sábado, 22 de junho de 2019

INESQUECÍVEIS, RECLUSOS, EXÓTICOS, TRÁGICOS E MELANCÓLICOS ARTISTAS (*)

A arte sempre reuniu gente interessante: excêntricos, revolucionários, intelectuais, nerds e "loucos". Porém, poucos grupos são tão interessantes quanto o dos artistas melancólicos, formado por pessoas que manifestam, através de suas obras, todo o sentimento de solidão e agonia que têm. As personalidades que se encaixam nessa descrição são inúmeras e falar sobre cada uma delas em um mesmo texto seria uma tarefa praticamente impossível. Por isso, já antecipo as minhas desculpas por deixar tantos gênios de fora dessa lista. O Romantismo, movimento literário que surgiu na Europa, traz claramente características melancólicas. Os poetas britânicos Lord Byron e John Keats são exemplos perfeitos disso. Trazem em seus poemas todo o pessimismo e a tristeza do mundo. Viviam deprimidos e expressavam isso em seus belos, mas perturbadores, poemas. O norte-americano Edgar Allan Poe é outro exemplo. O escritor, considerado o pai do romance policial, teve uma vida trágica. Perdeu os pais, sua amada e morreu praticamente desconhecido, muito afetado pelos efeitos do alcoolismo. Suas obras são repletas de mortes, dor e sofrimento. Em muitas delas, fantasmas e outros seres que atormentam os protagonistas, na verdade não existem. São criações da mente dos personagens, que sofrem com o remorso ou a solidão. Na pintura, poucas almas são tão atormentadas quanto a de Van Gogh. Por mais genial que o pintor tenha sido, o reconhecimento veio apenas depois de sua morte. O artista fracassou em muitas coisas que tentou, inclusive, constituir uma família. À beira da loucura, Van Gogh deu fim à sua própria vida, em 1890. Na música os exemplos são muitos e abrangem praticamente todos os estilos. No rock, existem diversos exemplos, como Jim Morrison, Kurt Cobain, Syd Barrett e Renato Russo. Morrison, líder do The Doors, sempre foi polêmico e triste. Suas letras, que mais pareciam poemas pela métrica e linguagem, demonstram isso com exatidão. Usuário de drogas, Morrison foi encontrado morto em sua banheira, aos 27 anos de idade. A história de Kurt Cobain, vocalista e guitarrista do Nirvana, é bem parecida. Ele vivia deprimido e abusava das drogas. Quando conseguiu a fama, sua tristeza aumentou. Ficava frequentemente recluso e acabou se matando, em 1994, depois de deixar uma carta de despedida. O guitarrista Syd Barrett, um dos fundadores do Pink Floyd, era um gênio à frente do seu tempo. Porém, deprimido e usuário constante de alucinógenos, especialmente o LSD, o músico acabou recluso. Passou vários anos isolado, pintando quadros. Em uma ocasião, já depois de ter saído da banda, Barrett apareceu no estúdio em que o Pink Floyd gravava o disco Wish You Were Here. Estava obeso, careca, com as sobrancelhas raspadas e, segundo os membros do próprio Pink Floyd, com o olhar perdido, mais parecido com uma TV fora do ar. No Brasil, provavelmente, o maior exemplo é Renato Russo. As letras da Legião Urbana são, na maior parte, repletas de dor e tristeza. O músico sofria com depressão e tentou o suicídio algumas vezes. A Via Láctea, canção do álbum Tempestade, demonstra muito bem o que sentia Renato Russo, morto em 1996, em decorrência da aids. O cineasta Tim Burton é um exemplo bem contemporâneo daqueles que utilizam a melancolia através da arte. Muitos de seus filmes não têm o tradicional final feliz. Além disso, os personagens de suas animações – que normalmente têm crianças como público-alvo – são bem aterrorizantes. Burton geralmente constrói histórias em que o protagonista não se encaixa na sociedade. Um sentimento que ele tem desde que era criança, quando teve sérios problemas emocionais. (*) EUGENIO SANTANA é Escritor, Gestor editorial, Assessor de imprensa, Ensaísta, Redator publicitário, Blogueiro, Biógrafo, Agente literário. Onze livros publicados. Autor, entre outros, de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora. Radicado em Curitiba, PR. (41) 99547-0100 WhatsApp