sexta-feira, 14 de junho de 2019

FRAGMENTOS ESSENCIAIS DA FILOSOFIA DE NIETZSCHE (*)

Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em 1844 na cidade de Röcken, Alemanha. Ele cresceu em um ambiente ortodoxo e protestante dominado por mulheres; seu pai era pastor evangélico e faleceu quando ele tinha cinco anos de idade. Nietzsche estudou em um orfanato na maior parte de sua formação escolar. Ele se interessava principalmente por antiguidade grega e romana. Cursou filosofia clássica nas universidades de Bonn e Leipzig. Nesta última, ele estabeleceu contato primordial com as ideias de Arthur Schopenhauer, seu maior influenciador literário, e com a música clássica de Wagner, compositor que admirava e que mais tarde se tornaria seu amigo pessoal. Em 1869, com 25 anos de idade, Nietzsche atuava como professor de filologia clássica na Universidade da Basileia. Contudo, seu ofício foi interrompido um ano depois, quando eclodiu a Guerra Franco-Prussiana. O alemão participou ativamente do conflito como enfermeiro, até ser obrigado a abandonar a função por causa de uma gravíssima disenteria, da qual nunca se recuperou totalmente. No ano de 1881, Nietzche conheceu a mulher de sua vida: Lou Andreas Salomé, por quem se apaixonou perdidamente. Mas, por crueldade do destino, ela acabou se casando com um amigo seu. Essa traição estapafúrdia foi o estopim para consolidar nele uma forte misoginia e ceticismo em relação ao amor. O coração de Nietzsche nunca mais seria habitado por alguém além de si mesmo. O alemão passou a desenvolver uma resistência afetiva quase que completamente ascética, do que surpreende sua estrondosa sensibilidade na investigação de assuntos humanos. Solitário e inconsolável de amor, mais frívolo do que antes, o filósofo estabeleceu-se na Riviera francesa e no norte da Itália, lugares que ele considerava frutíferos para pensar e escrever. Imensamente frustrado por suas obras não serem consideradas pelo público, ele passou a sofrer de acessos de loucura e paranoia em 1889, quando morava em Turim e já estava praticamente cego, literal e naturalmente. Depois de ficar internado em algumas clínicas de reabilitação na Basileia, Nietzsche passaria o fim de sua vida na casa da mãe e da irmã, esta que cuidou dele até morrer. O alemão se foi em 1900. Apesar do melancólico fim, Nietzsche deixou um legado filosófico riquíssimo que até hoje não perdeu o poder inspirador e efetivo. A felicidade costuma ser frágil e volátil, por isso só é possível senti-la em certos momentos. Se pudéssemos experimentar a felicidade ininterruptamente, ela perderia todo seu valor, uma vez que só percebemos ser felizes por comparação. Após um dia inteiro de trabalho, um pouco de descanso é tudo que queremos. Após um dia inteiro de chuva, o raiar do sol nos é maravilhoso. Da mesma forma, a alegria aparenta ser genuína e intensa quando atravessamos um período de tristeza. A obrigação de ser feliz é grande motivadora de estresse e frustração. Nietzsche nos lembra: "A felicidade vem em lampejos. Tentar fazer com que ela dure para sempre é aniquilar esses lampejos que nos ajudam a seguir em frente no longo e tortuoso caminho da vida." Nietzsche pensava que a verdade em que se acredita nada mais é do que uma crença na veracidade de um engano. Sendo assim, a verdade seria uma ilusão de criação. O autor refere-se à verdade como sendo uma vontade. Para ele, a verdade não é uma coisa que está ali para se descobrir, mas algo que está por criar e que dá nome a um processo. Nietzsche entende que a vontade de verdade decorre de uma vontade de engano: a necessidade de se atribuir um determinado valor à categoria de verdade para fazê-lo mais forte e poderoso a fim de que se possa acreditar nele. Porém, como este valor foi criado historicamente, seria um engano tê-lo por definitivo. "Verdade: em minha maneira de pensar, a verdade não significa necessariamente o contrário de um erro, mas, somente, e em todos os casos mais decisivos, a posição ocupada por diferentes erros uns em relação aos outros." Se se aceita a verdade como moral, ela representa uma conduta necessária. É impossível viver sem ter representações morais da verdade. Precisamos acreditar na verdade para validarmos nossa existência, por exemplo, sem a qual não haveria engano. Para Nietzsche, a vontade de verdade e a vontade de engano são a mesma, só que observadas de duas perspectivas diferentes. A vontade de verdade, a busca da verdade e a crença nesta verdade decorrem da necessidade de se acreditar nas construções históricas e culturais. Mentimos para sermos mais felizes, embora se prefira negar. Niezsche costumava dizer que "enganar os outros é um defeito insignificante, pois o que nos transforma em monstros é o autoengano". De fato, é muito mais fácil não admitir que se está errado do que aceitar o próprio erro. Às vezes, basta assumir humildemente um erro; apenas dessa forma nos contentaremos com as consequências de uma ilusão que possa ser vivida. Por várias vezes, Nietzsche falou sobre a importância do humor, que ele considerava uma tábua de salvação para os desgostos que a vida oferece: "O homem sofre tão terrivelmente no mundo que se viu obrigado a inventar o riso." Para o filósofo, as pessoas deveriam tachar de falsa toda verdade que não seja acompanhada por um sorriso. Essa é uma ideia acalentadora, embora possa ser mentirosa em sua própria atribuição. Mas os benefícios são evidentes. "Em qualquer homem autêntico existe uma criança querendo brincar." Para Nietzsche, considerar fábulas e jogos coisas infantis é sinal de grande pobreza de espírito, pois somente as pessoas capazes de manter a curiosidade e o senso lúdico da infância terão sempre novos êxitos ao seu alcance. Crianças encaram a vida como uma brincadeira, e pensam que contos de fada são verdadeiros. Não significa que devemos agir de forma ingênua, mas é essencial mantermos um pé no mundo da fantasia, o que aflora nossa imaginação e nos torna mais criativos e producentes. Às vezes, tudo que precisamos é deixar de lado o mundo dos adultos e assumir a persona que já fomos antes. De acordo com o filósofo, quem deseja aprender a voar deve primeiro aprender a caminhar. Fazer qualquer coisa sem estar preparado gera decepção iminente: "Quem espera levantar voo sem antes passar pelo aprendizado básico está condenado a uma queda da qual não se reerguerá." Aquele que conhece suas capacidades e, mais importante, suas limitações, sabe exatamente quais lutas pode lutar e quais não. "Os cínicos costumam se esconder por trás da maldade do mundo para dar asas à própria perversão. No entanto, os atos alheios nunca justificam os nossos." Com esta reflexão, Nietzsche refere-se às dificuldades da vida que podem fazer com que uma pessoa aparentemente benevolente se torne malévola por uma justiça fraudulenta. Entretanto, ele lembra que, no final, uma decisão, mesmo terrível, é opção pessoal, e a responsabilidade, intransferível. "Somente quando o homem tiver adquirido o conhecimento de todas as coisas poderá conhecer plenamente a si mesmo. Porque as coisas nada mais são que as fronteiras do homem." O filósofo sugere que não há nada mais trabalhoso que o autoconhecimento. Então, para se chegar a um elevado nível de sabedoria, o homem precisa se dispor a aceitar seus limites intelectuais, é claro, com ambição e humildade suficientes. O êxito costuma ser um veneno, pois um privilegiado pode agir como prepotente, e assim ficar estagnado. Nietzsche ensina que, quando a sorte deixa de sorrir para o bem-sucedido, de uma hora para outro seu mundo vira de cabeça para baixo. O fracasso, por sua vez, representa sempre uma oportunidade para melhorar; favorece a humildade, nos ajuda a manter o pé no chão, estimula nossa imaginação e nos faz explorar novas perspectivas. Aqueles que se dispõem a alcançar algo precisam estar devidamente preparados para derrocar, ao passo que novas oportunidades possam ser almejadas. Segundo Nietzsche: "Uma guerra não é travada apenas nos campos de batalha tradicionais, em que tropas tentam aniquilar umas às outras. A luta acontece em qualquer área em que os seres humanos disputem influência." Existem disputas de poder em toda e qualquer circunstância, seja em casa, no trabalho ou onde for, quando duas ou mais pessoas usam suas armas para conseguir o papel central. Assim como os animais, seres humanos são territoriais e constantemente buscam aumentar seus domínios, inclusive o emocional. Mas, como lembra Nietzsche, nem sempre encontramos um inimigo para opor àquele em perspectiva que está nos enfrentando e, às vezes, precisamos de fato recorrer a outras estratégias. De acordo com o alemão, a gratidão é uma condição indispensável para apreciar a beleza do mundo. Algumas pessoas aparentemente têm tudo, e sentem como se não tivessem porcaria nenhuma, ao passo que outras realmente têm pouco, mas maravilham-se com o pouco. Nietzsche ressalta que, se praticarmos a arte da gratidão, alimentaremos nosso ser emocional de boas sensações, principalmente nas horas de dificuldade. Mesmo em ocasiões de tensão e estresse, basta deixarmos agraciar pelas belezas do mundo para encontrar forças que nos permitam superar as árduas provações que advirem. (*) EUGENIO SANTANA é Gestor editorial, Assessor de imprensa, Analista de Marketing digital, Crítico literário, Outsider, Blogueiro; Self-made man. Escreve Biografias. Autor de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora, entre outros. Radicado em Curitiba, PR. (41) 99547-0100 WhatsApp

quinta-feira, 13 de junho de 2019

VINCENT VAN GOGH ERA UM APAIXONADO PELA LITERATURA (*)

Inúmeras vezes, nas cartas ao irmão Theo, Vincent Van Gogh discorre sobre literatura com a argúcia de um crítico e a paixão de um leitor voraz. A literatura é um tema tão recorrente para Van Gogh que nem nos surpreendemos quando ele confessa que poderia tê-la escolhido como meio de expressão, caso a pintura não houvesse se afirmado em sua vida. A bipolaridade emocional que o assolava afastou os amigos, incendiou o pavio das severas crises de depressão que sofreu, mas raramente o impediu que se dedicasse com afinco à criação dos seus quadros e à leitura intensa. Duas fortalezas resistiram até o fim na alma de Van Gogh, a pintura e os livros. Quem não pensa em Van Gogh também como um escritor certamente não leu suas cartas, um valioso acervo literário e histórico. E Vincent não se restringia a escrever, ele pensava sobre literatura. A rica correspondência com Emile Bernard, um pintor que se arriscava como poeta, demonstra sua lúcida habilidade em avaliar textos. Não foi à toa que o perfil mais visceral de Van Gogh foi desenhado por um escritor francês que nos deixou o manifesto intitulado “Van Gogh, o suicida da sociedade” , de Antonin Artaud: “Não, Van Gogh não era louco, mas suas pinturas eram bombas atômicas, cujo ângulo de visão, ao lado de todas as outras pinturas polêmicas da época, foi capaz de abalar gravemente o conformismo larvar da burguesia” ... Continua sobre Van Gogh: “E o que é um autêntico alienado? É um homem que preferiu torna-se louco, no sentido em que isso é socialmente entendido, a conspurcar uma certa ideia superior da honra humana. Foi assim que a sociedade estrangulou em seus asilos todos aqueles dos quais ela quis se livrar ou se proteger por terem se recusado a se tornar cúmplices dela em algumas grandes safadezas. Porque o alienado é também o homem que a sociedade se negou a ouvir e quis impedi-lo de dizer insuportáveis verdades”. “Há em todo demente um gênio incompreendido em cuja mente brilha uma ideia assustadora e que só no delírio consegue encontrar uma saída para as coerções que a vida lhe preparou”. A pintura de Van Gogh está ligada, numa comunhão indissolúvel, à obra escrita que ele nos legou através das suas cartas. Uma complementa a outra. Daí sua fama e sua história precederem e predominarem sobre a arte que ele produziu. Protagonista de amores obsessivos, do famoso caso em que decepa a própria orelha para entregar a uma prostituta, dos acessos de fúria, dos mergulhos profundos na melancolia. Tudo em torno de Van Gogh o rotulava como louco, mas as suas maiores predileções literárias espelhavam um homem romântico e voltado para a razão. Era um pintor que valorizava a palavra, conforme revela ao amigo Emile Bernard em uma de suas cartas: “Há tanta gente, especialmente entre nossos camaradas, que imagina que as palavras não significam nada – pelo contrário, a verdade é que dizer uma coisa bem é tão interessante e difícil quanto pintá-la. Há a arte das linhas e das cores, mas também existe a arte das palavras, e esta permanecerá”. Destacava a importância que via na criatividade: “Um homem pode ter uma soberba orquestração de cores e não ter ideias”. A admiração incondicional de Van Gogh por Émile Zola demonstra o fascínio que o racionalismo científico lhe causava. Zola é citado incontáveis vezes em suas correspondências. “Chegando à França como um estrangeiro, eu, talvez melhor do que os franceses nascidos e criados aqui, senti o que havia em Delacroix e em Zola; e a minha admiração sincera e total por eles não conhece limites”. “Em sua qualidade de pintores de uma sociedade, de uma natureza tomada em sua plenitude, assim como Zola e Balzac, produzem raras emoções artísticas naqueles que os amam, justamente porque eles abrangem a totalidade da época que descrevem”. Vincent exprimia muitos elogios aos autores franceses, principalmente os do século 19, com exceção de Baudelaire, por quem nutria certa implicância por ter criticado pintores que ele idolatrava. “Vamos tomar Baudelaire por aquilo que ele realmente é: um poeta moderno, do mesmo modo que Musset, mas que ele deixe de se meter a falar de pintura”. Em uma das cartas comenta que estudou um dos livros de Víctor Hugo: “O último dia de um condenado”, um manifesto contra a pena de morte que suscitou enorme repercussão ao ser publicado. Há trechos em ele faz referências a Guy de Maupassant. Lia historiadores, como Jules Michelet, para conhecer a história da Revolução Francesa. Mas Van Gogh não deixava de praticar algum ecletismo literário quando fala das suas leituras de Shakespeare, Charles Dickens, Beecher Stowe, Ésquilo, da bíblia e dos evangelhos. “Meu Deus, como é belo Shakespeare. Quem é misterioso como ele? Suas palavras e sua maneira de fazer equivalem a um pincel fremente de febre e emoção. Mas é preciso aprender a ler, como é preciso aprender a ver e aprender a viver” (Van Gogh em Cartas a Theo) É de Van Gogh uma das mais belas sentenças que podemos encontrar sobre a nossa humanidade em qualquer literatura. “Eu também gostaria de saber aproximadamente o que é que eu sou. Talvez eu seja a larva de mim mesmo". (Carta a Emile Bernard) Ao terminarmos de ler as cartas de Vincent, nos sucede um sonho encharcado de frenética juventude, mas um súbito cansaço nos envelhece. Colocamos de lado aquele velho chapéu de palha, rodeado de velas acesas, que usamos para romper a noite em que pintamos luzes febris na tela branca. Velas que se apagaram com o silêncio em luto dos corvos sobre os campos de trigo. (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, agente literário, publicitário, gestor editorial e influenciador digital. Dez livros publicados. Membro benemérito "ad honorem" do Centro Cultural, Literário e Artístico de PORTUGAL. Contato: autoreugeniosantana9@gmail.com e (41) 99547-0100 WhatsApp

sexta-feira, 12 de abril de 2019

A MORTE DOS PAIS CAUSA SENTIMENTO DE ABANDONO E PERDA DE REFERÊNCIA (*)

Depois da morte dos pais, a vida muda muito. Enfrentar a orfandade, inclusive para pessoas adultas, é uma experiência surpreendente. No fundo de todas as pessoas sempre continua vivendo aquela criança que pode correr para a mãe ou o pai para se sentir protegido. Mas quando eles vão embora, essa opção desaparece para sempre. Você irá deixar de vê-los, não por uma semana, nem por um mês, e sim pelo resto da vida. Os pais foram as pessoas que nos trouxeram ao mundo e com quem você compartilhou o mais intimo e frágil.Já não estarão presentes aqueles seres pelos quais, em grande parte, chegamos a ser o que somos. Nunca estamos plenamente preparados para enfrentar a morte, ainda mais quando se trata da morte dos pais. É uma grande adversidade que dificilmente pode ser superada totalmente. Normalmente, o máximo que se consegue é assumi-la e conviver com ela. Para superá-la, pelo menos em teoria, deveríamos entendê-la, mas a morte, no sentido estrito, é totalmente incompreensível. É um dos grandes mistérios da existência: talvez o maior. Obviamente, a forma como assimilamos as perdas tem muito a ver com a forma como aconteceram. Uma morte das chamadas por “causas naturais” é dolorosa, mas um acidente ou um assassinato é muito mais. Se a morte tiver sido precedida por uma longa doença, a situação é muito diferente de quando acontece de forma súbita. Também influencia o tempo entre a morte de um de outro: se houve pouco tempo, o luto será mais complexo. Se ao contrário, o lapso for mais extenso, certamente a pessoa estará um pouco melhor para aceitá-lo. Não apenas é o corpo que se vai, e sim todo um universo. Um mundo feito de palavras, de carícias, de gestos. Inclusive, de repetidos conselhos que às vezes irritavam um pouco e de “manias” que nos faziam sorrir ou esfregar a cabeça porque os reconhecemos nelas. Agora começam a se fazer sentir ausentes de uma forma difícil de lidar. A morte não avisa. Pode ser presumida, mas nunca anuncia exatamente quando irá chegar. Tudo se sintetiza em um instante e esse instante é categórico e determinante: irreversível. Tantas experiências vividas ao lado deles, boas e ruins, se estremecem de repente e ficam somente em lembranças. O ciclo se cumpriu e é hora de dizer adeus. Em geral, pensamos que esse dia nunca chegará, até que chega e se faz real. Ficamos em estado de choque e vemos apenas uma caixão, com o corpo rígido e quieto, que não fala e não se move. Que está ali, sem estar ali… Porque com a morte começam a ser compreendidos muitos aspectos da vida das pessoas falecidas. Aparece uma compreensão mais profunda. Talvez o fato de não ter as pessoas queridas presentes suscita em nós o entendimento sobre o porquê de muitas atitudes até então incompreensíveis, contraditórias ou mesmo repulsivas. Por isso, a morte pode trazer consigo um sentimento de culpa frente a aquele que morreu. É preciso lutar contra esse sentimento, já que não acrescenta nada e afunda em mais tristeza, sem poder remediar nada. Para que se culpar se você não cometeu nenhum erro? Somos seres humanos e acompanhando essa despedida, precisa existir um perdão: do que se vai para com aquele que fica ou do que fica para com aquele que se vai. Quando os pais morrem, independentemente da idade, as pessoas costumam experimentar um sentimento de abandono. É uma morte diferente das outras. Por sua vez, algumas pessoas se negam a dar a importância que o fato merece, como mecanismo de defesa, em forma de uma negação encoberta. Mas esses lutos não resolvidos retornam em forma de doença, de fadiga, de irritabilidade ou sintomas de depressão. Os pais são o primeiro amor. Não importa quantos conflitos ou diferenças tenham existido com eles: são seres únicos e insubstituíveis no mundo emocional. Mesmo sendo autônomos e independentes, mesmo que o nosso relacionamento com eles tenha sido tortuoso. Quando já não estão, passa a existir uma sensação de “nunca mais” para uma forma de proteção e de apoio que, de uma forma ou de outra, sempre esteve ali. De fato, aqueles que não conheceram seus pais, ou se afastaram deles muito cedo, costumam carregar essa ausência como um lastro a vida toda. Uma ausência que é presença: fica no coração um lugar que sempre lhes pertence. De qualquer forma, uma das grandes perdas na vida é a dos pais. Pode ser difícil de superar se houve uma injustiça ou negligência no trato deles. Por isso, enquanto estiverem vivos, é importante ter consciência de que os pais não estarão ali para sempre. De que são, genética e psicologicamente, a realidade que nos deu origem. Que são únicos e que a vida mudará para sempre quando partirem. (*) EUGENIO SANTANA é Gestor editorial, Assessor de imprensa, Analista de Marketing digital, Crítico literário, Outsider, Blogueiro; Self-made man. Escreve Biografias. Autor de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora, entre outros. (41) 99547-0100 WhatsApp

AMAR SEM POSSUIR (*)

O maior sinal do amor é deixar a pessoa amada ser ela mesma. É também uma enorme amostra de maturidade psicológica. E é algo muito difícil de alcançar, já que nossa sociedade “nos programa” para a posse. Em uma cultura onde vale mais quem tem mais, é difícil não extrapolar esse conceito para as relações interpessoais. Então nos tornamos possessivos. Basta-nos apenas termos algo, apenas sentirmos que algo é nosso, que já somos tomados pelo medo de perdê-lo. E quanto mais nos apegamos a essa posse ou quanto mais amamos a pessoa, maior é esse medo. Em muitos casos, esse medo da perda remonta a experiências passadas, especialmente a infância, que deixaram cicatrizes dolorosas em nosso cérebro. Apreciou-se que as pessoas que sofreram perdas na infância ou que não receberam atenção suficiente tendem a desenvolver um apego inseguro que as leva a depender dos outros ou a controlar suas vidas. Essas pessoas exigem atenção constante e não querem compartilhar a pessoa especial com mais ninguém por medo que lhe “roubem” e desapareçam com ela de sua vida, o que as fará experimentar os sentimentos de desamparo que sentiam quando crianças. No entanto, pode haver outras razões para uma pessoa desenvolver esse relacionamento possessivo. De fato, a possessividade sempre implica em insegurança e baixa auto-estima. Pessoas inseguras tendem a ser mais possessivas porque têm mais medo de perder o que conquistaram porque, no fundo, acham que não merecem isso. O problema é que essas pessoas, em vez de analisar de onde vem essa possessividade, tentam neutralizar seus medos e inseguranças com mais controle. Houve uma vez um monge seguidor de Buda. O monge costumava perambular dia e noite em busca de iluminação. Ele carregava consigo uma estátua de madeira de Buda que ele próprio esculpira e todos os dias queimava incenso em frente à estátua e adorava o Buda. Um dia ele chegou a uma cidade tranquila e decidiu passar alguns dias lá. Ele se estabeleceu em um templo budista onde havia várias estátuas de Buda. O monge seguiu sua rotina diária, assim também queimou incenso em frente a sua estátua no templo, mas não gostou da ideia de que o incenso que queimava por sua estátua chegasse às outras estátuas. Então uma ideia lhe ocorreu: ele colocou um funil na frente de sua estátua para que o cheiro do incenso só chegasse a ela. Depois de alguns dias, ele percebeu que o nariz de sua estátua estava preto e feio da fumaça do incenso. Essa simples parábola nos mostra o que pode acontecer quando a possessividade nos cega. Na verdade, não é difícil cair em um comportamento do monge e acabar sufocando a pessoa que amamos. No entanto, o curioso sobre o controle é que quanto mais você aplicá-lo, mais controle você quer, porém mais ilusório se torna. – Não confunda apego com amor. A possessividade geralmente vem da confusão: interpretamos erroneamente nosso apego como amor. O apego é uma emoção superficial que nos une, enquanto o amor é uma emoção mais profunda que nos liberta. Amar alguém é deixá-lo ir, amarrar alguém é experimentar apego. É por isso que a possessividade é uma forma de apego que não reflete o amor, mas sim nosso desejo e necessidade de controle. – Deixe a necessidade de controle. Possessividade surge da insegurança, que tentamos atenuar através do controle, porque nos dá a falsa ilusão de segurança. No entanto, quando você percebe que na realidade o controle que você exerce é mínimo, porque a qualquer momento a vida pode arrebatar qualquer coisa ou qualquer pessoa, então você entende que não faz sentido desperdiçar tanta energia inutilmente. Naquele momento, um pequeno milagre ocorre: em vez de se esforçar para controlar, você se esforça para desfrutar mais dessa pessoa ou de suas posses. – Cultive seu “eu”. A dependência emocional do outro e o desejo de controlá-lo surgem quando sentimos que não somos capazes de satisfazer nossas necessidades. Quando temos um “eu” amadurecido, quando confiamos em nossas habilidades e nos conectamos com nossas emoções, a possessividade desaparece, simplesmente porque não precisamos disso, não tem razão de ser. Portanto, para amar sem dominação ou dependência, é necessário realizar um profundo trabalho interior. – Suponha que todos tenham o direito de ser. Nós não fazemos bem aos outros quando impomos nossas opiniões e maneiras de fazer. Portanto, não caia no erro de tentar impor sua maneira de ver o mundo para “ajudar” o outro. Ninguém é obrigado a atender às nossas expectativas, de modo que o maior presente que podemos dar àqueles que amamos é deixá-los ser e aceitá-los incondicionalmente. (*) EUGENIO SANTANA é Gestor editorial, Assessor de imprensa, Analista de Marketing digital, Crítico literário, Outsider, Blogueiro; Self-made man. Escreve Biografias. Autor de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora, entre outros. (41) 99547-0100 WhatsApp

segunda-feira, 18 de março de 2019

QUEM SOU EU? INSIGHT SOBRE UM AUTOR VAGALUME (*)

Para definir meu trabalho, preciso primeiramente saber quem é você. Se você é um amante da literatura, me apresento como escritor romancista, contista, poeta e cronista. Se é um empresário, sou um redator publicitário, Analista de negócios, Consultor em marketing digital, Relações públicas, palestrante motivacional e Assessor de imprensa. Se tem uma grande história de vida que gostaria de compartilhar com outros, sou um biógrafo. Iniciei meus trabalhos literários, na década de 1980, escrevendo poemas e crônicas para diversos jornais do país: de Porto Velho a Porto Alegre. Em 2010 criei o meu Blogue "Guardião da Palavra", onde passei a publicar meus textos: poemas, crônicas, contos, artigos e ensaios, além de proporcionar dicas motivacionais para jovens escritores neófitos. Inútil dizer onde vivo. Não sou capaz de morar mais do que três anos em uma mesma cidade. Um homem de chegadas e partidas. Um Andarilho da flor estrela... Aquele que deambula à sombra da inquietude. Fácil a estratégia inconsistente ao mencionar que sou jornalista profissional. Sei que, por meio desse argumento jamais consegui ser convincente. A estrada me encanta e fascina. E o "sabor" do Crepúsculo e da Aurora? Indescritível. Instigante! Durmo de dia, escrevo a noite, e sonhos azuis e alados ocorrem em uni/versos paralelos e oníricos. Já quis viajar o mundo. Principalmente, morar no Egito, na França, na Espanha e na Alemanha. Já quis desaparecer. Perambulei a procura do meu "par ideal", e na volta, procurava por mim. Fiz boas ações. E algumas imbecilidades. Não insisto em ser, mas me orgulho de estar. A missão de ser escritor me fez atingir o nirvana, o self; a transcendência. Voei. Ícaro na Asa do tempo... O osso acima dos meus olhos chama-se frontal. A camada enrugada, azulada e cansada que o reveste, pele. O objeto de sua proteção chama-se cérebro. E no conjunto da obra, tenho um "rosto desfigurado" que já viajou nas asas da utopia e já foi guiado pelos pássaros. Este, resguardado, produz aquilo que me cansa e extenua, dia após dia: minhas ideias criativas, lúcidas, confusas, diáfanas e monossilábicas; algumas prolixas, outras pró-lixo ou lagartixas cósmicas e, algumas vezes, a economia verbal revela meu ciberespaço na magia encantadora da Língua Portuguesa. Escrever? Meu Vício Visceral! (*) EUGENIO SANTANA é Gestor editorial, Assessor de imprensa, Analista de Marketing digital, Crítico literário, Outsider, Blogueiro; Self-made man. Escreve Biografias. Autor de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora. (41) 99547-0100 ZapZap

quarta-feira, 13 de março de 2019

ENSAIO SOBRE O FIM DA LITERATURA (*)

A literatura acabou. Pelo menos, é o que foi anunciado há mais de um século e tem sido repetido desde então, com uma insistência cansativa. Talvez o primeiro a anunciá-lo tenha sido Rimbaud. Em 1879, ele respondeu ao amigo Delahaye: "Não me interesso mais por isso." "Isso" era a poesia, a literatura. Ao longo do século 20, grandes teóricos falaram do fim da literatura. Valéry declarou o fim do romance quando disse que não se podia mais escrever "A marquesa saiu às cinco horas". Sartre, em 1948, terminava seu "O Que É a Literatura?" com uma advertência: "Nada nos garante que a literatura seja imortal [...] O mundo pode muito bem passar sem a literatura. Mas pode passar ainda melhor sem o homem". Maurice Blanchot mergulhou a fundo na questão e concluiu, em 1959: "A literatura vai em direção a ela mesma, em direção à sua essência, que é o desaparecimento". E Roland Barthes, em seu último curso, de 1979, lamentava: "Algo ronda a nossa história: a morte da literatura". Os títulos de vários ensaios editados na última década falam por si: "Os Fins da Literatura" (B. Levinson, 2001); "O Último Escritor" e "Desencanto da Literatura" (R. Millet, 2005 e 2007); "O Adeus à Literatura. História de uma Desvalorização, do Século 18 ao 20" (W. Marx, 2005); "O Último Leitor" (R. Piglia, 2006); "O Silêncio dos Livros" (G. Steiner, 2006); "Literatura para Quê?" (A. Compagnon, 2007); "A Literatura em Perigo" (T. Todorov, 2007). Quando se fala do fim da literatura, trata-se do fim de um tipo de literatura: aquela da modernidade. É evidente que algo mudou, e muito, na esfera literária. Os leitores talvez tenham mudado mais do que os escritores. As novas gerações não querem mais ler aquilo que os teóricos do século 20 chamavam de literatura. Por falta de critérios estáveis de avaliação, os críticos literários calaram-se, perderam espaço e prestígio. A disciplina chamada "literatura" desapareceu no ensino secundário, em que se tornou "comunicação e expressão"; na universidade, deu lugar a "estudos culturais". A literatura se tornou coisa do passado. Mas como?, dirão os leitores. Nunca se publicou tanta ficção e tanta poesia quanto agora. Nunca houve tantas feiras de livros, tantos prêmios, tantos eventos literários. Nunca os escritores foram tão midiatizados, tão internacionalmente conhecidos e festejados. Fica claro, então, que, quando se fala do fim da literatura, não estamos falando da mesma coisa. Ora, nenhum teórico jamais conseguiu definir exatamente o que é (ou não é) literatura. Até o século 18, literatura era o conjunto das obras escritas, em qualquer gênero. Foi somente a partir do romantismo que ela passou a ter o sentido que, em parte, tem ainda hoje: textos escritos numa linguagem particular, que interrogam e desvendam o homem e o mundo de maneira aprofundada, complexa, surpreendente. Atualmente, a imensa maioria dos livros mais lidos no mundo não corresponde a essa definição. Vejam-se as listas dos mais vendidos. O que aconteceu? A situação em que se encontra hoje a literatura não é a de uma ruptura, como a ocorrida entre o classicismo e o romantismo. Não se trata de uma simples oposição ao que havia antes. Boa parte da literatura atual vive da referência àquela que a precedeu, a da modernidade, que nela sobrevive na forma de citação, alusão, pastiche ou intertextualidade. Sua própria designação, literatura pós-moderna, a amarra à anterior. É uma literatura póstuma, uma literatura do adeus. Um subgênero surgido nos anos 1980 e ainda próspero é o do romance que ficcionaliza a vida dos escritores da alta modernidade. Para citar apenas alguns entre dezenas de romances desse tipo: Dostoiévski foi ficcionalizado por Leonid Tsípkin ("Verão em Baden-Baden", 1981) e por J. M. Coetzee ("O Mestre de Petersburgo", 1994); Fernando Pessoa se transformou em personagem de José Saramago ("O Ano da Morte de Ricardo Reis", 1984) e de Antonio Tabucchi ("Réquiem", 1992, "Os Últimos Três Dias de Fernando Pessoa", 1994); Rimbaud voltou à cena nas obras de Dominique Noguez ("Os Três Rimbaud", 1986), Pierre Michon ("Rimbaud, o Filho", 1991) e J.M.G. Le Clézio ("A Quarentena", 1995); Henry James é o herói de Colm Tóibin ("O Mestre", 2004) e de David Lodge ("Autor, Autor", 2004); depois de ser personagem de Fedorovski e de Ken Kalfus, Tolstói ganhou sua última personificação na obra de Jay Parini ("A Última Estação: Os Momentos Finais de Tolstoi", 2010). Essa lista contém romancistas internacionais de renome, alguns deles premiados com o Nobel, o que dá testemunho da importância do subgênero. Os fantasmas modernos continuam assombrando seus herdeiros. Metafórica e literalmente, pois nesses romances os espectros são numerosos. Por falar em fantasmas, acaba de ser publicado mais um livro que pode entrar na categoria do "adeus à literatura": "Dublinesca", de Enrique Vila-Matas [trad. José Rubens Siqueira, Cosac Naify, 320 págs., R$ 59]. O escritor catalão já vem praticando há tempos um gênero misto de romance, diário e ensaio literário que tem sido chamado de metaliterário. Em "Bartleby e Companhia" (2000), ele tratava de uma série de escritores atingidos pelo "mal de Bartleby", isto é, escritores que preferiram não escrever, que abandonaram a literatura ou não escreveram obra alguma. Em "O Mal de Montano" (2002), ele narrava as aventuras e desventuras de pessoas que confundem a vida com a literatura. Em "Doutor Pasavento" (2006), encontramos intelectuais cuja única aspiração é desaparecer. "Dublinesca" prossegue na mesma via ultraliterária, com a diferença de que agora o herói da ficção não é um escritor, mas um editor aposentado que sofre ao mesmo tempo com seu envelhecimento pessoal e com o desaparecimento dos grandes escritores, dos editores de boa literatura e dos leitores à altura desses livros. O tema central do romance é o "réquiem pela era de Gutenberg": a ausência de Deus, a obsolescência dos livros, a morte da literatura. Nada melhor para selar esse apocalipse do que uma viagem a Dublin, com amigos igualmente fanáticos por literatura, para comemorar o "Bloomsday" numa cerimônia realizada no cemitério descrito por Joyce em "Ulisses". Vários espectros assombram a personagem: familiares, conhecidos e desconhecidos, escritores mortos ou virtuais. Joyce é, naturalmente, o principal; mas há também um jovem que surge e some na bruma --e que se parece com Beckett. Numa entrevista, o romancista explicou que se trata da passagem de uma época de epifania, representada por Joyce, a uma época de afonia, encarnada pelo outro, isto é, "a decadência de certa forma de entender a literatura". Com essa temática tão especializada e obsessiva, o surpreendente é que Vila-Matas tem tido excelente recepção, tanto da parte da crítica especializada quanto da de seus numerosos leitores. Isso acontece porque mesmo aqueles que não têm um repertório de leituras tão vasto quanto o do autor nem perdem o sono pensando no fim da literatura são seduzidos por suas extravagantes personagens, por uma trama cheia de suspenses, por um humor refinado que se sobrepõe, com delicadeza, a experiências dramáticas. Aparentemente apocalíptico, Vila-Matas não é, entretanto, pessimista. No fim de "Dublinesca", salva-se o deprimido editor e reaparece o autor. A um entrevistador do "El País" que lhe perguntava como explicaria seu romance a um leigo, ele respondeu: "Eu lhe diria que trata de alguém muito acabado, que deseja celebrar o funeral do mundo e descobre que isso, paradoxalmente, é o que permite ter um futuro na vida". O velho Freud estaria de acordo. O trabalho de luto ainda está em curso. Em seu recente romance, "Se Um de Nós Dois Morrer" [Alfaguara, 124 págs., R$ 36,90], Paulo Roberto Pires cria uma personagem afetada pela "síndrome de Vila-Matas". Naturalmente, a história inclui cemitérios e defuntos, agora reduzidos a cinzas: "Em poucas gerações não haverá nada, nadinha a cultuar" (p. 50). O adeus à literatura não é, evidentemente, o único tema dos escritores atuais. Mas, por enquanto, tem dado a ela surpreendente sobrevida. (*) EUGENIO SANTANA é Gestor editorial, Assessor de imprensa, Analista de Marketing digital, Crítico literário, Outsider, Blogueiro; Self-made man. Escreve Biografias. Autor de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora, entre outros. (41) 9547-0100 WhatsApp

domingo, 24 de fevereiro de 2019

ESCRITOR SEM ROSTO (*)

Nascido em Long Island, o escritor sem rosto estudou engenharia aeronáutica na Universidade de Cornell, deixando o curso ao ser convocado pela Marinha. Nas Forças Armadas tirou as fotos que até hoje são divulgadas como as únicas do autor (a Marinha forneceu outros materiais para seus livros). Quando voltou do serviço militar, trocou seus estudos para inglês em Cornell e teve aulas com o escritor Vladimir Nabokov, autor de Lolita. Após um curto período trabalhando com escrita técnica, entrou para o mundo da ficção e desapareceu por completo. Se por um lado faltam informações a seu respeito, por outro sobram especulações e teorias levemente delirantes sobre Thomas Pynchon. A mais inusitada afirma que o escritor seria o novo nome adotado por Jim Morrison (1943-1971), vocalista da banda californiana The Doors, vivo e oculto sob outra identidade — afinal, ambos parecem ter os mesmos interesses em física, ocultismo, matemática e cultura pop. Outros afirmam ser Bob Dylan ou ainda o terrorista Unabomber o homem por trás da figura misteriosa de Pynchon, e por aí vai. O culto a sua personalidade acaba sendo um magnífico diferencial na literatura contemporânea, mesmo entre notórios reclusos, como J. D. Salinger, de O Apanhador no Campo de Centeio, J. M. Coetzee, prêmio Nobel sul-africano, e os nacionais Dalton Trevisan e Rubem Fonseca. Este último, aliás, é amigo de Pynchon. Para Fonseca, ele escreveu o prefácio da edição americana da coletânea de contos O Cobrador. Não é de todo raro encontrar nos Estados Unidos e em outros países grupos de leitores devotos de Pynchon, reunidos para dissecar cada linha da obra do escritor e verificar seus mecanismos ocultos. O editor e escritor gaúcho Antônio Xerxenesky é um desses leitores aficionados pela obra do escritor, já tendo lido todos os seus livros, incluindo a coletânea de contos Slow Learner, cuja introdução contém as poucas informações oficiais disponíveis sobre sua infância e juventude. Para Xerxenesky, Pynchon ganha pouco se expondo: “A obra dele ganha muito com esse silêncio midiático, com referências obscuras, e perderia a graça se ele precisasse vir a público toda vez se explicar. Certamente, não haveriam leitores reunindo-se ao redor de seus livros se fosse assim”. Embora sua figura anônima seja fascinante, o editor afirma que ela não se sustentaria sem a qualidade excepcional do texto. “A gente fica curioso para descobrir quem é a mente doentia que criou esses universos tão fenomenais, e não podemos, e a graça está nisso.” O editor de Pynchon no Brasil, André Conti, da Companhia das Letras, nunca entrou em contato com o escritor, tratando tudo com seus tradutores (leia mais na matéria ao lado) e agentes. Para ele, a obscuridade da persona do autor de Contra o Dia é condizente com o universo criado por ele. “Se há algo em comum às obras do Pynchon é o fato de tudo ser permeado por um clima de desconfiança, paranoia sobre entidades conspiratórias. E nada melhor para falar sobre isso do que um autor recluso, igualmente desconfiado. É como se ele vivesse dentro daquilo, e os leitores se empolgam em suas vocações detetivescas para tentar descobrir não só significados ocultos em seus livros mas também qualquer informação sobre sua figura”. Sobre sua reclsuão, Conti conclui com um conhecido clichê literário que não poderia ser melhor aplicado a Pynchon: “O livro precisa falar por si só”." (*) EUGENIO SANTANA é Gestor editorial, Assessor de imprensa, Analista de Marketing digital, Crítico literário, Outsider, Blogueiro; Self-made man. Escreve Biografias. Autor de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora. (41) 9547-0100 WhatsApp

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

ANJOS E CÃES NÃO SÃO MUITO DIFERENTES (*)

Charles Bukowski estava mais ou menos com trinta anos quando sofreu uma crise hemorrágica e foi internado praticamente entre a vida e a morte. Até aquele momento, não passava de um contista de poucas publicações em revistas baratas, morava em quartos de hotéis sujos e vivia de pequenos trabalhos manuais. O médico lhe dissera, após a regeneração improvável, que "mais nenhuma gota de álcool, se não você morrerá". A recomendação médica, é claro, foi negligenciada, mas quiseram os deuses lhe dar outra oportunidade de viver pelo menos mais quatro décadas. Ao retornar para casa depois do internamento, Bukowski sentou-se em frente à máquina e recomeçou a escrever como um louco - só que agora, poemas, muitos e muitos poemas. Em suas próprias palavras, depois de ter outra chance de viver, tudo que ele queria era "gritar um pouco", o que classificou como um ato egoísta, mas também como algo inevitável. Desde então, Bukowski começou a tecer a sua reputação como escritor. Nas publicações underground de Los Angeles, seu nome era cultuado. Ele era o rei das "pequenas publicações". Durante a década de setenta e principalmente nos anos oitenta, Bukowski encontrou a fama que sempre almejara. Jean-Paul Sartre lhe chamara de "o maior poeta da América". É certo que Bukowski escrevia poemas desde os 15 anos, e que os seus trabalhos anteriores e posteriores ao internamento não ficaram muito diferentes em relação ao trato com a linguagem ou a algum outro aspecto formal do poema. O que é flagrante e, creio, o que determinou o reconhecimento e a qualidade da poesia de Bukowski após a sua quase morte foi a clareza e a sensibilidade adquiridas e traduzidas por ele diante de um acontecimento dessa natureza. Ao lidar com o seu tema preferido (ele mesmo), soube fazê-lo com a maior honestidade e com maior precisão que antes de ter vivido uma situação limite. Por "ele mesmo" pode-se entender, além da questão biográfica, é claro, um modo de estar no mundo e de vivenciá-lo que, de certa forma, dialogou com muitos e muitos anjos caídos (uma expressão sua) nos Estados Unidos e fora dele. Ao abordar personagens e acontecimentos fora da engrenagem do chamado "sonho americano" (que nada mais é do que a vida comportada da classe média próspera e alienada) a poesia de Bukowski radiografou e apresentou ao mundo o outro lado da vida estadunidense. "Anjos e cães não são / muito diferentes". Este é um verso que abre uma de suas obras-primas, chamada "Uma janela de vidros espelhados". Este é um verso que sintetiza bem a percepção de Bukowski sobre os seres humanos e, no limite, sobre a vida e a poesia. Para Bukowski, o que se considera grande e transcendental pode ser ao mesmo tempo algo corriqueiro, constantemente rechaçado e desprezado pela maioria das pessoas. Fazer um poema sobre os vagabundos que se sentam às duas e meia da tarde numa cafeteria de estimação para ficarem ali tomando café e esperando que o tempo passe, saboreando o escorrer melancólico do dia junto a uma xícara de café, fazer um poema com este tema significa dizer: olha, a vida pode constantemente ser sem graça e desprezível, mas se você tiver um pingo de vontade, um punhado de compaixão pela sua própria existência e a dos outros, você poderá transformar o mais reles acontecimento cotidiano em poesia. Viverá na poesia. Sentirá a poesia enquanto vive, seja em seus melhores momentos, seja em seus piores momentos, mas haverá sempre uma clareza de sentimentos que só a poesia pode proporcionar. Só deste modo conseguirá escrever algo tão simples, honesto e sensível como estes dois versos: you can't beat death but you can beat death in life, sometimes. (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, agente literário, publicitário, gestor editorial, analista de marketing digital e palestrante. Dez livros publicados. Membro benemérito "ad honorem" do Centro Cultural, Literário e Artístico de PORTUGAL. Contatos: autoreugeniosantana9@gmail.com e (41) 99547-0100 WhatsApp

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

FRAGMENTOS DE ANSIEDADE (*)

Dormia e me remexia na cama, o coração apertado, a respiração ofegante. Pensava: - eu deveria estar dormindo melhor, por quê não me acalmo? Estou com sono, quero dormir em paz. Me reviro, me reviro e começo a despertar aos poucos. Olhei para o relógio. Eram 07:30. Mas como se fui dormir às quatro? Lembrei que cheguei um pouco alegre, derrubei algumas coisas, mas estava bem. Passei a lembrar daquele pub, muito Rock n`Roll, muitas pessoas bonitas, mas o clima era pesado. Voltei a tentar dormir, não conseguia. Fui ficando com frio, mais frio e os pensamentos de culpa não saíam de minha cabeça. Pensava que logo teria que me arrumar para viajar, mas não me sentia bem. Como sairia daquela cama sem me sentir bem? Coração acelerado, frio, enjôo e dor de barriga. Decidi me levantar e tomar um banho. Durante o banho, sentia aquela ducha quente tentar me acalmar. Tentava me convencer de que aquela ducha me acalmaria. Coração apertado, ofegante e cabeça a mil. Começava então a me culpar. Você não conseguiu nada de útil em sua vida até hoje. Quem é você? Quando terá uma vida melhor? Por quê não consegue levantar cedo e ir caminhar como as pessoas sãs conseguem? Você está sozinho, está longe de tudo e de todos. Quem é o seu grupo? O que faz neste mundo? Quantos anos você tem? Como esperava que sua vida estivesse quando atingisse esta idade? Onde mora? O que te pertence? Quem te pertence? O que você fez até hoje? Para onde quer ir? (*) EUGENIO SANTANA é Gestor editorial, Assessor de imprensa, Analista de Marketing digital, Crítico literário, Outsider, Blogueiro; Self-made man. Escreve Biografias. Autor de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora. (41) 9547-0100 WhatsApp

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

EFÊMERO VÔO DO TEMPO (*)

Quanto tempo é para sempre? É o tempo em que ficamos ou a promessa de partirmos? É nunca mais; até à próxima, um instante? Um até já; um momento, um breve fragmento? É um raio de sol que nos cega num morno fim de tarde de Agosto? É a realidade captada pela tua lente: para sempre? É uma ausência que dói; uma gota que se faz mar; um acorde perfeito; uma sinfonia; um choro; um grito? É uma porta que fechas; mais um degrau que avanças; um capítulo encerrado num livro escrito pelo vento ou pintura improvisada na tela quente do teu corpo? Uma reta; uma espera; um passeio? A espuma do nosso banho; a chama daquela vela; a chuva a bater na janela? É a distância que a tua boca demora? Uma carta de despedida, escrita a tinta permanente? Uma árvore que plantas; uma estrela que prometes; uma nuvem que ofereces? Um poema roubado; um fim de tarde inventado? Um banco de jardim e um livro? São memórias, lembranças e histórias, bilhetes confessados em pedaços de papéis rasgados? Para sempre é o tempo suficiente; o tempo que não chega - o tempo que perdemos.Todo o tempo do mundo. Para sempre é um lugar onde moram as promessas, os planos, os sussurros, os pecados; nas madrugadas que não terminam, com corpos que não são nossos em vidas que não nos pertencem. Quanto tempo é para sempre? É hoje: agora - o presente. (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, agente literário, publicitário, gestor editorial, analista de marketing digital e palestrante. Dez livros publicados. Membro benemérito "ad honorem" do Centro Cultural, Literário e Artístico de PORTUGAL. Contatos: autoreugeniosantana9@gmail.com e (41) 99547-0100 WhatsApp

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

TU DORMIS ET TEMPUS AMBULAT (*)

E vendo o homem com os olhos abertos como tudo passa, só nós vivemos como se não passássemos. Todos vamos embarcados na mesma nau, que é a vida, e todos navegamos com o mesmo vento, que é o tempo; e assim como na nau uns governam o leme, outros mareiam as velas; uns vigiam, outros dormem; uns passeiam, outros estão assentados; uns cantam, outros jogam, outros comem, outros nenhuma coisa fazem e todos igualmente caminham ao mesmo porto; assim nós, ainda que não pareça, insensivelmente vamos passando sempre e avizinhando-se cada um a seu fim: porque, tu dormes e o tempo anda. Se o Sol que sempre é o mesmo, todos os dias tem um novo nascimento e um novo ocaso, quanto mais o homem por sua natural inconstância tão mutável, que nenhum é hoje o que foi ontem, nem há de ser amanhã o que é hoje! (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, agente literário, publicitário, gestor editorial, analista de marketing digital e palestrante. Nove livros publicados. Membro benemérito "ad honorem" do Centro Cultural, Literário e Artístico de PORTUGAL. Contatos: autoreugeniosantana9@gmail.com e (41) 99547-0100 WhatsApp

domingo, 10 de fevereiro de 2019

MUNDO GLOBALIZADO: DOR E TRAGÉDIA (*)

Alguns historiadores acreditam que a globalização se iniciou no período das Grandes Navegações nos séculos XV e XVI. Motivadas pela expansão do comércio europeu, essas viagens conduziram esses desbravadores ao continente americano, e a algumas áreas na África e Ásia. Com isto, se deu o fim do isolamento em que viviam alguns povos em relação ao resto do mundo. Mas, sem dúvida, o processo se acelerou em todo o planeta nas duas últimas décadas do século XX. Hoje, o mundo inteiro fala de globalização, mas em geral os meios de comunicação e as pessoas dão maior ênfase à globalização da economia mundial e da produção. Quando muito, se fala em um intercâmbio sociocultural sob uma ótica burguesa de troca positiva entre hábitos, costumes, línguas e culturas diferentes. Mas, a pergunta que não quer calar é a seguinte: num mundo onde claramente não existem mais fronteiras nítidas entre os países, onde a interdependência econômica entre as nações é cada vez maior, onde fica o aspecto humano? Será que a globalização só é boa para a expansão de mercados, para a democratização e difusão da informação e de conteúdo científico e para construir fábricas com mão de obra barata para vender produtos a preços inacreditavelmente reduzidos? Quando surge a pedra no sapato da globalização, a gente simplesmente remove e joga-a no lixo, ou deixa a pedra, reacomoda ela dentro do sapato e investiga novas formas de andar? A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) calcula que hoje existem 60 milhões de pessoas que tiveram que ser deslocadas de seus países por conta de guerras e conflitos. A quantidade de pessoas vem crescendo em números alarmantes, tendo aumentado em quase 9 milhões somente em 2013. Esta tendência de crescimento se intensificou desde 2011, com o início da guerra na Síria, que se transformou “no maior evento individual causador de deslocamento no mundo”. Ainda segundo estatísticas das Nações Unidas, 1 em cada 122 indivíduos, no mundo, é refugiado ou solicita refúgio, e se todos juntos formassem a população de um país, seriam “a 24a nação mais populosa do planeta”. De acordo com dados da CNN, a Turquia atualmente abriga quase a metade dos refugiados sírios, cerca de 1.9 milhão (sendo a metade formada por crianças e adolescentes). O Líbano acolheu 1.1 milhão (fazendo com que sua população aumentasse em 25%); a Jordânia recebeu 629.000 refugiados não somente da Síria, mas do Sudão, da Somália e do Iraque; o Egito, 132.000. Até o Iraque, que historicamente enviou milhares de refugiados para a Síria entre 2003 e 2011, fez o fluxo inverso e passou a receber sua população de volta, além dos sírios em busca de asilo. Já foram abrigadas 249.000 pessoas. Este grande fluxo migratório tem enorme impacto na vida da população destes países, visto que não possuem uma economia tão forte quanto a de grandes nações. O que o resto do mundo está fazendo? Diversos países estão recebendo solicitação de asilo, a Alemanha 98.700 (com expectativas destes números aumentarem após o anúncio da Chanceler Angela Merkel de que estariam dispostos a receber 800.000 pessoas); Suécia 64.700 (já tendo demonstrado solidariedade nos anos 90 ao receber 84.000 refugiados dos Balcãs); Reino Unido 7.000 (mas o Primeiro Ministro David Cameron já anunciou que tem capacidade para receber 20.000); França 6.700 (após o presidente François Hollande ter anunciado que poderiam acolher 24.000 estes números devem aumentar); Dinamarca 11.800 (embora as autoridades tenham anunciado via redes sociais e através de anúncios em árabe em jornais libaneses que estão fechando rodovias e estreitando o acesso ao país, pois afirmam não terem condições de acomodar este imenso fluxo de refugiados); e a Hungria, que recebeu 18.800 propostas, mas já deixou uma clara mensagem ao construir uma cerca de arame farpado ao longo de sua fronteira de 160 km. Os EUA, por enquanto, só receberam 1.500 refugiados desde o início do conflito, em 2011. Já o Brasil acolheu cerca de 2.000 sírios no mesmo período. Abrir ou não as fronteiras é uma questão complexa, sem dúvida. Mas é importante lembrar que não estamos passando por uma crise de migração e sim, por uma crise humanitária, de refugiados em busca de asilo. É um problema mundial e como tal, deveria ter uma solução globalmente elaborada, com a devida representação de cada país e levando em consideração suas limitações respectivas: de espaço físico, de empregos, de transporte, de educação e de moradia. A propósito, essa enxurrada de gente não é ativo estático. Em pouco tempo, esse grupo vira mão-de-obra, começa a consumir, a pagar impostos, e, consequentemente, a movimentar a economia. Acredito que com um pouco de planejamento o Brasil poderia, por exemplo, desenvolver programas de incentivo à vinda destes refugiados, com moradia e carteira assinada, para se estabelecerem nas áreas do interior do país. Hoje, 4.1 milhões de pessoas, independentemente de suas nacionalidades, precisam de teto para morar, comida para sobreviver, trabalho para se sustentar e dignidade para viver. Como você e eu. Num mundo globalizado, partilhamos a economia, os mercados e os meios de produção. Mas partilhamos também a dor e a angústia. O sofrimento sírio é meu, é seu, é nosso. A pedra está no sapato de todos nós. (*) EUGENIO SANTANA é Gestor editorial, Assessor de imprensa, Analista de Marketing digital, Crítico literário, Outsider, Blogueiro; Self-made man. Escreve Biografias. Autor de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora. (41) 9547-0100 WhatsApp

sábado, 9 de fevereiro de 2019

PARA AS PESSOAS INTENSAS CADA DIA É UMA AVENTURA (*)

Todo homem sonha com uma mulher intensa, apaixonada, fogosa, tão quente que bote fogo só de andar até a sua presença, mas vocês já pararam para pensar que existem milhares de mulheres tão vigorosas como as grandes divas de Hollywood e vocês se põem em disparada quando conhecem uma dessas? Será a profundidade que os assusta? Intensidade é algo forte demais, faz cair máscaras, faz você não querer mais nada de superficial. Quando você encontra alguém intenso, sabe que dali para a frente não tem mais volta, cada gole que você dá no fulgor da intensidade, é uma caminhada sem volta para o aprofundamento da alma. Tocar nessa intensidade é uma abertura para novos mundos, é sentir à flor da pele, é descobrir que amor é “fogo que arde sem se ver”. Ser uma pessoa intensa é ser indecisa, mas não ter medo dessa indecisão, é entrar de cabeça em tudo, sem receio, sem freio. O próprio intenso sofre com tantos sentimentos dentro de si, mas se existissem pessoas aptas a partilharem desses sentimentos com ele, seria tudo mais fácil. Ser intenso é ser impulsivo, é sentir e logo depois não sentir mais, é se atrapalhar com tudo que sente dentro de si, e é tudo isso que faz desse tipo de pessoa algo tão especial e tão desejado na vida, mas também, tão solitário. É difícil de entender, e só pode ser compreendido com intimidade e o coração aberto. Seu problema maior é a complexidade de tanto ímpeto, tem tanta personalidade que não sabe deixar um assunto para depois, não recua perante injustiças, não recua perante a oportunidade de um amor, não recua perante conhecer melhor outras pessoas. E é exatamente esse olhar perante a vida que afugenta, oprime, assusta aqueles que estão acostumados somente com coisas mornas. As pessoas preferem comer pelas beiradas, ficar apenas no raso. Conhecer dá frio na barriga, ou você passa a odiar a pessoa, ou ela te cativa de tal modo que você se torna totalmente dependente. Mas nesse mundo de fast food ninguém tem tempo para se deixar cativar, quando você está começando a conhecer uma pessoa, ela perde a graça, passa do tempo de validade. Para o intenso o entusiasmo é algo corriqueiro na vida, ele se entusiasma com desafios, se entusiasma com momentos, se entusiasma com pessoas, e isso é mais uma coisa que afugenta os outros, esse entusiasmo ao invés de contagiar, acaba por afastar pessoas que tem medo de se entregar. O intenso vive em cima da corda bamba, se ele se desequilibra para um lado, a vida é 8, se ele se equilibra para o outro, a vida é 80. É difícil desacelerar, e ainda mais parar por um momento e refletir sobre o que ele está fazendo, mas quando ele para, e vê que sua intensidade está sendo usada no local errado, ele parte sem dúvidas para um próximo porto. Nunca peça para um intenso ser menos, isso é rouba-lo de si próprio. Viver com um intenso não é fácil, mas te prometo que não existem dias chatos do lado de alguém assim. Cada dia é uma aventura e a descoberta de que os sentimentos podem ser muito maiores do que você imagina. (*) EUGENIO SANTANA é Gestor editorial, Assessor de imprensa, Analista de Marketing digital, Crítico literário, Outsider, Blogueiro; Self-made man. Escreve Biografias. Autor de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora. (41) 9547-0100 WhatsApp

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

ALMAS ENTERRADAS NA LAMA (*)

Onde os urubus e abutres desfilam de gravata, sapatos lustrados e ternos, não muito longe de lá, alguns homens de poucos risos, bravios, guerreiros, esbaforidos se atiram na lama com a língua para fora da boca. Contextualização: Mais uma vez prevaleceu a irresponsabilidade, a falta de escrúpulo, a falta de caráter, a falta de critérios técnicos, a falta de respeito e compromisso com a Vida, a falta profissionalismo daqueles que se intitulam como administradores, gabaritados coordenadores e gerenciadores de projetos que ganham rios de dinheiro para falar o óbvio; em contrapartida, sobrou lamaçal nos olhos dos humildes operários; sobrou o solícito rejeito químico pincelando flores, casas, carros e folhagens de barro com a cor densa/avermelhada. Ambientalmente, por onde a tragédia passou, levou consigo a fauna e flora. Não raro, a poesia está para o caos, assim como a racionalidade está para a comprometida verdade; e fundindo poesia e racionalidade, temos a TCA: Trágica Cultura do Absurdo; sob a qual, tudo torna-se normalidade diante das justificativas humanas, quando não, insinuam que foi fatalidade advinda da maldita Natureza. Será? Dizendo adeus ao pequeno relato sobre certo período do Império e ao mando estabelecido, viajamos por mais de um século nas asas do tempo e aterrissamos nos dias atuais. Sórdidos dias atuais, os quais tudo se teoriza, tudo se sabe, tudo se explica e não aparece um, apenas um dos que teorizam e explicam para resolver; e quando não se prevê e resolve antecipadamente as tragédias do eterno retorno, salve-se quem puder. Por outro lado, morre quem morre! O Brazil não conhece, tapa os olhos para a alma líquida que o Brasil carrega na mala, levando-a para banhar-se em um mar de lama. Lamas na mala, almas na lama! Uma vez que a linguagem poética imita a vida e ninguém morre no lugar de ninguém, conclui-se que nem toda desgraça é desprezível, vil, má, ignóbil, inútil e ainda que ínfima, alguma coisa dos restos e sobras prestam aos homens que ficaram para contar a história da tragédia. Atente-se o leitor, que o Profeta do Arauto criou um lindo e expressivo anagrama. Sinta-se capaz, e crie coisas legais com as desgraças advindas do rompimento da barragem. Porém, se não for suficiente, repare bem o cotidiano ao seu redor e verás que inspiração é o que não falta. Quem sabe o caro leitor se descubra um artista de alto valor em potencial e concorra ao Prêmio Nobel na modalidade de arte escolhida. Desde já, a cultura intelectual seletiva brasileira agradece! Por que de charlatanismo acusador, basta o escritor furacão Profeta do Arauto. Em novembro de 2015, na mesma região onde está situado o quadrilátero ferrífero, segundo palavras de Ambientalistas, houve o maior desastre, a maior catástrofe ambiental brasileira. A tragédia ocorrera em Mariana e na ocasião, o lamaçal proveniente barragem de Fundão fizera um estrago sem proporções; com a grossa lama química dizimando gente; atropelando casas e carros; desapropriando escolas e hospitais; desalojando escolares, professores, litros de soro, remédios e pacientes; criando redemoinhos insanos; pondo abaixo volumosas árvores seculares; poluindo rios, efluentes e afluentes límpidos, indo parar em determinado ponto da costa marítima do Espírito Santo. A tragédia e as muitas sêquelas deixadas foram motivo de alarde geral e dignas dos maiores impropérios contra a Samarco; empresa prestadora de serviços para a Vale do Rio Doce. Contudo, de lá para cá, 3 anos se passaram e como diz o ditado, cão que muito late, nada abocanha o afanador e ladrão de joias; e fora as absurdas imagens que tatuaram as emoções e mentes dos lesionados, o restante da tragédia caíra em inerte sonolência; em profundo esquecimento. Até o instante que escrevia o segundo parágrafo deste sinistro texto, silêncio de morte. Contudo, ao iniciar o terceiro parágrafo, um berro gutural escapou das entranhas da Natureza; e alvoroçada pela atrocidade a qual fora acometida, pedia socorro urgente. Afinal, diante de tantos pequenos desastres suportados por ele no dia a dia, qual a dimensão da tragédia ocorrida para deixar o Meio Ambiente tão atônito e apreensivo de um momento ao outro?! Ao ouvir os berros ensurdecedores, lembrei-me da analfabeta, estúpida, sábia, filósofa, psicóloga, devota de Santa Retidão e minha mãe, que paulatinamente alertava-me dizendo que quando o sujeito perde a vergonha, torna-se safado por fé e crença, pode caminhar em passos lentos, observando minuciosamente a estrada de mão única de Ushuaia ao pé da Argentina, até o Japão, que jamais encontrará o tesouro que perdeu. Afirmava a filósofa de tempos que estavam por vir, que o fulano cruzaria com a vergonha inúmeras vezes, sem no entanto, ser reconhecido por ela. Então, eu que tomasse cuidado, pois para perder a vergonha era fácil; difícil era achá-la, como também não seria nada fácil tornar-me confiável o bastante, para reconquistá-la. Sem sair do lugar e apenas idealizando um mundo humanista/vivencial, a minha orientadora tinha razão, conhecimento e bagagem experiencial suficientes, a ponto de jamais gastar saliva, jogando conversa fora. Cada palavra era fundamentada sob verdade absoluta vista à olhos nus. Pois bem, infelizmente, o homem (letras minúsculas) tem a capacidade inata, tem o dom único, para produzir tragédias. Niilista, esse traste não comete pequenos erros, mas sim tsunamis e terremotos. Em nome do progresso e na busca incessante dos lucros, o homem acaba cometendo as maiores barbáries e atrocidades, quando não é contra o homem, é contra o meio ambiente; mas também pode ser contra Natureza e homem. Desgraça pouca é tolice; e está escrito nos anais de História que essa plaga destruidora universal, quando é para o seu interesse e mais meia dúzia de capangas aliados, é versátil e presta, quase que exclusivamente à destruição em massa. Existe um dito chinês que diz o seguinte: “Quem abre o coração à ambição, fecha-o à tranquilidade”. Aquilo que para minha mãe não passava de uma “Grande Tragédia Anunciada”, os usurpadores da Natureza e governantes costumam resumir num simples eufemismo: “fatalidade fortuita", como disse Sérgio Bermudes, advogado - rábula, por assim dizer - da Vale. Quanto ganha em dinheiro vivo um egrégio doutor "Gravatinha" para defender uma tese infeliz, absurda, grotesca, disparatada, como a dita acima? Recordando Machado de Assis, "há pessoas elegantes e pessoas enfeitadas". Permita-me Machado, dizer que, claro que há umas poucas pessoas de rara gentileza e elegantes no trato humano; e fazem o bem sem barganhar, sem pedir nada em troca. Mas, repito: é raro, é uma em cada um milhão de pessoas. Todavia, de fatalidade e tragédia natural não houve nada; mesmo porquê, o número de barragens de rejeito de materiais condenadas ao uso na região, é quase totalidade. Além do mais, a profícua e indefesa Natureza é dadivosa e trabalhando em silêncio, produz, renovam as belezas, sem no entanto, deixar rastros de destruição. (*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, gestor editorial, biógrafo, ensaísta e redator publicitário. Dez livros publicados. Radicado em Curitiba, PR. (41) 99547-0100 / Email: autoreugeniosantana9@gmail.com

HÁ AQUELES QUE INVEJAM QUALQUER BRILHO QUE ENCONTREM EM SEU OLHAR (*)

Não controlaremos os acontecimentos, o rumo dos comportamentos alheios, as escolhas dos outros, nem a forma como cada um decidirá viver. Quando muito, conseguiremos planejar nossas ações e torcer para que deem certo. Sabedoria, portanto, é controlar a forma como reagimos ao que nos acontece. Precisamos entender que as pessoas vêm de lugares diferentes, passaram por experiências únicas, carregando dentro de si bagagens muito peculiares. A vida derruba todo mundo, de uma ou de outra forma, e cada um lida com aquilo tudo à sua própria maneira. Cada ser é um universo, felizmente, e responderá ao que chega de acordo com as batidas do próprio coração. Da mesma forma, cada um dá o que possui dentro de si, ou seja, esperarmos demais de quem tem a oferecer de menos será infrutífero. Existem pessoas machucadas, perdidas, infelizes, que não sabem lidar com as próprias dores, não possuem coragem para enfrentar os próprios fantasmas, tampouco assumem o que são realmente. Com isso, acabam destilando por aí todo o veneno que lhes corrói a alma, na vã tentativa de se livrarem do enorme incômodo que lhes perturba os pensamentos. O mau humor será a companhia deles, que não conseguirão ser leais e gentis, desrespeitando quem encontrarem pela frente. Há aqueles que invejam qualquer brilho que encontrem por aí. Sentem-se diminutos e incapazes de conquistar qualquer coisa e, por isso, desejam que todos, à sua volta, percam e não deem certo. Em vez de usarem as habilidades que possuem para chegar até onde o outro está, tentam destruir o invejado, com atitudes desonestas, mentiras, fofocas e difamação. Sentem-se infelizes e incapazes e jamais perdoarão a quem conseguir alcançar qualquer sonho que seja. Eis algumas razões por que encontraremos quem não nos respeitará, pois, na verdade, trata-se de pessoas que não se respeitam e não respeitam ninguém. Portanto, enquanto seguir, você terá que se recusar a ser desrespeitado, impondo limites, negando-se a ouvir o que não deve, a aceitar o que não lhe cabe, a receber menos do que merece, afastando-se de lugares e de pessoas onde sua dignidade é açoitada, onde suas verdades são desprezadas, onde você tenha que se humilhar para ser ouvido. É assim que conseguirá viver o que faz vibrar o seu coração, sem se afogar em palavras não ditas e em desejos enterrados sob os mandos e desmandos de quem não respeita quem você é de fato. (*) EUGENIO SANTANA é escritor, ensaísta, redator publicitário, copidesque, revisor de texto, blogueiro, biógrafo e jornalista profissional. Autor de dez livros publicados. Radicado em Curitiba, PR. (41) 99547-0100 WhatsApp - email: autoreugeniosantana11.11@gmail.com