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sábado, 10 de outubro de 2020
VI TODAS AS ENERGIAS TELÚRICAS E INSONDÁVEIS DA NATUREZA (*)
O INTENSO SENTIMENTO DO MEU CORAÇÃO PELA NATUREZA, sentimento que tanto me deliciava, transformando em paraíso o mundo à minha volta, tornou-se para mim um tormento intolerável, um espírito que me tortura e persegue por toda parte. Outrora, do alto de um rochedo, contemplando os vales férteis, desde o riacho até as colinas ao longe, eu via em torno de mim tudo germinado e brotando: quando eu olhava essas montanhas cobertas, da base ao cume, de árvores altas e frondosas, e os vales sinuosos sombreados de bosques deliciosos, o riacho que desliza suavemente entre os canaviais murmurantes, refletindo as nuvens que a suave brisa da tarde faz flutuar no céu; depois, quando eu ouvia os pássaros animar com os seus cantos a floresta inteira, e a infinidade de enxame de mosquitos dançando alegremente no último raio do sol, cujo olhar de adeus, rápido como um relâmpago, libertava da prisão, entre as ervas, um escaravelho que zumbia; quando os ruídos e o movimento confuso em torno despertavam a minha atenção para o musgo que extrai o seu alimento da pedra dura, para a giesta que cresce na encosta arenosa da colina, e tudo isso me revelava a vida interior ardente e sagrada da natureza - e como tudo isso invadia o meu coração ardente! Era como se eu, de algum modo, me tornasse um Deus pela plenitude de emoção que transbordava de mim, e as magníficas imagens do mundo infinito, agitando-se em minha alma, enchendo-na de uma vida nova. Via-me cercado de montanhas gigantescas; abismos surgiam diante de mim, de onde despencavam as torrentes formadas pelas chuvas das tempestades. Embaixo, os rios rolavam suas ondas impetuosas, as florestas e as montanhas estremeciam. Eu via todas as energias telúricas e insondáveis agirem umas sobre as outras, e juntas se fecundarem nas profundezas da terra; e então espécies de seres eu via pulular entre o céu e a terra. Tudo se povoava de milhares de formas diferentes, e os homens se reuniam nas cabanas; depois, construíam suas casas definitivas, passando a reinar sobre o mundo inteiro. Pobres infelizes! Pensam que todas as coisas são pequenas porque eles próprios são assim? Desde as montanhas inacessíveis, para além do deserto em que nenhum ser humano pisou, até a extremidade do oceano desconhecido, sopra o espírito daquele que cria, incessantemente, e rejubila-se a cada átomo de pó vivificado graças à sua palavra! Ah! Quantas vezes, então, ardentemente desejei deixar-me arrebatar, nas asas do grou que passava por mim, rumo às margens desse mar que homem nenhum conseguiu medir, para beber, na taça espumante do infinito, a vida embriagadora que enche o coração, para sentir, um só momento, fraco e limitado como sou, correr em mim uma gota da glória do Ser que produz todas as coisas em si e por si! Irmão, só a lembrança daquele momento basta para me fazer feliz! O próprio esforço feito para exprimir e reviver em mim essas sensações inenarráveis faz com que minha alma a si mesma se supere, mas a seguir obriga-me a sentir duplamente o horror da minha situação atual. É como se um véu que se tivesse rasgado diante de minha alma e o espetáculo da vida infinita se transformasse em um túmulo eternamente escancarado diante de mim. Você pode afirmar "é isso!", quando tudo passa, rola e desaparece como um clarão; quando a energia de um ser dura tão pouco; quando, ai de mim, absorvido pela corrente, esse mesmo que não devore a você e aos seus; não há um só instante em que você não seja, não tenha de ser um destruidor. Seu passeio mais inocente custa a vida a centenas de pobres vermezinhos. Com uma passada, arruína os edifícios penosamente erigidos pelas formigas, e empurra um pequeno mundo, as inundações que arrasam as nossas aldeias, os tremores da terra que engolem as nossas cidades, nada disso me comove; o que me dilacera o coração é esta força destruidora oculta em toda a natureza, esta força que nada cria senão para destruir-se e, ao mesmo tempo, destruir o que a cerca. E é assim que caminho, vacilante e o coração oprimido, entre o céu e a terra com as suas forças sempre ativas, e nada mais vejo senão um monstro sempre esfomeado e devorador.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor. Jornalista, Gestor editorial, Agente literário, Redator publicitário, Copidesque, Biógrafo. Autor de 14 livros publicados. Mora há 3 anos em Curitiba, PR. Email: es.escritor1199@gmail.com / (62) 9.8154-9077 e fixo do Coworking (41) 3606-6057
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