domingo, 2 de maio de 2010

REDE DE RELACIONAMENTOS VIRTUAIS: A IMPRESSÃO É DE QUE AMIGOS SÃO OBJETOS DESCARTÁVEIS


As redes de relacionamento são gêneros digitais criados para suprir necessidades exigidas pelas maneiras virtuais de agir. A vida torna-se impossível sem as novas tecnologias. É engraçado como esquecemos que antes vivíamos sem a comodidade proporcionada por elas. Essas novas tecnologias implicam uma necessidade antes impensada: relações virtuais tornam-se cada vez mais úteis numa realidade que exige uniões imediatas e rapidamente descartáveis. A sensação é de que amigos são objetos descartáveis, com prazo de validade. Construímos relações cada vez mais frágeis e efêmeras. A procura da felicidade e pelo bem-estar norteia a garantia individual de satisfação. O diálogo virtual adquire características semelhantes à interação face a face, real: funciona como uma atividade comunicativa diária, muitas vezes com o poder de estreitar o vínculo de intimidade, pela liberdade de tornar ausente o corpo. A linguagem é parecida com a oralidade, o que propicia liberdade de expressão, menor tensão e informalidade, como nas interações face a face.

A comodidade que se obtém com a internet facilita vínculos. Por serem fragmentados, voltados a objetivos específicos, os amigos virtuais se prestam a contatos direcionados. Podem ou não ser substituídos por outros, se uma necessidade não existe mais. Essa condição é reforçada por um cotidiano estressante, em que as pessoas estão escravizadas pelo relógio, pelo tempo. Soluções rápidas são desejadas e essas amizades virtuais são práticas. Se um amigo não está disponível quando eu necessito, outro estará. Os relacionamentos são formados pela conveniência mútua. Não há problema, hoje, em nomear como amigo um contato virtual, porque a amizade não possui um conceito único. Ela serve às demandas múltiplas e se constitui por essa variedade de interesses de ambas as partes, numa relação de troca. Os amigos virtuais são tão amigos – ou até mais – que os reais, porque não haver contato com o corpo do outro facilita a confissão de desagrados ou tabus. Amigos reais e virtuais convivem nesse território ambíguo de relações cada vez mais tênues. É fato que sair de um relacionamento virtual é mais fácil do que se desligar de um real. Higienizar relacionamentos por meio de um clique é mais simples.

A globalização aproximou as distâncias geográficas e ampliou o conceito de amizade. Amigo é provisório. Depende da utilidade que satisfaz um período de tempo. Os famosos fakes, identidades falsas e inventadas, não têm cara. Contudo, podem ser amigos, um número a mais na rede de relacionamentos. O número de amigos numa rede de relacionamentos é, para muitos, o termômetro da simpatia. Daí a justificativa para o jogo de adicionar amigos, ainda que estes desconhecidos. Um jogo de sensação de equilíbrio é desejado: se um amigo se afasta, ou se é descartado, outro é buscado, mesmo que seja para outra finalidade.

(Jornalista Eugenio Santana.)

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