domingo, 26 de dezembro de 2021

DIMENSÃO DA DISTÂNCIA. A PRESENÇA DA AUSÊNCIA (*)

Há distâncias e distâncias: umas com poder de minimizar, outras de inflamar. Machado de Assis disse que o vento apaga as velas, mas atiça as fogueiras. O poder dessa condição - a de se estar longe - se expressa nas mais variadas dimensões: no desespero inseguro de quem não entende como o outro agora mesmo estava aqui e de repente partiu; na segurança de quem vê e escuta o outro de uma webcam, seguro e seu, mas sofre; na loucura irracional de quem sente falta daquele(a) que te abandonou. A dor desse intervalo invisível - a saudade - se explica porque ele coloca a prova coisas visíveis; e talvez só ele tenha o poder de materializar um afeto: em frases, objetos, cheiros e gostos. É o dividir em locais diferentes patrimônios indivisíveis. O homem racional dribla limites,visita camadas interiores tão profundas através da fé e da ciência, mas nunca conseguiu domar a tão temida saudade. A sua inteligência discerne as externalidades que fazem alguém estar longe, mas o seu sintoma é crônico, irreversível: aquele furo no peito, ferida ardida, uma amputação. Como explicar pro coração ressentido a presença da ausência? As relações humanas são tecidas em linhas temporais, onde o afeto é fruto de algo construído linearmente, como se o valor daqueles momentos estivesse em ser plenamente alcançáveis, próprios, eternos. Amar e querer por perto é uma forma de dizer que se sabe o endereço da felicidade, de privatizá-la. Por isso a distância é uma lente para se enxergar as relações humanas de maneira mais pura possível. Maravilhosos são os meios que a tristeza toma para nos aproximar da essência real da vida. Doloridas são as estradas solitárias. Com saudades, somos honestos feito crianças. Ela narra a nossa hipossuficiência. Nos torna mais humanos, responsáveis e vivos. Em qualquer circunstância, prova que relações de tempo e espaço, causa e efeito, presença e ausência podem ser rachados pela força propulsora dessa lacuna incurável, que só o conforto do outro pode curar. (*) Copydesk, fragment by EUGENIO SANTANA, escritor, ensaísta, jornalista, biógrafo, relações públicas, assessor de imprensa, redator publicitário; gestor editorial e Agente literário. Autor de 15 livros publicados. (41) 9.9909-8795 WhatsApp, e-mail: es.escritor1199@gmail.com

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