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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

A DOR DO AMOR. PAIXÃO E LUTO... (*)

JAMAIS vivenciei um acidente aéreo, mas já ouvi narrativas – com riquezas de detalhes mórbidos – de sobreviventes. Eles percebem a perda de altitude, a potência fragilizada das turbinas, o desastre à vista, até que ocorre a parada definitiva do avião e ouve-se um barulho ensurdecedor, lancinante. Alvo efetivamente assustador e inominável. Ou abominável? Depois, o estrondo – como o trovão – sobe do chão um silêncio aterrador. Por alguns átimos de segundos, ninguém fala – mutismo total – e ninguém se move. Todos em choque. Ou mutilados? Não se sabe exatamente o que aconteceu, mas sabe-se que é grave. Gravíssimo. Algo de sólido e consistente que existia não existe mais. Inapelavelmente... Eu sabia que terminaríamos, eu sabia que era uma viagem sem destino, sabia desde o início e não sabia, não sabia que doeria tanto, que era tanto e intenso, que era muito mais do que se pode saber, ninguém pode saber um amor, entender um amor, tanto que terminou sem muito discurso, economia verbal é bom e eu gosto. Foi uma noite fatídica em que você quase pediu – trejeito de Lilith, Afrodite ou Cleópatra? – me deixe. Ora, ora, pra que me enganar: você realmente pediu, sem balbuciar palavra, você vinha pedindo, me deixe, olhe o jeito que te trato, repare em como não te quero mais, me deixe, e eu, de repente, naquela noite que poderia ter sido amena, me vi desistindo de um jantar – regado a vinho – e de nós dois em menos de quinze minutos, a decisão mais célere da minha vida, e a mais longa, começou a ser amadurecida – como espera em UTI – desde o dia em que falei com você pela primeira vez, desde uma tarde em que ainda nem tínhamos iniciado nada e eu já amadurecia o fim, e assim foi durante os dois anos em que estivemos tão juntos e tão separados, eu em permanente estado de paixão e luto me projetando para o amor e a dor simultaneamente.
Você não ligaria no dia seguinte, era domingo. O que eu fazia aos domingos de manhã? Caminhava – com Simurgh – o cachorrinho de estimação, em volta do shopping, então caminharei, mas falta você, coloquei o tênis confortável, saí a pé do meu tugúrio, falta você e não falta, o estrondo está diminuindo – cessando o impacto profundo – o barulho acabou, será que eu já percebi o acidente? Dou uma volta em torno do Shopping, duas voltas, três voltas, você não virá aqui me ver? Volto. Telefono para o melhor amigo Paulo, não telefono pra você, conto pra ele que terminamos, meu relato é muito coerente e sucinto, ele lamenta mais ou menos, já ouviu contar essa história anteriormente, somos reincidentes em finais, mas agora é pra valer, quem me acredita? (*) EUGENIO SANTANA é escritor, autor de livros publicados e jornalista de mídia impressa. Membro efetivo da ALNM - Academia de Letras do Noroeste de Minas, sócio efetivo da UBE – União Brasileira de Escritores. Aos 11 anos comecei a ler Aristóteles, Spinoza, Platão, Schopenhauer, Freud, Jung, Gibran, Nietzsche, Hermann Hesse, Krishnamurti, Shakespeare e Rousseau. Escrevo e publico objetivando a auto-realização dos meus leitores. Busco a Transcendência por meio da Literatura. Escrever é a minha Missão. Contato: via e-mail autoreugeniosantana9@gmail.com e Smartphone/WhatSapp: (61) 8212-3275 (TIM) e 9995-5412 (Vivo)