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sexta-feira, 14 de junho de 2019

FRAGMENTOS ESSENCIAIS DA FILOSOFIA DE NIETZSCHE (*)

Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em 1844 na cidade de Röcken, Alemanha. Ele cresceu em um ambiente ortodoxo e protestante dominado por mulheres; seu pai era pastor evangélico e faleceu quando ele tinha cinco anos de idade. Nietzsche estudou em um orfanato na maior parte de sua formação escolar. Ele se interessava principalmente por antiguidade grega e romana. Cursou filosofia clássica nas universidades de Bonn e Leipzig. Nesta última, ele estabeleceu contato primordial com as ideias de Arthur Schopenhauer, seu maior influenciador literário, e com a música clássica de Wagner, compositor que admirava e que mais tarde se tornaria seu amigo pessoal. Em 1869, com 25 anos de idade, Nietzsche atuava como professor de filologia clássica na Universidade da Basileia. Contudo, seu ofício foi interrompido um ano depois, quando eclodiu a Guerra Franco-Prussiana. O alemão participou ativamente do conflito como enfermeiro, até ser obrigado a abandonar a função por causa de uma gravíssima disenteria, da qual nunca se recuperou totalmente. No ano de 1881, Nietzche conheceu a mulher de sua vida: Lou Andreas Salomé, por quem se apaixonou perdidamente. Mas, por crueldade do destino, ela acabou se casando com um amigo seu. Essa traição estapafúrdia foi o estopim para consolidar nele uma forte misoginia e ceticismo em relação ao amor. O coração de Nietzsche nunca mais seria habitado por alguém além de si mesmo. O alemão passou a desenvolver uma resistência afetiva quase que completamente ascética, do que surpreende sua estrondosa sensibilidade na investigação de assuntos humanos. Solitário e inconsolável de amor, mais frívolo do que antes, o filósofo estabeleceu-se na Riviera francesa e no norte da Itália, lugares que ele considerava frutíferos para pensar e escrever. Imensamente frustrado por suas obras não serem consideradas pelo público, ele passou a sofrer de acessos de loucura e paranoia em 1889, quando morava em Turim e já estava praticamente cego, literal e naturalmente. Depois de ficar internado em algumas clínicas de reabilitação na Basileia, Nietzsche passaria o fim de sua vida na casa da mãe e da irmã, esta que cuidou dele até morrer. O alemão se foi em 1900. Apesar do melancólico fim, Nietzsche deixou um legado filosófico riquíssimo que até hoje não perdeu o poder inspirador e efetivo. A felicidade costuma ser frágil e volátil, por isso só é possível senti-la em certos momentos. Se pudéssemos experimentar a felicidade ininterruptamente, ela perderia todo seu valor, uma vez que só percebemos ser felizes por comparação. Após um dia inteiro de trabalho, um pouco de descanso é tudo que queremos. Após um dia inteiro de chuva, o raiar do sol nos é maravilhoso. Da mesma forma, a alegria aparenta ser genuína e intensa quando atravessamos um período de tristeza. A obrigação de ser feliz é grande motivadora de estresse e frustração. Nietzsche nos lembra: "A felicidade vem em lampejos. Tentar fazer com que ela dure para sempre é aniquilar esses lampejos que nos ajudam a seguir em frente no longo e tortuoso caminho da vida." Nietzsche pensava que a verdade em que se acredita nada mais é do que uma crença na veracidade de um engano. Sendo assim, a verdade seria uma ilusão de criação. O autor refere-se à verdade como sendo uma vontade. Para ele, a verdade não é uma coisa que está ali para se descobrir, mas algo que está por criar e que dá nome a um processo. Nietzsche entende que a vontade de verdade decorre de uma vontade de engano: a necessidade de se atribuir um determinado valor à categoria de verdade para fazê-lo mais forte e poderoso a fim de que se possa acreditar nele. Porém, como este valor foi criado historicamente, seria um engano tê-lo por definitivo. "Verdade: em minha maneira de pensar, a verdade não significa necessariamente o contrário de um erro, mas, somente, e em todos os casos mais decisivos, a posição ocupada por diferentes erros uns em relação aos outros." Se se aceita a verdade como moral, ela representa uma conduta necessária. É impossível viver sem ter representações morais da verdade. Precisamos acreditar na verdade para validarmos nossa existência, por exemplo, sem a qual não haveria engano. Para Nietzsche, a vontade de verdade e a vontade de engano são a mesma, só que observadas de duas perspectivas diferentes. A vontade de verdade, a busca da verdade e a crença nesta verdade decorrem da necessidade de se acreditar nas construções históricas e culturais. Mentimos para sermos mais felizes, embora se prefira negar. Niezsche costumava dizer que "enganar os outros é um defeito insignificante, pois o que nos transforma em monstros é o autoengano". De fato, é muito mais fácil não admitir que se está errado do que aceitar o próprio erro. Às vezes, basta assumir humildemente um erro; apenas dessa forma nos contentaremos com as consequências de uma ilusão que possa ser vivida. Por várias vezes, Nietzsche falou sobre a importância do humor, que ele considerava uma tábua de salvação para os desgostos que a vida oferece: "O homem sofre tão terrivelmente no mundo que se viu obrigado a inventar o riso." Para o filósofo, as pessoas deveriam tachar de falsa toda verdade que não seja acompanhada por um sorriso. Essa é uma ideia acalentadora, embora possa ser mentirosa em sua própria atribuição. Mas os benefícios são evidentes. "Em qualquer homem autêntico existe uma criança querendo brincar." Para Nietzsche, considerar fábulas e jogos coisas infantis é sinal de grande pobreza de espírito, pois somente as pessoas capazes de manter a curiosidade e o senso lúdico da infância terão sempre novos êxitos ao seu alcance. Crianças encaram a vida como uma brincadeira, e pensam que contos de fada são verdadeiros. Não significa que devemos agir de forma ingênua, mas é essencial mantermos um pé no mundo da fantasia, o que aflora nossa imaginação e nos torna mais criativos e producentes. Às vezes, tudo que precisamos é deixar de lado o mundo dos adultos e assumir a persona que já fomos antes. De acordo com o filósofo, quem deseja aprender a voar deve primeiro aprender a caminhar. Fazer qualquer coisa sem estar preparado gera decepção iminente: "Quem espera levantar voo sem antes passar pelo aprendizado básico está condenado a uma queda da qual não se reerguerá." Aquele que conhece suas capacidades e, mais importante, suas limitações, sabe exatamente quais lutas pode lutar e quais não. "Os cínicos costumam se esconder por trás da maldade do mundo para dar asas à própria perversão. No entanto, os atos alheios nunca justificam os nossos." Com esta reflexão, Nietzsche refere-se às dificuldades da vida que podem fazer com que uma pessoa aparentemente benevolente se torne malévola por uma justiça fraudulenta. Entretanto, ele lembra que, no final, uma decisão, mesmo terrível, é opção pessoal, e a responsabilidade, intransferível. "Somente quando o homem tiver adquirido o conhecimento de todas as coisas poderá conhecer plenamente a si mesmo. Porque as coisas nada mais são que as fronteiras do homem." O filósofo sugere que não há nada mais trabalhoso que o autoconhecimento. Então, para se chegar a um elevado nível de sabedoria, o homem precisa se dispor a aceitar seus limites intelectuais, é claro, com ambição e humildade suficientes. O êxito costuma ser um veneno, pois um privilegiado pode agir como prepotente, e assim ficar estagnado. Nietzsche ensina que, quando a sorte deixa de sorrir para o bem-sucedido, de uma hora para outro seu mundo vira de cabeça para baixo. O fracasso, por sua vez, representa sempre uma oportunidade para melhorar; favorece a humildade, nos ajuda a manter o pé no chão, estimula nossa imaginação e nos faz explorar novas perspectivas. Aqueles que se dispõem a alcançar algo precisam estar devidamente preparados para derrocar, ao passo que novas oportunidades possam ser almejadas. Segundo Nietzsche: "Uma guerra não é travada apenas nos campos de batalha tradicionais, em que tropas tentam aniquilar umas às outras. A luta acontece em qualquer área em que os seres humanos disputem influência." Existem disputas de poder em toda e qualquer circunstância, seja em casa, no trabalho ou onde for, quando duas ou mais pessoas usam suas armas para conseguir o papel central. Assim como os animais, seres humanos são territoriais e constantemente buscam aumentar seus domínios, inclusive o emocional. Mas, como lembra Nietzsche, nem sempre encontramos um inimigo para opor àquele em perspectiva que está nos enfrentando e, às vezes, precisamos de fato recorrer a outras estratégias. De acordo com o alemão, a gratidão é uma condição indispensável para apreciar a beleza do mundo. Algumas pessoas aparentemente têm tudo, e sentem como se não tivessem porcaria nenhuma, ao passo que outras realmente têm pouco, mas maravilham-se com o pouco. Nietzsche ressalta que, se praticarmos a arte da gratidão, alimentaremos nosso ser emocional de boas sensações, principalmente nas horas de dificuldade. Mesmo em ocasiões de tensão e estresse, basta deixarmos agraciar pelas belezas do mundo para encontrar forças que nos permitam superar as árduas provações que advirem. (*) EUGENIO SANTANA é Gestor editorial, Assessor de imprensa, Analista de Marketing digital, Crítico literário, Outsider, Blogueiro; Self-made man. Escreve Biografias. Autor de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora, entre outros. Radicado em Curitiba, PR. (41) 99547-0100 WhatsApp