domingo, 24 de agosto de 2025

A LENDA DO PAR IDEAL NOS RELACIONAMENTOS AFETIVOS (*)

Excesso de expectativas e busca por um parceiro sem defeitos podem sabotar vínculos. Entender limites e aceitar diferenças é fundamental. Qual a metade da sua laranja ou a tampa da sua panela? O que chamamos de “par perfeito” coloca numa caixinha (às vezes cheia de surpresas) pessoas que têm ou não as características físicas e emocionais desejadas nos relacionamentos. Tipificar, no entanto, pode levar à construção de uma relação com pessoas que dificilmente corresponderão tudo que foi idealizado. De forma geral, os relacionamentos costumam começar pela atração física, mas esse é apenas o primeiro nível. Apaixonar-se, por outro lado, exige camadas mais profundas que envolvem o amor: amizade, admiração, respeito. É como julgar o livro pela capa. Uma ilustração bonita e um título chamativo encantam, mas o conteúdo deve ser consistente para que a obra seja considerada realmente especial. Muitas outras características – físicas ou de personalidade – podem despertar o interesse e a paixão, como inteligência, bom humor e gentileza. Há quem, ao ver apenas a capa, comece a construir uma narrativa que não está presente dentro das páginas. Um começo, meio e fim já predefinidos na imaginação, mas que não condizem com a realidade dos envolvidos. Esse tipo de idealização romântica não é saudável para nenhuma das partes, já que ninguém é perfeito e nem capaz de atender a todas as expectativas dentro de um relacionamento. De acordo com a psicóloga Zoe Alexandra Couto, a idealização tem forte influência das redes sociais. Por todos os lados, surgem pessoas com corpos ideais, relacionamentos que parecem perfeitos, personalidades envolventes… O “perfeito” virou tão comum na internet que nos esquecemos que não existe alguém capaz de dar “match” com todas as exigências criadas. “Um relacionamento saudável só nasce a partir da disponibilidade de lidar com o real, com a consciência de que qualquer pessoa sempre terá aspectos positivos e negativos, algo que não se consegue perceber apenas vendo postagens cheias de filtros e editadas para agradar”, afirma Zoe Alexandra. “É no dia a dia da rotina que conhecemos o outro. Mas, para isso, precisamos estar sinceramente dispostos a enxergar o outro para além das nossas fantasias.” É no cotidiano que a compatibilidade se revela: nas conversas, nas decisões e na forma de lidar com os problemas. “Idealização romântica é como uma fotografia: bonita, mas estática”, aponta Helena Ribeiro, fundadora da Welucci, empresa de casamentos e eventos. Independentemente de o parceiro ou parceira ter surgido entre amigos em comum, em aplicativos ou por coincidência do destino, todo relacionamento exige tempo e, depois, manutenção. “As redes sociais e os aplicativos encurtam distâncias, mas também podem acelerar processos que precisam de tempo. É maravilhoso ter acesso a tantas pessoas, mas é preciso filtrar, porque uma conexão verdadeira exige presença, escuta e vivência, e isso nenhum aplicativo consegue substituir”, diz Helena Ribeiro. “O relacionamento verdadeiro é um filme, cheio de cenas lindas e outras mais desafiadoras. Para cultivar algo duradouro, é preciso paciência, respeito e, principalmente, propósito em comum. O amor é essencial, mas sozinho ele não sustenta.” A construção de um imaginário coletivo do “par perfeito” nos relacionamentos, do casamento dos sonhos e da vida a dois tem forte impacto na forma como as relações começam e se desenvolvem. “O ‘par perfeito’ é uma ideia muito sedutora, mas também muito perigosa. Já vi casais investirem tempo e dinheiro em um casamento dos sonhos, mas esquecerem que o sonho não é só o dia da festa, mas sim o que vem depois. Às vezes, essa busca pelo ideal ofusca a realidade, e quando o encanto do evento passa, percebem que não havia base sólida para sustentar a relação”, reflete Helena Ribeiro. Construir um vínculo genuíno vai muito além da atração física e sexual: requer intimidade emocional, respeito e parceria. Trata-se de um processo mútuo de entrega e dedicação – independentemente da história que deu início ao casal. “Cada relacionamento é único. Todo dia é um recomeço que nos permite fazer novas escolhas. Se conseguíssemos exercitar o estado de presença, o aqui e agora, não importaria quantas decepções tivemos no passado. Sempre haveria a possibilidade de criar uma relação mais leve e saudável”, ressalta Zoe Alexandra. (*) EUGENIO SANTANA é Escritor, jornalista, filósofo, biógrafo e gestor editorial. Autor do best seller "Ventos Fortes, Raízes Profundas", Madras editora, de autoconsciência, autorrealização, afetividade e crescimento pessoal.. À venda em todas as livrarias brasileiras, Argentinad, Chilenas e Uruguaias. (62) 99635-8005 - WhatsApp.

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