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quarta-feira, 13 de julho de 2011
AS PALAVRAS PESAM. TALVEZ PORQUE SEJA A MAIS AUTÊNTICA INVENÇÃO HUMANA...
Há muitas palavras - a de Deus, a de honra, a do rei, que não volta atrás, e a que se dá para firmar um compromisso ou promessa.
Palavra contém ala, que tem a ver com fila ou parte de uma construção, e também ar, sem o qual não se pode respirar. Palavra tem mais valor quando entremeada de silêncios. Derramada assim, de boca aberta, esvai-se. As palavras pesam. Talvez porque seja a mais autêntica invenção humana.
"No princípio era o Verbo", enfatiza o prólogo do evangelho de João. Deus é Palavra e, em Jesus, ela se faz carne. Unir palavra e corpo é o profundo desafio a quem busca coerência na vida. Há quem prime pela abissal distância entre o que diz e o que faz. E há os que falam pelo que fazem.
Só o coração compassivo, o movimento anagógico e a meditação, que livram a mente de rancores, são capazes de imunizar-nos da palavra maldita.
A palavra salva. Uma expressão de carinho, alegria, entusiasmo, solidariedade ou amor, é brisa suave a reativar nossas melhores energias. Somos intimados à reciprocidade. Essa força regeneradora da palavra é tão vital que, por vezes, a tememos.
Arrogantes, sonegamos afeto; ambiciosos, engolimos a expressão de ternura que traria luz; medíocres, calamos o êxtase, como se deflagrar vida merecesse um elevado preço que o outro, a nosso ínfimo julgamento, não é capaz de pagar. Ato contínuo, fazemos da palavra, que é gratuita, produto pesado na balança dos sentimentos.
Vivemos cercados de palavras inúteis, condenados à incivilização que teme o silêncio. Verbaliza-se muito para se dizer bem pouco. Fazem moda músicas em que abundam palavras e necessitam de sonoridades. Jornais, revistas, TV, outdoors, telefone, celulares, correio eletrônico - há demasiado palavrório. E sabemos todos: não se dá valor ao que se abusa.
O silêncio não é o contrário da palavra. É a matriz. Talhada pelo silêncio, mais significado ela possui. Quem fala muito, o indiscreto, cansa os ouvidos alheios porque seu matraquear de frases ecoa sem consistência, nexo ou sentido. Quanto ao sábio pronuncia a palavra como fonte de água diáfana e cristalina. Não fala pela boca, e sim do mais profundo recôndito de si mesmo.
O versátil, talentoso e criativo escritor mineiro Guimarães Rosa inaugura "Grandes Sertões, Veredas" com uma palavra insólita: "Nonada." Convite ao silêncio, à contemplação, à mente centrada no vazio, à alma despida de utopias. Não nada. Não, nada.
Os místicos têm conhecimento que, sem dizer Não e desejar o Nada, é impossível ouvir, no sigilo do coração, a palavra Deus que, neles, se faz Sim e Tudo, expressão afetiva e ressonância criativa.
(Eugenio Santana é escritor, jornalista, ensaísta, publicitário, copydesk, versemaker; self-mad man. Livros publicados; 18 prêmios literários em âmbito nacional. Sócio efetivo da Associação Catarinense de Imprensa (ACI) e da Associação Fluminense de Jornalistas (AFJ). Ex-superintendente de Imprensa do Governo do Rio de Janeiro.)