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terça-feira, 24 de janeiro de 2017

RENASÇO ALTIVO NA TINTA DO INFINITO (*)

Em cada letra, tinta e o cheiro do infinito, há um diálogo silente que rumino (instigo) onde, por completo, nasceu a página e a pátina que dito – só escrevo, neste plano, aquilo que ainda sonho no outro sótão: a vida após a vida. Sei que feneço no fim de cada sílaba, mas renasço altivo no início de outro mito. E vôo com as asas da Phoenix. Ainda que me seja efêmero o ato de colher as horas, serei sempre estrangeiro da fronteira de vidro: afinal, que sou, senão o fragmento de meus destroços? Só quem navega à luz, sabe o naufrágio das trevas. Afinal, ninguém se espera, se busca, quando o objetivo é filho da ausência da vida por si mesma. Ainda que me seja tardio, serei luz incendiária, fogo fulminante apagando a essência das águas. Nada sou senão serpente e anjo, verbo notívago escrito na página da madrugada. Muito antes que eu compreenda a consciência das asas, direi que o vôo é volátil e curto na distância planejada, muito embora ciente de que me é mais fácil seguir por caminho de lugar nenhum do que então afogar-me em gota de envelhecido rum. Quem afirmou que o castigo aconteceu no Paraíso, se o Paraíso é a morada do meu Pai? Alguém ousa vender um homem no mercado de Deus por ínfimos valores de insensíveis sonhos? Quem se arriscaria a seguir por tão nefasta via? A nenhum destino se chega ao homem senão pela sombra de seu mesmo sobressalto e nome. Meus passos já não cabem em si, muito menos no impulso da estrada que tanto lhes fere e agrava a força do espinho que sou serei além do que vivi e sangrei, amor. O que faço, a bem do meu nome e o fogo que me consome, é aprisionar o tempo e escrever as asas da memória antes do crepúsculo e após a aurora. Não poderia eu omitir que em mim persiste a surpresa que me envelhece, além, muito além dos jardins do abandono e a cal da árvore de plátano plantada em pleno deserto do ser – eis, então, a energia de, assim, matar, morrer para o que se foi e nunca mais há de nascer! Jamais ergo diques: deixo-me fluir para o que se vai, embora estando aqui. Apesar de tudo, nenhum homem sabe a dor do outro! E só a tempestade é capaz de resgatar o silêncio que medra na alma de cada um! Em cada letra, tinta e pátina de infinito, insuflo de fogo meu grito ainda que tardiamente para Deus! (*) EUGENIO SANTANA é jornalista, escritor, ensaísta, biógrafo e redator publicitário. Membro efetivo da ALNM – Academia de Letras do Noroeste de Minas, cadeira dois. Membro Acadêmico “Benemérito Ad Honorem” do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; Autor de nove livros publicados

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