domingo, 27 de novembro de 2016
O BRILHO DE ETERNIDADE EM NOSSO OLHAR
Como é estranho que um rosto desfigurado possa atrair. Para aqueles para quem o amor é uma questão de visão, de toque, de presença, isso pode parecer loucura. Talvez eu seja louco. Mas o fato é que amo pessoas que nunca vi, pois já morreram, e pessoas que nunca vi porque não nasceram. Amo os precursores, pioneiros da Utopia, que andaram pela primeira vez pelos caminhos que hoje ando, e deixaram suas marcas indeléveis. Amo, por outro lado, aqueles para quem espero ser um precursor, e em cada gesto, podem crer, existe um pouco de amor por aqueles que virão. O que está em jogo é o sentido da vida. A vida vale a pena? Para quê? Estas são questões que todos nos colocamos. Mas as colocamos covardemente, com medo, e as sufocamos debaixo do trabalho, da conta bancária, da TV, da tecnologia que desumaniza, da religião que escraviza. Como você, todos tememos e todos nos perguntamos se vale a pena viver – num sussurro. Eu gostaria de ter me permitido ser seu companheiro na sua Dor. Talvez você tenha mergulhado no mar por não ter sido possível mergulhar no amor. A solidão, o silêncio, a palavra sem volta – e a gente olha e vê as máscaras e as pedras. Por que será necessário olhar primeiro atrás das estrelas para só depois viver a vida? É necessário não pedir da vida o que ela não pode dar. Somos amados pelo brilho de eternidade em nosso olhar. Pode ser então que, olhando dentro dos meus olhos, se possa ver um mineiro-menino brincar... Quando me perguntaram que caminho a minha sabedoria diz que devemos seguir, respondi: Não importa. Todos os caminhos conduzem ao mesmo lugar. Escolhe, portanto, o caminho do amor. Você já chegou a este mesmo lugar. Aqui fica o meu toque e, quem sabe, ele ensinará mais amor a alguém?!... (EUGENIO SANTANA é Jornalista, Escritor, Ensaísta, Redator publicitário, Copidesque e Revisor de textos – Autor de nove livros publicados)
quarta-feira, 23 de novembro de 2016
MINAS GERAIS IN-VERSOS...
Sobre Minas, os poemas de “Verso-Minas”, “Ver-só-Minas” são dos melhores que conheço. José da Rocha Paixão leva à extrema a antidiscursividade. O resultado é a expressão mais adequada a manifestar os resíduos e a vivência mineira. História e geografia do estado se entrelaçam à formação existencial do poeta, cujo verso é também mineração de palavras. O chão de Minas e o solo verbal são objeto da mesma prospecção, em que esperança e desencanto se mesclam. No livro, ao lado da memória retrabalhada na esfera do trágico, convive-se com a transcendência do resíduo e a sacralização dos marcos, pois a viagem de José da Rocha Paixão se faz no tempo e no espaço. Uma espécie de colheita de signos afetivamente memoráveis. Que poder de visualização revela o poeta, ao retratar ambientes, numa linguagem intencionalmente despojada. O mapeamento de vivências geográficas é perfeito. “Cromo” é um poema, antes de tudo, visual. Mas o olho objetivo não consegue deter as trágicas reminiscências históricas ou, mesmo, as fraturas existenciais, que se aninham no mais surpreendente lirismo. “Sons mineiros”, por exemplo, evocam “a ainda acesa mulher de ontem”. E o “Calendário mineiro” não deixa de registrar “o calendário das tristezas futuras”, com que se exprime o clássico ceticismo da gente das Alterosas. No fundo, bem lá dentro, o intelectual mineiro, quer seja poeta, romancista, filósofo, crítico, músico, arquiteto ou pintor, permanece fiel a um humanismo estético, de feitio mais sensível do que intelectual, mais afetivo do que cerebral. Lírico é José da Rocha Paixão quando, em “Lira mineira”, trata “de feijão preto de saudade / das espigas de muito milho-amor”. O território verbal abre seu espaço lúdico a um dos processos felizes do poeta: o jogo com as palavras. “Várzea mineira”, “O mineirez” e “Vereda e ravina” sirvam de exemplo. Poesia de altos conceitos, elevadíssima. Escavação de Minas e do ser, “Verso-Minas”, “Ver-só-Minas” impõe José da Rocha Paixão entre os nossos maiores, pois é, a um tempo, inspiração e conquista. A crise econômica vem de longe. Vem da ditadura e prossegue na longa travessia em busca de uma sociedade organizada em termos democráticos. O lamentável, quanto a Minas, é a apatia do âmbito cultural diante do próprio destino e do quadro sócio-político-econômico nacional. É desolador observar que não se modelou uma frente mineira para apoiar uma saída democrática para o país, que se regesse pelo respeito aos direitos humanos, à liberdade política, à economia baseada na justa distribuição de renda. Tínhamos que organizar uma reação contra o capitalismo selvagem, predatório, nacional e multinacional. A natureza tem sido sistematicamente destruída em Minas Gerais. A Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, por exemplo, tem desflorestado impiedosamente o nosso território, desde a década de 20, sem que se ouça uma voz sequer de discórdia. Onde estão os panfletários mineiros? E os poetas, que têm a dizer? As vozes indignadas estão longe. É preciso acordar a grande voz de Minas. Necessitamos ouvir o canto dos poetas em sintonia com o povo. (Escritor, jornalista e ensaísta EUGENIO SANTANA)
QUANDO OS MINEIROS SE UNEM, ALGO DEVE ACONTECER...
A tradição mineira municipalista de Minas Gerais, que vem desde a sua formação, determina que as facções políticas se polarizem em torno do poder municipal em disputas intermináveis. Mas, em relação aos assuntos exteriores ao município, é comum haver propensão à concordância em torno do poder maior, estadual ou federal, com o prudente objetivo de evitar conflitos e retaliações, salvo o esgotamento dos limites de tolerância. Que limites serão estes? O ex-governador Leonel Brizola intuiu o fenômeno, com a visão instantânea de um grande estadista, ao sentir o peso da multidão no comício pró-diretas de Belo Horizonte: quando os mineiros se unem, algo deve acontecer. O hábito de esconder riqueza e escapar do fisco dotou o mineiro de espírito de modéstia e de oportuna astúcia. O cidadão de Minas aprendeu desde o início a aparentar menos do que é e a mostrar muito menos do que tem: casas pobres, mobília escassa, vestuário simples, voz baixa e lucro seguro. Os mineiros, pacíficos e ordeiros, deveriam encaminhar-se para uma união para dizer um basta ao poder opressor. Centro do país, lugar de encontro do Sul próspero e do Norte insuficientemente desenvolvido, mescla das tendências nacionais, por Minas circulam os anseios da nação inteira: industriais e operários, proprietários agrícolas e camponeses, donas de casa e funcionários, favelados e bóias-frias, retirantes e banqueiros, nortistas e sulistas. Com a decadência econômica, Minas Gerais desfrutava de uma importância cultural e política, que a mantinha como uma das unidades decisivas na federação. Os últimos tempos provam o recuo dos mineiros na capacidade de política e cultural, enquanto o setor econômico não logrou alcançar suas tarefas básicas: integração do mercado, industrialização autônoma, expansão agrícola e pecuária. Ao contrário, a economia de Minas foi afetada pela adaptação de sua agricultura à demanda externa (café e soja, por exemplo) e pelo domínio das multinacionais no setor industrial. O setor bancário viu-se esfacelado. (Escritor, jornalista e ensaísta EUGENIO SANTANA)
REVOLUÇÃO DE 1964: MEMÓRIAS DO MEDO
Golpe de 1964 designa o conjunto de eventos ocorridos em 31 de março de 1964 no Brasil, que culminaram, no dia 1º de abril de 1964, com um golpe militar que encerrou o governo do presidente democraticamente eleito João Goulart, também conhecido como Jango. Os militares brasileiros favoráveis ao golpe e, em geral, os defensores do regime instaurado em 1964 costumam designá-lo como "Revolução de 1964" ou "Contrarrevolução de 1964". Todos os cinco presidentes militares que se sucederam desde então declararam-se herdeiros e continuadores da Revolução de 1964. Já a historiografia brasileira recente defende a idéia de que o golpe, assim como a ditadura que se seguiu, não deve ser considerado como exclusivamente militar, sendo, em realidade, civil-militar Segundo vários historiadores, houve apoio ao golpe por parte de segmentos importantes da sociedade: os grandes proprietários rurais, a burguesia industrial paulista uma grande parte das classes médias urbanas (que na época girava em torno de 35% da população total do país) e o setor conservador e anticomunista da Igreja Católica (na época majoritário dentro da Igreja) que promoveu a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, realizada poucos dias antes do golpe, em 19 de março de 1964. Jango havia sido democraticamente eleito vice-presidente pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) – na mesma eleição que conduziu Jânio da Silva Quadros, do Partido Trabalhista Nacional (PTN), à presidência, apoiado pela União Democrática Nacional (UDN). O golpe estabeleceu um regime autoritário e nacionalista, politicamente alinhado aos Estados Unidos, e marcou o início de um período de profundas modificações na organização política do país, bem como na vida econômica e social. O regime militar durou até 1985, quando Tancredo Neves foi eleito, indiretamente, o primeiro presidente civil desde 1964. (EUGENIO SANTANA é Escritor, jornalista, ensaísta, copidesque, redator publicitário e revisor de textos – Autor de nove livros publicados)
ÁRVORE GENEALÓGICA...
PERTENCEMOS A ARVORE GENEALÓGICA DE AFONSO ARINOS - Grande número de ascendentes de famílias paracatuenses ou que em Paracatu residiram, projetaram-se no cenário nacional – na política, ciências, artes e nas letras. Exemplos vivos e expressivos são Firmina Sant’Anna, a primeira nutricionista a discursar na ONU, tia-avó de Eugenio Santana; o professor, jornalista, poeta e poliglota Nestório de Paula Ribeiro, bisavô-materno de Eugenio Santana; Olímpio Gonzaga, Geraldo Serrano Neves, Branca Adjuto Botelho, Zenóbia Vilela Loureiro, Oliveira Mello, Coraci da Silva Neiva Batista, Florival Ferreira, Lavoisier Wagner Albernaz, e, principalmente, Eugenio Santana – escritor, jornalista, ensaísta, redator publicitário, revisor de textos, copidesque, relações públicas, co-fundador da Academia de Letras do Noroeste de Minas (ALNM) e ex-superintendente de Jornalismo no Rio de Janeiro. E concluímos nossa lista incompleta com o ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa: A figura mais ilustre de Paracatu, no século XXI. Ás gerações do presente deveria ser levado o conhecimento da trajetória de vida de cada um. O resgate da história de homens de caráter nobre as levará a apreender ações e atitudes dignas de serem apreciadas ou seguidas. Atualmente muitos valores se transformaram; alguns oriundos da falta de discernimento na escolha de objetivos de vida, outros por idolatria ao transitório, sobretudo, pela pobreza cultural. Paracatu, num passado distante, teve a denominação de “Atenas Mineira”. Também de “Oásis de civilização perdido neste imenso deserto de letras. Muito a dignifica é ser cognominada “Terra de Afonso Arinos”. A família Melo Franco tem sua origem em Paracatu e dela descendem três Afonso Arinos. Um deles foi deputado federal pelo estado da Guanabara entre 1963 e 1967 e embaixador do Brasil na Bolívia de 1979 a 1982. Reside no Rio de Janeiro. Pertence à Academia Brasileira de Letras. Recentemente, lançou na casa Machado de Assis a obra “O Espírito e a Ação”, ensaios inéditos do seu pai sobre política, diplomacia, literatura e biografias. Este terceiro Afonso confessa ser um discípulo direto “apaixonado por Eça de Queiroz”. Lamenta a inexistência no Brasil de maiores estudos sobre o romancista. Paracatu tem ou não razão de se orgulhar em ter sido berço da origem dessa nobre estirpe de políticos, escritores, diplomatas, cuja grandeza de ideais fizeram a história de nossa nação? (EUGENIO SANTANA é Escritor, jornalista, redator publicitário, copidesque, ensaísta e revisor de textos – Autor de nove livros publicados)
OS ANTEPASSADOS SÃO AS RAÍZES DA VIDA
Sem as raízes, é impossível a existência dos galhos e das folhas. Compreendi a importância da afirmação: “O solo é Deus, as raízes são os antepassados, o tronco simboliza os pais, e os galhos e folhas são os filhos”. Sem o sentimento de gratidão aos antepassados e sem a realização de culto a eles, é impossível o desenvolvimento dos descendentes. Deus pode ser comparado ao solo. NEle se encontram a origem da Vida e os nutrientes. São as raízes que estão ligadas ao solo. As raízes são os nossos antepassados. Os pais são o tronco. O tronco se desenvolve graças às raízes. Os galhos e as folhas se desenvolvem e prosperam quando cuidam bem do tronco. Como o tronco da Vida são os pais, sem o sentimento de gratidão, sem o respeito e o amor a eles, os filhos – que são os ramos e as folhas – não podem prosperar. Quando conseguimos agradecer aos nossos pais de modo incondicional, conseguimos agradecer aos pais de nossos pais, e ainda aos pais desses, de modo incondicional. Ou seja, somos capazes de agradecer até aos antepassados que acumularam os mais terríveis carmas negativos. Mas, quando, ao contrário, não conseguimos agradecer aos nossos pais, não conseguimos agradecer aos antepassados. O fundamental no culto aos antepassados é agradecer, antes de qualquer coisa, aos pais. Quando conseguimos agradecer aos nossos pais, do fundo do coração, naturalmente se manifesta em nós o sentimento de gratidão aos antepassados. (EUGENIO SANTANA é Escritor, ensaísta, jornalista – Autor de nove livros publicados)
sexta-feira, 11 de novembro de 2016
ASAS DA MEMÓRIA, O LIVRO...
UFA! FINALMENTE! EIS, AGORA, O LIVRO QUE MINHA AVÓ-MATERNA solicitou, do Plano Infinito e através de um sonho, que eu escrevesse a história de Amor entre meu pai e minha mãe. Depois de vinte anos, missão cumprida. Aqui está, adoráveis leitores, o meu nono livro publicado, “ASAS DA MEMÓRIA”, romance autobiográfico, Editora Buriti, Belo Horizonte, MG, 2016. (EUGENIO SANTANA é jornalista, escritor, ensaísta e redator publicitário. Membro efetivo da ALNM – Academia de Letras do Noroeste de Minas, cadeira 2. Membro Acadêmico “Ad Honorem” do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; Autor de nove livros publicados)
O SENTIDO DO AMOR NAS FLORES...
O AMOR ERA A ÚNICA PONTE ENTRE O INVISÍVEL E O VISÍVEL – Que todas as pessoas conheciam. Era a única linguagem eficiente para traduzir as lições que o Universo todo dia ensinava aos seres humanos. Ninguém pode possuir um nascer do sol como aquele que vimos uma tarde. Assim como ninguém pode possuir uma tarde com a chuva batendo na vidraça, ou a serenidade que uma criança dormindo espalha ao seu redor, ou o momento mágico das ondas quebrando nas rochas. Ninguém pode possuir o que existe de mais belo na Terra – mas podemos conhecer e amar. As pessoas dão flores de presente porque nas flores está o verdadeiro sentido do Amor. Quem tentar possuir uma flor, verá a sua beleza murchando. Mas quem apenas olhar uma flor do campo, permanecerá para sempre com ela. Porque ela combina com a tarde, com o pôr-do-sol, com o cheiro de terra molhada e com as nuvens no horizonte. Vou me lembrar sempre que o Amor é a liberdade. Esta foi a lição que demorei tantos anos para aprender. Esta foi a lição que me exilou, e que agora me liberta. A vida inteira eu me lembrarei de você, e você se lembrará de mim. Assim como nos lembraremos do entardecer, das janelas com chuva, das coisas que teremos sempre porque não podemos possuir. (ES – Guardião da Palavra)
RAZÕES QUE AS PESSOAS DÃO PARA NÃO ESCOLHEREM A INTIMIDADE
Não tenho medo da intimidade; tenho medo de me ferir. Fico logo zangado com os relacionamentos. Assim que nos conhecemos e desaparece a novidade, o entusiasmo também desaparece. As pessoas não querem intimidade, só querem saber de sexo. Tenho medo de deixar que saibam como sou realmente; se soubessem, ficariam horrorizados. Não acredito na intimidade. Não creio que seja possível. As pessoas são diferentes demais. A intimidade sempre me faz sentir-me inseguro e com ciúmes. Quanto mais sinto por alguém, mais profundos a insegurança e os ciúmes, de modo que prefiro ser negligente, para não me magoar. Só brigo e firo as pessoas com quem tenho intimidade. Cada vez que formo um relacionamento íntimo, sempre me sinto fragmentado. Sei que deve haver mais alguma coisa, de modo que fico procurando por isso e estrago tudo. Podemos dar a volta ao globo, podemos chegar à luz, mas esta sociedade ainda não descobriu um meio de duas pessoas viverem juntas em harmonia durante sete dias seguidos sem quererem se estrangular. Dizem que a intimidade está fora de moda, mas eu digo que a intimidade é absolutamente essencial, do contrário vamos todos enlouquecer. Vá viver em isolamento, se puder. Acredito que você pode julgar o seu nível de saúde mental dependendo de se conseguir formar relacionamentos significativos e duradouros. Não a quantidade desses relacionamentos, mas a qualidade deles. (EUGENIO SANTANA é jornalista, escritor, ensaísta e consultor. Membro efetivo da ALNM – Academia de Letras do Noroeste de Minas, cadeira 2. Membro Acadêmico “Ad Honorem” do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; Autor de nove livros publicados)
segunda-feira, 17 de outubro de 2016
O LUGAR PLANETÁRIO DO AMOR
Noruega não é a mesma coisa que Nigéria, embora figurem no atlas e no dicionário, comecem com N, terminem com a, e tenham ambas sete letras. As duas estão no planeta: uma, localizada na Europa, conta com cinco milhões de habitantes e sua renda “per capita” é de 35 mil dólares. A outra está situada na África, povoada por 130 milhões de seres que distribuem escassamente entre si os quatrocentos dólares anuais por cabeça do produto bruto.
São muitas as diferenças que nos separam no Planeta Azul; entretanto, mais capitais são as razões para a unidade. Em cada casa, bairro, vila, aldeia, distrito ou continente, as fronteiras fragmentam os pequenos territórios do isolamento e impedem a sinergia do conjunto, mas subjaz a unidade da condição humana e a orquestração universal da vida em si, sem cercas divisórias nem lutas por recursos.
Ambos os países inauguraram o novo milênio com idênticas necessidades de auto-realização, mas com acentuadas diferenças de recursos, clima e sonhos. Trata-se das muitas indignidades planetárias dos velhos séculos, ainda vigentes, e que se multiplica em cada país, incluindo o Brasil – que possui o rótulo de emergente.
Chiara Lubich, com o movimento dos focolares, espalhado pelo mundo, afirma “que toda nossa vida não é nada mais que procurar e encontrar o lugar do coração”, que não é a mesma coisa que consultar o cardiologista.
Toda palavra que não se abra sobre o silêncio se faz ideologia, fundamentação teórica, esquema político, norma ou slogan para discurso de ocasião.
O silêncio será a linguagem universal. A tradição monástica fala de “hesicasmo”, silêncio de união, que permite fazer comunhão com todas as coisas. A consciência então descende, ou ascende, ao coração, por fim encontra o lugar.
Monge é aquele que, separado, está unido a todos. “Seja amigo de todos, mas em seu espírito permaneça sozinho”.
Jesus, mestre que perdoa, expressou oportunamente a dificuldade que tinha para encontrar o lugar onde repousar sua cabeça.
Nem no mapa nem no dicionário pode-se chegar a encontrar o lugar do amor, tampouco no templo nem em nenhum evento especial.
O silêncio apropriado nos visita às vezes quando a disponibilidade interna é alta, quando o coração solidário oferece sem reservas o bom tratamento da unidade, quando o sagrado nos visita.
O novo milênio é o reino da quinta dimensão. O lugar planetário do amor. (EUGENIO SANTANA é jornalista, escritor, ensaísta e consultor em gestão de pessoas. Membro efetivo da ALNM – Academia de Letras do Noroeste de Minas, cadeira 2. Sócio-correspondente do Centro Artístico e Literário de Portugal; Autor da Biografia de João de Deus – o médium de Abadiânia)
sexta-feira, 14 de outubro de 2016
FRAGMENTOS DE ARTE, CULTURA E LITERATURA
Enquanto viver o escritor, julgamos suas qualidades pela sua pior obra; uma vez morto, iremos julgá-lo pela obra mais perfeita. Famoso não é escrever sua autobiografia; é ver escrita sua biografia não-autorizada. O escritor original, enquanto não está morto, é sempre escandaloso. Muitos escritores esgotam-se antes dos seus livros. Poetas são engarrafadores de nuvens. A poesia é completamente inútil; saiu da moda. As duas coisas mais envolventes de um escritor são tornar familiares as coisas novas e tornar novas as coisas familiares. Não é preciso pressa na literatura. Um romance é como gravidez: aquilo fica dentro de você, crescendo, crescendo, incomodando, até sair. Autores são como gatos porque são quietos, amáveis e sábias criaturas, e os gatos se parecem com os autores pelas mesmas razões. Tenho a doença de fazer livros e de ficar envergonhado quando os faço. Em todas as artes em que os sábios se destacam, a obra-prima da natureza é escrever bem. A fome faz sair do bosque o lobo e da arte, o escritor. Para que vieste na minha janela meter o nariz? Se foi por um verso, não sou mais poeta. Ando tão feliz. (EUGENIO SANTANA é jornalista, escritor, ensaísta e consultor em gestão de pessoas. Membro efetivo da ALNM – Academia de Letras do Noroeste de Minas, cadeira 2. Sócio-correspondente do Centro Artístico e Literário de Portugal; Autor da Biografia de João de Deus – o médium de Abadiânia)
quinta-feira, 13 de outubro de 2016
O NAVIO FANTASMA DO AMOR
Como termina um amor? – O quê? Termina? Em suma ninguém – exceto os outros – nunca sabe disso; uma espécie de inocência mascara o fim dessa coisa concebida, afirmada, vivida como se fosse eterna. O que quer que se torne objeto amado, quer ele desapareça ou passe à região da Amizade, de qualquer maneira, eu não vejo nem mesmo se dissipar: o amor que termina se afasta para um outro mundo como uma nave espacial que deixa de piscar: o ser amado ressoava como um clamor, de repente ei-lo “sem brilho” (o outro nunca desaparece quando e como se esperava). Esse fenômeno resulta de uma imposição da declaração amorosa: eu mesmo (indivíduo enamorado) não posso construir até o fim minha história de amor: sou o escritor (o narrador) apenas do começo; o final dessa história, assim como a minha própria morte, pertence aos outros; eles que escrevam o romance, narrativa exterior, mítica. (Escritor, jornalista e ensaísta EUGENIO SANTANA – Autor de nove livros publicados. Da Academia de Letras do Noroeste de Minas (ALNM).
quinta-feira, 6 de outubro de 2016
O MEU ÚNICO LEGADO: MEUS FILHOS/LIVROS
Através das “Asas da Utopia”, fui “Guiado pelos Pássaros” e na floresta do desejo literário senti o êxtase, o perfume e o mistério de “Flor-Estrela” e, viajando na asa do tempo, reflexivo fiz amor no “Crepúsculo e Aurora”, meditando sobre a transitoriedade da vida, sou “InfinitoEfêmero”, “Enquanto Brilha o Sol”, sob forte névoa, neblina e tempestade deste mundo caótico, fui determinado, visionário, resiliente e neste exercício generoso da empatia, escrevi “Ventos Fortes, Raízes profundas”, e para concluir retornei às origens e às raízes mais profundas, com as “Asas da Memória”. Maktub! (Escritor/jornalista Eugenio Santana. Autor de 9 livros publicados)
terça-feira, 4 de outubro de 2016
TODOS NÓS NOS VEMOS DIANTE DE ESCOLHAS
Algumas portas se abrem e outras se fecham. Raramente há um rumo claro, além daquele para o qual nossos próprios valores apontam. Quando comecei a pensar sobre todo o conceito das limitações pessoais, naturalmente comecei pelas minhas. Acredito todos as temos e acho que elas nos afetam de muitas maneiras que mal começamos a começamos a compreender. Algumas são evidentes para todos, como a protuberância na cabeça de Mário, enquanto outras ficam tão ocultas que nem sequer sabemos que estão lá ou percebemos quanto afetam nossas decisões. Desde que estava na segunda série, quis que minha vida servisse para algo, que fizesse alguma diferença no mundo em que eu vivia. Sempre quis crescer e realizar qualquer que fosse o propósito da minha existência e fazer todo o possível para ajudar os outros a realizarem o deles. Com o tempo, entretanto, aprendi que minhas próprias limitações eram meus maiores obstáculos a esses desejos. Comecei a examiná-las com mais atenção e compreender os vínculos e impactos que estavam tendo na minha vida. Se conseguisse identificá-las e trabalhar para eliminá-las, eu sabia que minha trajetória seria diferente e que meu desempenho alcançaria outro patamar. (Escritor/jornalista Eugenio Santana)
quinta-feira, 29 de setembro de 2016
O ROTEIRO DO BEIJO...
O beijo é uma forma linda de demonstrar amizade, carinho e ardor. Uma doce e sublime ternura ou um desejo comum de amor. O beijo mecânico: O beijo que é dado no rosto. Um beijo quase sem beijo que a gente nem sente o gosto. O beijo abstrato: Naquela moça simples. Na inatingível atriz que a gente vê na TV. O beijo fraterno: Um beijo confortante do pai ou da mãe que faz alegrar o semblante. O beijo humorístico: O beijo de uma linda mulher na ponta do nariz que deixa a gente com cara de palhaço porque esperava que fosse um pouquinho mais embaixo. O beijo da traição: Este beijo não deveria existir. Assim como ninguém deveria conhecer. O beijo da traição mais famoso fez Cristo padecer. O beijo frio: É o beijo da morte. Este beijo é sombrio que só de pensar já nos dá arrepio. O beijo da amizade: É simbólico e lindo, quando é dado com sinceridade no amigo ou na amiga com profunda lealdade. O beijo sem amor: Pode não ser tão importante, mas ajuda a excitar quando se beija quem não se ama e quer apenas transar. O beijo francês: Este beijo é sensual, sexual, nem todos dão, nem todos recebem, mas se nunca aceitarem, coitados! Não sabem o que perdem! O beijo com amor: Este beijo é sem igual, no rosto, na boca... não importa onde,mas na pessoa amada,é sempre especial. O beijo ardente: Este sim é um beijo especial, que é dado na boca, com corpo quente. Pode ser no pescoço ou no rosado ventre. Um beijo assim tão quente, em meio a sussurros e devaneios, em que, a sensualidade só explode, quando a boca adormece nos seios. (ES – O Guardião de Memórias)
quarta-feira, 28 de setembro de 2016
EU-TE-AMO...
EU-TE-AMO. A figura não se refere à declaração de amor, à confissão, mas ao repetido proferimento do grito de amor.
Posso passar dias seguidos dizendo “eu-te-amo” sem poder talvez nunca passar a “eu o amo”: resisto a fazer passar o outro por uma sintaxe, uma predicação, uma linguagem (a única assunção do “eu-te-amo” seria apostrofá-lo, dar a ele a expansão de um nome: Ariane, “eu te amo”, diz Dionísio).
“Eu-te-amo” não tem empregos. Essa palavra, tanto quanto a de uma criança, não está submetida a nenhuma imposição social; pode ser uma palavra sublime, solene, frívola, pode ser uma palavra erótica, pornográfica. É uma palavra que se desloca socialmente.
“Eu-te-amo” não tem nuances. Dispensa explicações, as organizações, os graus, os escrúpulos. De uma certa forma – paradoxo exorbitante da linguagem – dizer “eu-te-amo” é fazer como se não existisse nenhum teatro da fala, e é uma palavra sempre “verdadeira” (não tem outro referente a não ser seu proferimento: é um performativo).
“Eu-te-amo” não tem distanciamento. É a palavra da díade (maternal, apaixonada); nela, nenhuma deformação vem clivar o signo; não é metáfora de nada.
“Eu-te-amo” não é uma frase: não transmite um sentido, mas se prende a uma situação limite: “aquela em que o sujeito está suspenso numa ligação especular com o outro.” É uma holofrase.
(Embora seja dito milhões de vezes, “eu-te-amo” não está no dicionário; é uma figura cuja definição não pode exceder o título.)
A palavra (a palavra-frase) só tem sentido no momento em que eu a pronuncio: não há nela outra informação a não ser seu dizer imediato: nenhuma reserva, nenhum depósito do sentido. Tudo está no “lançamento”: é uma “fórmula”, mas essa fórmula não corresponde a nenhum ritual; as situações em que eu digo “eu-te-amo” não podem ser classificadas: “eu-te-amo” é irreprimível e imprevisível.
O que quero é receber a fórmula, o arquétipo da palavra de amor, como uma chicotada em cheio, inteiramente, literalmente sem fuga: ponto de escapatória sintática, ponto de variação: que as duas palavras se respondam em bloco, coincidindo significante por significante (“Eu também” seria exatamente o contrário de uma holofrase); o que importa, é o proferimento físico, corporal, labial da palavra: abre teus lábios e que isso saia daí (sê obsceno). O que eu quero, desesperadamente, é “obter a palavra”. Mágica? Mítica? A Fera – que foi encontrada na sua feiúra – ama a Bela; a Bela, evidentemente, não ama a Fera, mas, no final, vencida (pouco importa porquê; digamos: pelas “conversas” que tem com a Fera), lhe diz a palavra mágica: “Eu te amo, Fera”; e imediatamente, através do rasgo suntuoso de um acorde de harpa, aparece um novo sujeito. Essa história é arcaica? Eis uma outra: um cara sofre porque sua mulher o abandonou: ele quer que ela volte, ele quer – precisamente – que ela lhe diga “eu te amo”, e ele corre, por sua vez, atrás da palavra; para terminar, ela o diz: e então ele desmaia: é um filme de 1975. E ainda o mito, de novo: o Holandês Voador erra à procura da palavra: se ele a obtiver (por juramento de fidelidade), ele não errará mais (o que importa no mito, não é o domínio da fidelidade, é seu proferimento, seu canto).
Como proferimento, “eu-te-amo” está do lado do gasto. Aqueles que querem o proferimento da palavra (líricos, mentirosos, errantes) são sujeitos do Gasto; eles gastam a palavra como se fosse impertinente (vil) que ela fosse recuperada em algum lugar; eles estão no limite extremo da linguagem, lá onde a própria linguagem (e quem no seu lugar o faria?) reconhece que não tem proteção, trabalha sem rede. (EUGENIO SANTANA é jornalista, escritor, ensaísta e redator publicitário. Autor de nove livros publicados)
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