domingo, 18 de agosto de 2024

A ROTA DO VOO PARA O PLANO INFINITO (*)

Há qualquer coisa de infinito em cada um de nós. Não nos bastamos. Não nos saciamos. Queremos ir além das pegadas de nossos passos, tocar mais distante que a extensão de nossas mãos, ver o invisível, ouvir as insinuações do inefável, sentir as pulsações da terra e o sabor do fogo e do gelo em nossas entranhas. A vida, dentro da história, é curta demais para conter a infinita ânsia de amar. Somos sempre para além de nós mesmos. Nossos olhos registram as faces queridas, a casa paterna, o bolo da infância, a praça da matriz, os colegas de rua e dos primeiros anos escolares, o sorriso inconfundível, a música marcante, certas palavras esculpidas em nosso afeto. Às vezes, por um momento, nos julgamos saciados pelo poder, pelo dinheiro ou pela fama. À luz do sol a maré baixa e o vazio se manifesta. Só o alimento pode saciar nossa fome. Só a água pode matar nossa sede. Só os outros podem nutrir nossa penúria. Sozinhos, somos a derrota orgulhosa, a vitória mentirosa. Há esse ímpeto de ir além, ultrapassar fronteiras, conquistar o inacessível. A transcendência. Assim como o vôo se faz de movimento, vento, espaço, o amor e a liberdade se tecem de mediações concretas: as condições sociais de nossa existência. Ao contrário das aves, caminhamos sobre a terra e as nossas pegadas são gravadas a cada passo. Voamos sem conhecer o rumo e sem saber o destino. A rota do céu passa pelo caminho da Terra. Os pássaros são abatidos em pleno vôo e continuamos a falar em velocidade. Nossas palavras são como essas bandeiras coloridas estendidas sobre caixões no dia do funeral. Na transparência dos outros encontramos a transcendência de Deus. O que sobrará? Um livro, talvez, escrito nas noites insones, palavras e mais palavras, pensamentos e pensamentos, reflexões e mais reflexões, nele permanecendo um pouco – ou muito? – de nossos anseios, de nossos sonhos e utopias, de nossas dúvidas, de nossas esperanças e fé? Talvez fragmentos de nossas vidas ávidas transformando seres reais em personagens ou universos oníricos em realidades palpáveis? E quando o tempo se for, as páginas, já amareladas e carcomidas, trarão as marcas indeléveis do pensamento de quem o escreveu, tornando-o recordação duradoura. O que ficará? Os filhos, cada um trazendo a lembrança de um grande amor vivido, traços e gestos que não permitem esquecer a pessoa amada, e os filhos de nossos filhos na continuidade da árvore genealógica, de gerações que farão lembrar sempre uma trajetória plena de mutações, mas imutável em seu correr célere e constante? O que sobrará? Nossas boas ações que colocarão nos lábios dos que nos querem bem palavras de reconhecimento e ternura, eternizando nossa imagem? Ou o mal que fizemos um dia, transformando corações magoados em sótão de tristezas, porque deixou cicatrizes de dor no outro? O que ficará? Talvez os sonhos não concretizados, esperando que outros os realizem, mas recordando as motivadoras palavras de Rubem Alves: “A vida é uma sonata que, para realizar sua beleza, tem que ser tocada até o fim. A vida é um álbum de minissonatas. Cada momento vivido e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada à eternidade. Um único momento de beleza e de amor justifica a vida inteira”. Temos convicção de que, cumprida a sonata de cada um de nós, ínfima que seja, com seus instantes de beleza e de amor incondicional, outras sonatas continuarão nossos acordes, promovendo o ciclo da existência que não se acaba jamais. Indecifrável mistério da morte. D/amor/te. (*) EUGENIO SANTANA, escritor, jornalista, ensaísta, filósofo e gestor editorial; consultor em gestão de pessoas/RH e autor de 20 (vinte) livros publicados. Contratado por dez" anos pela MADRAS Editora, de São Paulo, Capital. "VENTOS FORTES, RAÍZES PROFUNDAS", Autoajuda, Autoconsciência, Autorealização, crescimento pessoal e evolução humana, é o seu "filho favorito" e esse destaque se deve por ter-se transformado em um best-seller
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