Páginas
▼
terça-feira, 30 de julho de 2024
MAR DE VIDRO (*)
Ao concluir a leitura de “Imitação de Cristo”, de Tomas de Kempis, livro publicado por volta de 1480 e, para minha surpresa, o autor da apresentação informa que depois do Livro da Vida, a Bíblia, fica em segundo lugar no ranking dos leitores cristãos.
Até o Capítulo concernente ao Apocalipse, terminei a leitura ontem. Eu prometi a mim mesmo que faria essa leitura e posterior reflexão há mais de 25 anos. Há evidências inquestionáveis com o caos em que estamos mergulhados e não sei se existirá saída para essa situação-limite.
Afinal os escritores que se prezem têm a obrigação de ler os Clássicos: Dom Quixote, Shakespeare, Spinoza, Aristóteles, Machado de Assis, Ruy Barbosa, James Joyce, Érico Veríssimo, Rousseau, Goethe, Voltaire, entre outros.
Quando eu tinha cerca de 37 anos eu prometi: “se acontecer isso comigo, a vida acabou para mim”. Eis o fim. E há três dias o fato efetivamente aconteceu de maneira covarde, selvagem e cruel.
Por enquanto estou até o presente momento na plenitude da angústia, tristeza e depressão; e vem o sentimento de culpa e o remorso: porque eu fui àquele local. Não há desculpa e nem perdão, sou eu o culpado.
Em maio de 2011, minha mãe faleceu. Eu senti que, visceralmente, 50% de mim foi enterrado junto com ela: a mãe-amiga, confidente, a mãe que, sobretudo, por meio de suas orações intermináveis me protegia porquê sei que Deus a ouvia e atendia suas preces e novenas, principalmente, quando eu pegava a estrada de Anápolis ao Rio de Janeiro para trabalhar como jornalista (Superintendente de Imprensa), dirigindo sozinho o meu próprio carro. Sei que passei por situações graves na estrada mas, a minha fé no Senhor Jesus e São Judas Tadeu, evitaram graves acidentes.
Agora depois deste episódio recente, não sei se zerei a minha vida, após os 50% que deixei enterrados no túmulo de minha mãe. Agora, hoje, aqui talvez eu tenha apenas 9% para resgatar tantos karmas acumulados na contabilidade espiritual.
Há, até hoje, o mar morto... e sei por meio de fonte fidedigna que este mar jamais morreu... as suas águas são grossas e rasas.
Dizem que os homens de letras que assumem uma cadeira numa Academia de Letras, torna-se, automaticamente, “imortal”. Fico feliz por esta imortalidade ter acabado: num gesto extremista, xiita e radical, a nova presidenta demitiu todos os escritores que não têm residência fixa em Paracatu, MG.
O ser humano não tem credibilidade, são mutantes, atendem apenas aos seus interesses próprios que os benefície. Em 1997 quando fui convidado a compor o quadro de membros efetivos daquele sodalício, só haviam 7 (sete) escritores com livros publicados; um deles sou eu. Vocês da diretoria atual e anterior, são seres abjetos, arrivistas, interesseiros e sem caráter, tal como macunaíma.
Estou com um portfólio e/ou dossiê para entrar na justiça e condená-los pelo ato espúrio e ilegal. Um membro quando é empossado numa Academia de Letras, justamente por ser considerado “imortal”, ele só pode ser afastado por um único motivo: quando morre.
Hoje, quando eu me lembro que, com 13 anos meus pais mudaram para Anápolis, com todos os meus irmãos, foi a melhor decisão que eles tomaram. Ambos sabiam que essa cidade escravocatra é uma urbe de fofoqueiros, invejosos, falsos, cruéis com os trabalhadores, invejosos e medíocres; hipócritas. Joaquim Barbosa, um filho ilustre?! Definitivamente mostrou, recentemente, que não é um homem confiável, uma raposa interesseira e aparece na mídia para emitir opiniões contraditórias, covardes e equivocadas.
Quando eu ia lançar meus livros, um tapete vermelho era estendido. E elogios de toda ordem. Quando publiquei, em 2006, o “Crepúsculo e Aurora”, tive a presença ilustre do Prof. Químico, Empresário, cientista político e escritor Osvaldo Costa. Por incrível que pareça, ele nasceu em Paracatu e morava também há muitos anos em Anápolis, onde dirigia o seu próprio laboratório na rua 7 de setembro.
No discurso do amigo Osvaldo Costa algo me surpreendeu pela sua generosidade e autenticidade, num trecho do discurso”: “Paracatu deve muito ao escritor Eugenio Santana!”
Tenho enorme saudade da infância naquela cidade que tive a felicidade de nascer: a infância, com meu irmão Eustáquio, irmã Maria Lúcia e, especialmente, Maria das Graças, que me acompanhava pelos arredores da cidade, principalmente junto a Natureza, já que eu gosto dos pássaros e da pesca.
E quanto ao Mar Morto? Será um Eugenio Santana ignorado, esquecido, abandonado e vivendo o seu mais elevado ostracismo? Restará os 9%? Creio em Milagre e Superação mas, confesso que a minha resiliência está lá embaixo num vale de difícil acesso.
Mar de vidro... minha danação? Tive muitos cortes, nos braços, pernas, mãos, dedos, joelhos, pés e na alma e no coração. Feridas agudas, quase irremoviveis.
Aprecio tanto as águas correntes... das fazendas esvoaçantes que, obstinadas, não me saem da lembrança: “Fazenda Aldeia de Cima”, do meu avô materno José Ulhoa Santana, onde nasci e depois desfrutei, do mesmo avô, a fazenda “Forquilha” e mais tarde, a “Fazenda Rio das Pedras”, em Pirenópolis... o período mais feliz do meu pai e de minha mãe...
Paracatu, sequer tenho o seu retrato na parede, como diria Drummond.
Em Anápolis, fiquei morando sozinho aos 16 anos e conquistei nesta mesma idade o primeiro emprego de auxiliar administrativo; aos 18, fui promovido a Chefe Administrativo do Grupo Empresas Constante; terminei o ginásio e o segundo Grau aqui na querida Anápolis e já com a tendência natural para a escrita, foi nesta cidade em que publiquei o meu primeiro texto no jornal “Correio do Planalto”.
Por baixo do “Mar de Vidro” existe um oceano paralelo: medonhos animais marinhos; e indescritíveis feras, tais como Vespa-do-mar, Serpente marinha, Peixe pedra e Polvo-de-anéis-azuis.
Quem sabe o “meu mar de vidro”, venha a ser o meu sombrio oceano de dentro?
O “mar de vidro” oportunizou que eu passasse por quase todos os sofrimentos: expectativas inúteis, adversidades, frustrações, sonhos inalcançáveis, convicções mutiladas, incertezas, solidões, torturas físicas e morais, saudades de filhos/filhas biológicos? Resta o moço-velho esquecido mergulhado no ostracismo tal qual Rimbaud na Abissínia, E.M.Cioran exilado em Paris; e, por fim, vejo Edgar - O Allan Poe - sussurando Lenora, Lenora e na janela pousado, o Corvo - com olhar melancólico. Assim como nasce, o ser fenece como o Crepúsculo e a Aurora embora eu tenha dúvidas sobre a imortalidade da alma. Holístico, tenho a face da Natureza humana tatuada em meus olhos embaçados. Ajoelho e choro. Oro. Sei que o Arquétipo de Hórus é meu seguidor e me persegue uma vontade irresistível de voar e transcender. Gratidão à Terra pelo retorno ao pó...
O “mar de vidro”, em 9% de vida, talvez me dê dicas sólidas de errar menos e acertar mais, assertividade, humildade, paciência, gratidão e jamais revidar ofensas e calúnias.
Que o “mar de vidro” me permita o Voo para o Céu...
Afinal, uma das coisas mais belas da vida é olhar para o céu, contemplar uma estrela e imaginar que muito distante existe alguém olhando para o mesmo céu, contemplando a mesma estrela e murmurando baixinho: "Que Saudade!”
A Cura do Mundo está na união de amor entre os Céus e a Terra – um pertence ao outro, um é parte do outro, como um todo, inseparável.
(*) EUGENIO SANTANA é escritor, filósofo, jornalista, gestor editorial e ensaísta. Autor de 20 (vinte) livros publicados. “Ventos fortes, Raízes profundas”, madras editora, entre outros. Ganhador de 18 prêmios literários de projeção nacional. Email: es.escritor1199@gmail.com - (62) 99635-8005 WhatsApp
Nenhum comentário:
Postar um comentário