terça-feira, 15 de junho de 2021
ESCRAVO, ENQUANTO ESCREVO... EU SOU UM BUSCADOR FRENÉTICO PELO SENTIDO DA VIDA (*)
Continuar escrevendo é buscar compreender a si próprio, trazer à vida as palavras que lhe consomem, as verdades tão relativas que permeiam a ilusão que é viver. Você vai continuar escrevendo por não conhecer uma maneira melhor de expôr seus demônios, não ter outra maneira lógica de expôr a miséria e a confusão em que se encontra. Tampouco consegue compartilhar os momentos de epifania, alegria intensa e aprendizado sem passar por palavras, por notas, por listas.
Você vai continuar escrevendo para provocar, para permitir que as pessoas o entendam melhor. Vai compartilhar teus pensamentos na ânsia de que o outro te encontre no caminho — é sempre uma conversa. Acima de tudo, você vai escrever para entender quem realmente é. Você, ao escrever, vai passar a ver conexões entre coisas distintas, sinais nas pequenas coisas — tudo se torna uma metáfora, uma maneira de aliviar as dores e compreender o mundo.
Escrever vai se tornar uma companhia para a vida toda, uma terapia, um escape. E a partir de então, já não importa mais o que os outros pensam ou dizem. Não importa se gostam ou não do que você escreve ou da maneira como se expressa.
Ao escrever e se expôr, você estará sujeito a coisas maravilhosas e também à crueldade daquele que o lê. E vai se sentir mal muitas vezes, vai pensar que talvez não devesse ter escrito aquilo, vai perceber que não há para onde correr. Você vai estar ali, em medidas diferentes e mesmo que insignificantes, sendo julgado a todo o tempo. A gramática, aquela palavra repetida, aquele pensamento, todos aqueles clichês: tudo isso saltará aos olhos dos mais atentos, dos mais críticos. E ainda assim, nadando contra a maré, você continuará escrevendo.
Vai continuar por saber que não vai ficar rico com isso e, por assim ser, ou você escreve porque gosta ou enterra logo tudo isso. A recompensa parece não vir nunca, mas você vai ler o que escreveu há anos — primeiramente vai se envergonhar de tudo aquilo — e depois vai refletir sobre quem era e quem se tornou. Vai pensar se lá no passado você já dava indícios de que seria quem é hoje.
E assim prosseguirá juntando frases, tentando dar sentido às coisas. E vai perceber que a busca por palavras te leva a lugares que talvez nunca iria se não fosse pela escrita. Vai perceber que a poesia, a prosa e os textos que fazem parte da sua vida estão por toda parte. Nas ruas, nas esquinas, nas pessoas que encontra, nos caminhos e cidades que ainda irá explorar.
Se há algo que a escrita requer é experiência, é vida, é estrada e pessoas.
Ainda que o processo seja extremamente solitário, dolorido e indulgente, ele requer experiência humana. Ele requer que sejamos, acima de tudo, um colecionador de vidas, de pessoas que passam por nós e nos fazem lembrar que viver é difícil mas vale a pena. Pessoas que talvez vão mudar nossas percepções sobre determinado tema, nos fazer refletir sobre coisas que talvez nunca pensamos antes. E é ai que está a beleza de escrever.
As histórias nascem a partir de nós mesmos, de nossos questionamentos, de nossas vivências. Escrever é um atestado da fragilidade humana, do encantamento que temos por nós mesmos, seres tão iguais e tão diferentes ao mesmo tempo.
Ter descoberto a escrita tão cedo adicionou à minha existência quartos que posso acessar a qualquer momento. Alguns são escuros, outros parecem receber a luz do nascer do sol, meio amarelada, que nos cega até que nos acostumemos a ela.
Escrever não é fácil quando o que se está em em jogo é uma busca frenética pelo sentido da vida.
Eu não entendo o mundo, não entendo a vida, sequer entendo a mim mesmo. Neste sentido, acho que escrever é também perder-se, mais do que se encontrar. É embaralhar o quebra-cabeças simplesmente porquê tudo aquilo que você julga saber não passa de ilusão. E assim você se refaz, reescreve, anota, deixa o papel em branco marcado de tinta para que não se esqueça jamais de que as coisas são passageiras.
A palavra será sua melhor companhia nos dias solitários, nas manhãs enquanto toma café, nos bancos das praças e voos longos. É a partir dos livros, dos textos, do que os outros escreveram, que você irá encontrar razão para continuar escrevendo. E não se torture muito. Lembre-se que você escreve a partir de suas próprias circunstâncias e, por isso mesmo, não deva se comparar demasiado com os outros. Não é preciso querer ser como determinado escritor, mas é importante invejá-los e tentar absorver um pouco de cada um deles.
No final das contas, escrever será um exercício para toda a vida. Uma necessidade, uma pedra a ser polida — cada dia melhor, cada vez mais próximo de como você realmente deseja escrever. E talvez você nunca se satisfaça com o texto, com o tom que dá às palavras. Desde que isso não lhe impeça de escrever, tudo bem.
Hoje, andando sozinho pela cidade tive algumas ideias e uma ou outra conversa que com certeza renderia um bom texto. Mas ao invés de escrevê-las resolvi tentar entender a razão pela qual escrevo e quando tudo isso começou, de fato. Tomava meu café enquanto tentava voltar no tempo e ter algum resquício de memória sobre quando, de fato, comecei a escrever.
Por que continuar a escrever? O que te move até as palavras, as frases, as metáforas? Por que você leva isso a sério? O que você ganha com isso?
Escrevo para me encontrar e me perder, para salvar histórias, capturar pessoas e lugares. Escrevo para entender e confundir, para dar um sentido narrativo à minha vida. E continuarei escrevendo, por mais dolorido que seja, ainda que precise vencer todo e qualquer crítico e, principalmente, a mim mesmo.
E você vai continuar escrevendo porquê escrever é, acima de tudo, viver. Encha-se de vida e continue.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, agente literário, biógrafo, copidesque, revisor de texto e gestor editorial. Autor de 14 livros publicados: "Hóspede da Terra, Passageiro do Mundo", "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, entre outros. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - email: es.escritor1199@gmail.com
sábado, 8 de maio de 2021
INSACIÁVEIS VAMPIRAS DO AMOR (*)
Querem viver a sua vida. Não suportam a sua independência e visão do mundo. E não se importam com os seus valores mais preciosos. Invejam-lhe, mas não se dão conta disso.
Inventam que querem cuidar de você, quando, na verdade, quer lhe absorver até ultrapassar todos os seus limites físicos e emocionais. Insaciáveis, sugam sua energia para torná-lo mais vulnerável.
Querem corromper sua lucidez e bom-senso, porque assim fica mais fácil a sua submissão.
Seduzem-lhe por onde você é mais frágil. Quebram aos poucos sua autoestima. Minam a sua energia e se alimentam insaciavelmente de tudo o que você é.
A solução para esse tipo de relacionamento é a ruptura imediata, o corte, e se possível, o rompimento por completo com toda forma de contato. Você não está apaixonado e nem amando, está apenas intoxicado pelo que ela lhe infunde. É por meio da inserção de pensamentos e sentimentos desastrosos que o predador emocional, dia após dia, vai roubando a sua capacidade de lucidez.
Suas ações funcionam como uma espécie de droga venenosa que é gradativamente injetada e que tem uma única função que é a de lhe intoxicar.
Acorde! Você está correndo risco de morte. Acredite em você e em suas mais ínfimas percepções. Dê ouvidos a si mesmo.
Mesmo sendo fruto de situações assimiladas em nossa infância, quando fomos doutrinados a sermos obedientes, educados, cordatos e convenientes, devemos nos lembrar que para sobrevivermos também precisamos saber impor limites e saber dizer não.
Vítimas deste tipo de assassinos silenciosos, em geral, são visionários, sensíveis e românticos que acreditam que serão capazes de reparar absolutamente todo o mal-estar do outro, incluindo suas mudanças repentinas de humor.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, biógrafo, economista, contabilista e gestor em RH. Autor de 15 livros publicados: "Hóspede da Terra, Passageiro do Mundo", "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, entre outros. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - email: es.escritor1199@gmail.com
quarta-feira, 5 de maio de 2021
ÊXTASE OU FUGA?: A BEBIDA AO LONGO DA HISTÓRIA (*)
Acredita-se que a bebida alcoólica teve origem na Pré-História, mais precisamente durante o período Neolítico quando houve a aparição da agricultura e a invenção da cerâmica. A partir de um processo de fermentação natural ocorrido há aproximadamente 10.000 anos o ser humano passou a consumir e a atribuir diferentes significados ao uso do álcool. Os celtas, gregos, romanos, egípcios e babilônios registraram de alguma forma o consumo e a produção de bebidas alcoólicas.
Em uma das mais belas passagens do Antigo Testamento da Bíblia (Gênesis 9.21) Noé, após o dilúvio, plantou vinha e fez o vinho. Fez uso da bebida a ponto de se embriagar. Reza a bíblia que Noé gritou, tirou a roupa e desmaiou. Momentos depois seu filho Cam o encontrou "tendo à mostra as suas vergonhas". Foi a primeiro relato que se tem conhecimento de um caso de embriaguez. Michelangelo, famoso pintor renascentista (1475-1564), se inspirou nesse episódio pintar um belíssimo afresco, com esse nome, no teto da Capela Sistina, no Vaticano. Nota-se, assim, que não apenas o uso de álcool, mas também a sua embriaguez, são aspectos que acompanham a humanidade desde seus primórdios.
O solo e o clima na Grécia e em Roma eram especialmente ricos para o cultivo da uva e produção do vinho. Os gregos e romanos também conheceram a fermentação do mel e da cevada, mas o vinho era a bebida mais difundida nos dois impérios tendo importância social, religiosa e medicamentosa.
No período da Grécia Antiga o dramaturgo grego Eurípedes (484 a.C.-406 a.C.) menciona nas Bacantes duas divindades de primeira grandeza para os humanos: Deméter, a deusa da agricultura que fornece os alimentos sólidos para nutrir os humanos, e Dionísio, o Deus do vinho e da festa (Baco para os Romanos). Apesar do vinho participar ativamente das celebrações sociais e religiosas greco-romanas, o abuso de álcool e a embriagues alcoólica já eram severamente censurados pelos dois povos.
Os egípcios deixaram documentado nos papiros as etapas de fabricação, produção e comercialização da cerveja e do vinho. Eles também acreditavam que as bebidas fermentadas eliminavam os germes e parasitas e deveriam ser usadas como medicamentos, especialmente na luta contra os parasitas provenientes das águas do Nilo.
A comercialização do vinho e da cerveja cresce durante este período, assim como sua regulamentação. A intoxicação alcoólica (bebedeira) deixa de ser apenas condenada pela igreja e passa a ser considerada um pecado por esta instituição.
Durante e Renascença passa a haver a fiscalização dos cabarés e tabernas, sendo estipulados horários de funcionamento destes locais. Os cabarés e tabernas eram considerados locais onde as pessoas podiam se manifestar livremente e o uso de álcool participa dos debates políticos que mais tarde vão desencadear na Revolução Francesa.
O fim do século 18 e o início da Revolução Industrial é acompanhado de mudanças demográficas e de comportamentos sociais na Europa. É durante este período que o uso excessivo de bebida passa a ser visto por alguns como uma doença ou desordem. Ainda no início e na metade do século 19 alguns estudiosos passam a tecer considerações sobre as diferenças entre as bebidas destiladas e as bebidas fermentadas, em especial o vinho. Neste sentido, Pasteur em 1865, não encontrando germes maléficos no vinho declara que esta é a mais higiênica das bebidas.
Durante o século 20 paises como a França passam a estabelecer a maioridade de 18 anos para o consumo de álcool e em janeiro de 1920 o estado Americano decreta a Lei Seca que teve duração de quase 12 anos. A Lei Seca proibiu a fabricação, venda, troca, transporte, importação, exportação, distribuição, posse e consumo de bebida alcoólica e foi considerada por muitos um desastre para a saúde pública e economia americana.
Foi no ano de 1952 com a primeira edição do DSM-I (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) que o alcoolismo passou a ser tratado como doença.
No ano de 1967, o conceito de doença do alcoolismo foi incorporado pela Organização Mundial de Saúde à Classificação Internacional das Doenças (CID-8), a partir da 8ª Conferência Mundial de Saúde12,13. No CID-8, os problemas relacionados ao uso de álcool foram inseridos dentro de uma categoria mais ampla de transtornos de personalidade e de neuroses. Esses problemas foram divididos em três categorias: dependência, episódios de beber excessivo (abuso) e beber excessivo habitual. A dependência de álcool foi caracteriza pelo uso compulsivo de bebidas alcoólicas e pela manifestação de sintomas de abstinência após a cessação do uso de álcool.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, biógrafo, economista, contabilista e gestor em RH. Autor de 15 livros publicados: "Hóspede da Terra, Passageiro do Mundo", "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, entre outros. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - email: es.escritor1199@gmail.com
terça-feira, 4 de maio de 2021
A MÍDIA DIVULGA O CAOS...
Neste contexto é imprescindível lembrar Nelson Rodrigues e o seu conhecido "óbvio ululante". Ainda assim, é necessário dizer este "sincericídio", já que sou um jornalista Kamikaze: A primeira página dos jornais e as histórias de destaque na internet ou na televisão parecem focar em crimes, acidentes, política, economia e pessoas em evidência exibindo comportamentos inadequados. (Escritor/Jornalista/Ensaísta EUGENIO SANTANA)
segunda-feira, 3 de maio de 2021
INOLVIDÁVEIS ASAS DE SAUDADES, MINHA MAMÃE ADÍLIA SANTANA
Indescritíveis Asas de Saudade, amada Mãezinha Adília. Hoje completaram 10 anos de sua ausência física. A Dor continua dilacerante. Luto contra o LUTO, inutilmente. O seu amor infinito e verdadeiro é inesquecível, valioso, precioso e único. Incomparável. Que Deus me perdoe por evocar diariamente a sua ausência. Mas, afinal, Deus é Amor e o que Ele mais faz é Perdoar. Amo-te eternamente, Mamãe. ( Eugenio Santana, em memória de Adília Santana *25/10/1929 +02/05/2011)
quinta-feira, 29 de abril de 2021
A CAIXA DE PANDORA
A mitologia grega conta que Pandora abriu a tampa da caixa proibida e aproximou o rosto da pequena abertura, mas teve que se afastar rapidamente, espantada. Uma fumaça densa e negra saía da caixa em espirais enquanto mil horríveis fantasmas se formavam naquelas nuvens que invadiam o mundo e escureciam o Sol. Eram todas as doenças, as dores, os horrores e os vícios do mundo. Todos saíam da caixa de forma violenta, entrando nas tranquilas moradas dos homens. Pandora tentou fechar a caixa e evitar que mais males escapassem, para remediar o desastre, mas foi em vão. O destino inexorável se cumpria e, desde então, a vida dos homens foi assolada por todas as desventuras desencadeadas por Zeus. Quando a fumaça se desfez e a caixa parecia vazia. Pandora olhou para dentro dela e viu um lindo passarinho de asas cintilantes. Era a Esperança. Ela se apressou em fechar a caixa, impedindo que a Esperança escapasse também. Dessa forma, a Esperança se conserva guardada no fundo de nosso coração. (Jornalista/escritor/ensaísta EUGENIO SANTANA - IMAGEM E PALAVRA)
terça-feira, 27 de abril de 2021
QUEM SOU EU? INSIGHT SOBRE UM AUTOR VAGALUME. UM MAGNÍFICO FARSANTE? (*)
Para definir meu trabalho, preciso primeiramente saber quem é você. Se você é um amante da literatura, me apresento como escritor romancista, contista, poeta e cronista. Se é um empresário, sou um redator publicitário, Analista de negócios, Consultor em marketing digital, Relações públicas, palestrante motivacional e Assessor de imprensa. Se tem uma grande história de vida que gostaria de compartilhar com outros, sou um biógrafo.
Iniciei meus trabalhos literários, na década de 1980, escrevendo poemas e crônicas para diversos jornais do país: de Porto Velho a Porto Alegre. Em 2010 criei o meu Blogue "Guardião da Palavra", onde passei a publicar meus textos: poemas, crônicas, contos, artigos e ensaios, além de proporcionar dicas motivacionais para jovens escritores neófitos.
Inútil dizer onde vivo. Não sou capaz de morar mais do que três anos em uma mesma cidade. Um homem de chegadas e partidas. Um Andarilho da flor estrela... Aquele que deambula à sombra da inquietude. Fácil a estratégia inconsistente ao mencionar que sou jornalista profissional. Sei que, por meio desse argumento jamais consegui ser convincente. A estrada me encanta e fascina. E o "sabor" do Crepúsculo e da Aurora? Indescritível. Instigante!
Durmo de dia, escrevo a noite, e sonhos azuis e alados ocorrem em uni/versos paralelos e oníricos. Já quis viajar o mundo. Principalmente, morar no Egito, na França, na Espanha e na Alemanha. Já quis desaparecer. Perambulei a procura do meu "par ideal", e na volta, procurava por mim. Fiz boas ações. E algumas imbecilidades. Não insisto em ser, mas me orgulho de estar. A missão de ser escritor me fez atingir o nirvana, o self; a transcendência. Voei. Ícaro na Asa do tempo...
O osso acima dos meus olhos chama-se frontal. A camada enrugada, azulada e cansada que o reveste, pele. O objeto de sua proteção chama-se cérebro. E no conjunto da obra, tenho um "rosto desfigurado" que já viajou nas asas da utopia e já foi guiado pelos pássaros. Este, resguardado, produz aquilo que me cansa e extenua, dia após dia: minhas ideias criativas, lúcidas, confusas, diáfanas e monossilábicas; algumas prolixas, outras pró-lixo ou lagartixas cósmicas e, algumas vezes, a economia verbal revela meu ciberespaço na magia encantadora da Língua Portuguesa. Escrever? Meu Vício Visceral!
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, agente literário, biógrafo, copidesque, revisor de texto e gestor editorial. Autor de 14 livros publicados: "Hóspede da Terra, Passageiro do Mundo", "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, entre outros. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - email: es.escritor1199@gmail.com
segunda-feira, 26 de abril de 2021
O MARKETING DO VATICANO E DO EDIR MACEDO (*)
A BÚSSOLA COMPLETA E ABRANGENTE DE DEUS: A BÍBLIA. O VATICANO VIROU PAÍS E, NA CONDIÇÃO DE RELIGARE, É A INSTITUIÇÃO MAIS RICA DO MUNDO E JAMAIS ABRIU SEUS COFRES PARA SOCORRER VÍTIMAS CÍCLICAS DO PLANETA TERRA, MAIS RECENTEMENTE A DOENÇA COVID-19. EDIR MACEDO, CRIOU A IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS (SIC), TEM TEMPLOS NO MUNDO INTEIRO E O SEU OBJETIVO É O LUCRO ECONÔMICO FINANCEIRO. PAPA "CHIQUINHO" E EDIR MACEDO SE UTILIZAM ABERTAMENTE DO FILHO DE DEUS COMO O MAIS EFICAZ MARKETING DE TODOS OS SÉCULOS. ISSO, SIM, TEM NOME: SACRILÉGIO. AMBAS AS INSTITUIÇÕES SÃO DEMONÍACAS. A RELIGIÃO É O AMOR INCONDICIONAL CONFORME OS ENSINAMENTOS DE CRISTO JESUS. E, POR FIM, SOU SEGUIDOR DE JESUS - O CRISTO CÓSMICO; O MESTRE DOS MESTRES. (ESCRITOR/JORNALISTA/ENSAÍSTA EUGENIO SANTANA)
sábado, 24 de abril de 2021
OS CÁTAROS E A PRÁTICA CRISTÃ COMPATÍVEL COM OS ENSINAMENTOS DO MESTRE (*)
Montanhas escarpadas com misteriosos castelos no topo, tão misturados às rochas que só se percebe sua existência quando se chega bem perto. Essa é uma imagem comum em Languedoc-Roussilon -sudoeste da França-, mais precisamente da região de Corbiéres, onde estão concentrados castelos cátaros.
Em Languedoc encontram-se cidades, vilas, abadias e castelos medievais que guardam marcas profundas da época turbulenta do surgimento e desenvolvimento desses religiosos, em sua arquitetura e nas obras de arte.
Os cátaros, ou albigenses, eram os fiéis de uma seita cristã que surgiu na Idade Média e cresceu, particularmente no Languedoc. Eles criticavam a corrupção da Igreja Católica -a que chamavam "a igreja dos lobos"-, discordavam de diversos dogmas e tinham a sua própria hierarquia: bispos e sacerdotes, os "perfeitos", encarregados de dirigir os cultos e promover a catequização.
Languedoc, o antigo país de Oc, era praticamente independente nos tempos medievais, até fins do século 12. A região era dividida em condados, que prestavam uma tênue vassalagem a diversos suseranos: os reis da França e de Aragão, o conde de Barcelona, o papa e o conde de Toulouse.
O clima de liberdade intelectual e tolerância religiosa reinante, raro nos países cristãos na época, favoreceu a propagação do catarismo, inclusive entre os senhores feudais. Eles apreciavam o fato de a seita rejeitar o pagamento de dízimos à igreja e condenar a atuação política de seus ministros.
No início do século 13, preocupado com o progresso acentuado da heresia, o papa Inocêncio 3º ordenou uma cruzada contra ela. Logo formou-se um poderoso exército, integrado por guerreiros de diversos países, atraídos tanto por promessas espirituais -o perdão dos pecados- quanto materiais -o saque e a expropriação dos bens dos cátaros.
O rei da França a princípio não participou da cruzada, mas depois assumiu a liderança, de olho na incorporação do Languedoc ao reino (o que acabou acontecendo). A luta durou cerca de 40 anos. E foi sangrenta. Os cátaros resistiram bravamente, mas acabaram derrotados, sendo muitos deles mortos durante as batalhas ou queimados em fogueiras.
O local ideal para servir de base à descoberta do país dos cátaros talvez seja Carcassone. Quem vem do litoral do Mediterrâneo pela Autoroute des Deux Mers, descobre-a no horizonte, surgindo como uma autêntica aparição. É um choque impactante.
Toda rodeada por dois anéis de poderosas muralhas com 39 torres, Carcassone lembra uma gigantesca nave que se projeta no espaço, sobrepondo-se à paisagem. É uma cidade medieval fortificada, restaurada com perfeição no século 19. Ao caminhar por suas ruelas, becos, praças e arcos, a sensação é de recuo no tempo.
Carcassone foi um dos principais centros cátaros. Na sua área central, há muitas obras e monumentos da época. A história do ataque à cidade pelos cruzados no século 13 aparece gravada em alto-relevo na Pedra do Cerco, um dos tesouros da basílica romântico-gótica de St. Nazaire.
O Chateau Comtal, fortaleza dentro da cidade, com muralhas e fossos, foi o último reduto de defesa. Um tour guiado (gratuito) é a melhor forma de conhecê-lo.
Outra boa pedida também é visitar o museu Lapidaire, com sua interessante coleção de antiguidades romanas e medievais. Mas o programa principal mesmo é vaguear pela cidade e pelo alto das muralhas, deixando-se envolver pela magia do local. E à noite sair da cidade, afastar-se uns 500 metros ou 600 metros e contemplar as muralhas iluminadas, um quadro único de beleza e majestade.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, agente literário, biógrafo, copidesque, revisor de texto e gestor editorial. Autor de 14 livros publicados: "Hóspede da Terra, Passageiro do Mundo", "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, entre outros. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - email: es.escritor1199@gmail.com
sábado, 17 de abril de 2021
UM PORTFÓLIO MANCHADO DE SANGUE NO PLANETAZUL (*)
Talvez em toda a história da humanidade nunca tenhamos presenciado absurdos sobrepostos com tanta veemência como nos dias atuais. O homem se perde nos seus limites diários e o respeito pela vida e suas belezas é colocado em segundo plano diante da ambição mascarada de ser melhor e melhor. Sem importar-se com os meios desde que o fim seja palpável e prazeroso o suficiente para sobressair-se em relação ao próximo. Somos hipócritas, falsos detentores da verdade, e principalmente, propagadores do rancor e da individualidade doentia.
Os problemas crônicos do mundo abrangem fatores além das nacionalidades, religiões e políticas governamentais. É um câncer populacional que exponencialmente evoca o racismo, o machismo, a intolerância religiosa, o desprezo pela igualdade social e a corrupção como forma de resposta para o simples fato de há muito não sermos capazes de amar.
Salvem raríssimas exceções, grupos não estão interessados em fazer a diferença, e sim galgar status quo – ter os 15 minutos de fama. Não importa se fulano foi flagrado traindo ciclana ou se a novela a mostrou uma cena mais provocativa que a novela b. Tudo aquilo que queremos é a janela escancarada para podermos compartilhar uma opinião. Para sermos ouvidos. Desconhecemos política do mesmo modo que a conhecemos como arma para estabelecer laços e desfazer supostas amizades quando buscamos simplesmente mostrar – a minha voz chega mais longe que a sua.
Direitos humanos? Usamos quando convém. Meio ambiente? Quando rende elogios dos amigos e acrescenta para o portfólio. Sujos dos pés até a cabeça de falsas verdades e meias mentiras, dançamos ao som de uma trilha sonora particular e que age e reage conforme os nossos sentimentos e necessidades. Hipócritas! Todos somos! Certas vezes dura apenas um instante e um instante pode ser o começo ou pode ser tudo.
A esperança. Existirá luz no túnel estruturado pela lei do mais forte? O ser humano permanece na escala evolutiva e superando problemas adversos há séculos, mas enquanto no passado os problemas eram postos na ponta de espadas por ideais, hoje usamos os dedos e a voz para representar um intelecto superior e quase divino: o certo. Errados são os meros mortais que se preocupam com os meios e toda essa baboseira chamada humanidade.
(*) EUGENIO SANTANA é Escritor, Jornalista, Ensaísta,Superintendente de Imprensa, Agente literário, Biógrafo, Copidesque e Gestor em RH. Autor de 14 livros publicados: "Hóspede da Terra, Passageiro do Mundo", "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, entre outros. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - email: es.escritor1199@gmail.com
sábado, 10 de abril de 2021
A SOMBRA DAS AUSÊNCIAS: O ESQUECIMENTO, A FACE OCULTA, O DESCONHECIDO, O GRANDE VAZIO (*)
O ar me trouxe nas tardes côncavas um bramido ou o eco de um bramido desolado. Sei que na sombra há Outro, cuja sorte é fatigar as longas solidões que tecem e destecem este Hades, e ansiar pelo meu sangue e devorar a minha morte. Nós e a nossa sombra, vida e morte, calor e frio. O som e o silêncio. A ação e a imobilidade. O medo e a coragem. A memória e o esquecimento.
Desde Heráclito, que nos viu naufragar nas corredeiras do tempo, até Albert Einstein, a antimatéria, os buracos negros estilhaçados, orações e guerras, no precário equilíbrio da selva, à beira do vazio. Encarcerados nos inconcebíveis labirintos da razão, buscamos o que, na verdade, nós mesmos temos destruído, nas ruínas indecifráveis de uma História escrita somente pela mão arrogante dos vencedores.
Quando morre alguém, desaparecem para sempre algumas informações exclusivas. A imagem de um cachorro correndo na neve, junto à janela do trem. A respiração ofegante da mulher amada, no vértice do prazer. Um gemido incontido. O aroma insubstituível do desejo, na mistura única de perfume e suor. A chave abandonada no fundo da gaveta, que jamais voltará a abrir misteriosa porta agora ignorada. A máscara alheia de dor e sofrimento, registrada durante um momento íntimo de conflito. Com o desaparecimento de uma pessoa, - anônima ou ilustre, não importa - esvaem-se dados singulares, peças ínfimas do cotidiano que jamais poderemos repor. Infelizmente, porém, a morte das pessoas é inevitável.
Haverá mortes inevitáveis? Talvez pudéssemos evitar a morte diária de 199 espécies. Também temos sido responsáveis ou co-responsáveis pela morte prematura e desnecessária de línguas, culturas e povos. Mais de 6 mil línguas afundaram nas areias movediças do tempo. E as inumeráveis culturas? E os povos?
Os astecas, por exemplo, foram pisoteados pelas ilusões da lenda e pelas patas dos cavalos de Hernán Cortez. O que ficou da sua extensa sabedoria lembra os escombros de um grande terremoto. Os tehotihuacanos viviam de maneira organizada e construíram pirâmides que apontavam para a eternidade. Sumiram na madrugada dos desmatamentos e nos deixaram apenas paredes vazias, desceram para o sul e se embrenharam nas florestas, levando com eles seus conhecimentos maravilhosos e se transformando numa imperdoável ausência.
Os incas, assaltados e humilhados pelas tropas de Francisco Pizarro, subiram a cordilheira e se esconderam no mundo miserável do sonho induzido. Nos outros continentes, dramas e tragédias se repetem.
Muita informação desapareceu com a Babilônia de Nabucodonosor. Entre o Tigre e o Eufrates, os mistérios da Mesopotômia viraram pó. A cultura dos persas foi varrida pelos exércitos de Alexandre, o Grande, mas também perdemos referências da própria Macedônia - e nem sabemos ao certo como morreu o seu maior guerreiro. Às margens do Nilo ficaram enterrados os segredos do antigo Egito, dos quais temos somente vestígios como as pirâmides e a esfinge. No Mar Egeu submergiram os minóicos, com seus minotauros e seus navios de guerra. Os ardis do destino e a ferocidade dos homens apagaram as pegadas de assírios e mongóis, e dos tempos anteriores à palavra escrita nos chegam pálidos relatos de gregos e troianos.
Mais recentemente, o esquecimento engoliu incontáveis fatos e registros, na América Latina, referentes às ditaduras militares dos anos 60 e 70. Muita gente também já se esqueceu dos crimes hediondos cometidos em nome do socialismo, seja na falecida União Soviética, seja na China, em Cuba, na Coréia do Norte ou na antiga Alemanha Oriental, para citar uns poucos exemplos.
Ao nosso ilimitado desconhecimento, somam-se as perdas, o que resvalou e se foi, pela ação predatória ou simplesmente pelo esquecimento. Cresce assim, constantemente, a sombra das ausências - da qual talvez se alimente a Divindade. O esquecimento, também é uma forma de memória. O seu vago porão. A outra face oculta da moeda. É possível que Deus, no final das contas, seja de fato apenas o esquecimento, a face oculta, o desconhecido, o grande vazio que vai nos suceder na imprevisível noite dos séculos.
(*) EUGENIO SANTANA é Escritor, Jornalista, Ensaísta, Diretor de Redação de Revistas, Agente literário, Biógrafo, Blogueiro e Gestor em RH. Autor de 14 livros publicados: "Hóspede da Terra, Passageiro do Mundo", "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, entre outros. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - email: es.escritor1199@gmail.com
terça-feira, 6 de abril de 2021
RARAS SÃO AS PESSOAS QUE RECONHECEM O SEU TALENTO NESTA EXISTÊNCIA EFÊMERA
Agradeça se elas chegar e a ocupar os cinco dedos de uma mão. E geralmente, pelo menos uma dessas pessoas será nossa mãe ou nosso pai. Mas sinta-se abençoado se você tem alguém que entende seu olhar. Que te ama mesmo quando você se esquece das próprias virtudes. Quando você tem alguém que dispensa saber suas explicações, tenha sempre por perto. (Escritor/jornalista/ensaísta EUGENIO SANTANA - (41) 9.9909-8795 WhatsApp)
A MAGIA INDECIFRÁVEL DO SEU OLHAR...
Entendo que é possível olhar nos olhos de alguém e de súbito saber que a vida será impossível sem eles. Saber que a voz da pessoa pode fazer seu coração falhar, e que a companhia dessa pessoa é tudo que sua felicidade pode desejar, e que a ausência dela deixará sua alma solitária, desolada e perdida. (Escritor/jornalista/ensaísta Eugenio Santana - Imagem e Palavra)
A VIAGEM POR DENTRO DOS NOSSOS MANUSCRITOS...
Fazemos esta viagem juntos. Como estão distantes os outros passageiros! Estarão no mesmo trem? Em que vagão? Na capota do carro? A bordo do avião? Fazemos esta viagem juntos por dentro dos nossos manuscritos – mal-escritos? No mais, o resto é a separação, a ruptura, o inter/dito. Escritores e jornalistas são ânforas com sede. (Escritor/jornalista, ensaísta EUGENIO SANTANA, FRC)
FILHOS(AS)...
Uma filha, brasiliense; a outra, paulista; um filho, fluminense; e o outro, mineirinho. Mas, por incrível que pareça, já constatei que os meus 14 "FILHOS/LIVROS", me amam mais e reclamam menos. Revelação inadiável porquê sou AUTÊNTICO. (Escritor/jornalista/ensaísta EUGENIO SANTANA)
quarta-feira, 31 de março de 2021
ANALOGIA ENTRE AS PANDEMIAS: GRIPE ESPANHOLA E A COVID-19 (*)
O ano de 2020 iniciou-se longe da ideia de que haveria uma pandemia. Esta que se espalhou rapidamente pelo mundo e trouxe dúvidas, incertezas, caos e mortes. Quando outras epidemias e pandemias se espalharam pelo mundo as pessoas estavam em situações similares. É o caso da grande gripe espanhola, também conhecida como a gripe de 1918.
A chamada gripe espanhola que recebeu esse nome porque acreditava-se que o vírus teria surgido na Espanha, dizimou de 50 a 100 milhões de pessoas. Foi chamada também de “bailarina”, porque dançava e se disseminava em grandes escalas.
Foi cunhada principalmente por gripe espanhola pelo fato de que a Espanha se manteve neutra durante a Primeira Guerra Mundial, permitindo que a imprensa divulgasse a respeito da peste.
Acredita-se que uma das formas da disseminação do vírus tenha sido intensificada pelos soldados que retornavam das trincheiras. Espalhou-se das estações ferroviárias ao centro das cidades, depois aos subúrbios e ao campo.
O livro “A Bailarina da Morte” escrito pela historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz e Heloisa Starling, traz aspectos inéditos e marcantes da gripe espanhola. Entretanto, a abordagem vai além do que foi a gripe espanhola no mundo e no Brasil. As escritoras explicam também que tanto com a gripe espanhola quanto a covid-19, a primeira reação a uma doença pública é a negação.
“Toda doença conta uma história. Toda doença contagiosa é também um evento social. No começo, a peste é quase sempre recepcionada com grandes doses de negação.”
Um dos aspectos que as autoras chamam atenção do leitor no livro é a respeito das dúvidas e das incertezas que as grandes pandemias geraram nos cidadãos. Dessa forma, muitas pessoas se viam cercadas de incerteza por se tratar de uma doença desconhecida e sem muitas informações sobre o contágio..
Segundo as autoras explicam, quando a gripe espanhola se instalou no Brasil houve um colapso. O vírus invadiu o país, atingindo principalmente as áreas urbanas. Assim como a atual pandemia, faltava médicos preparados, insumos e macas para tratar os doentes. A segunda onda da gripe espanhola também foi a mais letal. A situação se agrava tanto que começava a surgir nas capas de jornais estrangeiros como a gripe espanhola estava assolando o Brasil. As mortes no país chegaram a 35 mil.
O livro “Contágio” do escritor norte-americano David Quammen que foi lançado em 2012 é uma obra que traz questões aprofundadas de como infecções que começam no reino animal e migram para os seres humanos. Mesmo tendo sido lançado anos atrás, "Contágio" ganhou novas edições atualmente.
Apesar das obras de Albert Camus “A peste” e a de Gabriel Gárcia Márquez” Amores no tempo do cólera” se tratarem de romances, ambas também tratam de pandemias que marcaram a humanidade. Os livros trazem a importância da ciência no enfrentamento de pandemias.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, agente literário, biógrafo, copidesque, revisor de texto e gestor editorial. Autor de 14 livros publicados: "Hóspede da Terra, Passageiro do Mundo", "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, entre outros. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - email: es.escritor1199@gmail.com
sexta-feira, 26 de março de 2021
AMOR. TEMPO. MORTE: É COMPLEXO DEIXAR UM ENIGMA DAQUILO QUE SOMOS (*)
Sentado em um velho tamborete de madeira, cercado por mosquitos ávidos pelo calor úmido que sai do bafo dos convalescentes, observo o universo ao meu redor. Não posso ser indiferente ao que vejo, ao mesmo tempo que não devo agir com intromissão. Não me cabe fazer perguntas indiscretas, investigar um passado cheio de reentrâncias capazes de trazer ao presente lembranças, saudades e principalmente dores. A sensação de cansaço que o tempo nos faz carregar quando ficamos velhos, nos dá a impressão que podemos tudo esconder, visto que esquecer é privilégio de alguns que se vêem atacados pela demência. Não é tão fácil deixar oculto aquilo que somos, principalmente quando pomos nossa alma nas paredes, em exibição.
Quando se fala em velhice é difícil dissociar esta fase, da busca pela aproximação de um ser supremo que possa trazer alento às mais terríveis dores. Na cultura cristã ocidental a presença da imagem de Deus, seja ele representado por Jesus Cristo, Maria ou qualquer santo, é algo comum na vida cotidiana das pessoas. O catolicismo e o protestantismo se mostram de forma marcante, mesmo que o indivíduo sequer frequente igrejas ou argumente que não segue religião.
Na pequena área de entrada de uma casa pobre, encontra-se em seu leito de dor, dona Joana. Nas paredes amarelas, mal rebocadas, vejo um deus que é três, representado por um homem mais velho, outro mais moço e uma criança, encimados por uma pomba que irradia luz. Na segunda parede que compõe o cubículo, adornadas em madeira, leio frases bíblicas contendo o nome de Deus escrito nela. Na terceira parede está Maria, representando a face feminina de Deus. Na quarta parede está Santo Onofre, um eremita que enquanto vivo, teve comportamento semelhante ao de um deus.
O que pode estar por trás desta marcante presença que se mostra com diferentes faces? O que busca o homem quando exibe em suas paredes, o mais próximo possível de seus olhos, os símbolos de uma divindade? Busca a luz irradiada pela pomba; a sabedoria das palavras entalhadas na madeira; a proteção cúmplice da bondade da deusa mãe; o exemplo dado por alguém que buscou viver de uma maneira harmoniosa.
Compositor de destinos, como diz o poeta, o tempo é senhor absoluto na vida de todos nós.
Deitada em sua cama, com as pernas mirradas pelo desuso, dona Dolores aguarda sem ânsia ele passar. Ao seu lado, pendurado na parede, giram sem parar os ponteiros de um relógio antigo, com armação de madeira que resiste aos desgastes que seu dono, o tempo, o faz sofrer. A mulher já velha, cercada de silêncio, ouve o vento soprar nas árvores de uma tarde quente. Acompanhando o som do vento, o pulsar imutável do ponteiro dos segundos não deixa esquecer que o fim está cada vez mais próximo, como uma bomba relógio prestes a chegar em seu momento final.
Quantas preces foram feitas aquele deus invisível (que se mostra opressor como tantos outros deuses) durante toda uma vida em busca de melhores dias! Podia ele trazer algo de bom se apenas esperássemos suas dádivas, ou teríamos que desafiar seus ponteiros e correr atrás de coisas melhores? Mas e se ao final, depois desta disputa, percebêssemos que ele nos venceu, tornando-nos seus escravos? Ele sempre vence no final, como um deus imbatível, nos tira o prazer dos pequenos e bons momentos de diversão que deixam de existir quando trocamos o convívio da família pelo dinheiro proporcionado pelo trabalho. Ele nos vence quando estampa em nossa cara as rugas e seus ares de cansaço, marcando como se marca um boi com brasa, para mostrar quem manda nesta difícil relação de poder.
Parado na parede ele não para de correr. Corre contra cada um de nós, embora julgamos que corre junto conosco, na busca pela escrita de um destino.
Pode ser Paris , um desejo que provavelmente jamais será alcançado. Pode ser uma foto antiga de um sábado se sol na praia com as crianças, que desejamos que aconteça novamente. Pode ser uma simples flor ou paisagem pintadas em óleo sobre tela, representando a beleza. Afinal, esta e o desejo andam de mãos dadas.
Sentado em frente ao computador o autor escreve um texto. Acima de sua cabeça, sobre a parede branca, em quadros brancos repousam retratos em branco e preto contando histórias e mostrando rostos. Há o registro de um dia de uma infância vivida na década de oitenta, a ingenuidade, a pureza que só crianças possuem em seus semblantes assustados em poses para a foto. Há um mosaico contendo sete pessoas diferentes, cada uma ocupando um espaço de grande importância na vida de quem o montou. Há um registro de um dia de sol, em um fevereiro qualquer, quando se viu o mar pela primeira vez. Inesquecível lembrança que nem precisava ser emoldurada, dada a grandiosidade do ocorrido. Há o registro de um dia qualquer , sentando em frente a faculdade, onde viveu grandes momentos felizes de sua vida. Há o registro de seu próprio rosto, repetido diversas vezes, em outras duas fotos. O que elas querem dizer?
Talvez representem o desejo de ser lembrado, jamais ser esquecido por si próprio. Assim como há também o desejo de voltar aos dias de infância com sua ingenuidade e memórias de um tempo de amor. Há o desejo de não esquecer a importância de ver o mar pela primeira vez. Há o desejo de olhar para as sete pessoas mais importantes de sua vida. E por fim, há o desejo de imaginar coisas e lugares que ainda podemos ter ou visitar, seja a beleza de uma flor em um quadro ou a Torre Eifel em Paris, que pode tornar-se possível.
O que as paredes dizem sobre você? Talvez cada pessoa sequer perceba aquilo que busca, mas inconscientemente traz para o externo, e pendura em suas paredes, aquilo que mais almeja e cultiva.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, agente literário, biógrafo, copidesque, revisor de texto e gestor em RH. Autor de 14 livros publicados: "Hóspede da Terra, Passageiro do Mundo", "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, entre outros. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - email: es.escritor1199@gmail.com
segunda-feira, 8 de março de 2021
EU SUBESTIMEI AS PAREDES DA ALMA EM OUTROS CORPOS, OUTRAS VOZES... (*)
A cilada maior é acreditarmos que as armadilhas estão sempre fora de nós, num mundo que temos por cruel e desumano. Ora, por muito que nos custe, nós somos também esse mundo. E as armadilhas que pensávamos exteriores residem profundamente dentro de nós. Quebrar as armadilhas do mundo é, antes de mais, quebrar o mundo de armadilhas em que se converteu o nosso próprio olhar. Precisamos de passar um programa antivírus pelo nosso hardware mental. Escolhi falar dessas ratoeiras interiores que nos convertem em nômades deambulando entre ecos e sombras.
Uma das primeiras armadilhas interiores é aquilo que chamamos de “realidade”. Falo, é claro, da ideia de realidade que atua como a grande fiscalizadora do nosso pensamento. O maior desafio é sermos capazes de não ficar aprisionados nesse recinto que uns chamam de “razão”, outros de “bom-senso”. A realidade é uma construção social e é, frequentemente, demasiado real para ser verdadeira.
Quando Ho Chi Minh saiu da prisão e lhe perguntaram como conseguiu escrever versos tão cheios de ternura numa prisão tão desumana ele respondeu: “Eu desvalorizei as paredes”. Essa lição se converteu num lema da minha conduta. Ho Chi Minh ensinou a si próprio a ler para além dos muros da prisão. Ensinar a ler é sempre ensinar a transpor o imediato. É ensinar a escolher entre sentidos visíveis e invisíveis. É ensinar a pensar no sentido original da palavra “pensar” que significava “curar” ou “tratar” um ferimento. Temos de repensar o mundo no sentido terapêutico de o salvar de doenças de que padece. Uma das prescrições médicas é mantermos a habilidade da transcendência, recusando ficar pelo que é imediatamente perceptível. Isso implica a aplicação de um medicamento chamado inquietação crítica. Significa permitir que a luz da literatura entre na casa do pensamento.
A mais perigosa armadilha é aquela que possui a aparência de uma ferramenta de emancipação. Uma dessas ciladas é a ideia de que nós, seres humanos, possuímos uma identidade essencial: somos o que somos porque estamos geneticamente programados. Ser-se mulher, homem, branco, negro, velho ou criança, ser-se doente ou infeliz, tudo isso surge como condição inscrita no DNA. Essas categorias parecem provir apenas da Natureza. A nossa existência resultaria, assim, apenas de uma leitura de um código de bases e núcleos improváveis.
Esta biologização da identidade é uma capciosa armadilha. Simone de Beauvoir disse: a verdadeira natureza humana é não ter natureza nenhuma. Com isso ela combatia a ideia estereotipada da identidade. Aquilo que somos não é o simples cumprir de um destino programado nos cromossomas, mas a realização de um ser que se constrói em trocas com os outros e com a realidade envolvente.
A imensa felicidade que a escrita me deu foi a de poder viajar por entre categorias existenciais. Na realidade, de pouco vale a leitura se ela não nos fizer transitar de vidas. De pouco vale escrever ou ler se não nos deixarmos dissolver por outras identidades e não reacordarmos em outros corpos, outras vozes.
A questão não é apenas do domínio de técnicas de decifração do alfabeto. Trata-se, sim, de possuirmos instrumentos para sermos felizes. E o segredo é estar disponível para que outras lógicas nos habitem, é visitarmos e sermos visitados por outras sensibilidades. É fácil sermos tolerantes com os que são diferentes. É um pouco mais difícil sermos solidários com os outros. Difícil é sermos outros, difícil mesmo é sermos os outros.
Uma terceira armadilha é pensar que a sabedoria tem residência exclusiva no universo da escrita. É olhar a oralidade como um sinal de menoridade. Com alguma condescendência, é usual pensar a oralidade como patrimônio tradicional que deve ser preservado. O culto de uma sabedoria livresca pode contrariar o propósito da cultura e do livro que é o da descoberta da alteridade.
Falamos em ler e pensamos apenas nos livros, nos textos escritos. O senso comum diz que lemos apenas palavras. Mas a ideia de leitura aplica-se a um vasto uni/verso. Nós lemos emoções nos rostos, lemos os sinais climáticos nas nuvens, lemos o chão, lemos o Mundo, lemos a Vida. Tudo pode ser página. Depende apenas da intenção de descoberta do nosso olhar. Queixamo-nos de que as pessoas não lêem livros. Mas o deficit de leitura é muito mais geral. Não sabemos ler o mundo, não lemos os outros.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, agente literário, biógrafo, copidesque, revisor de texto e gestor em RH. Autor de 14 livros publicados: "Hóspede da Terra, Passageiro do Mundo", "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, entre outros. (41) 9.9909-8795 WhatsApp - email: es.escritor1199@gmail.com
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