sábado, 23 de maio de 2020

MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA (*)

Há milênios surgiu a linguagem humana; no entanto, não há registros que digam qual foi a primeira palavra a surgir. Dessa forma, começam os mistérios dos signos misturados ao universo das palavras que dão uma única certeza: não há humanidade sem uma língua, e – mesmo tendo a existência de milhares de línguas com as mais complexas peculiaridades - é ela quem dá o verdadeiro significado do que todos somos. A língua portuguesa – língua materna que abriga e envolve sem distinção – nasceu em Portugal, e é falada por mais de 200 milhões de pessoas em todos os continentes do planeta. Não há como negar que – para os falantes dessa língua – tudo se transforma a partir dela: pensamentos, sentimentos e criações afirmam e expressam a identidade de um povo; fazendo o ser aparecer como realmente o é. Um verdadeiro retrato em mil palavras; uma pátria, em intensos e diversos signos. O projeto arquitetônico do Prédio da Estação da Luz – em São Paulo, cidade que tem a maior população de falantes do português no mundo - abriga toda a mistura entre as imagens, sons e palavras existentes na essência brasileira. Inaugurado em março de 2006, o Museu da Língua Portuguesa – patrimônio histórico do Século XIX - recebeu nos três primeiros anos mais de 1 milhão de pessoas, tornando-o um dos museus mais visitados do Brasil e da América do Sul. Criado para a valorização e difusão do nosso idioma - patrimônio imaterial -, apresenta um museu diferente e altamente tecnológico das demais instituições museológicas do pais e do mundo. Os recursos interativos para a apresentação mostram a língua como peça chave e fundadora da cultura brasileira; celebram e valorizam a língua portuguesa – na plenitude da diversidade - resgatando origens, histórias e influência sofridas. E mais: o dinamismo e a interatividade aproximam o cidadão usuário da língua, mostrando que além de proprietário dessa cultura, é , também, agente modificador do idioma. Cursos, palestras, seminários sobre a língua portuguesa e as exposições temporárias oportunizam os visitantes – das diversas faixas etárias – a um contato mais íntimo com as palavras que fazem histórias. Museu? Não. Não tem cara. Talvez – se buscarmos na etimologia da palavra – templo seria mais adequado por ser um local onde – antes – as musas exercitavam a poesia; cultivava-se a academia e a biblioteca. Um templo com técnicas modernas que proporcionam um (re)conhecimento da língua portuguesa de forma única e intensa. A tecnologia no museu permite – em sua instalações – a transmissão, o armazenamento, a disseminação e a otimização de informações que vão desde a história do idioma , passando pela experimentação da língua e fechando com as exposições temporárias. Com três andares, o mergulho no universo das palavras começa no elevador do museu, uma vez que a estrutura de vidro permite a visão total da “Árvore das Palavras” : escultura com palavras do idioma que contribuíram para a formação do português e do português falado no Brasil, palavras em português e a representação de objetos e animais. O visual é embalado pelo mantra - composto por Arnaldo Antunes - que repete as palavras língua e palavra em vários idiomas . O primeiro andar é o cantinho das exposições temporárias; o segundo é o espaço onde a tecnologia assume importante papel ao acolher os visitantes, recebendo-os com uma tela de 106 metros de extensão com projeções simultâneas, mais palavras cruzadas, linha do tempo, jogos etimológicos interativos, mapas dos falares; e o terceiro é um ambiente aconchegante para curtir a projeção de um filme sobre a origem da língua portuguesa e uma Praça da Língua , a qual envolve e emociona. O Museu da Língua Portuguesa é um espaço onde a língua está sempre viva e em transformação; onde o encontro com a arte (en)canta e arrepia a alma; onde a experimentação do idioma é de fácil acesso e diferente; onde a tecnologia informa e transforma nossa principal cultura: a linguagem humana. (*) BY EUGENIO SANTANA, escritor, jornalista, ensaísta. Autor de 11 livros publicados.