domingo, 10 de fevereiro de 2019

MUNDO GLOBALIZADO: DOR E TRAGÉDIA (*)

Alguns historiadores acreditam que a globalização se iniciou no período das Grandes Navegações nos séculos XV e XVI. Motivadas pela expansão do comércio europeu, essas viagens conduziram esses desbravadores ao continente americano, e a algumas áreas na África e Ásia. Com isto, se deu o fim do isolamento em que viviam alguns povos em relação ao resto do mundo. Mas, sem dúvida, o processo se acelerou em todo o planeta nas duas últimas décadas do século XX. Hoje, o mundo inteiro fala de globalização, mas em geral os meios de comunicação e as pessoas dão maior ênfase à globalização da economia mundial e da produção. Quando muito, se fala em um intercâmbio sociocultural sob uma ótica burguesa de troca positiva entre hábitos, costumes, línguas e culturas diferentes. Mas, a pergunta que não quer calar é a seguinte: num mundo onde claramente não existem mais fronteiras nítidas entre os países, onde a interdependência econômica entre as nações é cada vez maior, onde fica o aspecto humano? Será que a globalização só é boa para a expansão de mercados, para a democratização e difusão da informação e de conteúdo científico e para construir fábricas com mão de obra barata para vender produtos a preços inacreditavelmente reduzidos? Quando surge a pedra no sapato da globalização, a gente simplesmente remove e joga-a no lixo, ou deixa a pedra, reacomoda ela dentro do sapato e investiga novas formas de andar? A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) calcula que hoje existem 60 milhões de pessoas que tiveram que ser deslocadas de seus países por conta de guerras e conflitos. A quantidade de pessoas vem crescendo em números alarmantes, tendo aumentado em quase 9 milhões somente em 2013. Esta tendência de crescimento se intensificou desde 2011, com o início da guerra na Síria, que se transformou “no maior evento individual causador de deslocamento no mundo”. Ainda segundo estatísticas das Nações Unidas, 1 em cada 122 indivíduos, no mundo, é refugiado ou solicita refúgio, e se todos juntos formassem a população de um país, seriam “a 24a nação mais populosa do planeta”. De acordo com dados da CNN, a Turquia atualmente abriga quase a metade dos refugiados sírios, cerca de 1.9 milhão (sendo a metade formada por crianças e adolescentes). O Líbano acolheu 1.1 milhão (fazendo com que sua população aumentasse em 25%); a Jordânia recebeu 629.000 refugiados não somente da Síria, mas do Sudão, da Somália e do Iraque; o Egito, 132.000. Até o Iraque, que historicamente enviou milhares de refugiados para a Síria entre 2003 e 2011, fez o fluxo inverso e passou a receber sua população de volta, além dos sírios em busca de asilo. Já foram abrigadas 249.000 pessoas. Este grande fluxo migratório tem enorme impacto na vida da população destes países, visto que não possuem uma economia tão forte quanto a de grandes nações. O que o resto do mundo está fazendo? Diversos países estão recebendo solicitação de asilo, a Alemanha 98.700 (com expectativas destes números aumentarem após o anúncio da Chanceler Angela Merkel de que estariam dispostos a receber 800.000 pessoas); Suécia 64.700 (já tendo demonstrado solidariedade nos anos 90 ao receber 84.000 refugiados dos Balcãs); Reino Unido 7.000 (mas o Primeiro Ministro David Cameron já anunciou que tem capacidade para receber 20.000); França 6.700 (após o presidente François Hollande ter anunciado que poderiam acolher 24.000 estes números devem aumentar); Dinamarca 11.800 (embora as autoridades tenham anunciado via redes sociais e através de anúncios em árabe em jornais libaneses que estão fechando rodovias e estreitando o acesso ao país, pois afirmam não terem condições de acomodar este imenso fluxo de refugiados); e a Hungria, que recebeu 18.800 propostas, mas já deixou uma clara mensagem ao construir uma cerca de arame farpado ao longo de sua fronteira de 160 km. Os EUA, por enquanto, só receberam 1.500 refugiados desde o início do conflito, em 2011. Já o Brasil acolheu cerca de 2.000 sírios no mesmo período. Abrir ou não as fronteiras é uma questão complexa, sem dúvida. Mas é importante lembrar que não estamos passando por uma crise de migração e sim, por uma crise humanitária, de refugiados em busca de asilo. É um problema mundial e como tal, deveria ter uma solução globalmente elaborada, com a devida representação de cada país e levando em consideração suas limitações respectivas: de espaço físico, de empregos, de transporte, de educação e de moradia. A propósito, essa enxurrada de gente não é ativo estático. Em pouco tempo, esse grupo vira mão-de-obra, começa a consumir, a pagar impostos, e, consequentemente, a movimentar a economia. Acredito que com um pouco de planejamento o Brasil poderia, por exemplo, desenvolver programas de incentivo à vinda destes refugiados, com moradia e carteira assinada, para se estabelecerem nas áreas do interior do país. Hoje, 4.1 milhões de pessoas, independentemente de suas nacionalidades, precisam de teto para morar, comida para sobreviver, trabalho para se sustentar e dignidade para viver. Como você e eu. Num mundo globalizado, partilhamos a economia, os mercados e os meios de produção. Mas partilhamos também a dor e a angústia. O sofrimento sírio é meu, é seu, é nosso. A pedra está no sapato de todos nós. (*) EUGENIO SANTANA é Gestor editorial, Assessor de imprensa, Analista de Marketing digital, Crítico literário, Outsider, Blogueiro; Self-made man. Escreve Biografias. Autor de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora. (41) 9547-0100 WhatsApp