Páginas
▼
segunda-feira, 24 de junho de 2019
A DOR NA ALMA DE ALMODÓVAR E O REENCONTRO COM A INFÂNCIA (*)
Dor e Glória, (2019)último filme de Almodóvar, faz um caminho em direção à sua história, principalmente pelo tom pessoal e emocionado do protagonista Salvador, interpretado com primor por Antônio Bandeiras. O diretor, depois da morte de sua querida mãe, busca na infância suas melhores recordações com ela, a presença do catolicismo em sua educação, com restrições e muita disciplina. E, finalmente, seu primeiro desejo por outro homem, aos nove anos de idade..
Esse movimento de volta ao passado permeia a narrativa e costura com primor, o passado ao presente o que nos permite sentir a criança que existe nele e seu poder de superação da crise de depressão em que se encontra. Salvador, teve glória, filmes afamados conquistados com dor, drogas e solidão. Desde criança, tinha grande capacidade de comunicação dentro de um universo muito pobre, onde só ele e a mãe habitam com um laço forte de afetividade.
Ele passa então a reviver momentos marcantes de sua infância introspectiva, na educação católica que recebeu dos padres e sua rejeição à religião católica. Salvador é um vencedor que agora aos setenta, sente uma grande nostalgia somada à dor física e moral.
Contudo, fica mais complacente com os desafetos e a saudade de amores que não viveu. O tempo acentua as dores do corpo, mas alivia as da alma. O perdão, por exemplo, torna-se mais fácil quando a discussão já está no passado, como pontua a cena em que Salvador perdoa Alberto, e a superação de um amor perdido já não dói tanto, como mostra o momento que o protagonista encontra um ex-namorado. Sua energia criativa, na velhice, cheia de dor física, sintomas na coluna vertebral que sustenta nossos corpos, são sanados com médicos, drogas e a solidão de um homem que não quer mais produzir. Seu entusiasmo volta ao ver encenada uma peça antiga, com um antigo amigo de traz sucesso de bilheteria. Assim, ao rever a beleza e os sonhos de sua infância, Salvador se salva do abismo e volta a acreditar na sua arte e talento, terminando do começo, com a filmagem de O primeiro Desejo, como um resgate de sua alma e o reencontro consigo mesmo. Belo, intenso e principalmente, filmado com cores vivas que contracenam com a falta das mesmas, num polaridade que encanta nossos olhos e nossas almas.
(*) EUGENIO SANTANA é Escritor, Gestor editorial, Assessor de imprensa, Ensaísta, Redator publicitário, Blogueiro, Biógrafo, Agente literário. Onze livros publicados. Autor, entre outros, de "Ventos Fortes, Raízes Profundas", autoajuda, Madras editora. Radicado em Curitiba, PR. (41) 99547-0100 WhatsApp