outras estátuas.
Então uma ideia lhe ocorreu: ele colocou um funil na frente de sua estátua para que o cheiro do incenso só chegasse a ela. Depois de alguns dias, ele percebeu que o nariz de sua estátua estava preto e feio da fumaça do incenso.
Essa simples parábola nos mostra o que pode acontecer quando a possessividade nos cega. Na verdade, não é difícil cair em um comportamento do monge e acabar sufocando a pessoa que amamos. No entanto, o curioso sobre o controle é que quanto mais você aplicá-lo, mais controle você quer, porém mais ilusório se torna.
– Não confunda apego com amor. A possessividade geralmente vem da confusão: interpretamos erroneamente nosso apego como amor. O apego é uma emoção superficial que nos une, enquanto o amor é uma emoção mais profunda que nos liberta. Amar alguém é deixá-lo ir, amarrar alguém é experimentar apego. É por isso que a possessividade é uma forma de apego que não reflete o amor, mas sim nosso desejo e necessidade de controle.
– Deixe a necessidade de controle. Possessividade surge da insegurança, que tentamos atenuar através do controle, porque nos dá a falsa ilusão de segurança. No entanto, quando você percebe que na realidade o controle que você exerce é mínimo, porque a qualquer momento a vida pode arrebatar qualquer coisa ou qualquer pessoa, então você entende que não faz sentido desperdiçar tanta energia inutilmente. Naquele momento, um pequeno milagre ocorre: em vez de se esforçar para controlar, você se esforça para desfrutar mais dessa pessoa ou de suas posses.
– Cultive seu “eu”. A dependência emocional do outro e o desejo de controlá-lo surgem quando sentimos que não somos capazes de satisfazer nossas necessidades. Quando temos um “eu” amadurecido, quando confiamos em nossas habilidades e nos conectamos com nossas emoções, a possessividade desaparece, simplesmente porque não precisamos disso, não tem razão de ser. Portanto, para amar sem dominação ou dependência, é necessário realizar um profundo trabalho interior.
– Suponha que todos tenham o direito de ser. Nós não fazemos bem aos outros quando impomos nossas opiniões e maneiras de fazer. Portanto, não caia no erro de tentar impor sua maneira de ver o mundo para “ajudar” o outro. Ninguém é obrigado a atender às nossas expectativas, de modo que o maior presente que podemos dar àqueles que amamos é deixá-los ser e aceitá-los incondicionalmente.
(*) EUGENIO SANTANA é Gestor editorial, Assessor de imprensa, Analista de Marketing digital, Crítico literário, Outsider, Blogueiro; Self-made man. Escreve Biografias. Autor de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora, entre outros. (41) 99547-0100 WhatsApp
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