sábado, 28 de abril de 2018

"ORAPRONÓBIS" - DECLARAÇÃO DE AMOR À PARACATU, MG (*)

“Ser Mineiro é não dizer o que faz, nem o que vai fazer, é falar pouco e escutar muito, é ser diferente, é ter marca registrada, é ter história. Ser Mineiro é ter simplicidade e pureza, coragem e bravura, fidalguia e elegância. Ser Mineiro é ver o nascer do Sol e o brilhar da Lua, é ouvir o canto dos pássaros e o mugir do gado, é sentir o despertar do tempo e o amanhecer da vida. É cultivar as letras e as artes; é ser poeta e literato.” Surpreendentes são estes guardados raros, oriundos das asas da memória privilegiada deste autor de vasta cultura geral, o brilhante intelectual – eternamente jovem octogenário – professor Oswaldo Costa. Mesclando realidade e ficção – algo inédito e singular na literatura brasileira – o escritor constrói e estrutura um calidoscópio de personagens que sustentam a trama com instigante leveza. Intercalam-se, simultaneamente, romance, memória, ensaio e história. Ressaltamos tratar-se de um rico painel de mineiridade: usos e costumes, folclore; religiosidade e originalidade da linguagem regionalista, típica das décadas de 30, 40, 50 e 60 e a riqueza de detalhes da opulenta culinária mineira. A propósito, considero oportuno e providencial o lançamento de Orapronóbis que me fez lembrar, com imensa ternura, do livro “Grande Sertão: Veredas”, do incomparável Guimarães Rosa, publicado em abril de 1956, completando, portanto, meio século da primeira edição! Acredito, sinceramente, que dificilmente a histórica “prisioneira das distâncias” tenha sido lembrada e homenageada, com inefável carinho, da forma especial como está retratada em Orapronóbis. Ao abrirmos a “caixa preta” das 384 páginas mágicas de Orapronóbis teremos ecos e ressonâncias impressionantes, agradáveis surpresas, descobertas e revelações de alta voltagem literária, filosófica, histórica e sentimental que resgata e testemunha um tempo de bem-aventuranças... Quanto a mim, empreendi uma insólita viagem nas asas do tempo e mergulhei fundo nas águas do meu chão de infância – e metade da adolescência – ricamente vivenciados em Orapronóbis. Fiz minha autoterapia de vida passada e viajei – mineiro-menino – e ouvi muitas vozes de antanho: “caçando passarinho” nos brejos de buritis, pescando traíras nas verdes veredas de águas cristalinas, chupando – até o caroço – as mangas dulcíssimas do enorme quintal e as gabirobas e araticuns nos largos campos e cerrados da “Lagoa Torta”, fazenda de quatrocentos alqueires, que pertenceu à minha altruística e heróica tia-avó Bertholina Josefina de Sant’Anna que, posteriormente, legou – via generosa herança – aos meus pais Fabião Couto (em memória) e Adília Santana, que por lá permaneceram e laboraram entre 1972/80, até retornarem em definitivo para Goiás, especificamente para Anápolis, urbe na qual, coincidentemente, o dileto autor e prestigiado conterrâneo radicou-se em 1955. Constatei, perplexo, que a famigerada “Coluna Prestes” usava de métodos nada ortodoxos, utilizando-se, quando necessário, de extrema violência para cumprir seus “objetivos comunistas”, tendo espalhado o terror em sua efêmera e desastrosa passagem por Paracatu, deixando marcas profundas e traumáticas na índole e na alma pacífica e acolhedora dos paracatuenses. E para minha surpresa maior, fiquei sabendo que o Toco do Pecado – cantado em verso e prosa – instalado frente à Igreja Matriz de Santo Antônio – verdadeiro tribunal de notícias, jornal verbal ou cultura oral? (sic) – já existia desde a década de 40. Incrível! Meu tio – o mais loquaz e verborrágico - Francisco de Assis Santana, participava ativamente das “rodadas de negociações” e batia “seu ponto”, com inegável assiduidade, no banco da fofoca, por volta de 1960/1980. A simples menção das fazendas tocaram-me a alma, a mente e o coração. Algumas conheci e usufrui; outras só mesmo através do comentário de parentes fazendeiros. Ei-las: Santa Maria, Vera Cruz, Bom Sucesso, Alegria, Mundo Novo, Chapada, Água Fria, Aldeia de Cima, Poções, Quebra-Eixo, Palmital e a inesquecível Lagoa Torta... Nostálgicas saudades! Não tenho dúvida em relação ao êxtase cósmico experimentado pelas almas-alada de alguns personagens – fictícios ou não – tais como: Sô Homero (alter ego do coronel Chico Pinheiro), Tia Teca, o genial professor Josino Neiva, Emídio (o farmacêutico), o romântico, corajoso e habilidoso vaqueiro Urias (que lembra, de certa forma, o meu pai), Nora, Nezinho (que fim trágico!), Tim Jordão, Zabé, Lázaro, Vicente, Otílio, Zé da Anta (meu vovô Zé Santana), Chico Cabaú que muito alegrou a minha infância no bairro Bela Vista; bem como o Padre Joca – que nasceu em Pirenópolis: cidade goiana que me faz recordar a nossa Paracatu do príncipe -, aonde quer que se encontrem: orai, por nós! Contritos e genuflexos e sob a Luz do Altíssimo, todos eles te agradecem, ilustre escritor Oswaldo Costa, pelo legado desta sua magnífica obra! E qual é a missão do escritor, meu caro professor Oswaldo? Respondo com o verbo emprestado da notável Lygia Fagundes Teles: “a função do escritor? Ser testemunha do seu tempo e da sua sociedade. Escrever por aqueles que não podem escrever. Falar por aqueles que muitas vezes esperam ouvir da nossa boca a palavra que gostaria de dizer. Comunicar-se com o próximo e se possível, mesmo por meio de soluções ambíguas, ajudá-lo no seu sofrimento e na sua esperança”. Que as bibliotecas brasileiras, especialmente mineiras, goianas, gaúchas e cariocas providenciem – com a máxima brevidade – a inserção de um exemplar deste valioso livro, catalogando-o em todas as Estantes de seus respectivos acervos. Ora pro nobis, Paracatu! Assim seja! (*) EUGENIO SANTANA é escritor e jornalista. Nove livros publicados. Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL), da Associação Uruguaianense de Escritores e Editores e do Centro Cultural, Literário e Artístico de Portugal; sócio da ACI - Associação Catarinense de Imprensa e da UBE/SC - União Brasileira de Escritores. email: autoreugeniosantana11.11@gmail.com e WhatsApp (41) 99547-0100