quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

LEGIÃO DE AURORAS




Há em mim uma legião de auroras. Nem sei como nessa alma conturbada floresce tanta luminescência a cegar os olhos da alma. Talvez seja isso a noite escura cantada agonicamente pelos místicos rosacruzes. Talvez a perfeição do olhar. É como estar sedento frente ao mar. Água, muita água, e, no entanto dela não se pode beber. Só contemplar a pele ondulosa do Planetazul, essa voracidade oceânica que devora todos os meus sonhos.
Não consigo ver o que os outros enxergam, não consigo rir do que os outros acham engraçado, não consigo deixar de ser desconfiado, taciturno, introspectivo, porque são muitas as minhas dúvidas. Por exemplo, coleciono fechaduras e fotos de rinocerontes. Fechaduras, é óbvio, servem para fechar, porque o ser humano não suporta a transparência. Precisa sempre se cobrir: de pêlo, máscaras, teto, muro, porque a nudez é uma arte que exige talento. Ainda que um homem e uma mulher fiquem sem roupas, trancados num quarto, entregues às infinitas possibilidades do jogo erótico, não significa que estejam nus. Estão despidos. Nudez é outra coisa. É enfiar a faca até o cabo, arrebatar a lua com as mãos, destampar todos os recônditos da alma, os mais insólitos e ínfimos. Se nem suportamos ficar nus diante de nós mesmos, quanto mais diante dos outros! Por isso as fechaduras deveriam estar de língua recolhida, mas quase sempre se projetam interditando-nos.
Por que fotos de rinocerontes? Faz tempo sonhei que eu era um rinoceronte. Locomovia-me com muita dificuldade, a exigir paciência de todos à minha volta. Ao atravessar uma rua, eu me encontrava a meio caminho quando o sinal abria, irritando os motoristas; no cinema, ocupava meia fila de cadeiras; no restaurante, comia metade do bufê.
Gosto das esferas elegíacas. Da arte que não exprime lamento, dos primitivistas que ignoram as formalidades acadêmicas. Sou por eflorescências. Quase toda semana irrompem em mim vulcânicas primaveras. São flores de fogo. Procuro fixá-las em retábulos e, em exercícios espirituais, copiá-las em pergaminhos. Somente flores e borboletas superam as obras-primas da arte universal. Mas não sou dado a caçar borboletas.
Eis que me apareceu em sonhos um homem cujos sapatos tinham bicos finos e longos; na cintura, profusão de laços; as mangas eram tufadas como balões e os punhos, de renda. Estava em pé num salão fechado por cortinas de cores brilhantes, pontilhadas de estrelas de ouro entre espaços vazios cheios de sóis. Acordado do outro lado do sonho, fiquei a me perguntar se tamanha ilogicidade que preside as emanações do inconsciente não seria a verdadeira lógica que a razão tanto teme e repudia.
Só então compreendi por que René Descartes foi encontrado morto na Biblioteca Nacional, em Buenos Aires. Uma fina espátula prateada atravessava-lhe o coração.
Suspeita-se que o assassino chama-se Jorge Luis Borges, mais conhecido pelo codinome de “El Brujo”.

(por EUGENIO SANTANA - escritor laureado e autor de livros publicados; jornalista profissional de mídia impressa; poeta, publicitário e editor. Membro efetivo da Academia de Letras do Noroeste de Minas (ALNM), cadeira número dois; sócio efetivo da UBE/SC-GO – União Brasileira de Escritores. Escrevo e publico a partir dos 16 anos de idade, com um só propósito: transmitir VERBO DE LUZ que possa acrescentar algo na vida dos meus leitores. Busco a Transcendência através da Literatura em seus variados gêneros. Escrever é minha Missão.)

domingo, 23 de janeiro de 2011

ENTRE EM CONTATO COM O SEU EU INTERIOR E EXPERIMENTE INFINITAS POSSIBILIDADES


Por que estamos aqui?
Estamos cumprindo a nossa missão nesta vida?
Em tempos de mudanças globais, incertezas e falta de direção espiritual, as pessoas continuam fazendo essas antigas perguntas, contudo com renovado interesse. Existe uma ânsia pela busca de um significado para a vida – uma crescente percepção de que a felicidade não é produto que possa ser comprado com um cartão de crédito. Pois, satisfação e alegria surgem naturalmente, a partir da capacidade de perceber o momento em que a vida se abre e da aptidão para ouvir e compreender as melhores possibilidades em qualquer situação-limite. Esta é a esperança que a orientação espiritual traz para nós e para o mundo.

(por EUGENIO SANTANA - escritor laureado e autor de livros publicados; jornalista profissional de mídia impressa; poeta, publicitário e editor. Membro efetivo da Academia de Letras do Noroeste de Minas (ALNM), cadeira número dois; sócio efetivo da UBE/SC-GO – União Brasileira de Escritores. Escrevo e publico a partir dos meus 16 anos de idade, com um só propósito: transmitir Palavras de Luz que possam acrescentar algo na vida de meus leitores. Busco a Transcendência através da Literatura em seus variados gêneros. Escrever é minha Missão.)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

AS CHAVES DO CORAÇÃO


Mais do que um símbolo dos namorados, dos amantes, dos grandes amores, o coração também é o verdadeiro símbolo do amor, porque o amor irradia através dele. O coração recebe todas as informações das emoções, das forças da Terra, dos descontroles, das alegrias, mas também o amor divino, a inspiração, que se expressa através da comunicação, da arte, da criação.
Lembrem-se das luzinhas que se acendem dentro de vocês, e não se frustrem mais em busca de finais felizes. Aprendam a eternizar seus momentos. Não é tão complicado assim. Congelem as experiências que criaram ótimas lembranças para a sua alma, e daqui a um tempo, nesta ou em outra vida, lembrarão desses momentos maravilhosos, acionarão esses códigos, e as luzinhas acenderão porque valorizaram as coisas simples da vida.
Sabemos que é a energia do amor que rege o mundo, mas vocês, que vivem no mundo das polaridades, dos opostos, muitas vezes não deixam que ela domine. É uma pena, mas faz parte do aprendizado. Esse é o caminho e não importa quanto tempo vão levar para percorrê-lo, porque esta é uma viagem fantástica, o começo de um novo tempo, da consciência cósmica; a transcendência.
Liberem a mente, deixem o amor fluir no seu corpo, libertem as emoções, quebrem os pré-conceitos e se abram. Mas, principalmente, não se esqueçam de encontrar AS CHAVES DO CORAÇÃO. Porque ele é o centro de tudo. Nele está contido o grande código da vida, o código da alma, o código do amor.
“O coração do homem é como um moinho que trabalha sem parar. Se não há nada para moer, corre o risco de triturar a si mesmo.”

(por EUGENIO SANTANA - escritor laureado e autor de livros publicados; jornalista profissional de mídia impressa; poeta, publicitário e editor. Membro efetivo da Academia de Letras do Noroeste de Minas (ALNM), cadeira número dois; sócio efetivo da UBE/SC-GO – União Brasileira de Escritores. Escrevo e publico a partir dos meus 16 anos de idade, com um só propósito: transmitir Palavras de Luz que possam acrescentar algo na vida de meus leitores. Busco a Transcendência através da Literatura em seus variados gêneros. Escrever é minha Missão.)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

ALGUNS TÊM OLHOS, MAS NÃO ENXERGAM...


Está preparado para uma surpresa?
Você pisca 25 vezes por minuto. Cada piscada leva aproximadamente um quinto de segundo. Portanto, se você faz uma viagem de automóvel que dura dez horas, a uma velocidade de 65 quilômetros por hora, você dirige cerca de 32 quilômetros de olhos fechados.
Eu conheço outro fato, muito mais surpreendente que este. Algumas pessoas passam suas vidas de olhos fechados. Elas olham, mas não enxergam realmente... não questionam... A visão é presente, mas a percepção é ausente. Se a vida fosse uma pintura, veriam as cores, mas não a genialidade das pinceladas. Se a vida fosse uma viagem, notariam a estrada, mas não a imponente e aprazível paisagem. Se a vida fosse uma refeição, comeriam e beberiam, mas negligenciariam a notável beleza da porcelana e o delicado toque de vinho no tempero.
Se a vida fosse um poema, leriam o que está escrito na página, mas perderiam a paixão e o êxtase do poeta. Retire a perspicácia e você inesperadamente reduzirá a vida com freqüentes lampejos de enfado e indiferença. As pessoas mais inteligentes podem, às vezes, estar cegas a uma visão maior, especialmente se isso significa uma grande mudança no status.
Eu desafio você: abra seus olhos! Pense! Aplique! Escave! Observe! Escute!
Existe uma imensa diferença entre uma piscada necessária e a cegueira desnecessária.
“Vês muitas estrelas no céu noturno, mas não as enxerga quando o sol nasce. Dirias, por isso, que não há estrelas no céu diurno?”

(Eugenio Santana, FRC – Escritor: contista, cronista, poeta, ensaísta literário; Coordenador de RH, Relações públicas, Redator publicitário e Editor. Autor de livros publicados, com repercussão de Porto Alegre à Porto Velho.)

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

VOCÊ ESCOLHE: POLTRONA DE AVIÃO OU CADEIRA DE DENTISTA?


Há duas poltronas que se parecem tanto que quando me sento numa imediatamente me ocorre a lembrança da outra: cadeira de dentista e poltrona de avião. Igual o constrangimento, a má vontade quando me dirijo a elas – vontade de adiar a hora. E a partida. A ânsia no peito, o frio nas mãos. No bolso, o cartão do dentista com a hora marcada. No bolso, o cartão do dentista com a hora marcada. No bolso, a passagem aérea, pessoal e intransferível. Vi certa manhã um gato com seu andar de veludo rondando a gaiola do pássaro. Com esse mesmo andar o medo se aproxima de mim, sinto seu cheiro em ambos os ambientes anti-sépticos, fechados. Cores neutras, luz fria incidindo nos metais reluzentes que lembram farmácia. Hospital. Há sempre uma música suave no rádio. O locutor de voz velada faz o anúncio no mesmo tom impessoal com que o jovem de bordo anuncia pelo microfone as condições atmosféricas em meio das recomendações de praxe.
A enfermeira tão limpa de avental branco não tem qualquer coisa de aeromoça tão gentil que oferece revistas, caramelos e protetor auricular para os tímpanos? O guardanapo é preso ao pescoço com aqueles mesmos gestos mecânicos com que a aeromoça vem nos auxiliar a fechar o cinto de segurança. “Deseja mais alguma coisa?” – pergunta ela com uma amabilidade artificial. Desejaria descer – seria a resposta exata, inequívoca. Vontade de fugir da poltrona de couro tão confortável, a almofadinha na altura da nuca, o assento anatômico, perfeito. Perfeito? Perfeição um tanto suspeita: depois de tantas inovações, por que o avião ainda cai? Por que o dentista ainda dói? Tão fundamental essa conquista da tecnologia com raízes norte-americanas, último tipo,precisão. Invulnerabilidade. A aeromoça se afasta com o sorriso igual ao da chegada. A enfermeira se afasta e as solas de seus sapatos parecem grudar no oleado do chão. O ronco do avião no ensaio da decolagem. O motor do dentista provando uma, duas vezes antes de nele ser atarraxada a agulha. A boca aberta como uma oferenda. O corpo encolhido, o peito fechado, tenso. Entrelaçadas no colo as mãos duras, viscosas. A doce musiquinha do rádio parece vir de muito longe – de que mundo? Acelera-se o motor. O corpo se agarra à cadeira, ambos integrados, formando uma peça só. Curta a respiração. Os olhos apertados. O pedal invisível é acionado e a poltrona com o corpo vai se erguendo no ar. Os motores do avião sopram com mais força, vai levantando vôo. “Senhores passageiros, por favor, desliguem celulares e computadores portáteis, por favor!”. A pata do gato alcança o pássaro...

(copy-desk by Eugenio Santana – cronista, contista, jornalista e poetalado. Autor de livros publicados.)

sábado, 11 de dezembro de 2010

CADA DIA É UMA NOVA CHANCE PARA VOCÊ TRANSFORMAR A SUA VIDA


Perceba a noite como uma borracha mágica que tem o poder de apagar todos os erros do seu dia. Pensando assim, você verá cada novo dia como uma oportunidade de recomeçar. Faça, portanto, de cada dia uma vida inteira.
Não importa quantos erros você cometeu, não interessa se você tropeçou, chorou ou quase desistiu. Assim que o sol brilha, todo o dia anterior já é um passado distante. Não permita que as sombras do "antes" escureçam o sol do presente.
O começo de cada dia deve ser entendido como um renascimento - uma espécie de ressurreição.

(copy-desk by Eugenio Santana - Escritor, Jornalista e Poetalado)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

The Secret of Staying In Love


Responder ao chamado do amor requer muita coragem e determinação, porque expor-se sempre envolve o risco de ser gravemente ferido. Mas sem transparência o amor é impossível, e sem amor a vida humana é terrivelmente incompleta.
Os que estão dispostos a amar acabarão encontrando o amor. E então o espelho estará ali, o espelho que reflete a imagem de uma pessoa amorosa: esse é o começo da verdadeira auto-estima e da autocelebração. É por isso que Viktor Frankl diz que a origem da verdadeira auto-estima encontra-se no “reflexo do apreço daqueles a quem amamos”.
A melhor maneira de descrever o amor é dizer que se trata de um processo gradual, um longo movimento circular que precisa ser cuidadosamente negociado, não um ângulo reto que se faz num instante, de uma vez por todas. Um homem e uma mulher precisam começar uma longa viagem e andar muitos quilômetros antes de encontrar as alegrias do amor. Terão de atravessar florestas profundas e sombrias, e haverá muitos perigos. Terão de ser muito cuidadosos com o amor do que com as outras coisas. O amor requer abstinência de tudo quanto pode mostrar-se venenoso para ele.
Requer muita coragem, persistência e autodisciplina.
Mas a viagem para o amor é a viagem para a plenitude da vida, pois é somente na experiência do amor que os seres humanos podem conhecer a si mesmos.

(copy-desk by Eugenio Santana, FRC – jornalista e escritor. E-mail: autor-e.santana@bol.com.br / MSN: esantanafrc@hotmail.com (21) 7177-6359.)

domingo, 14 de novembro de 2010

ARTHUR RIMBAUD RETIRA QUEIXA CONTRA PAUL VERLAINE


Eu, abaixo-assinado, Arthur Rimbaud, 19 anos, homem de letras, com endereço fixo em Charleville (Ardennes, França), declaro, em nome da verdade, que na quinta-feira, dia 10 do presente mês, por volta das 2 horas, no momento em que o Sr. Paul Verlaine, no quarto de sua mãe, deu, com seu revólver, um tiro que me feriu levemente o punho esquerdo, o Sr. Verlaine se encontrava em um estado tal de embriaguez que não tinha consciência de seus atos.
Que estou intimamente convencido que, ao comprar esta arma, o Sr. Verlaine não tinha nenhuma intenção hostil contra mim e que não houve nenhuma intenção criminosa no ato de trancar a porta sobre nós.
Declaro também propor, de espontânea vontade, e consentir na minha desistência pura e simples de toda ação criminal, correcional e civil e desisto, a partir de hoje, dos benefícios de toda demanda judicial que possa vir a ser feita pelo Ministério Público contra o Sr. Verlaine pelo fato do que aqui se trata.
Arthur RIMBAUD
Sábado, 19 de julho de 1873.

RIMBAUD está vivo. Rimbaud é um fenômeno literário que não morrerá em nossa memória.
Rimbaud é um marco zero na História da Literatura.
Sua radicalidade, que o levou à renúncia e ao silêncio, merece um tributo especial e uma reflexão permanente.
Os poetas e os escritores do século XX, os surrealistas, os “beatniks”, os “hippies”, os jovens rebeldes – todos lhe são devedores.
A influência de Rimbaud sobre cantores de rock como Jim Morrison é inegável. Até no cinema, o polêmico personagem da série "Rambo" tem seu nome nele inspirado. Cultuado pelos decadentes, simbolistas, existencialistas, beatniks, hippies, punks, revoltados de maio de 1968 e hardcores, sua poesia adquire cada vez maior modernidade. No ano de 1905, foi inaugurado na Praça da Estação, em Charleville, um busto de Rimbaud.
Em Harrar encontra-se uma rua com seu nome e todo ano um "Safári Rimbaud" é organizado por um grupo de turístico belga. No golfo de Aden, uma curiosa embarcação pode ser avistada singrando livremente o mar Vermelho: É o rebocador Arthur Rimbaud! Ele com certeza teria gostado desta última homenagem.
Vítima de um câncer na perna que foi amputada, devido aos sofrimentos que vivenciou na Abissínia, Rimbaud morreu nos braços de sua irmã Isabelle, quem mais o amou, e suas derradeiras palavras proferidas: "Me digam a que horas vão me levar para o navio".

(Copy-Desk by EUGENIO SANTANA, FRC – poeta, escritor, jornalista, ensaísta literário e, sobretudo, alter-ego de Arthur RIMBAUD, Drummond e Fernando Pessoa. Após participar da primeira sessão do Santo-Daime, a convite do meu padrinho literário Paulo Nunes Batista, ele me confidenciou que, em Vidas Passados, fomos amigos e companheiros de Jean-Nicolas Arthur RIMBAUD, em Paris, na França. Mais um mistério a ser desvendado em minha vida...)

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

TRISTEZA


Ficamos tão mais tristes quanto maior for o grau de envolvimento afetivo com a pessoa ou o objeto que perdemos – e mais definitiva for essa perda. Por tal raciocínio, é possível entender por que uma mãe em luto pela morte de um filho dificilmente sai do buraco, enquanto outra cujo primogênito foi à guerra ainda consegue esboçar um sorriso de vez em quando. Não importa o grau, a tristeza é sempre determinada quimicamente por uma redução nos níveis de serotonina. É o que evidenciam os quadros de depressão, o extremo patológico da tristeza. Enquanto a tristeza do dia a dia afeta a química cerebral de maneira transitória, a depressão pode trazer comprometimentos profundos. Uma pessoa deprimida precisa da ajuda de um psicoterapeuta, e, não raro, de medicamentos antidepressivos para se reerguer. A tristeza, decorrente de uma afecção mental, inclui em seu pacote sintomas como distúrbios de sono, problemas de peso, fadiga, irritação, apatia, estados de lentidão física e intelectual. Ou seja, desregula uma série de outros circuitos cerebrais.

(Eugenio Santana, FRC – Fragmento/Copidesque.)

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

VÊNUS E ADÔNIS


Brincando, certo dia, com seu filho Cupido, Vênus feriu o peito em uma de suas setas. Afastou a criança, mas a ferida era mais profunda do que pensara. Antes de curá-la, Vênus viu Adônis, e apaixonou-se por ele. Já não se interessava por seus lugares favoritos: Pafos, Cnidos e Amatos, ricos em metais. Afastava-se mesmo do céu, pois Adônis lhe era mais caro. Seguiu-o, fez-lhe companhia. Ela, que gostava de se reclinar à sombra, sem outras preocupações a não ser a de cultivar seus encantos, anda pelos bosques e pelos montes, vestida como a caçadora Diana; chama seus cães e caça lebres e cervos, ou outros animais fáceis de caçar, abstendo-se, porém, de perseguir os lobos e os ursos, recendendo ao sangue dos rebanhos. Também recomenda a Adônis que tenha cuidado com tão perigosos animais:
- Sê bravo com os tímidos. A coragem contra os corajosos não é segura. Evita expor-te ao perigo e ameaçar minha felicidade. Não ataques os animais que a natureza armou. Não aprecio tua glória ao ponto de consentir que a conquistes expondo-te assim. Tua juventude e a beleza que encanta Vênus não enternecerão os corações dos leões e dos rudes javalis. Pensa em suas terríveis garras e em sua força prodigiosa! Odeio toda a raça deles. Queres saber por quê?
E, então, contou a história de Atalanta e Hipómenes, que ela transformara em leões, para castigo da ingratidão que lhe fizeram.
Tendo feito essa advertência, Vênus subiu ao seu carro, puxado por cisnes, e partiu, através dos ares. Adônis, porém, era demasiadamente altivo para seguir tais conselhos. Os cães haviam expulsado um javali de seu covil, e o jovem lançou seu dardo, ferindo o animal de lado. A fera arrancou o dardo com os dentes e investiu contra Adônis, que virou as costas e correu; o javali, porém, alcançou-o, cravou-lhe os dentes no flanco e deixou-o moribundo na planície.
Vênus, em seu carro puxado por cisnes, ainda não chegara a Chipre, quando ouviu, cortando o ar, os gemidos de seu amado, e fez voltar para a terra os corcéis de brancas asas. Quando se aproximou e viu, do alto, o corpo sem vida de Adônis, coberto de sangue, desceu e, curvando-se sobre ele, esmurrou o peito e arrancou os cabelos. Acusando as Parcas, exclamou:
- Sua ação, porém, constituiu um triunfo parcial. A memória de meu sofrimento perdurará, e o espetáculo de tua morte e de tuas lamentações, meu Adônis, será anualmente renovado. Teu sangue será mudado numa flor; este consolo ninguém pode negar-me.
Assim falando, espalhou néctar sobre o sangue e, ao se misturarem os dois líquidos, levantaram-se bolhas, como numa lagoa quando cai a chuva, e, no espaço de uma hora, nasceu uma flor cor de sangue, como a da romã. Uma flor de vida curta, contudo.
Dizem que o vento lhe abre os botões e depois arranca e dispersa as pétalas; assim, é chamada de anêmona, ou flor-do-vento, pois o vento é a causa tanto de seu nascimento como de sua morte.

Milton faz alusão ao episódio de Vênus e Adônis, em “Comus”:

Entre arbustos de rosas e jacintos,
Muitas vezes repousa o jovem Adônis
Amortecida a dor, e a seu lado
Jaz a triste rainha dos assírios...

(Eugenio Santana é um “imortal” da ALNM – Academia de Letras do Noroeste de Minas Gerais, aonde ocupa a cadeira número 2. É detentor de 18 prêmios literários, em âmbito nacional. Livros publicados. Crítico literário. Jornalista profissional – Superintendente de Imprensa de uma instituição Municipal do Rio de Janeiro. Revisor e Copy-Desk; publicitário com curso da ESPM.)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

SACRIFÍCIO


Sacrifico-te e ofereço-te
o meu amor.
Misteriosa pérola
no fundo profundo
oceano de nossas vidas.

Viver é partilhar o amor ágape-eros.
Diamante azul lapidado na epiderme
Química do beijo - do corpo e da alma.

Ainda que efêmero
use o rubi-talismã
no ritual do coração de romã.
Não é anônimo
não é invisível - não é risível
não é clandestino o nosso amor.
Karma - dharma, destino ou...
almas-irmãs?!

Dor do amor
que imprime sua identidade.
Dor de parto - lábios fartos.
Não parto para uma viagem
sem teus molhados beijos.
Um pacto com o silêncio
sinto convidativos odores,
no azul do lençol, oh, dores!

Murmúrios, urros, gemidos.
Uivos lascivos, lancinantes.
O luar de outono fascinante
desenha em nossa pele
a tatuagem pluriamar.

O amor e o grito
Rio frenético e dionisíaco
de águas calmo-turbulentas.
O paroxismo e o êxtase
o frêmito-frenesi - a volúpia.
A visão da rosa - lírio lilás.

No cavalgar deste rito inicial
não evito - não hesito
não é mito, não é profano
apenas me ufano
infinito sentimento.

(Eugenio Santana, FRC)

(*)Fonte: extraído do meu livro "Crepúsculo e Aurora"
Hórus/9 Editora, Goiânia-GO, 2006, página 81)

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A VITRINE DO SHOPPING


Ante a vitrine bem iluminada de um shopping pararam em meio a muito mais. Por acaso, os seus olhares se encontraram e o ilegal desejo da carne se revelou timidamente, irrresolutamente. Depois, alguns passos ansiosos pela calçada afora – até que, sem sorrir, acenaram-se de leve.
E então, dentro do carro fechado... a sensual aproximação dos corpos; as mãos unidas, os dois lábios colados.

(Eugenio Santana, FRC – copy-desk.)

RUMO A ÍTACA


Se partires um dia rumo a Ítaca, faz votos de que o caminho seja longo, repleto de aventuras, repleto de saber. Nem Lestrigões nem os Ciclopes nem o colérico Posídon te intimidem; eles no teu caminho jamais encontrarás se altivo for teu pensamento, se sutil emoção teu corpo e teu espírito tocar. Nem Lestrigões nem os Ciclopes nem o bravio Posídon hás de ver, se tu mesmo não os levares dentro da alma, se tua alma não os puser diante de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo. Numerosas serão as manhãs de verão nas quais, com que prazer, com que alegria, tu hás de entrar pela primeira vez um porto para correr as lojas dos fenícios e belas mercancias adquirir: madrepérolas, corais, âmbares, ébanos, e perfumes sensuais de toda espécie, quanto houver de aromas deleitosos. A muitas cidades do Egito peregrina para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo Ítaca na mente. Estás predestinado a ali chegar. Mas não apresses a viagem nunca. Melhor muitos anos levares de jornada e fundeares na ilha velho enfim, rico de quanto ganhaste no caminho, sem esperar riquezas que Ítaca te desse. Uma bela viagem deu-te Ítaca. Sem ela não te ponhas a caminho. Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu, se a achas pobre. Tu te tornaste sábio, um homem de experiência, e agora sabes o que significam Ítacas.

(Eugenio Santana, FRC – copy-desk.)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

AS CHAVES DO CORAÇÃO


Bem-vindos a esta nova fase do amor – consciente, vivido, revivido, buscado, explorado, descoberto ou redescoberto, do amor que está no ar, na Terra, na ação. Ele passou pelo fogo das paixões, das dores, do medo, da ilusão, das simples constatações, das grandes descobertas, das profundas explosões – e foi transmutado, transcendeu; passou pela água de suas emoções – se purificou – e agora permanece sustentado pela força da energia da Terra, mas conectado ao ar, ao céu, ao Cosmo, a toda a energia em movimento que ajuda, puxa, repuxa e impulsiona.

Mais do que um símbolo dos namorados, dos amantes, dos grandes amores, o coração também é o verdadeiro símbolo do amor, porque o amor irradia através dele. O coração recebe todas as informações das emoções, das forças da Terra, dos descontroles, das alegrias, mas também o amor divino, a inspiração, que se expressa através da comunicação, da arte, da criação.

Lembrem-se das luzinhas que se acendem dentro de vocês, e não se frustrem mais em busca de finais felizes. Aprendam a eternizar seus momentos. Não é tão complicado assim. Congelem as experiências que criaram ótimas lembranças para a sua alma, e daqui a um tempo, nesta ou em outra vida, lembrarão desses momentos maravilhosos, acionarão esses códigos, e as luzinhas acenderão porque valorizaram as coisas simples da vida.

Sabemos que é a energia do amor que rege o mundo, mas vocês, que vivem no mundo das polaridades, dos opostos, muitas vezes não deixam que ela domine. É uma pena, mas faz parte do aprendizado. Esse é o caminho e não importa quanto tempo vão levar para percorrê-lo, porque é uma fantástica, o começo de um novo, de uma nova consciência.

O filósofo Sócrates já dizia: “Conhece-te a ti mesmo”. Era um código. Essa é uma das frases-chave da humanidade.
O corpo é um presente. Abram esse presente, explorem-no, amem-se. Abram seus corpos, suas mentes e seus corações, sem preconceitos. Abram suas almas, emanem amor, contaminem, pulsem, repulsem.
Liberem a mente, deixem o amor fluir no seu corpo, libertem as emoções, quebrem os preconceitos e se abram. Mas, principalmente, não se esqueçam de encontrar as chaves do coração. Porque ele é o centro de tudo. Nele está contido o grande código da vida, o código do amor.

(Eugenio Santana, FRC – fragmento/copy-desk.)

A SABEDORIA DOS GIRASSÓIS


Os girassóis são muito sábios; quando o sol se esconde eles ficam parados, mas não murcham porque armazenaram a energia que captaram ao longo do dia. Ficar no escuro não os afeta porque adquiriram poder e confiança. E mesmo quando são fustigados pelos ventos de forma agressiva as suas raízes permanecem firmes, e eles são hidratados pelas chuvas e consolidam seu crescimento com o sol e a grande força da luz. Assim são vocês quando se deixam iluminar e acreditam no seu potencial. O girassol é o símbolo da força da energia e da beleza que vem da luz -, ao se deixar conduzir por ela fica cada vez mais forte, vigoroso e cheio de vitalidade.

Sempre que sentirem o chamado da luz – e ela se apresenta de diversas formas – lembrem-se dos girassóis, e deixem-se levar pela força de atração. Este é um trajeto grande e promissor. E quando o inverno chegar saberão que ele fará somente parte de um ciclo. O sol sempre aparece para atrair aqueles que perderam o medo de olhar para o céu. Quanto mais compartilharem esta luz, que é sabedoria, mais raios de informações receberão. É a luz em expansão, a constelação se formando no céu. Na outra polaridade, quanto mais retiverem o conhecimento que lhes é dado, mais rapidamente o perderão. “Compartilhar” é a palavra-chave.

É hora de abrir as mãos e deixar a sabedoria voar como um beija-flor, para que novos pássaros possam pousar e atrair milhares de outros, de muitas cores, muitos nomes e muitos lugares.

(Eugenio Santana, FRC – fragmento/copy-desk.)

sábado, 31 de julho de 2010

BLUE BIRD (*)


Hoje estamos grávidos – inflados.
Estamos informatizados, coisificados, robotizados.
Não temos culpa – nascemos sob o signo da incerteza:
Geração James Dean, Elvis, Elis, Vandré, Alex Polari,
Chico Buarque, Joplin, Hendrix, Bob Marley, Lennon;
Gláuber, Pasolini, Wim Wenders, Vinícius e Drummond.
Transpomos os portais desses anos amorais
E sobrevivemos – caminhando na contramão,
Trilhando o caminho inverso – entre mortos e feridos.
Pacientes terminais e os cientistas
Que tentam inutilmente legalizar a eutanásia
E manter os mortos – vivos...
A vida e suas flores, folhas, frutos, contradições
E frustrações – continua a mesma:
Neomodernismo, miséria, impunidade, exclusão;
arrogância, oportunismo, prepotência e pose.
E nós – os restantes? Continuamos a luta vã
Sem hipocrisia. Ilesos da mediocridade. Diáfanos.
Buscamos incessantemente o amor
Que, muitas vezes, agride, dissimula, estertora, devora;
Vampiriza, surpreende e desfigura.
Hoje, afastados do que fomos
Estamos mergulhados no profundo poço
Dessa abominável realidade.
Um ano, dois, cinco, dez, cem – cem anos de decepção?
Nós os 5% por cento, estamos fraternos, visionários,
Utopistas, holísticos e planetários,
Buscando a MontanhAzul
Onde mora o Pássaro da mesma cor...

(EUGENIO SANTANA, FRC – Escritor, jornalista, poeta, publicitário e copy-desk.)

(*) Fonte: extraído do meu livro “ASAS DA UTOPIA”
Santana Edições, Brasília-DF, 1993, página 85.

VOZES DO VENTO NO DESERTO SEM OÁSIS (*)


Líderes de isopor
Mostrai o vosso amor.
Dirigentes do mundo
Cantai o amor, verbo-de-luz.
Curem as feridas, vidas falidas, excluídas e corrompidas.
Esquecei-vos da flor sintética, cibernética;
Do computador.
Olhai sim a Humana Dor.

Olhai a maioria esquecida, maltratada, discriminada;
Anônima, desempregada, torturada, beijando seus pés.
Líderes e governantes
A humanidade necessita de um brilho novo,
Uma nova face, nova identidade social,
Plena justiça e solidariedade.

(EUGENIO SANTANA, FRC – é escritor, jornalista, poeta, copy-desk e ensaísta literário. Mineiro de Paracatu está radicado no Rio de Janeiro há dois meses, e reside em Madureira.)

(*)Fonte: do meu livro "ASAS DA UTOPIA" - Santana Edições, Brasília, 1993.

domingo, 18 de julho de 2010

PREGANDO NO DESERTO...


Cada vez mais me convenço de que estamos criando pessoas fracas. Estamos diante do mundo com as novas tecnologias que são rápidas demais, você aperta um botão e resolve. No carro, você aperta um botão e o vidro sobe. O fogão não precisa mais de fósforo porque acende sozinho. O microondas esquenta em segundos a podre comida congelada; os celulares e seus atributos, recursos e componentes dispensáveis. Tudo fácil. Há, também, o “miojo” aquele alimento das mulheres de vida questionável – pseudocozinheiras preguiçosas – que preparam este alimento em três minutos.

Os pais se esforçam para dar tudo o que o jovem filho reivindica; quando não conseguem, o filho foge para as drogas. Muitos adultos, diante dos problemas, o que fazem? Vão beber. As pessoas buscam ansiolíticos e antidepressivos. É preciso chorar, sofrer, viver, experimentar. Parece que estamos anestesiando as pessoas, e por isso não encontramos a paz verdadeira.

Você precisa ter uma missão, ser construtor da paz. E o que é construir a paz? Essa paz se constrói no dia-a-dia sem perder o alvo. Isso significa que vamos passar por situações difíceis, de mágoa, ressentimento, ódio, frustração, principalmente em nossos relacionamentos. A propósito, os relacionamentos que mais nos machucam são aqueles que envolvem as pessoas com que temos maior proximidade. Uma pessoa distante de mim não me machuca, mas aquele que convive comigo me fere, dificulta minha caminhada e deixa marcas profundas e negativas. Cicatrizes na alma.
Existe uma pessoa no mundo com quem precisamos ter tolerância e paciência: nós mesmos. Se você criar um mundo ideal, um mundo de sonhos, esse mundo não existe. É alienação, fuga.

Sempre é mais fácil achar um culpado para nossos conflitos, para nossas derrotas, para nossos obstáculos, não queremos assumir que o problema está em nós, e passamos a buscar culpados. A falácia dos fracassados é aquela que tenta justificar todos os erros cometidos encontrando o erro dos outros. Por que as pessoas gostam de mostrar os erros dos outros? É para ver se desviam a atenção do seu próprio erro.

Por que o mundo aprecia tanto notícia ruim? Porque você já se acostumou com as coisas erradas do mundo. Por que o mundo gosta de revelar os defeitos e fraquezas dos outros? Existem pessoas que sentem alegria, um prazer mórbido para descobrir defeitos nos outros.
Ser inteiro, íntegro. Íntegro significa que não estou fragmentado nem por fora, nem por dentro.

A dor maior que sentimos em nossas perdas é exatamente a dor do apego. Achamos que tudo é nosso e vivemos na ilusão de que tudo depende da gente. Quando nos apegamos a coisas e pessoas, a cargos e funções, passamos a ter objetivos pequenos demais. Quando temos muita coisa para olhar e para cuidar, não olhamos o essencial, aquilo que está além do óbvio.

Cada vez mais o mundo se especializa em criar necessidades. Antigamente comprava-se o que realmente era necessário. Hoje acabamos necessitando de muita coisa. Parece que sem aquilo que foi lançado recentemente a gente é um eterno infeliz. Primeiro vem a tentação de comprar, consumir e depois trocar. Nunca estamos satisfeitos. Esse é o sutil e grande segredo da propaganda e do marketing desenfreado: demonstrar que você é infeliz e que poderá ser feliz quando adquirir esse ou aquele produto. E os publicitários arrivistas fazem isso de modo extremamente atraente, tentador. Investem-se milhões em propaganda. O governo federal parece gastar mais em propaganda do que em saúde e educação.

Você pode colocar próteses e silicone, fazer cirurgias plásticas, fazer lipoaspiração, pode fazer tudo por fora, mas não existe ainda, e jamais existirá, nenhum silicone, nenhuma cirurgia reparadora capaz de preencher um coração vazio, frio e ferido. Não resolve mudar a carcaça, porque isso apodrece.

(EUGENIO SANTANA, FRC – místico Rosacruz grau Iluminati, católico praticante e devoto de São Judas Tadeu. É escritor premiado, verse-maker, copy-desk, jornalista cultural e investigativo, adesguiano, Comendador da Ordem Ka-huna do poder mental, supervisor de RH, crítico literário, fundador da Hórus/9 Editora e consultor editorial.)